Stephani da Cruz Faria
stephanifaria@discente.ufg.br

EIXO
Geografia e História

As oficinas pedagógicas para o ensino de geografia: representação horizontal para abordagem do componente físico-natural relevo

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Resumo: O presente trabalho é resultado de uma experiência com oficinas pedagógicas, para o ensino do conteúdo de relevo, na disciplina de metodologia de geografia 2. Tem como objetivo verificar e ilustrar a potencialidade das oficinas pedagógicas para o ensino de geografia e abordagem do componente físico-natural relevo. Os processos metodológicos aqui utilizados são pautada no modelo de estratégia de ensinagem, Anastasiou e Alves (2003) e na aula invertida, Moran (2018). Dessa forma, foi proposta uma oficina pedagógica, de representação horizontal das formas do relevo brasileiro, e juntamente aos colegas foram discutidas as possibilidades metodológicas e de mobilização de conhecimento, que está pode proporciona.

Palavras-Chave: Ensino de geografia; Relevo; Oficinas pedagógicas.

Introdução

A abordagem do componente relevo no ensino de geografia, é tema de discussão de muitos pesquisadores da área. Ao partir da identificação, das dificuldades docentes ao abordar

o conteúdo, e a importância do mesmo para a formação cidadã e compreensão de inúmeros fenômenos naturais e sociais. As pesquisas permeiam discussões acerca dos métodos para trabalhar o componente e as formas de pautá-lo em uma análise integrada do ambiente.

Ascenção (2009) e Fonseca (2019) discutem as abordagens do ensino do componente

relevo na disciplina de geografia. Ambos, destacam em suas pesquisas a importância, de pautar o cotidiano dos escolares para a abordagem do componente. Morais (2011, p. 139) discute o papel da escola na construção do escolar como cidadão, ao discutir o papel do ensino dos componentes físico-naturais, atesta que: “[...] os conteúdos relevo, rochas e solos devem ser abordados de forma que compreendam as dinâmicas internas de cada um deles e entre eles, bem como as que se estabelecem com a sociedade”

Pautada nas pesquisas já realizadas acerca da abordagem do componente relevo na geografia escolar, nas concepções de Shulman (2005) acerca das bases do conhecimento docente e assentada em uma compreensão integrada dos componentes físico-naturais e sociais, aqui apresentamos o seguinte sistema conceitual acerca da abordagem do componente relevo no ensino de geografia.

Figura 1 - Sistema conceitual: O relevo e sua abordagem no ensino de geografia

Fonte: (FARIA, 2021)

Isto posto, compreendemos então a importância do conhecimento acerca do componente relevo para a formação cidadã, e afim de propor o ensino-aprendizagem deste, mais dinâmica e significativa para o escolar, propomos a utilização das oficinas pedagógicas para abordagem deste componente físico-natural.

As oficinas pedagógicas, permitem que o escolar se identifique enquanto sujeito ativo no processo de aprendizagem. Ao superar do modelo tradicional de ensino, através da prática, as oficinas possibilitam que elementos cotidianos sejam englobados no processo, e que o conhecimento colocado pelo professor seja comprovado e/ou experienciado.

Veiga (1991) afirma que as oficinas tem como objetivo, articular prática e teoria ao consolidar o conhecimento e tornar as exposições mais reais. E dessa forma desenvolver senso crítico, a criatividade e o desenvolvimento de habilidades. Visto que, é papel do professor mediar todo o processo desde a preparação, realização e avaliação.

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As modalidades de oficina de demonstração, são intelectual, experimental, documentária e operacional. A escolha da modalidade vai depender, do objetivo do professor com a metodologia. Visto que é necessário que o docente obtenha domínio do Conhecimento pedagógico do conteúdo (PCK), proposto por Shulman (2005), para selecionar a oficina adequada para cada tema e conteúdo, que converse com toda a proposta didática de abordagem.

Isto posto, pode-se afirmar que as oficinas pedagógicas, tem um importante papel no processo de ensino-aprendizagem, ao tornar os conteúdos palpáveis e as experiências significativas para os escolares. Haja vista que, ao compreender-se como sujeito ativo na aprendizagem, a assimilação e internalização do conhecimento vai ocorrer de maneira mais efetiva.

Metodologia

A primeira etapa do processo metodológico foi o de levantamento bibliográfico acerca das classificações do relevo brasileiro. Após o levantamento, foi realizada a elaboração da sequência metodológica da aula, e dos processos para a realização da oficina.

Para tanto consideramos como referência, os quadros de estratégia de ensinagem propostos por Anastasiou e Alves (2003). O quadro foi adaptado para a oficina que seria realizada, de acordo com as etapas, conhecimentos geográficos mobilizados e operações mentais acionadas em consonância com o apresentado pelas autoras (Quadro 1).

Oficina Pedagógica: Manual de classificação do relevo brasileiro
Descrição A proposta trata-se da elaboração de um Manual de classificação do relevo brasileiro, a partir da caracterização e representação horizontal das classificações e formas destes.
Operações Mentais Organização e obtenção de dados; Resumo; Identificação; Classificação; Imaginação e criatividade.
Conhecimentos Geográficos Componente Relevo; Classificação do relevo, forma de representação horizontal; Formação do relevo; Processos geológicos.
Etapas
  1. Selecionar as classificações e formas para representar;
  2. Desenhar as formas em folha branca;
  3. Colorir e recortar as formas;
  4. Juntar, dobrar e grampear as folhas papel. Colar as formas e escrever as características de cada uma delas.
Avaliação
  • Elaboração do material.
  • Resultado final do material (Representações das formas e características descritas).

Fonte: (ANASTASIOU E ALVES, 2003); Adaptação: (FARIA, 2021)

A oficina foi realizada juntamente com a turma da disciplina de metodologia de geografia 2. Pautada na aula invertida Moran (2018), em que é o discente que realizada a mediação da aula, neste caso com o uso da oficina pedagógica.

Resultados e discussões

A oficina tinha como objetivo, representar e caracterizar as classificações do relevo brasileiro, a partir de um modelo de representação horizontal. Veiga (1991) afirma que é papel do professor mediar as oficinas desde a preparação, no entanto como estamos seguindo a perspectiva de aula invertida apresentada por Moran (2018) o papel de mediação da oficina se faz dos estudantes.

A realização da aula invertida, iniciou-se com a apresentação do modelo da oficina e um pequeno tutorial de elaboração do material. Após todos os colegas terem realizado a oficina (Figura 2), partimos para uma discussão das possibilidades que a mesma oferece, guiados por atividades previamente definidas para os estudantes.

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Figura 2 – Imagens das representações elaboradas pelos discentes durante a oficina

Fonte: (FARIA, 2021)

A primeira foi a apresentação de um sistema conceitual, com o tema classificação do relevo brasileiro. A segunda atividade foi a identificação dos conhecimentos mobilizados durante a oficina por um grupo de colegas. Os conhecimentos por eles pontuados foram, o próprio conteúdo de relevo e estimulação da criatividade e imaginação.

A terceira atividade solicitava que um determinado grupo, selecionasse uma forma do relevo e destacasse possíveis problemas que poderiam ocorrer. Foram colocados problemas como, aceleração do intemperismo, e erosão em morros e depressões, que poderiam acarretar não só problemas naturais, como também questões de ordem social, ao afetar possíveis populações que residem em áreas que apresentam essas formas de relevo.

Para finalizar a aula, foi questionado aos estudantes, se a metodologia seria aplicável, e em que momento e series poderia ser trabalhada. As respostas foram positivas quanto a realização da oficina na geografia escolar, destacando que é uma metodologia de fácil elaboração, que oferece muitas possibilidades, mas ainda assim é significativa na aprendizagem do escolar.

Em relação ao momento de realização durante o processo metodológico, alguns destacaram que utilizariam para um momento de síntese do conteúdo, enquanto outros colocaram que seria interessante no início da sequência metodológica. O 6º ano dos Anos finais do Ensino fundamental, foi colocado como serie para a aplicação, visto ser nesse momento é o primeiro contato dos escolares com o conteúdo de relevo.

A avaliação da aprendizagem a partir da oficina foi realizada tendo como critério, a participação da oficina, o resultado da elaboração do matéria e o preenchimento da ficha do aluno.

Considerações Finais

O ensino dos componentes-físico naturais na geografia escolar, deve partir de uma perspectiva integrada do ambiente, ou seja uma concepção que relacione os componentes com a sociedade. Para tanto é necessária primeiramente, uma abordagem verticalizada de cada componente, para que assim suas características e relação com a dinâmica do espaço seja apreendida, internalizada e relacionada com os demais componentes e elementos.

É importante salientar, que um abordagem verticalizada, não é o mesmo que uma abordagem isolada do componente. Quando olhamos de forma verticalizada para um componente físico-natural, significa que ampliamos a lente geográfica para trabalharmos as características daquele componente, sempre relacionando-o com os outros e trazendo as trocas que ocorrem no ambiente, e que o delineiam com as características próprias a cada localidade.

As oficinas pedagógicas carregam uma importância, no ensino-aprendizagem dos componentes físico-naturais. Visto que com o uso destas, foge-se do ensino tradicional, ao tornar a aprendizagem significativa para o escolar, enquanto sujeito ativo no processo de aprendizagem. Dessa forma as oficinas mobilizam o conhecimento de forma prática e dinâmica, aproximando ainda mais o escolar do conhecimento científico, e auxiliando-o no desenvolvimento de habilidades, do senso crítico e imaginação.

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A aula invertida, metodologia ativa aqui utilizada, propõe ao estudante outra realidade, em que ele se encontra na posição de mediador. As responsabilidades colocadas ao estudante, permitem que ele reflita tanto sobre os conhecimentos, quanto sobre sua abordagem, e provoca na turma um sentimento de empatia ao se identificar com o colega na posição de mediador.

Referências

ANASTASIOU, Lea das Graças C.; Alves, Leonir Pessate (Orgs). Processos de ensinagem na universidade. In: ANASTASIOU, Lea das Graças C.; Alves, Leonir Pessate. Estratégias de ensinagem. Joinville-SC: Univille, 2003. P. 67 – 100.

ASCENÇÃO, V. O. R. Os conhecimentos docentes e a abordagem do relevo e suas dinâmicas nos anos finais do ensino fundamental. Tese (doutorado), Minas Gerais, Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, 2009

FONSECA, Cleyton Normando da. Ensino de geografia a partir da temática relevo: uma abordagem escalar utilizando a metodologia de trabalho de campo para encaminhamentos didáticos o ensino médio. Tese (Doutorado em geografia) – Goiânia, p. 287, 2019.

MORAIS, Eliana Marta Barbosa. O ensino das temáticas físico-naturais na geografia escolar. Tese (Doutorado em geografia) – Goiânia, p. 310, 2011

MORAN, José. Metodologia Ativas para uma aprendizagem mais profunda. Proposta metodológica de metodologia ativa. IN: BACICH, Lilian; MORAN, José. (orgs.) Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico prática. Porto Alegre: ArtMed, 2019.

SHULMAN, Lee S. Conhecimento e ensino: fundamentos para nova reforma. Cadernos CENPEC, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 196-229, 2014. Disponível em: http://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/293/297. Acesso em: 06 fev. 2018.

VIEIRA, E.; VOLQUIND, L. Oficinas de ensino? O quê? Por quê? Como? 4. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

Notas