Giovanna Aparecida Schittini dos Santos
giovanna_aparecida_schittini@ufg.br

Izabella Peracini Bento
izabellaperacini@ufg.br

Rita de Cássia de Oliveira Reis
rita_oliveira_reis@ufg.br

EIXO
Educação (Educação Ambiental / Educação Especial / Educação Intercultural / Educação no Campo / EJA / EAD)

Estudos interdisciplinares de iniciação à pesquisa científica na educação básica

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Resumo: Este trabalho, resultado de um projeto de pesquisa, tem por finalidade produzir uma concisa reflexão e investigação acerca da importância da Iniciação Científica na Educação Básica. Esta temática surge das reflexões sobre as práticas de iniciação à pesquisa científica realizadas na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás (CEPAE/UFG). Reflexões que partem das inquietações e das experiências de um grupo de professores/as, das diversas áreas do conhecimento, que a partir do planejamento e da execução de projetos interdisciplinares, levam a pesquisa para sala de aula, assim como, a partir da experiência na orientação de Trabalhos de Conclusão de Curso de Ensino Médio (TCEM). O projeto que norteia este resumo expandido busca ampliar as práticas de Iniciação Científica na Educação Básica no CEPAE, e promover o intercâmbio de ideias entre professores/as e pesquisadores/as das redes de ensino Municipal, Estatual e Privada.

Palavras-Chave:Interdisciplinaridade. Iniciação Científica. Educação Básica.

Introdução/Justificativa

Este trabalho, aqui apresentado, tem por objetivo produzir uma concisa reflexão e investigação acerca da importância da Iniciação Científica na Educação Básica, e está diretamente vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares sobre a Iniciação à Pesquisa Científica na Educação Básica, que surge das reflexões sobre as práticas de iniciação à pesquisa científica realizadas na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE/UFG ). Reflexões que partem, sobretudo, das inquietações e das experiências de um grupo de professores/as, das diversas áreas do conhecimento, a partir do planejamento e execução de projetos interdisciplinares, que levam a pesquisa para sala de aula, na Segunda Fase do Ensino Fundamental, como também da experiência na orientação de Trabalhos de Conclusão de Curso de Ensino Médio (TCEM). Esses/as docentes, instigados/as pelas propostas da iniciação científica (IC) e, compreendendo a importância de pensá-las de modo multidisciplinar nos diferentes níveis da Educação Básica, reuniram-se com o objetivo de refletir, investigar e fomentar a realização da iniciação científica no CEPAE.

O ensino e a pesquisa há muito têm sido pautados no meio acadêmico como elementos indissociáveis na formação de professores e professoras da educação básica, e são inúmeras e relevantes as contribuições teóricas sobre o tema (FREIRE; GIROUX, LÜDKE; SAVIANI, BECKER; ANDRÉ). Para Paulo Freire “[...] faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, como pesquisador [...]” (FREIRE, 1996, p.15). Mas para além da pedagogia crítica no que tange a formação docente, Freire preconizou a ideia da sala de aula como lócus de reflexão, construção de conhecimento e formação de consciência também para os alunos e alunas, através de uma educação problematizadora, dialogada, crítica e, sobretudo libertadora (FREIRE, 1980).

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Mais recentemente temos visto crescer a corrente teórica que prioriza o ensino pela pesquisa desde os anos iniciais da educação escolar (DEMO; BAGNO; BRANDI; GURGEl; CHASSOT; MARAFON; SOUZA). Pedro Demo, um dos maiores expoentes desta corrente afirmar que “[...] o espírito da pesquisa é o mesmo, em todo o percurso, da educação infantil até a pós-graduação. A base da educação escolar é a pesquisa” (DEMO, 1996, p.15), reforça a ideia de que “o importante é compreender que sem pesquisa não há ensino” (DEMO, 2006, p.50). Demo considera desta forma, a pesquisa não como uma atividade a ser pontualmente desenvolvida, mas como um principio educativo permanentemente presente no cotidiano da escola, como instrumento de construção de um conhecimento crítico.

Para que o processo de “cotidianização da pesquisa” (DEMO, 2006) se torne uma realidade na escola, e que a pesquisa se faça presente no meio escolar, enquanto princípio educativo, são necessárias medidas para além de políticas públicas de reformulação curricular. Embora a iniciação científica tenha sido postulada como uma das principais competências do conhecimento na Base Nacional Comum Curricular para a educação básica (BNCC, 2018), sérias limitações como a falta de investimento na formação de professores e na infraestrutura das escolas, entre outras, impossibilitam a efetivação da proposta.

Considerando a importância da Iniciação Científica (IC) na Educação Básica para a formação humana e, de pensá-la, no interior e em relação às diferentes disciplinas, busca-se articular e sistematizar estudos e pesquisas na Educação Básica, com o objetivo de ampliar as práticas de IC na Educação Básica no CEPAE, e de promover o intercâmbio de ideias entre professores, professoras, pesquisadores e pesquisadoras das redes de ensino Municipal, Estatual e Privada.

A Educação Básica no CEPAE se desenvolve de modo privilegiado por sua proximidade com a iniciação científica, sobretudo nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, por meio de pesquisas desenvolvidas com os discentes via projetos de ensino, de orientação e coordenação de TCEM, de orientação de bolsistas do CNPq de Iniciação Científica Júnior e de alunos de graduação em editais de pesquisa em educação (PROLICEN) e na promoção de eventos locais que visam divulgar as pesquisas realizadas no CEPAE.

O projeto tem sua sustentação pautada na importância desse tipo de currículo, que fomente a iniciação à pesquisa científica para a formação dos alunos e as políticas públicas educacionais recentes que têm, cada vez mais, buscado inserir as práticas de pesquisa nas escolas, conforme determinado pela Base Nacional Curricular (BNCC).

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Portanto, a partir deste projeto de pesquisa e da criação de um núcleo de estudos e pesquisas formalizado na Universidade Federal de Goiás (UFG) e no CNPq responderemos às necessidades de registrar as ações que seus membros têm feito; de fomentar pesquisas científicas sobre a iniciação científica na educação básica, bem como temas a ela relacionados; de ampliar as redes de colaboração multidisciplinar entre os professores e professoras do CEPAE e desses com professores e professoras de outras universidades, institutos de pesquisa e redes de ensino; de contribuir teoricamente para a formação de professores e professoras com o objetivo de ampliar essas práticas em outras unidades de educação básica, em constante aproximação e diálogo com o conhecimento elaborado pela academia. A criação do núcleo contribui então para que ele seja reconhecido institucionalmente, consiga ampliar seu campo de interlocução com outros grupos de pesquisa preocupados com a pesquisa na Educação Básica e participar de editais visando a realização de eventos que promovam e incentivem a iniciação científica.

Metodologia

Estando o projeto de pesquisa vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares sobre a Iniciação à Pesquisa Científica na Educação Básica (NICEB), ele se constituirá em um projeto guarda-chuva que abrangendo vários planos de trabalho, formados de uma ou mais áreas do conhecimento a serem desenvolvidos pelos membros do núcleo, formado por um grupo de professores/as, pesquisadores/as do CEPAE/UFG e de outras instituições de ensino de Educação Básica da Rede Municipal, Estadual e Particular do Estado de Goiás.

Vale ressaltar que essa pesquisa consiste em um estudo teórico. Conforme Minayo (2011, p. 16), a pesquisa alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Embora seja uma prática teórica, a pesquisa envolve pensamento, ação e aplicabilidade. A autora reitera que nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. É por essa razão que as questões postas nesse estudo estão relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente construídos e que envolvem a educação e o ensino de Geografia em primeira instância. Toda investigação se inicia com uma questão, um problema e a busca por uma resposta envolve um esforço intelectual e prático que se vincula a conhecimentos anteriores ou à criação de novos conhecimentos.

O projeto se caracteriza pelo desenvolvimento de atividades que integram o tripé ensino, pesquisa e extensão, e será desenvolvido a partir do estudo e discussão do estado da arte do tema proposto, através da criação de um grupo de estudos que se reunirá quinzenalmente; da consolidação e divulgação das práticas e projetos de iniciação à pesquisas científica, realizadas pelos membros do núcleo; da apresentação de planos de trabalho a serem desenvolvidos pelos membros do núcleo, que contaram com bolsistas e ICJr; pela realização de eventos, como seminários e feiras de ciência, para apresentação das pesquisas dos professores/as e alunos/as; da participação em eventos nacionais e internacionais, e divulgação das pesquisas através de publicações periódicas.

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As atividades serão distribuídas ao longo de um cronograma de quatro anos, com possibilidade de prorrogação para mais quatro. Todos os eventos e atividades serão realizados e coordenados por comitês internos ao núcleo, com a participação de alunos e alunas da educação básica, da graduação e da pós-graduação nas equipes de organização.

O projeto contará ainda com a divulgação das atividades no site do NICEB, mantendo um calendário de atividades, e divulgando eventos e produtos.

Resultados e Discussões

Este projeto de pesquisa, tem como prioridade alcançar aos seus objetivos propostos que resultam em pesquisar e desenvolver práticas de ensino e aprendizagem de iniciação à pesquisa científica na Educação Básica, contribuindo para a orientação pedagógica e metodológica em escolas das diferentes redes de ensino.

Assim como, analisar como a IC na educação básica vem sendo realizada nacional e internacionalmente, principalmente quanto as estratégias de ensino e aprendizagem adotadas e os impactos promovidos na formação dos estudantes; investigar as bases teóricas relacionadas à IC na educação básica, bem como a temas a ela relacionados; promover a formação inicial, via estágio supervisionado, e continuada de professores sobre o IC na educação básica; desenvolver e pesquisar práticas de IC no CEPAE e em outras escolas das redes pública e privada; pesquisar espaços formativos nos quais atuem, colaborativamente, professores, pesquisadores, futuros professores e estudantes da educação básica visando as práticas de formação para a pesquisa; promover o intercâmbio de ideias entre pesquisadores, estudantes das diferentes instituições e convidados por meio da realização de eventos e publicações científicas; divulgar a produção e os resultados, na comunidade da educação básica e na comunidade acadêmica, por meio da participação em eventos nacionais e internacionais e publicações científicas e de divulgação científica.

Este projeto busca, ainda, alcançar a realização das seguintes atividades: reuniões periódicas de discussão e planejamento de atividades; a organização e realização de uma Feira de Ciências anual, aberta à participação das instituições de ensino das redes municipal, estadual e federal, e da rede particular. A organização de um Fórum de Iniciação à Pesquisa Científica com palestras e oficinas destinadas aos professores e professoras, coordenadores e coordenadoras e estudantes das escolas públicas e particulares do estado de Goiás. Assim como a divulgação das pesquisas e trabalhos sobre as temáticas que envolvam a Iniciação à Pesquisa Científica por meio de publicações acadêmicas em periódicos especializados e livros.

Referências

ANDRÉ, M. (Org.) O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. Campinas: Papirus, 2001. p. 55-69.

BAGNO, M. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1998.

BECKER, Fernando. Ensino e pesquisa: qual a relação? In: BECKER, Fernando.; MARQUES, Tania. B. I. (Org.). Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre: Mediação, 2007. p. 11-20.

BRANDI, A.T.E. e GURGEl, C.M.A. A Alfabetização Científica e o Processo de Ler e Escrever em Séries Iniciais: Emergências de um Estudo de Investigação-Ação, Ciência & Educação, v.8, n.1,113-125, 2002.

CHASSOT, A. Alfabetização Científica – Questões e Desafios para a Educação, Ijuí, Editorada Unijuí, 2000.

DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 1996.

DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 1992.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade, São Paulo: Paz e Terra. 1980.

GIROUX, H. A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

LÜDKE, M. O professor e a pesquisa. Campinas, São Paulo: Papirus, 2001a.

LÜDKE, M. O professor, seu saber e sua pesquisa. Educação e Sociedade. Campinas, n. 74,p. 77-96, 2001b.

LÜDKE, M; CRUZ, Giseli B. da. Aproximando universidade e escola de educação básica pela pesquisa. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 125, 2005.

MARAFON, M. R. C. Pedagogia crítica: uma metodologia na construção do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

MINAYO, M. C. de S. O desafio da pesquisa social. In: DESLANDES, S. F.; GOMES, R.; MINAYO, M. C. de S. (Orgs.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis-RJ: Vozes, 2011.

SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas, SP: Autores Associados, 2003. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo).

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.

SHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. (Org.) Os Professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.

SOARES, M., (1998). Letramento: um tema em três gêneros, Belo Horizonte: Autêntica. 1998.

SOUZA, C.A., Bastos, F.P. e Angotti, J.A.P. Cultura Científico-Tecnológico na Educação Básica, Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v.9, n.1, 2007.

Notas

1. Líder do Grupo de Iniciação à Pesquisa Científica na Educação Básica (GICEB/UFG).

2. Vice Coordenadora do Núcleo de Iniciação à Pesquisa Científica na Educação Básica (NICEB/UFG).

3. Coordenadora do Núcleo de Iniciação à Pesquisa Científica na Educação Básica (NICEB/UFG).

4. O Centro de Pesquisa e Ensino Aplicada à Educação (CEPAE) é uma unidade da Universidade Federal de Goiás (UFG), que desenvolve a Educação Básica conforme o artigo 8o, parágrafos de 1o a 5º do Estatuto da UFG e tem como instância de supervisão a Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD). Nesta unidade de ensino, fundada como Colégio de Aplicação, funcionam a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, como também programas Estágio supervisionado, pós-graduação latu sensu e um strictu sensu, intitulado Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica.