Valéria Márcia Queiroz
valeriamarciaqueiroz@gmail.com

Victor Alves Santos
victor.santosalves@hotmail.com

Marilene Marzari
marilenemarzari@gmail.com

Jorge Rodrigues Ataides Junior
jorgejjataides@gmail.com

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

Formação continuada de professores: a construção de espaços de aprendizagens

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Resumo: Este estudo traz os desafios da formação continuada de gestores e coordenadores pedagógicos em contexto de pandemia, por meio do projeto de extensão “Formação Continuada: espaço de aprendizagens”, desenvolvido por professoras do Instituto de Ciências Humanas e Sociais/CUA/UFMT, junto aos gestores e coordenadores pedagógicos que fazem parte da Secretaria Municipal de Educação de Aragarças/GO e acadêmicos de licenciatura. O projeto tem como objetivo principal estudar os referenciais teórico-práticos que contribuem para recriar o processo de ensino-aprendizagem dos envolvidos na educação escolar. A metodologia qualitativa e os procedimentos de observações, produções e diálogos nos encontros semanais, auxiliam no levantamento e análise dos dados. Os estudos pautam-se nas funções e finalidades educativas e nas principais concepções filosóficas que se fazem presentes nas políticas públicas educacionais. Os resultados sinalizam que um acúmulo de tarefas dos gestores e coordenadores tanto de cunho profissional quanto pessoal acabam comprometendo o processo de aprendizagem.

Palavras-Chave: Formação Continuada. Professores. Aprendizagem.

Introdução

O ano de 2020 foi marcado pelo contexto de Pandemia causada pelo Vírus SARS-CoV-2 que nos obrigou a mudar a rotina de trabalho para conter e/ou amenizar a disseminação do vírus que tem contaminado e tirado a vida de milhares de pessoas no mundo. No Brasil, essa realidade se mostra ainda mais cruel, por um lado, temos, por parte do governo federal, o negacionismo, a descrença na ciência e das medidas sanitárias que tem levado ao óbito mais de meio milhão de cidadãos; por outro, gestores estaduais e municipais não mediram esforços para decretar medidas sanitárias e orientações, principalmente à saúde e educação, para preservar vidas.

Nesse sentido, as instituições de educação escolar e, consequentemente, os profissionais da educação precisaram buscar mecanismos e estratégias para desempenhar as atividades pedagógico-didáticas, a fim de garantir o direito à aprendizagem de milhares de estudantes. As aulas, tradicionalmente presenciais, passaram a ser on-line e a contar com diferentes plataformas e aparatos tecnológicos, até então pouco presentes e utilizados na educação, para os que tinham acesso as tecnologias e também produzir e/ou disponibilizar material impresso para uma parcela significativa de estudantes que estão excluídos das condições concretas à conectividade para que pudessem continuar, minimamente, com sua formação escolar.

Assim, o contexto vivenciado durante a Pandemia tem colocado desafios e demandas tanto aos gestores como aos profissionais da educação que buscam suprir as necessidades desencadeadas pelo desenvolvimento de atividades em ambientes virtuais e/ou de produção de material para subsidiar o processo de ensino-aprendizagem e manter o isolamento social.

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Essa realidade vivenciada no ano de 2020 se agrava no primeiro semestre de 2021, e as perspectivas têm sido pela continuidade do distanciamento físico e da educação escolar sendo ofertada remotamente e/ou com atividades impressas. Soma-se a essas atividades, a necessidade de continuar com projetos de formação continuada para juntos fortalecer os laços interpessoais e discutir possibilidades tanto de aperfeiçoamento pessoal e coletivo como de avançar no processo de ensino-aprendizagem para que as desigualdades sociais, escancaradas durante o período de pandemia, sejam um pouco menos agressivas para quem mais depende de uma educação escolar comprometida com as “minorias” que, muitas delas, veem na educação uma perspectiva para melhorar as condições concretas de vida.

Nesse sentido, entendemos que a universidade pública constituída pelo tripé ensino-pesquisa-extensão tem papel fundamental no sentido de dialogar/contribuir com a sociedade no enfrentamento de seus problemas/demandas, visando a formação de sujeitos emancipados e desencadeadores de mudanças na sociedade e, também da própria universidade.

Para isso, as atividades de extensão, em uma concepção emancipadora, devem partir das necessidades e/ou de práticas sociais que demandam investigação e diálogo para almejar perspectivas que se manifestem na realidade concreta de vida dos sujeitos que fazem parte da sociedade. Assim, a extensão “[...] não é uma atividade repentina e nem tão pouco rápida. É um envolvimento enquanto processo” (MACHADO, 2019, p. 165).

É nessa perspectiva que o projeto de extensão “Formação Continuada: espaço de aprendizagens” realizado por professoras das áreas de Educação e Ciências Sociais, vinculadas ao Curso de Letras, Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), Campus Universitário do Araguaia (CUA), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME), do município de Aragarças, no estado de Goiás, para atender as demandas relacionadas à formação continuada de gestores e coordenadores pedagógicos que atuam tanto na educação infantil e ensino fundamental como na SME.

Assim, o objetivo principal deste estudo é discutir os desafios da formação continuada de gestores e coordenadores pedagógicos em contexto de pandemia, por meio do projeto de extensão “Formação Continuada: espaço de aprendizagens”. Os objetivos específicos visam: Compreender o contexto da formação continuada proposta pela SME/Aragarças e; Desencadear a formação continuada pautada na unicidade teoria e prática. A metodologia utilizada é de cunho qualitativa e como procedimentos utilizamo-nos de observações, produções e discussões realizadas, semanalmente, durante os encontros de formação continuada – via Plataforma Google Meet – com gestores e coordenadores pedagógicos da SME e acadêmicos dos cursos de licenciatura da UFMT/CUA. Para fundamentar teoricamente os estudos, recorremos aos autores como Konder e Tura (2002) e Schmidt (2021) que trazem contribuições em relação as concepções de conhecimento e Libâneo e Freitas (2018), Libâneo e Silva (2020), Vasconcelos (2000), que tratam das propostas pedagógicas para a Educação Básica - Educação Infantil e Ensino Fundamental, entre outros que discutem questões relacionadas às políticas educacionais, funções e finalidades educativas, planejamento escolar e processo de ensino-aprendizagem.

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Desse modo, o desenvolvimento do projeto de extensão tem contribuído para que os gestores, coordenadores pedagógicos e licenciandos compreendam as políticas públicas educacionais e recriem os projetos pedagógicos e as práticas pedagógico-didáticas para fazer frente as políticas neoliberais que, cada vez mais, cerceiam a autonomia do trabalho docente e a construção de uma sociedade mais justa e humana.

Caracterização do projeto

O Projeto de Extensão denominado “Formação Continuada: espaço de aprendizagens” tem como objetivo principal estudar referenciais teórico-práticos que contribuam para a formação docente e o processo de ensino-aprendizagem dos envolvidos na educação escolar. Os objetivos específicos visam: Compreender as perspectivas das funções e finalidades da educação escolar; Entender as concepções filosóficas e teóricas presentes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e Proposta Pedagógica do Município e; Discutir a importância do planejamento para o processo de ensino-aprendizagem.

Tem como participantes professores do ICHS, Gestores e Coordenadores Pedagógicos da rede municipal de Aragarças/GO e acadêmicos de Cursos de Licenciatura do Campus Universitário do Araguaia (CUA). Os encontros são semanais, realizados as quartas-feiras, sendo ministrados no período de março a novembro de 2021, por meio da Plataforma Google Meet, no horário das 8 h às 10 h 30 min. e com a realização tarefas entregues no Google Sala de Aula (Google Classroom).

Os encontros virtuais são dedicados às discussões dos textos, relatos de experiências pedagógico-didáticos, unicidade teoria X prática, desafios do contexto da pandemia frente ao processo de ensino-aprendizagem entre outras. As tarefas realizadas à distância se constituem em leituras de textos, tarefas em grupo, produção coletiva e individual dentre outras. A carga-horária do Curso de Extensão está prevista para ser de 80 h, sendo 50% encontros virtuais/presenciais e 50% à distância para a realização de tarefas.

Os participantes do projeto de extensão são avaliados a partir das leituras dos textos, das discussões durante os encontros presenciais, das produções de textos que contemplam a unicidade com as práticas pedagógico-didáticas desenvolvidas nas unidades escolares. Além disso, critérios como pontualidade, responsabilidade, clareza na exposição das ideias e contribuições com a aprendizagem dos colegas fazem parte do processo avaliativo. Os responsáveis pelo desenvolvimento do projeto são avaliados pelos gestores, coordenadores pedagógicos e acadêmicos, por meio de produção escrita com critérios que envolvem preparação teórica, organização dos encontros, mediação didática, tempo da formação, entre outros.

Até o presente momento foram discutidos os seguintes temas: Funções e finalidades da educação e as concepções filosóficas de conhecimento: Positivismo e Pragmatismo. Como resultados parciais, destacamos a participação dos profissionais da educação e acadêmicos nos encontros, mesmo que ainda de forma incipiente, principalmente quando as discussões pautam-se nas funções e finalidades educativas e nas concepções que norteiam as políticas educacionais, mais especificamente da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Isso pode ocorrer em função da complexidade dos temas, principalmente quando da tentativa de pensar na unicidade com as práticas escolares e também de um possível desconhecimento por parte de alguns participantes, no que diz respeito às políticas neoliberais que “invadem” os espaços escolares promovendo ações que desprestigiam, desqualificam e desestimulam o trabalho pedagógico nas instituições escolares.

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Outro ponto tem sido a pouca habilidade dos professores em relação a utilização de ferramentas tecnológicas para fins pedagógicos, bem como a instabilidade da rede de internet que acabam prejudicando a interação dos participantes nos encontros on-line. Essa falta de interação também pode ser explicada pela falta de tempo resguardado durante os encontros para que os professores se dediquem integralmente ao momento de estudo, visto que gestores e coordenadores prestam atendimentos aos pais dos estudantes e demais demandas da escola.

Estas questões são desafiadoras e devem ser enfrentadas pelos parceiros do projeto, bem como dos participantes que buscam a formação como espaço de aprendizagem, troca de experiências, relato de vivências e discussões de temas importantes que afetam direta e indiretamente o ambiente escolar. Por isso sua relevância, já que permite leituras e discussões que ajudam desvelar as políticas que buscam resultados em detrimento de um ensino que faça sentido na vida dos estudantes.

Considerações

O contexto pandêmico estabeleceu diversas modificações na vida em sociedade, em especial nas instituições de educação que enfrentaram desafios ao mudar uma prática de ensino presencial para o on-line. Essas alterações também são percebidas em atividades extensionistas desenvolvidas pelas universidades brasileiras, que adotaram medidas de distanciamento físico para continuar atendendo as demandas da sociedade, com execuções de projetos.

Os obstáculos causados pela Pandemia têm desencadeado uma série de desafios aos profissionais da educação, mais especificamente para gestores e coordenadores pedagógicos que precisam se desdobrarem para atender as demandas desencadeadas, por um lado, pelo atendimento e orientação aos pais e alunos com as tarefas; por outro, para participar da formação continuada e lidar com as questões administrativas e pedagógicas que fazem parte do processo educativo. Soma-se a isso que os estudos desencadeados na formação requerem leitura, realização de tarefas, participação nas discussões e um constante repensar na unicidade entre teoria e prática. Isso exige tempo e dedicação que, na maioria das vezes, tem sido insuficiente para realizar tantas demandas seja elas instituições e/ou familiares o que acaba, de certa forma, comprometendo o processo de aprendizagem e desenvolvimento dos envolvidos no projeto.

Nesse contexto, não podemos deixar de fazer frente as políticas neoliberais que se perpetuam ainda mais durante à pandemia e tem escancarado as desigualdades sociais, econômicas e, principalmente educacionais que tem levado a exclusão de uma parcela significativa dos estudantes à conectividade e ao acesso ao conhecimento escolar. Essa realidade reafirma e legitima nosso compromisso enquanto universidade com a educação pública, especialmente no que diz respeito a aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes.

Referências

KONDER, Leandro; TURA, Maria de Lourdes Rangel (Orgs.). Sociologia para educadores. Rio de Janeiro: Quartet, 2. ed., 2002 (Educação e Sociedade; 8).

LIBÂNEO, José Carlos; SILVA, Eliane. Finalidades educativas escolares e escola socialmente justa: a abordagem pedagógica da diversidade social e cultural. Revista on-line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, p. 816-840, ago. 2020.

LIBÂNEO, José Carlos; FREITAS, Raquel Aparecida Marra da Madeira (Orgs.). Políticas Educacionais neoliberais e escola pública: uma qualidade restrita de educação escolar. Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 2018.

MACHADO, Andréa Kochhann. Formação docente e extensão universitária: tessituras entre concepções, sentidos e construções. Tese Doutorado. UnB, 2019.

SCHMIDT, Ireneu Aloisio. John Dewey e a Educação para uma Sociedade Democrática. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoeducacao/article/view/1016. Acesso em: 29 jun. 2021.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. 7. ed. São Paulo: Libertad, 2000.

Notas