Formação de professores e educação para a diversidade – práticas culturais dos indígenas Karajá da aldeia Buridina, Aruanã-GO
54Resumo: Entendemos que a formação docente em Sociologia deve investigar os conteúdos simbólicos das práticas culturais para que seja possível identificar tanto as práticas culturais que fundamentam a diversidade social e cultural dos agrupamentos humanos, como os fundamentos da sociabilidade Karajá, suas tradições, sua dinâmica social e histórica frente o contato e o convívio próximo com a população não indígena de Aruanã-GO. Assim, é possível a construção de estratégias de pesquisa social que viabilizem apresentar a diversidade das práticas sociais ameríndias e suas outras possibilidades de convívio humano e modo de vida.
Palavras-Chave: Cultura Indígena. Educação. Diversidade.
Introdução
Esta comunicação visa apresentar as perspectivas iniciais de um diagnóstico da Cultura Karajá da Aldeia Buridina, localizada no centro da cidade de Aruanã-GO, a beira do rio Araguaia, e a 312 km de Goiânia capital do estado. Pretende-se investigar quais práticas culturais tem sido mantida pelos indígenas desta aldeia após anos de convívio lado a lado com a população de Aruanã, além de descobrir quais seriam as possíveis implicações resultantes deste convívio.
A relevância desta pesquisa se deve ao fato de propiciar um conhecimento profundo desta aldeia singular, que irá possibilitar a aquisição de novos saberes. Além disso, o fato de a proximidade dos Karajá de Buridina com a população de Aruanã traz a hipótese de ali se encontrar um exemplo prático do que é denominado hibridismo cultural.
O conceito de hibridação para Canclini (1995 apud Gaglietti; Barbosa, 2007) “caracteriza-se como o processo sociocultural em que estruturas ou práticas que existiam em formas separadas, combinam-se para gerar novas estruturas, objetos e práticas”. A partir desta hipótese, é de grande valor um diagnóstico que nos permita conhecer as práticas culturais tanto originadas das tradições Karajá, quanto o que se foi agregado ao longo dos anos de convívio com o povo de Aruanã. Compreender a dinâmica dessa convivência e suas implicações, nos permitirá alcançar melhor compreensão não apenas da cultura Karajá, mas também sobre nós mesmos enquanto sujeitos em meio a culturas hibridas.
Seguindo esta perspectiva, surge a hipótese de que o inter-relacionamento entre os indígenas de Buridina e o povo de Aruanã tenha impactado a cultura Karajá no que se refere não apenas a ocupação de seu território, como também as suas práticas culturais, que resultaria, deste modo, em um hibridismo cultural nesta aldeia, o que poderia se tornar evidente, se comparada as suas práticas culturais antecedentes a ocupação de seu território por povos não indígenas.
Para Edgar Morin, (1973) a natureza humana não é mais que uma matéria prima maleável, que só podem dar-lhe forma a cultura ou a história. Deste modo, sendo a natureza humana maleável frente a cultura e a história, não se pode presumir que determinada cultura se mostraria rígida e impenetrável diante de outra cultura. Assim, o mais provável é que culturas distintas, em um convívio próximo, ou seja, partilhando do mesmo espaço, podem exercer influências mutuas entre si, podendo resultar em formas culturais híbridas.
55Metodologia
Esta pesquisa visa realizar um diagnóstico da cultura Karajá da aldeia Buridina, localizada no centro da cidade de Aruanã-GO, a beira do rio Araguaia, e a 312 km de Goiânia capital do estado. Pretende-se investigar quais práticas culturais tem sido mantida pelos indígenas desta aldeia após anos de convívio lado a lado com a população de Aruanã, além de descobrir quais seriam as possíveis implicações resultantes deste convívio.
As abordagens planejadas pelo PIBID Ciências Sociais AC abrangem um rol de ações que possibilitam um diagnóstico dos conteúdos, perspectivas e estratégias de ensino-aprendizagem que viabilizem tanto o reconhecimento do ambiente e do contexto social quanto o exercício didático-pedagógico concreta através da formação de intervenções didáticas como oficinas e conversações sociológicas sobre imaginários, modos de ser e visões de mundo das sociedades tradicionais.
Neste sentido, buscamos desenvolver a dimensão da ação pedagógica, que se relaciona ao exercício de diagnóstico social, de teorização e de produção de oficinas sociológicas no espaço escolar e a dimensão da pesquisa-ação, da pesquisa social qualitativa e da observação participante. Podemos tanto diagnosticar o ambiente escolar, a ambiência cultural e imagética do alunado como construir suas inserções de conhecimento e práticas culturais nos modos de vida das sociabilidades ameríndias goianas na região do Rio Araguaia.
Assim, construímos uma pesquisa qualitativa sobre a Cultura Karajá da Aldeia Buridina, localizada no centro da cidade de Aruanã-GO, a beira do rio Araguaia que nos permite apreender aspectos e características da formação cultural estudada, bem como suas práticas culturais e vivências sociais, políticas e simbólicas.
Neste sentido, dimensionamos a criação de estratégias de trabalho que objetivam a produção de material didático pedagógico para a realização das oficinas e conversações sociológicas.
Estas estratégias didáticas devem se constituir em oportunidade para avaliar o material e as práticas didáticas realizadas junto à disciplina de Sociologia na escola de ensino médio e devem estabelecer a correlação pesquisa-ensino como meio necessário e estratégia fundamental do trabalho de formação docente no PIBID, observando as formas de integração curricular das diferentes disciplinas que conformam a grade curricular do ensino médio e que nos permitem atuar com o grande tema da Educação ambiental que estrutura nosso Subprojeto.
Discussões
No decorrer deste semestre, discutimos bibliografias fundamentais para a formação de Professores em Ciências Sociais, as quais contribuem para aquisição e produção de conhecimentos proporcionando a capacitação do futuro docente. Dentre elas, El Paradigma Perdido, de Edgar Morin (1974); La Pachamama y El Humano, de Zaffaroni (2011); El Capitalismo em la Trama de la Vida, de Moore (2015) e o artigo Ensino de História e Consciência Histórica: Teorias e Práticas no Ensino Fundamental, de Maria Andréia Carmo (2015).
O texto do Morin (1974), “El Paradigma Perdido” traz a discussão sobre como a estrutura teórica que tomamos como base para entender a realidade nos levou a perda da real natureza humana. Morin (1974) explica que a complexidade da natureza humana foi esquecida tanto pela Antropologia quanto pela Biologia, que se limitaram às suas próprias epistemologias.
56Deste modo, o autor se preocupa com a epistemologia da Antropologia e sua relação com a Biologia.
A crítica é feita ao Antropologismo e ao Biologismo porque abordam o homem apenas com uma perspectiva, distanciando-se assim da realidade complexa e multifacetada do homem.
Outro texto muito interessante foi “La Pachamama y El Humano”, de Zaffaroni (2011), onde ele aborda principalmente a questão da ecologia e a violência social, particularmente contra os animais. Zaffaroni (2011) analisa com profundidade a questão da garantia de direitos à natureza.
A princípio é abordado o modo em que desde a antiguidade, passando pela idade média e o cientificismo cartesiano, se tem reconhecido ou ignorado a natureza e os animais no pensamento filosófico e jurídico, em seguida, Zaffaroni (2011) argumenta sobre a busca do equilíbrio entre direitos do homem e direitos da natureza.
O texto de Moore (2015), “El Capitalismo enla Trama de la Vida” aborda como o mosaico de relações que denominamos capitalismo funciona através da natureza; e de como a natureza funciona em meio ao regime capitalista. Este duplo movimento entre natureza e capitalismo é o que Moore (2015) denomina “doble internalidad”. No item 7 do livro, denominado Antropoceno e Capitaloceno, discutimos a questão da natureza e as origens da crise ecológica.
Segundo Moore, a ideia do Antropoceno contribui a uma história fácil porque não desafia as desigualdades naturalizadas, a alienação nem as violências inscritas nas relações estratégicas de poder e produção da modernidade.
Discutimos, por fim, o artigo de Carmo (2015), “Ensino de História e Consciência Histórica: Teorias e Práticas no Ensino Fundamental”.
O texto analisa a pratica do ensino de história no ensino Fundamental em uma escola pública da cidade de Uberlândia-MG. Aponta os percursos do ensino escolar de História e como tem sido a sua prática a partir das novas perspectivas abordadas.
Também faz uma crítica aos conteúdos e metodologias que em geral desconsideram a vivência dos alunos enquanto sujeitos, propondo pensar o ensino e a práxis do ensino de história a partir de experiências apresentadas pelos alunos, procurando entender o aluno como sujeito social, agente construtor e consciente de sua própria história.
Além disso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica visando a escolha de um tema específico para a elaboração do projeto de pesquisa, o qual foi “Práticas Culturais dos indígenas Karajá da Aldeia Buridina, localizada em Aruanã-GO”.
Para a elaboração do projeto foi feito a leitura e coleta de dados da obra de Marivone Chaim (1983) intitulada “Aldeamentos Indígenas”, como também na obra de Araujo Junior (2012), “INỸ - História e Identidade Cultural”.
57Referências
ARAÚJO JÚNIOR, M. de. INỸ - História e Identidade Cultural Índios Karajá de Burundina. 2012. 92f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em História) -Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia – GO.
CARMO, M. A. Ensino e Consciência Histórica: Teorias e Práticas no Ensino Fundamental. Catalão; Revista Emblemas, 2015.
CHAIM, Marivone Matos. Aldeamentos Indígenas: Goiás, 1749-1811. 2.ed. São Paulo: Nobel; [Brasília]; INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1983.
GAGLIETTI, M.; BARBOSA, M. H. A Questão da Hibridação Cultural em Néstor Garcia Canclini. Passo Fundo:Intercom, , 2007.
MOORE, J. W. El Capitalismo em la Trama de la Vida. Ecologia y Acumulaciónde Capital, Londres/ Nueva York: Verso, 2015.
MORIN, Edgar. El Paradigma Perdido.Ensayo de Bioantropologia. Barcelona: Editora Kairós, 1974.
ZAFFARONI, E. R. La Pachamama y El Humano. 1. Ed. Buenos Aires: Ed. Colihue; CiudadAutonoma de Buenos Aires: Ed. Madres de La Plaza de Mayo, 2011.
Notas
1.