Lincey Elias Sousa
linceyelias.le@gmail.com

Cláudia Helena dos Santos Araújo
helena.claudia@ifg.edu.br

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

O uso do YouTube pelos docentes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus Barra do Garças

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Resumo: Essa pesquisa em desenvolvimento é vinculada ao Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) na linha de pesquisa Práticas Pedagógicas e Educação Profissional e Tecnológica. Tem como objetivo investigar se os docentes do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal de Mato Grosso – Câmpus Barra do Garças fazem o uso da plataforma YouTube em suas práticas educativas. A natureza dessa pesquisa é qualitativa que faz uso de dados quantitativos e orienta-se a partir dos pressupostos do Materialismo Histórico-Dialético (MHD) e a coleta de dados foi realizada por meio do google forms. De acordo com os dados levantados em uma análise parcial dos resultados, o YouTube por ser uma plataforma dinâmica e diversa passou a estar presente na vida dos estudantes, docentes e da rotina escolar

Palavras-Chave: YouTube. Práticas educativas. Ensino Médio Integrado.

Introdução

Esse texto constitui um desdobramento da pesquisa em andamento que integra o Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica em Rede Nacional (ProfEPT).

Tendo em vista as possibilidades da utilização de tecnologias digitais como recursos pedagógicos nas estratégias metodológicas no processo de ensino e aprendizagem e as distintas modelizações das relações sociais acerca de práticas de circulação, processamento de informação e comunicação, torna-se emergente a discussão da plataforma YouTube, repositório de conteúdos diversos, inclusive de cunho científico, e que pode proporcionar distintas aprendizagens, além da sala de aula.

O uso das mídias audiovisuais é uma forma diferente de aprender um determinado conhecimento/saber no campo da educação não-formal. Segundo Gohn (2014), a educação não-formal “tem uma intencionalidade na ação: os indivíduos têm uma vontade, tomam uma decisão de realizá-la, e buscam os caminhos e procedimentos para tal” (p. 40).

O uso da plataforma pode favorecer múltiplas tarefas como ouvir áudio, ver imagens, compartilhar em outras plataformas, comentar, submeter vídeos amadores ou profissionais e curtir ou não curtir o conteúdo apresentado, possibilitando a interação com o indivíduo. Como afirma Demo (1991, p.12) “não se trata somente de usar instrumentações eletrônicas deste tipo, como usuário, mas principalmente de utilizá-las como processo educativo, para despertar a criatividade exigida para tempos modernos”.

Desse modo, durante a atuação da pesquisadora, enquanto professora de Ciências e Biologia, foi percebido, em diversos momentos, a experiência dos alunos como sujeitos educativos, que fazem usos e apropriações das tecnologias digitais no seu cotidiano em espaços tanto formais, quanto não-formais. A grande visibilidade do YouTube nos últimos anos chama atenção. De acordo com estatísticas da plataforma são “[m]ais de dois bilhões de usuários” que “geram bilhões de visualizações” diariamente (YOUTUBE, 2016). Assim, justifica-se a indagar a inserção do YouTube nas práticas educativas de docentes. O objetivo é investigar de que forma tal inserção ocorre no contexto do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), Câmpus Barra do Garças.

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Metodologia

A natureza da pesquisa é qualitativa, faz uso de dados quantitativos e orienta-se a partir dos pressupostos do Materialismo Histórico-Dialético em articulação com o ambiente da pesquisa. Ou seja, necessitando a compreensão do concreto real ao concreto pensado, indo além do imediato e aparente nas práticas educativas e constituindo o ambiente natural como fonte de coleta de dados (BOGDAN; BIKLEN, 1982). Esse entendimento requer a dialética para a compreensão da totalidade do particular do objeto de estudo, sendo esse caminho construído historicamente (FRIGOTTO, 1989).

O lócus é o Ensino Médio Integrado do IFMT, Campus Barra do Garças e seus cursos técnicos integrados ao ensino médio (Administração; Alimentos; Comércio; Controle Ambiental; e Informática) que visam à formação profissional de nível técnico, bem como a formação acadêmica de nível médio, permeado de valores éticos, científicos e tecnológicos.

Sobre o campo de pesquisa, foi necessário um recorte dentro da totalidade, a partir de um diagnóstico prévio de viabilidade do estudo no universo delimitado, via e-mail com a coordenação do IFMT, pois o interesse em pesquisar os docentes que atuam no IFMT se deve à aproximação da pesquisadora com a Instituição durante o período de 2017-2019 como professora contratada.

A escolha metodológica objetiva investigar se os docentes, em suas práticas educativas, utilizam a plataforma YouTube. O instrumento de coleta de dados foi o questionário, em Google Forms enviado aos docentes participantes via e-mail institucional, e estruturado da seguinte forma: as quatro primeiras perguntas observam o perfil dos docentes (idade, formação e área de atuação), preservando suas identidades. As próximas duas perguntas investigam sobre os aparatos tecnológicos, por exemplo, se os docentes possuem computador e acesso à internet. O próximo bloco de questões, objetivas e dissertativas, investiga como o YouTube está inserido nas práticas educativas e a frequência de uso da plataforma pelos docentes. A última pergunta tem por objetivo investigar a relação entre educação e tecnologia na perspectiva dos participantes.

A seguir, análise refletirá sobre o objeto da pesquisa seguindo as orientações estabelecidas por Gil (2002 p.78), “imparcialidade, objetividade e respeito” a partir dos dados obtidos.

Resultados

Após o envio do questionário para 30 docentes do Ensino Médio Integrado do IFMT, Campus Barra do Garças, foram obtidas 19 respostas, sendo 13 professoras e 6 professores. Destes, 11 são formados em cursos de licenciaturas e 8 são formados em cursos bacharéis, com formações distintas, desde disciplinas da Educação Básica até formações técnicas como medicina veterinária, secretariado, informática, economia, etc. Acerca do nível de escolaridade foram registrados 13 participantes com mestrado, dois com doutorado, três com especialização e uma resposta em branco. A faixa etária dos docentes está entre os 24 e 54 anos de idade.

Sobre o aparato tecnológico, todos possuem computador em casa, sendo que 16 responderam que possuem internet de boa qualidade e 3 responderam que a internet disponível em casa é mediana. Acerca das práticas educativas, respostas subjetivas indicaram serem consideradas ações, atividades, metodologias, práticas e métodos utilizados para alcançar o ensino e a aprendizagem.

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No que se refere aos usos do YouTube pelos docentes no processo de planejamento pedagógico das aulas, foram observadas 17 respostas afirmando que utilizam e dois docentes responderam que a utilização depende dos conteúdos a serem sistematizados no processo de organização do trabalho pedagógico.

Os docentes foram questionados se indicariam algum canal no YouTube para os estudantes, 10 docentes responderam que sim, 8 disseram que depende do conteúdo ministrado e 1 respondeu em branco. Em contrapartida, as indicações de 4 docentes, não especificam um canal, mas citam opções que variam com conteúdo de sala de aula. Sobre a qualidade das videoaulas do YouTube, 8 consideram razoável, podendo ser melhor; 9 consideram muito interativas e atraentes para os estudantes; e 2 afirmaram serem sempre boas.

No retrato sobre os usos do YouTube e suas contribuições para a mediação pedagógica durante as práticas educativas, 16 responderam que ele contribui, enquanto 3 afirmaram ser indiferente na mediação pedagógica. Na forma como ocorre essa contribuição, 11 responderam que os vídeos ajudam para complementar o que foi visto e discutido em sala de aula, um material a mais para reforçar a aprendizagem dos estudantes por ter ilustrações como, imagens, gráficos, exemplos 3D, esquemas e, no caso de uma disciplina técnica, mostra os processos produtivos dentro de uma empresa. Em específico, um docente respondeu que utiliza videoaulas para substituir a sua aula durante a pandemia quando encontra um material bem produzido e que contemple os seus objetivos. E 7 optaram por não responder essa pergunta.

No percurso sobre o desejo dos docentes produzirem um canal com conteúdos multidisciplinares, apenas cinco docentes manifestaram essa vontade, idealizando produzir conteúdo para a disciplina de Língua Portuguesa, organização de estudos, conteúdos em geral priorizando o conhecimento e a aprendizagem, bem como, o ensino de Matemática voltado para o empoderamento feminino.

Por fim, acerca da relação entre tecnologia e educação, os docentes dissertaram que a tecnologia e educação estão imbricadas e que a tecnologia complementa a educação, sendo uma “ferramenta facilitadora do ensino e aprendizagem” (PARTICIPANTE), principalmente na pandemia da Covid-19, que segundo o participante permitiu a continuidade das atividades de forma não presencial.

Discussões

Como podemos observar o YouTube, por ser uma plataforma dinâmica e com conteúdos diversificados, passou a estar presente na vida dos estudantes, docentes e da educação escolar.

A plataforma pode contribuir com as práticas educativas desde que os vídeos utilizados estejam de acordo com o planejamento, tema e objetivo da aula. Os docentes estabelecem relações de mediação na utilização da tecnologia para orientar o processo de ensino e aprendizagem. Apesar de alguns discursos exaltarem a tecnologia em detrimento do ser humano, não é essa perspectiva que vimos nos discursos dos docentes na qual cada elemento pedagógico tem sua importância e cumpre o seu papel nesse processo, sendo a tecnologia considerada um recurso pedagógico.

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Para Vieira Pinto (2005), a ideologização, ou seja, a atribuição de valores sociais e culturais para a tecnologia pode ser catastrófico para a sociedade, pois submete o ser humano para a condição de dominado e a tecnologia para a posição de dominadora. Dessa forma, as tecnologias seriam utilizadas pelos docentes como recurso para a melhoria ou condução do processo de ensino e aprendizagem, não seriam aceitas como neutras ou como fim, mas como meio para alcançar as finalidades e objetivos educacionais.

Referências

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1982.

CIAVATTA, M. Formação profissional para o trabalho incerto: um estudo comparativo Brasil, México e Itália. In: FRIGOTTO, G. (Org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 100-137

DEMO, P. Desafios modernos da educação. Brasília: Coordenação regional do Rio de Janeiro, 1991.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GOHN, M. da G. Educação Não Formal, Aprendizagens e Saberes em Processos Participativos. Revista da Sociedade portuguesa de Ciência da Educação, Minho: n. 1, p. 35-50, 2014.

VIEIRA PINTO, Á. O Conceito de Tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. 2 v.

YOUTUBE. Imprensa: YouTube em números. 2016. Disponível em: . Acesso em: 28 maio. 2021.

Notas