José Joaquim Gomes Neto
jjgneto@gmail

Ludmyla Rayanne De Sousa Gomes
udmyla.rayanne@gmail.com

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

É possível produzir conhecimento na educação básica? a pesquisa como método e como percurso didático

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Resumo: Considerando a importância de se pensar na construção de um percurso metodológico capaz de atrelar produção de conhecimento, protagonismo, com a reflexão docente, propomos esse relato de experiência. O objetivo do presente trabalho é apresentar o projeto integrador denominado Projeto Logos, escrito e implementado no Centro de Ensino em Período Integral Professor Pedro Gomes, no Setor Campinas, na cidade de Goiânia. Na perspectiva do projeto, o estudante escolhe um tema, um professor orientador, produz memorial acerca do seu percurso de vida e aspirações que o moveram à questão que pretende observar, constrói um projeto de pesquisa, desenvolve-o e defende o resultado numa banca composta por três professores. O caminho do projeto proporciona ao professor uma sistemática que o impele à leitura, conectando-o a suas próprias pesquisas e referências, bem como aponta uma sensibilização dos estudantes com os métodos da pesquisa científica.

Palavras-Chave: Pesquisa. Iniciação científica. Metodologia de ensino.

Introdução

A escola possui uma capacidade transformadora e uma vocação libertadora. O Centro de Ensino em Período Integral Professor Pedro Gomes, em seu Projeto Político-Pedagógico, preconiza uma formação integral para além da ampliação da jornada escolar. Formação integral, nessa perspectiva, visa possibilitar que os sujeitos se desenvolvam em todos os seus aspectos, para que se tornem autônomos, competentes e solidários. A ampliação da jornada, nesse sentido, significa disponibilizar mais tempo para vivências e aprendizagens que potencializem uma formação humanística e científica.

Criado em 2017, o Projeto Logos - palavra grega que significa “pensamento racional, discurso racional, conhecimento” (CHAUI, 2014, p. 30) - propõe-se a criar um contato mais sistemático dos alunos da 3ª série do Ensino Médio com os processos e métodos da pesquisa científica, intensificar os espaços de construção do conhecimento, de exercício da autonomia e da solidariedade, por meio dos sistemas próprios das ciências humanas, naturais ou linguagens.

A escola é o lugar, por excelência, de construção de conhecimento. A formação para o senso crítico é, além de vocação, um desafio da escola. A habilidade crítica deveria perpassar todo nosso empenho pedagógico. O censo crítico requer um movimento, um desejo de descoberta, de questionamento. Para Perini apud Pereira (1996 p. 7):

Se há algo que nossos alunos em geral não desenvolvem durante sua vida escolar é exatamente a independência de pensamento. O estudante brasileiro (e, muitas vezes, também o professor) é tipicamente dependente, submisso à autoridade acadêmica, convencido de que a verdade se encontra, pronta e acabada, nos livros e na cabeça das sumidades. Daí, em parte, a perniciosa ideia de que educação é antes de tudo transmissão de conhecimento – quando deveria ser em primeiro lugar procura de conhecimento e desenvolvimento de habilidades.

Dessa forma, o Projeto Logos se propõe: a fomentar o espírito protagonista do estudante, portando-se como agentes construtores do conhecimento; observar, selecionar, analisar e sistematizar as diversas questões, ampliando as possíveis soluções acerca do tema gerador; desenvolver a habilidade de escrita do gênero artigo científico, adequando-o às normas técnicas; empreender o senso crítico e a autonomia na observação da realidade e suas problemáticas; perceber e compreender as diversas dimensões que constituem os fatos, fenômenos e questões da realidade analisada.

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Metodologia

Desde sua criação, o Projeto Logos é desenvolvido com os alunos da 3ª série do Ensino Médio, do CEPI Professor Pedro Gomes, em Goiânia. No quinto ano do projeto em exercício, o estudante do último ano do Ensino Médio já está ciente de que deve pesquisar sobre um assunto de seu interesse e, com o auxílio de um professor orientador, produzir um artigo científico ao longo do ano.

No início de cada ano letivo, o projeto é apresentado aos estudantes com uma aula inaugural, ministrada por um professor-convidado vinculado à produção de pesquisa acadêmica em instituições federais de Goiás. O objetivo da aula inaugural é mostrar a importância de se produzir conhecimento no Brasil, origem e trajetória de várias pesquisas científicas de sucesso e ressaltar que o objeto científico faz parte da vida das pessoas. O passo a passo do projeto também é apresentado nessa aula inaugural, para que o estudante possa compreender como desenvolver sua pesquisa.

O próximo passo do projeto é, através de alguns professores coordenadores, direcionar os alunos para que se organizem em dupla ou trio e, juntos, pensarem em uma temática que desejam pesquisar, de acordo com a área de interesse (Humanas, Exatas ou Linguagens). Os alunos, a partir da escolha de uma área, são orientados a definir um objeto de investigação e propor um projeto de pesquisa que dará origem a um estudo mais aprofundado da realidade a ser observada. Cada educando poderá observar a realidade, seus problemas e tensões, propondo-se a pensá-los, a fazer conjecturas, ou até pensar em soluções.

Uma questão importante no centro dessa discussão perpassa as seguintes perguntas: Qual o papel do professor no desenvolvimento e construção do conhecimento? Qual é a medida da autonomia do aluno no aprofundamento das questões? Muitas vezes a autonomia do educando percorre um caminho preestabelecido pelo professor, com uma conclusão já antecipada, já conhecida. Transpor essa verticalidade é extremamente desafiador. Ao definir a pesquisa na escola, Ninin (2008, p. 21) afirma que

Nesse sentido, podemos definir "pesquisa escolar" como atividade sistematizada e mediada entre sujeitos, pautada em instrumentos que propiciam a construção do conhecimento e o desenvolvimento da autonomia, por meio de ações com características de reflexão crítica que priorizam descobrir, questionar, analisar, comparar, criticar, avaliar, sintetizar, argumentar, criar.

A pesquisa é capaz de retirar o professor de sua postura unilateral na transmissão do conhecimento e o colocar como mediador, orientador, fomentador da construção do conhecimento. O aluno pesquisador requer um professor pesquisador. O papel do professor vai muito além de transmitir conteúdos, uma das estruturas de seu trabalho consiste na desafiadora tarefa de “ensinar a aprender”. Nesse sentido,

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Ensinar a aprender é criar possibilidades para que uma criança chegue sozinha à fontes de conhecimento que estão à disposição na sociedade. A vida de hoje é caracterizada por um verdadeiro bombardeio de informações. Para todo lado que olhamos, nos deparamos com algum dessas “bombas” prontas para explodir: televisão, rádio, cinema, jornais, revistas, cartazes, livros, folhetos, internet, CD-ROM... Essas “bombas” podem estar também armazenadas em “arsenais” específicos: livrarias, bibliotecas, museus, salas de espetáculo, centros culturais, fábricas, empresas, laboratórios, jardins, zoológicos, supermercados, shopping Center, jardins botânicos, estações de metrô, galerias de arte…

Tudo isso junto cria um verdadeiro labirinto onde é muito fácil alguém se perder [..] a palavra chave é orientação (BAGNO, 1998, p. 14).

O professor coloca-se como mediador nesse labirinto de informações, orientando o aluno a transformar, selecionar, analisar as informações, lançar um olhar profundo sobre elas e, enfim, construir o conhecimento. Assim, a pesquisa como opção metodológica é uma estratégia investigativa que promove ação intencional e planejada no percurso para a formação e o desenvolvimento dos alunos.

O projeto é construído definindo o tema, referencial teórico e metodologia utilizados na pesquisa. Ele é entregue no início do segundo semestre letivo, norteando as pesquisas que serão feitas nos meses seguintes. A partir do projeto, cada grupo com seu orientador delimita por que, onde e como a pesquisa será feita. Nos meses seguintes, segue um extenso trabalho de pesquisa e escrita do artigo.

O artigo final, revisado pelo professor-orientador, é entregue ao final do processo. Para que o estudante tenha ainda toda a experiência da produção científica, os grupos apresentam o processo de seu trabalho, com seus resultados obtidos, a uma banca, composta por três professores (orientador, um professor coordenador do projeto e um convidado da área) que avalia e dá a nota final do projeto; experiência que tem sido de grande valia para os alunos egressos, que saem do Ensino Médio compreendendo todo o processo da produção científica.

Resultados e Discussões

Ao longo dos 4 anos de sua existência, o Projeto Logos tem mostrado diversos resultados. Ao ser familiarizado com a pesquisa científica no Ensino Médio, o estudante que entra para uma instituição de ensino superior consegue se situar com mais facilidade, se engajar nos projetos da universidade e desenvolver pesquisas científicas de forma a entender todo o processo de produção da mesma. São vários os depoimentos de egressos afirmando a grande relevância que o Logos teve no seguimento de sua vida enquanto pesquisador. Além, é claro, de auxiliar o jovem na definição da área que deseja seguir profissionalmente, uma vez que ele passa o último ano do Ensino Básico pesquisando sobre algo que pode estar relacionado à carreira que irá seguir dali em diante.

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Os textos com maior excelência de pesquisa e escrita foram publicados em um ebook, intitulado Pesquisa e Protagonismo - A produção de conhecimento no CEPI Professor Pedro Gomes, dando a experiência de publicação para os autores desses textos, impulsionando a carreira acadêmica dos mesmos. A obra foi publicada ao final de 2020, depois de um árduo processo de classificação dos trabalhos já feitos e de correção e formatação para publicação, trazendo ex-alunos para a escola, a fim de que revisassem o trabalho, mas também convidando para contribuir com a comunidade escolar, promovendo a aproximação desses jovens com os alunos da atualidade.

Por tudo isso é que o Projeto Logos tem sido uma experiência única e transformadora na vida de todos os envolvidos no processo (docentes e discentes). Ele proporciona a reflexão sobre as práticas de ensino-aprendizagem cotidianas, permite a transdisciplinaridade e o acesso ao conhecimento como um todo, além de dar o primeiro impulso para a pesquisa científica dos jovens. Ele é a prova de que é realmente possível produzir conhecimento na educação básica.

Referências

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AGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é e como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1998.

CHAUI, M. Iniciação à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2014.

DEMO, Pedro. 1996. Educar pela Pesquisa. 5 ed. Campinas: Autores Associados, 2002. (Coleção Educação Contemporânea). Disponível em: http://rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/view/1843/1814 , acesso em 20/06/2021.

GOMES NETO, José J.; SOUSA GOMES, Ludmyla R. et al. Pesquisa e Protagonismo: a produção de conhecimento no CEPI Professor Pedro Gomes, Goiânia, Goiás, 2020.

NININ, Maria O. Pesquisa na escola: que espaço é esse? O do conteúdo ou o do pensamento critico?. Belo Horizonte: Educação em Revista, 2008. Disponível em acesso em 20/06/2021.

PEREIRA, Glauce Maciel B. O Ensino da Língua Portuguesa a partir da aprendizagem baseada em problema (ABP): formação de leitores críticos. Salamanca, 2012. disponível em: https://historiapt.info/pars docs/res/3/2267/2267.pdf, Acesso em: 04/12/2020.

Notas

1. Mestrando em Antropologia Social pelo PPGAS/UFG, Licenciado em Filosofia pela PUC-Goiás e Bacharel em Artes Visuais pela FAV/UFG.

2. Especialização em Docência do Ensino Superior pela ESAB, Licenciada em Letras-Português pela Faculdade de Letras/UFG.