Mariana Bento de Oliveira Freitas
marianambofreitas@gmail.com

Milenna Ketlin da Fonseca Pires
milennaketlin08@gmail.com

Marília Rita dos Santos
mariliaritasantos@gmail.com

Priscilla de Andrade Silva Ximenes
priscilla_andrade@ufg.br

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

A formação docente e o ensino da matemática na educação infantil

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Resumo: O trabalho objetiva relatar a experiência pedagógica vivenciada ao longo de uma intervenção realizada em um CMEI na cidade de Catalão/GO, no âmbito do PIBID. A elaboração do projeto de intervenção se deu a partir de estudos e observações participantes em uma turma de Maternal I, com 13 crianças matriculadas e duas professoras regentes. O acompanhamento da prática pedagógica construída pela turma no início de 2021, com aulas síncronas via WhatsApp devido a pandemia. O projeto de intervenção, que ainda está em fase de desenvolvimento, tem por objetivo proporcionar o ensino da matemática na educação infantil, trabalhando especificamente com as formas geométricas e cores primárias. Dentre os resultados parciais obtidos, corroboramos que o PIBID é de suma importância para a formação inicial do pedagogo, pois possibilita a aproximação na realidade de sala de aula antes do término da graduação, auxiliando na construção da identidade docente.

Palavras-Chave: Ensino de Matemática. Educação Infantil. Figuras geométricas.

Introdução

A matemática é considerada de suma importância na vida escolar e no cotidiano das pessoas. Nesse sentido, o artigo teve por finalidade apresentar o percurso formativo de experiências pedagógicas realizadas na Educação Infantil com o intuito de desenvolver conceitos matemáticos e raciocínio lógico de crianças de dois a três anos a partir de atividades sistematizadas, por meio do uso de materiais concretos e lúdicos, tendo como égide a tríade ensino-aprendizagem-desenvolvimento de crianças na Educação Infantil.

Desde cedo, as crianças já têm contato com as noções matemáticas, a partir, da socialização com a família, do raciocinar, de conseguir distinguir que uma figura é diferente da outra. De acordo com a BNCC (BRASIL, 2018) a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 7), apresenta “As crianças, desde o nascimento, estão imersas em um universo do qual os conhecimentos matemáticos são parte integrante”. Nesse sentido, quando a criança começa a compartilhar brinquedos, comparar sua altura em relação ao colega, já estão trabalhando os princípios da matemática.

Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. (BRASIL, 2018, p. 38)

Dessa forma, dentre os saberes inerentes à docência é preciso conhecer as características do pensamento da criança, os estímulos que recebem desde bebês. Segundo Piaget (1970), a Matemática é resultado do processo mental da criança em relação ao cotidiano, arquitetado mediante atividades de se pensar o mundo por meio da relação com objetos. Nesse sentido, faz-se imprescindível a proposição de estratégias metodológicas que possibilitem experiências contextualizadas e significativas às crianças, considerando a sua prática social e a interação com outras crianças e com o ambiente escolar.

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De acordo com esse autor ensinar matemática na educação infantil vai muito além de ensinar a contar:

Os fundamentos para o desenvolvimento matemático das crianças estabelecem-se nos primeiros anos. A aprendizagem matemática constrói-se através da curiosidade e do entusiasmo das crianças e cresce naturalmente a partir das suas experiências [...]. A vivência de experiências matemáticas adequadas desafia as crianças a explorarem ideias relacionadas com padrões, formas, número e espaço duma forma cada vez mais sofisticada (PIAGET, 1976, p.73).

Por isso é necessário conhecer as crianças, seus conhecimentos e necessidades formativas, para que o planejamento das aulas possa favorecer mediações qualitativas para o seu desenvolvimento. De acordo com Salles e Faria (2012), aprende-se e ensina-se por meio de experiências e nas relações que se estabelecem na escola, ou seja, faz-se necessário em ensino com planejamento e intencionalidade, oportunizando mediações de outros mais experientes.

Contudo, devido a pandemia ocasionada pelo vírus COVID-19, a organização do trabalho pedagógico nas escolas de Educação Básica e na Universidades sofreram modificações, uma vez que desde março de 2020 as aulas presenciais foram suspensas. Em Catalão, município do sudeste goiano, a Rede Municipal de Ensino e a Universidade Federal de Catalão adotaram o ensino remoto desde o final do ano de 2020. Dessa forma, o percurso formativo vivenciado ao longo do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) se deu pela participação em atividades síncronas e assíncronas, de modo colaborativo entre as professoras orientadoras da Universidade e professoras supervisoras/regentes/ gestoras da escola. A observação participante para a compreensão do trabalho pedagógico da Educação Infantil foi realizada através do grupo do WhatsApp, de uma turma do Maternal 1 de um Centro Municipal de Educação Infantil de Catalão (GO).

Pelas observações e análises dos dados construídos a partir das interações com professoras supervisoras e orientadoras de PIBID, surgiu a necessidade de realizarmos um projeto de intervenção que possibilitasse o ensino da matemática a partir da prática social das crianças e dos objetos (material concreto) que a cercam. Ademais, desenvolver aulas atrativas e significativas na modalidade remota para crianças de dois e três anos, caracterizou-se como um enorme desafio.

A matemática frequentemente é apresentada como números e símbolos, com práticas conservadoras, onde o professor passa seu conhecimento através do quadro, explica como chegar aos resultados, depois os alunos vão resolver exercício. Porém isso acaba deixando esses saberes distante da realidade dos estudantes e da sua prática social. Assim, este trabalho foi proposto com o objetivo de promover a aprendizagem do conhecimento matemático a partir de atividades lúdicas e da prática social das crianças, na modalidade de ensino remoto.

A (re)elaboração do ensino de matemática no âmbito do PIBID

No início do ano de 2021, juntamente com o início das aulas no ensino remoto, fomos inseridas no grupo de WhatsApp da turma do Maternal 1 “A” de um CMEI, na cidade de Catalão (GO), contando com 13 crianças matriculadas, cuja prática pedagógica é realizada de forma remota, considerando o atual cenário da COVID 19.

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A fim de conhecer as crianças, os responsáveis encaminharam fotos e vídeos, se apresentando, e do mesmo modo nós fizemos. Para nos apresentarmos gravamos um vídeo bem simples, mostrando nossa foto, explicando nossas características, o que gostávamos de fazer nos tempos vagos. O vídeo tinha o intuito de nos aproximar dessas crianças e da família no geral.

Para a elaboração do projeto de intervenção, incialmente foram feitas observações no grupo do WhatsApp, para conhecer os alunos e professores, bem como suas demandas, e posteriormente planejar as possíveis atividades que poderiam ser desenvolvidas, pensando numa maior participação e envolvimento das crianças. Começamos a fazer o planejamento da aula, juntamente com as professoras regentes da sala e da professora supervisora do PIBID e posteriormente aprovado pela coordenação do CMEI.

O primeiro planejamento foi realizado com o objetivo de promover o conhecimento das cores primárias e formas geométricas a partir de objetos do contexto familiar. Para que esse objetivo fosse alcançado foi realizado uma sequência didática que abrangesse a rotina da turma. Assim a organização da aula se deu do seguinte modo: iniciamos a aula às 7h com a acolhida das crianças e uma videoaula sobre o calendário e a identificação do dia, semana e mês. Posteriormente, enviamos a videoaula elaborada e desenvolvida por nós, sobre o conteúdo “Tempo”. Buscando a interação das crianças disparamos algumas questões problematizadoras. A partir das interações e questionamentos das crianças, fomos abordando o tema e apresentando os conceitos científicos relacionados às medidas de tempo (convencionais e não convencionais) a partir de datas importantes para as crianças.

Desse modo, as atividades têm sido trabalhadas de forma intencional e planejada. Pensamos em atividades de jogos visando trazer satisfação, ludicidade e ao mesmo tempo auxiliar o processo de construção de conhecimentos científicos das crianças. Quando a criança está brincando e se depara com alguma situação problema, ela automaticamente começa a procurar uma solução para o mesmo, sem que seja orientada. (OLIVEIRA; BERTOLOTI, 2012).

De modo geral, em consonância com a prática pedagógica já realizada na escola-campo, o ensino e orientações das atividades se deram por meio de áudios ou videoaulas publicados no grupo de WhatsApp, com a explicação e orientação da atividade pedagógica do dia, (apresentando de modo detalhado como seria desenvolvida a atividade, e os materiais que seriam utilizados). É importante ressaltar que o uso do material lúdico e concreto por si só, não garante uma aprendizagem, é preciso do conjunto, e o professor como mediador tem o papel de articular as atividades e situações decorrentes do uso desses materiais lúdicos e pedagógicos. Ademais, todo material solicitado para a realização das atividades é fornecido com antecedência às crianças.

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Conforme ressalta as autoras Oliveira e Bertoloti (2012), o processo de aprendizagem da matemática na educação infantil precisa ser significativo para criança, de forma que venha estimular seu raciocínio, para que as atividades ocorram de modo satisfatório é preciso que o material utilizado seja apresentado com clareza, lentamente, que ela possa fazer manuseio dele. Os erros são inevitáveis pensando no fato de que ela ainda não conhece o material, porém, esses equívocos devem ser corrigidos pela própria criança, caso isso não ocorra, o professor deve conduzir o uso adequado da melhor forma.

Durante a aula ministrada, observamos o desenvolvimento e a participação das crianças juntamente com os responsáveis, notamos que algumas crianças participaram da atividade e outras não participaram de momento algum. Destacamos, ainda que devido à pandemia várias atividades que pensamos desenvolver não seriam viáveis devido à realidade de algumas famílias e das impossibilidades de materiais e de espaços para a realização delas. É importante ressaltar que os materiais solicitados para a realização das atividades são disponibilizados uma vez por mês, momento em que as famílias vão até o CMEI para retirar o material. Para os pais que trabalham das 7h às 18h, as professoras se dispuseram a levar o material até suas casas. Além disso, as professoras regentes enviam semanalmente um cronograma de atividades para os pais que não conseguiram enviá-las, a fim de auxiliar na realização das atividades pedagógicas, além de realizarem contato com a família de modo individualizado, conforme a necessidade apresentada.

Conclusões ou Considerações Finais

Consideramos de suma importância o trabalho com o ensino de matemática e com a construção de conhecimentos científicos para as crianças desde a educação infantil. Nesse período a criança está fazendo descobertas, atenta a tudo que está ao seu redor, e nesse momento os objetos que estão dispostos em casa podem servir como recursos pedagógicos para a construção de conceitos matemáticos, como: Espaço e Forma.

Ainda que o projeto vinculado ao PIBID esteja em andamento, após acompanhar o grupo de WhatsApp por algum tempo, já foi possível perceber o quão desafiador é ensinar crianças pequenas à distância, ainda que de forma síncrona e assíncrona. Além das especificidades dessa etapa da vida e das limitações de interação e mediação adulto-criança e criança-criança com o atual cenário, nem todas as famílias conseguem acompanhar assiduamente o grupo, algumas tarefas não são concluídas no prazo e nem sempre todas as crianças participam de todas as atividades propostas.

Destacamos, ainda, o trabalho coletivo realizado entre os docentes no momento de planejamento da prática pedagógica individual e institucional, visto que é importante ressaltar que estamos vivenciando um momento de pandemia, onde faz-se necessário maior cuidado em relação à saúde mental, física, além dos cuidados diante do risco eminente de contaminação do vírus e outros transtornos ocasionados pela crise política, econômica e sanitária. Nesse sentido, analisa-se que, apesar da necessidade de distanciamento social, os encontros remotos de forma síncrona têm auxiliado na criação de vínculos criança-adulto, criança-criança, adulto-adulto, família-escola, com intuito de garantir o ensino das crianças, dentro das suas casas, mesmo com todos os impasses.

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Dentre as principais dificuldades encontradas destacamos a de planejar uma atividade que fosse acessível às crianças e que pudesse ser realizada de forma remota, com materiais disponíveis em suas casas ou com materiais disponibilizados com antecedência pelo CMEI.

Destaca-se, ainda, a importância da aprendizagem uso das tecnologias para a gravação das videoaulas e na interação com as crianças e seus responsáveis.

Concluímos que o PIBID é de suma importância para a formação inicial do pedagogo, pois possibilita a aproximação na realidade de sala de aula antes do término da graduação, o que nos possibilita uma maior compreensão do desenvolvimento infantil e do trabalho docente na Educação Infantil. O PIBID tem nos proporcionado um contato direto com as crianças e com fontes teóricas, documentos orientadores do processo de ensino e aprendizagem, a partir das observações participantes na Escola-campo e das reuniões semanais junto as professoras orientadoras e coordenadora do PIBID/Pedagogia da UFCAT. Dessa forma, podemos compreender que cada criança é única e cada uma tem seu tempo de aprender, cada uma tem suas necessidades específicas e cada uma dessas crianças tem experiências e estilos de vida diferentes. Destacamos, ainda, a possibilidade de um trabalho colaborativo com a professora preceptora de estágio, o que se constitui para nós como uma importante experiencia formativa.

Referência

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Base Nacional Comum Curricular. Brasília. 2018.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC / SEF, 1998.

OLIVEIRA, Kely V. G.; BORTOLOTI, Roberta D´A. M. Método montessoriano: contribuições para o ensino-aprendizagem da matemática nas séries iniciais. Revista eventos pedagógicos, Sinop, v. 3, n. 3, p. 410-426, 2012.

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1970.

SALLES, Fátima; FARIA, Vitória. Currículo na educação infantil. 2. ed. São Paulo: Ática, 2012.

Notas

1. Bolsista PIBID/Pedagogia/UFCAT

2. Bolsista PIBID/Pedagogia/UFCAT

3. Profa. Supervisora PIBID/Pedagogia/UFCAT

4. Profa. Coordenadora PIBID/Pedagogia/UFCAT