Grazielly Katarinni Gomes Lemos
grazielly.lemos@seduc.go.gov.br

Danusa de Lima Mesquita Souza
danusageo@gmail.com

Valmir Gomes da Silva
valmir.silva@seduc.go.gov.br

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

O empoderamento sobre as competências socioemocionais na rede estadual de educaçao básica de Goiás

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Resumo: O presente trabalho visa discutir sobre a pertinência da formação dos pares da Rede Estadual de Educação de Goiás acerca das competências socioemocionais, para além do processo de ensino e aprendizagem estabelecido entre professor e estudante. Foi analisado o movimento formativo que a Secretaria de Estado de Educação de Goiás vem promovendo a partir da formação de Tutores Educacionais e Assessores Pedagógicos sobre Resiliência Emocional, através da Superintendência de Organização e Apoio Educacional com intuito de fortalecer os pares que compõem a rede colaborativa de formação em serviço até chegar no seu foco principal: o estudante. Esses atores responsáveis pela formação continuada de Gestores, Coordenadores Pedagógicos e Professores se mostraram fortalecidos e melhor empoderados para realizarem seu trabalho enaltecendo esses momentos formativos.

Palavras-Chave: Formação Continuada. Competências Socioemocionais. Empoderamento.

Introdução

É relevante refletir sobre como a Rede Estadual de Educação de Goiás propõe o empoderando de seus pares sobre Competências Socioemocionais com a finalidade de promover a formação dos estudantes para o desenvolvimento de tais competências, haja visto que elas estão inseridas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Segundo Casel, a educação socioemocional refere-se ao processo de entendimento e manejo das emoções, com empatia e pela tomada de decisão responsável, processo esse presente nas dez competências gerais da Base.

É fundamental que o educador perceba a importância de trabalhar as competências socioemocionais de forma conjunta ao desenvolvimento das competências cognitivas para que o estudante as desenvolva de forma fluida e sequencial, pois conforme afirma Casel (2015) “[...]para que as competências socioemocionais sejam trabalhadas no contexto escolar do aluno do século XXI, elas devem ser o foco de qualquer proposta curricular que venha a ser delineada a partir da BNCC”.

Para tanto a Secretaria de Estado de Educação de Goiás vem investindo em formações continuadas sobre a temática tanto por meio do Centro de Formação de Professores (CEPFOR) quanto através Tutoria Educacional que trabalha por meio de uma Rede Colaborativa de Formação. Nesse ano de 2021, mesmo que atípico, a Tutoria Educacional, respaldada pela Superintendência de Organização e Apoio Educacional (SUPOAE) percebeu a necessidade de reforçar o trabalho com foco no desenvolvimento/fortalecimento dessas competências socioemocionais em seus pares a fim de atingir seu foco principal: a melhoria do processo de ensino-aprendizagem de seus estudantes, mesmo que se esteja trabalhando quase que totalmente de forma remota.

Desta feita foram promovidas duas formações, nesse primeiro semestre de 2021, sobre Resiliência Emocional por meio dos Assessores de Gestão Pedagógica tendo como público-alvo os Assessores Pedagógicos e os Tutores Educacionais das quarenta regionais que compõem a Rede Estadual de Educação de Goiás, para que estes refaçam o processo formativo com seu pares até que se alcance os estudantes. Tal movimento é importante posto que o formador precisa do autoconhecimento e da autoconfiança para promovê-los em seus pares. E, falando de formação de professores é fundamental refletir sobre o pensamento de Imbernón (2011):

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Atualmente, há uma retórica sobre a profissão e a profissionalização (aumentada nessa época de reforma, como ocorreu em outros países em períodos similares) desprovida da reflexão crítica. Se aceitarmos que a docência é uma profissão, não será para assumir privilégios contra ou “à frente” dos outros, mas para que, mediante seu exercício, o conhecimento específico do professor e da professora se ponha a serviço da mudança e da dignificação da pessoa. Ser um profissional em educação significará participar da emancipação de pessoas. O objetivo da educação é ajudar a tornar as pessoas mais livres, menos dependentes do poder econômico, político e social. E a profissão de ensinar tem essa obrigação intrínseca (IMBERNÓN, 2011, p. 28).

Sendo assim, a partir das avaliações realizadas ao fim das formações será possível traçar caminhos formativos futuros e ainda promover correções de rotas, caso necessário.

Metodologia

Esse estudo se fez de forma dialética, pois de acordo com Konder (2008) na acepção moderna, a dialética significa: o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.

Lançou-se mão de uma análise qualitativa dos dados coletados por meio do Google Forms, em formato de avaliação das formações realizadas, pois que de acordo com Godoy (1995):

Algumas características básicas identificam os estudos denominados “qualitativos". Segundo esta perspectiva, um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando “captar" o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes. Vários tipos de dados são coletados e analisados para que se entenda a dinâmica do fenômeno. (GODOY, 1995, p. 21)

O uso do Google Forms tem ganhado um grande quantitativo de adeptos, principalmente nesse momento de pandemia ocasionado pela Covid-19. Mota, 2019 já trazia a importância dessa ferramenta:

A grande vantagem da utilização do Google Forms para a pesquisa, seja ela acadêmica ou de opinião é a praticidade no processo de coleta das informações. O autor pode enviar para os respondentes via e-mail, ou através de um link, assim todos poderão responder de qualquer lugar. Enumera-se ainda como vantagem os resultados da pesquisa pelo Google Forms, pois estes se organizam em forma de gráficos e planilhas, proporcionando um resultado quantitativo de forma mais prática e organizada, facilitando a análise dos dados. É interessante observar que com tal formato on-line os antigos formulários impressos serão substituídos.

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Sendo assim, após as formações realizadas de forma virtual foi solicitado que cada participante avaliasse o momento formativo bem como a necessidade desse tipo de discussão para o momento e a relevância desse conteúdo para o processo ensino-aprendizagem. Para essa avaliação optou-se por aplicar um questionário “instrumento de coleta de dados constituído por uma série de perguntas, respondidas por escrito” (MARCONI; LAKATOS, 1999, p.100) via Google Forms, numa espécie de entrevista a fim de estabelecer o “encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto” (MARCONI; LAKATOS, 1999, p. 94). Cabe ressaltar que a entrevista tem a função de, segundo Minayo (2001), “dar voz” ao participante da pesquisa.

Resultados

Analisando os resultados dos formulários/entrevistas foi possível constatar que tanto Tutores Educacionais quanto Assessores Pedagógicos o quanto trabalhar tal tema é relevante, não somente para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem na relação professor e estudante, mas sim para o fazer pedagógico de toda a rede colaborativa.

Quando foi questionado sobre a reflexão sobre a própria prática do participante nos foi relatado por um dos participantes:

“Esse momento da retomada da resiliência emocional foi impactante para o nosso desenvolvimento, pois estaremos mais preparadas para atuar nas escolas junto a equipe gestora e compreendermos como as emoções e sentimentos estão relacionados e como se manifestam em nós. Outro ponto relevante que levo comigo, devo investir no meu autoconhecimento sendo uma ferramenta para o desenvolvimento da resiliência emocional”. (Participante 1)

Outro participante da formação relatou o quão é importante que essa formação perpasse toda a rede colaborativa e não fique destinada apenas a professores e estudantes. Exaltou-se a importância de primeiro desenvolver sua própria resiliência antes de tentar formar o outro, posto que é imperioso ter conhecimento prévio do que se está propondo a seus pares, que pode ser percebido na fala do participante 2 sobre a formação:

“Esta formação promoveu uma oportunidade para melhorar o gerenciamento das emoções contribuindo assim para melhoria das relações interpessoais nas unidades escolares bem como na interação com o grupo da tutoria. Foi possível contribuir com experiências pessoais bem como compartilhar conhecimentos entre todos os participantes”. (Participante 2)

Houve ainda o relato de que trabalhar com Competências Socioemocionais é algo bastante melindroso e por isso ressaltou-se a importância de que haja essa formação em cascata para que todos estejam empoderados ao chegar na escola para acompanhar a atuação do professor na formação do estudante.

Discussões

Mesmo estando num momento em que cada vez mais o desenvolvimento cognitivo tem sido exaltado, Goleman (2012) afirma parecer que ele seja insuficiente para que os indivíduos se posicionem diante dos desafios. Desta forma os aspectos emocionais têm ganhado destaque possibilitando a transposição do antagonismo “cognitivo vs. emocional”, trazendo esses dois elementos de forma complementar.

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Isso pois, segundo Goleman (2012), a inteligência emocional não é importante somente pelos aspectos emocionais desenvolvidos, mas também é potencialmente ampliadora do desenvolvimento cognitivo. O Autor ainda afirma que a inteligência emocional não é importante somente pelos aspectos emocionais desenvolvidos, mas também é potencialmente ampliadora do desenvolvimento cognitivo.

Desta forma é possível notar a importância do investimento em formação continuada com foco no desenvolvimento das Competências Socioemocionais para além da formação do estudante, mas para toda a Rede de Educação. Tal empoderamento proporcionará o incremento do processo ensino-aprendizagem de forma que possibilite a formação integral do estudante bem como de todos os pares da Rede.

Referências

CASEL. Resources: Infographics. Disponível em: https://casel.org/resources-infographics/>. Acesso: 24/06/2021

CASEL. Resources: Guides. Disponível em: https://casel.org/resources-guides/>. Acesso: 24/06/2021

CASEL. Middle School SEL Resources. Disponível em: https://casel.org/middle-resources-2/>. Acesso: 24/06/2021

CASEL. Creating a Safe, Supportive Environment for Learning. Disponível em: https://casel.org/creating-a-safe-environment-for-learning/>. Acesso: 24/06/2021

CASEL. Casel Guide – Effective Social and Emotional Learning Programs. Disponível em: http://secondaryguide.casel.org/#Outcomes>. Acesso: 24/06/2021

GODOY, Arilda Schmidt. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n.3, p, 20-29 Mai./Jun. 1995

GOLEMAN, D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 2008. — (Coleção Primeiros Passos: 23)

MARCONI. Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 19. Petrópolis: Vozes, 2001.

Notas

1. Rede Colaborativa de Formação – é o estabelecimento da formação em serviço através de pares (denominados Tutor e Tutorado) – tal rede é composta de membros de dentro da Secretaria Estadual de Educação, os Assessores de Gestão Pedagógica, que são responsáveis pelo processo formativo dos Assessores Pedagógicos, que representam as 40 Coordenações Regionais Pedagógicas, os quais formam os Tutores Educacionais (responsáveis por acompanhar as escolas que compõem a Rede Estadual de Educação no processo formativo dos Gestores e Coordenadores Pedagógicos). O processo formativo segue daí para os professores, atingindo por fim, os estudantes.

2. Google Forms é um aplicativo de gerenciamento de pesquisas lançado pelo Google. Os usuários podem usar o Google Forms para pesquisar e coletar informações sobre outras pessoas e também podem ser usados para questionários e formulários de registro. As informações coletadas e os resultados do questionário serão transmitidos automaticamente. Além disso, o Google Forms também possui recursos de colaboração e compartilhamento para vários usuários.