Introdução de noções espaciais na educação infantil
162Resumo
O presente trabalho foi realizado no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Federal de Catalão – UFCAT em colaboração com a RME de Catalão (GO). A partir das experiências formativas vivenciadas, bem como observações participantes elaboramos um projeto de intervenção com o intuito de introduzir noções espaciais através de brincadeiras para o desenvolvimento das crianças de uma turma de maternal 2. O projeto ainda está em fase de desenvolvimento, porém já foi possível reconhecer alguns limites e possibilidades do ensino de modo remoto na Educação Infantil. Ressaltamos a importância da formação docente e do planejamento crítico-reflexivo neste processo, pois a prática pedagógica tem se dado a partir de novas metodologias e recursos digitais até então não empregados na Educação Infantil. Esse relato vislumbrou apresentar de forma crítica-propositiva parte dessa experiência pedagógica vivenciada por discentes e docentes vinculados ao PIBID/Pedagogia em tempos de ensino remoto.
Palavras-chave: PIBID. Educação Infantil. Noções Espaciais.
Introdução
Em tempos de pandemia devido a rápida proliferação do coronavírus, as escolas de Educação Básica suspenderam suas atividades presenciais desde março de 2020, e por conseguinte o ensino remoto apresentou-se como estratégia pedagógica de escolas públicas e privadas sob o argumento de amenizar os prejuízos na aprendizagem dos alunos e garantir o cumprimento dos dias letivos no calendário escolar. Entretanto, com a suspensão das aulas presenciais, muitas instituições aderiram o ensino remoto como estratégia pedagógica para a Educação Infantil, o que ocasionou manifestações de diversas instâncias devido as especificidades dessa etapa da Educação Básica no que se refere a tríade ensino-aprendizagem-desenvolvimento.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL,2017) indica que a Educação Infantil precisa “ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à Educação familiar” (p. 36). O documento ainda aponta que cabe ao educador “refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças” (p. 39).
Dessa forma, compreende-se que as orientações curriculares para esse segmento estão circunscritas na necessidade de ampliação das experiências, vivências, conhecimentos, interações e habilidades das crianças. Assim, o caminho traçado até aqui ao longo da experiência no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), possibilitou-nos questionamentos e reflexões acerca da organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil e as suas especificidades, sobretudo porque percebemos que as professoras se desdobram para conseguir utilizar as ferramentas digitais e manter a atenção e participação das crianças no momento das atividades remotas (assíncronas). Contudo, apesar de considerarmos os esforços institucionais e pessoais para garantir o vínculo das crianças com o ambiente escolar(virtualmente), amparados na Lei das Diretrizes e Bases Nacionais da Educação Nacional (LDB), no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e nos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil reconhecemos a impossibilidade dessa modalidade de ensino para esse segmento, sobretudo pelos possíveis prejuízos para o desenvolvimento infantil.
163Dessa forma, os estudos teórico-metodológicos realizados junto às professoras orientadoras na Universidade e as observações participantes do trabalho pedagógico de uma turma de Maternal II, de uma escola municipal de Catalão (GO) realizado em um grupo de Whats app instigaram a realização de um trabalho que considerasse essas especificidades e desafios, mas que se apresenta como proposição de uma prática pedagógica promotora de desenvolvimento humano, ainda que em condições adversas.
Assim, o presente trabalho relata a experiência da intervenção realizada em uma escola da rede municipal de Catalão/GO referente ao subprojeto de Pedagogia, linha de ação-Educação infantil do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID- CAPES. O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) é um espaço que nos possibilita a socialização profissional com o futuro lócus de trabalho, a escola, logo no início de nossa graduação. Com isso, o acadêmico já tem contato com a prática docente, construindo sua identidade docente a partir das experiências pedagógicas vivenciadas, tendo à docência como ponto de partida e ponto de chegada para a escolha consciente da profissão.
O Ensino Remoto na Educação Infantil: experiências pedagógicas de um pibidiano
O PIBID nos possibilita o contato com a sala de aula e com a prática docente, propiciando experiências formativas, considerando a dimensão teórica e prática do trabalho pedagógico. Nesse texto relatamos experiências vivenciadas por um acadêmico do curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Catalão, em uma turma – no Maternal II - em uma escola da Rede de Ensino Municipal de Catalão - GO. Começamos a observação dos alunos do maternal 2 em janeiro de 2021. Na ocasião, conhecemos as professoras regentes e as crianças da turma, e iniciamos o acompanhamento das suas práticas pedagógicas Além das observações participantes, também recebemos orientações das professoras preceptoras sobre a trabalho pedagógico na Educação Infantil na modalidade de ensino remoto, com o intuito de nos auxiliar na compreensão da realização dos planejamentos até a elaboração das atividades disponibilizadas no grupo. Concomitantemente, também aconteciam reuniões com a coordenadora, orientadora e as outras bolsistas do PIBID, no qual compartilhávamos experiências, e estudávamos sobre a etapa da Educação Infantil já pensando no planejamento que seria realizado em seguida.
A partir dessas experiências formativas e das vivências no grupo com as crianças, um questão nos chamou a atenção: com a pandemia e isolamento social , as crianças têm ficado mais quietas em casa, com pouca oportunidade de se movimentarem e se ocuparem outros espaços além das suas casas. Sabemos que para que a criança compreenda o que é o espaço e o que ele representa, é preciso que ela entenda e conheça o lugar no qual vive, visto que o reconhecimento do espaço está diretamente ligado com o seu desenvolvimento e com o reconhecimento da cultura e do meio social em que está inserida.
Ademais, Corpo, gestos e movimentos, é um dos campos de experiência previstos na BNCC como estruturante do curriculo da Educação Infantil, com vistas a fomentar o reconheciemento do diferentes espaços e tempos nas vivências infantis, por meio de recursos lúdicos,reconhecendo-a como sujeito ativo na construção das noções espaciais.
164Além disso, o desenvolvimento da noção espacial ocorre de forma distinta e singular de cada criança de acordo com as experiências e práticas sociais vivenciadas. De acordo como Melo (2013):
trabalhar com as crianças na construção de noções espaciais deve ter uma base a partir do desenvolvimento do esquema corporal, potencializando as experiências vividas, com atividades que proporcionem às crianças a manipulação e exploração de objetos e espaços que estão inseridas. Tais atividades devem ser planejadas de forma a estimular mente e corpo, que desafiem as crianças a resolver problemas, além de utilizar a linguagem espacial para ampliar suas noções espaciais (MELO, 2013, p.21).
Por isso, desenvolvemos um projeto de intervenção com a temática “Os espaços construídos para criança e com a criança”, a fim de propor atividades de forma remota que oportunizassem a exploração do espaço por elas, com brincadeiras que fomentassem diferentes movimentos e reconhecimento corporal. Dentre as atividades, destaca-se a “Pular em um pé só”. Essa atividade foi escolhida, pois ela é de fácil realização como descrito acima, e não exige muitos recursos, possibilitando que todos participassem, visando explorar as possibilidades de gestos e ritmos corporais para expressar-se nas brincadeiras e nas demais situações de interação era desenvolver a coordenação motora, ampliar a agilidade, e explorar o equilíbrio, e a concentração.
Com a observação continua durante o semestre, percebeu-se que trabalhávamos com uma turma participativa e esforçada, os pais e as crianças se esforçam para realizar as atividades e participar na sala virtual, mesmo em tempos complicados de pandemia no qual estamos passando, dado essa observação foi elaborada uma atividade de fácil realização, e que atendesse os objetivos do projeto de intervenção.
Além disso, acreditamos que essa atividade possibilitaria que as crianças ampliassem suas relações interpessoais, desenvolvendo atitudes de participação e cooperação. Os recursos utilizados para a brincadeira foram: uma fita crepe, ou qualquer outro objeto que pudesse servir de ponto de referência. Elaboramos uma videoaula gravada pelo celular com as orientações para as crianças realizarem as atividades em casa. Como avaliação da atividade pedimos que elas mandassem o registro fotográfico da atividade realizada (Figura 1). A avaliação das atividades ocorre de modo processual e contínuo, observando o envolvimento, a participação e o desempenho dos alunos diante das atividades propostas.
165 164As famílias auxiliaram as crianças com as marcações e com os registros das atividades realizadas. A orientação era de que a criança pudesse escolher o espaço em que gostaria de realizar a atividade e registrasse o movimento proposto (pular de um pé só). A brincadeira foi gravada, sendo um vídeo curto, e logo em seguida foi postada na sala virtual. As crianças conseguiram realizar a atividade, algumas tiveram dificuldade no início para se equilibrar, mas no final todas conseguiram concluir a atividade. Nos vídeos foi possível constatar sorrisos e entusiasmo com a realização da atividade.
Conclusões ou Considerações Finais
Concluímos que apesar dos desafios e limites impostos pelo estado pandêmico em relação ao ensino das crianças na Educação Infantil, as crianças demonstraram interesse em participar das aulas remotas. De modo geral a turma é interativa e, algumas famílias interagem na sala virtual junto de suas crianças. Outro ponto que merece destaque é o planejamento e o cuidado que as professoras demonstram em oferecer condições equalitárias para que as crianças realizem suas atividades. Todas as atividades propostas que exigem o uso de materiais, as professoras solicitam esses materiais à escola para disponibilizar às crianças. As famílias são comunicadas com antecedência para que possam se dirigir à instituição escolar para buscar o material. Desse modo, nós enquanto acadêmicos, percebemos que futuramente como professores, enfrentaremos diversas adversidades em uma sala de aula, o que demandará estudo e (re)planejamento da prática pedagógica. A experiência pedagógica realizada oferece conhecimentos teórico-práticos, a tomada de consciência da necessidade de formação permanente dos professores, bem como a garantia por melhores condições e valorização do trabalho docente.
166Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Base Nacional Comum Curricular. Brasília. 2018. Disponível em: https://cee.go.gov.br/wp-content/uploads/2018/12/Volume-I-Educa%C3%A7%C3%A3o-Infantil-1.pdf. Acesso em: 30/06/2021
MELO, R. G. D. de. Noção Espacial na Educação Infantil: pressupostos norteadores para a prática pedagógica. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013. 57f. Disponível em: https://www.acervodigital.ufpr.br/handle/1884/51154. Acessado em: 30/06/2021
Notas
1. Discente bolsista do PIBID/PEDAGOGIA/UFCAT
2. Profa. Supervisora PIBID/PEDAGOGIA/UFCAT.
3. Coordenadora do PIBID/PEDAGOGIA/UFCAT.