Valdenilton Rodrigues Valadão
valdeniltonmat@yahoo.com.br

Adriana Aparecida Molina Gomes
adriana_aparecida_molina@ufg.br

EIXO
Matemática e Física

Formação continuada: resolução de problema, xadrez uma metodologia alternativa para o ensino de matemática

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Resumo

Este trabalho trata se de uma pesquisa qualitativa do tipo Ação, em andamento, que pretende, perceber e analisar as contribuições do uso do xadrez, numa perspectiva de resolução de problema, na prática docente de professores que ensinam matemática, durante um curso ministrado de modo híbrido, na cidade de Doverlândia-GO. Durante o qual pretendemos responder a seguinte questão: Como o uso do xadrez, numa perspectiva da resolução de problema, pode contribuir na formação de professores que ensinam matemática durante o ensino híbrido?

Palavras-chave: Resolução de Problema. Jogo de xadrez. Professores que ensina Matemática.

Introdução

Este trabalho surge de experiência em trabalhar com a utilização do xadrez no ambiente escolar de quase 20 anos. Inicialmente utilizava apenas como treinamento desportivo, o foco era voltado para a participação em torneios escolares como as Olimpíadas Escolares. Somente em 2017, com a introdução dos Itinerários Formativos para o Ensino médio, tive a oportunidade de relacionar o xadrez com o ensino de matemática, onde fui professor da oficina de xadrez em duas turmas do ensino médio, nas quais mesmo que de forma introdutória, consegui levar os alunos a relacionar o xadrez e a matemática.

Durante os anos 2018 e 2019, trabalhei o xadrez nas chamadas Disciplinas Eletivas com alunos de 8ª e 9ª ano, no Colégio Estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira na cidade de Doverlândia – GO. Onde percebi neste jogo uma ferramenta potente para trabalhar e desenvolver habilidades em matemática, tal qual apresentadas em documentos norteadoras da educação no Brasil, como PCN Brasil (2008), BNCC, Brasil (2018) e DC-GO Goiás (2019).

Na busca por aprofundar meus estudos sobre dinamização das aulas de matemática, com intuito despertar o gosto pela disciplina, para quebrar barreiras intrínsecas ao ensino de matemática, dando sentido aos conteúdos aprendido. Ingressei no mestrado profissional, onde estudei as principais tendências em Educação Matemática, dentre elas a Resolução de Problema, na qual deu embasamento para a continuação do trabalho com o xadrez e a matemática.

Da dificuldade em encontrar curso de aperfeiçoamento voltado para desenvolvimento de metodologias capaz de desenvolver nos alunos um aprendizado de forma crítica, surge o produto final deste projeto, a realização de uma formação continuada de forma híbrida, para professores de matemática, com carga horária de 120hs, enfatizando o uso xadrez numa perspectiva de resolução de problema com alternativa trabalhar os componentes curriculares e desenvolver habilidades matemáticas, da cidade de Doverlândia – GO.

Nestes termos nos propomos a pesquisa: Como o uso do xadrez, numa perspectiva da resolução de problema, pode contribuir na formação de professores que ensinam matemática durante o ensino híbrido? Para isso lançamos mão de uma pesquisa qualitativa do tipo Ação, onde pretendemos através da sintetização dos dados obtidos, perceber e analisar as contribuições do uso do xadrez, numa perspectiva de resolução de problema, na prática docente de professores que ensinam matemática, durante um curso ministrado de modo híbrido.

O Xadrez e a matemática

A evolução do xadrez para chegar na forma a qual conhecemos hoje, teve início há cerca de 1500 anos atrás na Índia, com suas raízes no jogo chamado Chaturanga, conforme estudos apresentados por Silva (2010), onde explica que o jogo se espalhou pelo mundo, inicialmente por intermédio das guerras. Devido suas características intelectuais, teve boa aceitação por onde chegava, durante a Idade Média, o jogo era considerado o jogo dos reis e o rei dos jogos, neste período passou por algumas transformações até chegar à forma que conhecemos hoje.

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Quanto a aplicabilidade e dimensões do xadrez, Almeida (2010), cita Becker (1978), o qual apresenta,

Como jogo o Xadrez é esporte intelectual, competição, expectativa, desafio criador, divertimento, higiene mental, repouso. Como ciência o Xadrez é estratégia (tática e técnica), estudo, pesquisa, imaginação, descobrimento (e descoberta), ideal de perfeição. Como arte o Xadrez é harmonia, mensagem de beleza, encanto espiritual, emoção, prazer cultural, felicidade. (BECKER, 1978, p. iv apud ALMEIDA, 2010, p. 30-31).

O xadrez no ambiente escola de acordo com Grilo (2012), está organizado em duas categorias, o xadrez como treinamento, e o xadrez como passa tempo: como treinamento no ambiente escola, os professores que utiliza essa categoria, são os que acreditam que deve ser trabalhado de forma a promover a vitória, utilizando livros de xadrez e repetindo partidas de grandes jogadores, seguindo à risca os manuais de treinamento, em suas regras e táticas. Como passa tempo, os que utilizam esta categoria, acredita que o jogo tem a capacidade por si só desenvolve no aluno habilidades, que estas se desenvolveram pelo simples fato de jogar, como uma ginástica para o cérebro.

Em ambas as categorias, mesmo que possuam objetivos bem definidos, e posso desenvolver certo aprendizado, não se enquadra no que Grilo (2012), considera uma “concepção pedagógica” do jogo, na concepção de Grando (2000), o que leva um jogo convencional para o âmbito do pedagógico, e a mediação do professor.

Essa preocupação em relacionar o xadrez com a matemática no sentido de produzir conhecimento significativo a qual Grilo (2012), se refere, vem de encontro com as constatações de Almeida (2010),

Cada vez mais os estudos relacionam o jogo de Xadrez com o ensino da Matemática, por proporcionar situações que requerem tomadas de decisões, raciocínio lógico e a possibilidade de aprendizagem através dos erros, situações encontradas em problemas matemáticos. (ALMEIDA, 2010, p. 41)

Mediante essa constatação Grilo (2012), propõem essa terceira categoria, a concepção pedagógica, com um olhar voltado não para os aspectos técnicos, da matemática em relação ao xadrez, mas sim em uma perspectiva de resolução de problema, com problemas dinâmicos, passíveis de mediação por parte do professor, com finalidade desenvolver estratégias próprias para lidar com situações de conflito as quais são encontradas a cada lance, em se jogar uma partida de xadrez, e nas estratégias de jogos pré- enxadrísticos.

A utilização do xadrez, numa concepção pedagógica de resolução de problema, tal qual defendida por Grilo (2012), é uma ferramenta, que encontra embasamento na DC-GO Goiás (2019),

Aulas baseadas em jogos de raciocínio podem ajudar a desenvolver habilidades cognitivas e socioemocionais, ou seja, a tomada de decisão, o planejamento, o gerenciamento de recursos, a resolução de problemas, a compreensão e aceitação de regras pelos estudantes, a autonomia e o pensamento lógico, possibilitando a mobilização de conhecimentos prévios. (DC-GO, GOIÁS, 2019, p. 662).

Essa é a concepção de utilização do xadrez na sala de aula sobre a qual pretendo desenvolver esta pesquisa, consciente essa é uma atividade complexas, para estabelecer uma relação entre os aspectos do jogo do xadrez, com regras, estratégias, movimento das peças, posição das peças no tabuleiro e contagem de pontos. Com elementos da cognitivos da dos componentes curriculares de matemática e outas áreas do conhecimento de forma a desenvolver um aprendizado significativo.

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Metodologia

Esta é uma pesquisa que nasceu da experiência minha como jogador de xadrez e professor de matemática. Trata-se de uma pesquisa da prática pedagógica, para a qual será utilizada como metodologia a pesquisa qualitativa do tipo ação.

De acordo com Engel (2000), o primeiro a trabalhar com esse tipo de pesquisa foi Kant Lewin. Este tipo de pesquisa só ganhou força em meados da década de 60, a ideia era que o cientista social deveria sair de seu laboratório e encarar os resultados de sua pesquisa, para colocar em prática e interferir no curso dos resultados.

Para Nunan (1993) apud Engel (2000), a abordagem da pesquisa se divide em dois tipos “de fora para dentro” e “de dentro para fora”, onde cada uma possui característica bem distintas, que determina o caráter da pesquisa,

A primeira parte do pressuposto de que as verdades científicas existem no mundo externo, cabendo ao cientista apenas descobri-las. Conforme o segundo modo de encarar a natureza da pesquisa, não há verdades científicas absolutas, pois todo conhecimento científico é provisório e dependente do contexto histórico, no qual os fenômenos são observados e interpretados. (NUNAN, 1993, p. 41 apud ENGEL, 2000, p. 183)

Para Nunan (1993), a pesquisa ação tem mais a ver com essa segunda parte, uma vez que considera o saber científico como algo inacabado e possível de sofrer modificações a luz de novas descobertas.

Utilizaremos a concepção de ciclicidade espiral da pesquisa ação apontada por Lewin (1946), apud Franco (2005), onde se dispõem em três fases, conforme o esquema apresentado abaixo:

Fonte: Elaboração nossa, em 2021.

Ao utilizar esse esquema queremos dar ênfase à metodologia da pesquisa-ação na forma em que pretendemos utilizar apoiado nos princípios elencados por Franco (2005), a partir do planejamento de ação, tomada de decisão a partir da práxis e reflexão da prática, agregar a essa práxis os resultados e conclusões, por fim fazer um novo plano a partir desse novo conhecimento e com isso desenvolver novas ações.

A obtenção dos dados ocorrerá mediante a utilização de questionários, pré e pós realização da pesquisa, atividades desenvolvidas pelos participantes, relatório, entrevistas, gravações, diário de bordo, vídeos e áudios.

Os sujeitos participantes desta pesquisa são professores que lecionam matemática, na cidade de Doverlândia-GO.

Do curso para professores

O curso será direcionado a professores que ensinam matemática que atuam em sala de aula na cidade de Doverlândia-GO. Serão disponibilizadas 10 vagas, para docentes que atuam em sala de aula e tenham disposição para participar da formação.

Como forma de participação será feito um convite, através de instrumento de comunicação (e-mail, ligações e/ou whatsapp), para a seleção dos participantes. Após o convite e para aqueles que aceitaram, será aplicado um questionário envolvendo questões sobre sua atuação profissional, a disponibilidade de participação do curso, a faixa etária dos seus alunos.

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Resultados

Os resultados esperados são que os professores participantes percebam os aspectos do xadrez que poderão ser utilizado no planejamento de atividades nas aulas de matemáticas, numa perspectiva de resolução de problema, conforme defendia por Onuchic (2009), não apenas como forma de fixação ou revisão de conteúdos mas também como uma atividade desafiadora capaz de desenvolver habilidades de raciocinar e desenvolver estratégias novas e com isso ser capaz de produzir novos conhecimentos a partir de uma situação problema.

Ser capaz de compreender e desenvolver atividades, a partir do xadrez, que possibilite a integração do aluno com os conceitos matemáticos de forma a torna-lo a compreender os conceitos como algo presente em seu cotidiano.

Os resultados ainda não podem ser constatado uma vez que o desenvolvimento da pesquisa ocorrerá no final do correte ano após os tramites do da pesquisa na plataforma Brasil, a qual se encontra em processo de submissão.

Referências

ALMEIDA, J.W. de Q. O jogo de Xadrez na Educação Matemática: como e onde no ambiente escolar. 2010. 156 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Campina Grande-PB. Disponível em: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/1648. Acesso em 03-03-2021 as 11:30hs

ASSUNÇÃO, Jeneffer Araújo de. A resolução de problemas como metodologia de ensino no conteúdo de função Afim fundamentada na teoria de aprendizagem significativa de Ausubel / Jeneffer Araújo de Assunção. - Boa Vista : UERR, 2015. 145pg. Disponivel: http://uerr.edu.br/ppgec/wp-content/uploads/2015/08/produto_-jeneffer.pdf. Acesso em 05-04-2021as 16:00

ENGEL, Guido Irineu Pesquisa-ação. Educar em Revista [online]. 2000, n. 16 [Acessado 20 maio 2021] , pp. 181-191. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-4060.214. Epub 06 Mar 2015. ISSN 1984-0411. https://doi.org/10.1590/0104-4060.214.

FRANCO, Maria Amélia Santoro Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa [online]. 2005, v. 31, n. 3 [Acessado 05 maio 2021], pp. 483-502. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1517-97022005000300011. Epub 17 Abr 2006. ISSN 1678-4634. https://doi.org/10.1590/S1517-97022005000300011.

GOIAS, Secretaria de Estado da Educação. Documento Curricular para Goiás. Goiânia, GO, 2019. Disponível em: https://cee.go.gov.br/wp-content/uploads/2019/08/Documento-Curricular-para-Goi%C3%A1s.pdf. Acesso 22-05-2021 as 11:00.

GRILO, Rogério de Melo. O xadrez pedagógico na perspectiva da resolução de problemas em matemática no ensino fundamental. / Rogério de Melo Grillo. G872x.Dicertação (mestrado) -- 279 p. – Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade São Francisco. Itatiba, 2012. disponível em: https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/385/423581453701372.pdf. Acesso em 12-04-2021 as 13:00.

Notas

1. Disciplinas Eletivas são disciplinas que não fazem parte do currículo e que podem ser escolhidas para fazer parte da grade curricular pelos estudantes da 2ª fase do Ensino Fundamental nas escolas estaduais de Goiás.