Cayo Henrique Ferreira de Alcântara
cayoalcantara@discente.ufg.br

Alice de Jesus Freitas
aliice.freiitas@discente.ufg.br

Júlia Cavasin Oliveira
juliacavasinoliveira@discente.ufg.br

Adda Daniela Lima Figueiredo Echalar
adda.daniela@ufg.br

EIXO
Ciências Biológicas e Química

A popularização da ciência em ações extensionistas vinculadas ao Fórum de Licenciatura da UFG: em foco a pandemia da COVID-19

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Resumo: O referido trabalho tem como ponto de partida compreender como, em contexto pandêmico, as ações, os eventos e projetos extensionistas do Fórum de Licenciatura da Universidade Federal de Goiás (UFG) têm realizado os seus trabalhos e promovido à popularização da Ciência. Para tanto, foi feita uma pesquisa exploratória inicial e análise documental das ações extensionistas vinculadas ao Fórum que tratam da educação em tempos de pandemia. Das 17 ações, três discutem sobre a pandemia da Covid-19 nos processos de ensinar e aprender e fazem, direta ou indiretamente, a popularização da ciência e das questões atinentes à educação. As ações estão sendo desenvolvidas de forma online para atender a necessidade de isolamento social. Há a necessidade de continuidade nos estudos e nas pesquisas sobre as atividades em si, bem como as demais desenvolvidas na universidade, a fim de sistematizar as ações que foram realizadas de popularização da ciência no contexto pandêmico.

Palavras-Chave: Comunicação Pública da Ciência. Extensão. Pandemia.

Introdução

Pouco se sabe sobre a história das atividades de comunicação da ciência realizadas no Brasil. As atividades científicas sistematizadas e a comunicação da ciência moderna eram quase inexistentes no país entre os séculos XVII e XVIII. Esse cenário só começou a mudar no século XIX e, desde então, atividades de comunicação científica têm sido observadas no país (MASSARANI; MOREIRA, 2002).

No início do século XX, as atividades de comunicação da ciência foram impulsionadas pela criação de organizações como a Academia Brasileira de Ciências (1916) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC (1948). Da década de 1980 até os dias atuais as ações de popularização da ciência vêm crescendo e se diversificando (MASSARANI; MOREIRA, 2021).

Nas sociedades democráticas, a popularização da ciência é fundamental em debates e na formulação de políticas públicas. Para tanto, é indispensável que a população tenha acesso ao conhecimento científico e participe das discussões e elaborações de políticas públicas.

Assim, vemos um crescente uso da internet e das redes sociais por cientistas e divulgadores científicos para a comunicação da ciência (MASSARANI; MOREIRA, 2021). Esse movimento teve uma escalada no contexto da pandemia de Covid-19, visto que a falta de informação e a exposição às notícias falsas podem influenciar o comportamento e a saúde da população (NETO et al., 2020).

Partindo disso, urge, então, a necessidade de romper com a imagem da Ciência construída por cientistas isolados, sem considerar o processo de construção do conhecimento científico como algo coletivo. A visão de um percurso científico a partir de colaborações e da participação de vários sujeitos para se chegar em conclusões relevantes para a humanidade ainda é pouco difundida fora do contexto acadêmico.

A partir desse contexto, emerge a necessidade de se compreender como ocorre essa ponte comunidade não acadêmica-universidade. No contexto local da Universidade Federal de Goiás, o foco tem sido o Fórum de Licenciatura, em sua atuação enquanto programa de extensão. Como a realidade posta é atípica, devido à pandemia pela Covid-19, levantamos o questionamento: em que medida as ações/os projetos/os eventos do programa de extensão Fórum de Licenciatura da UFG têm discutido a realidade pandêmica e promovido à popularização da Ciência?

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Nesse sentido, o referido trabalho objetiva analisar como as ações, os projetos e os eventos extensionistas estão realizando seus trabalhos e promovido à popularização da Ciência em contexto pandêmico e colocando a própria pandemia em questão, ou seja, como objeto de reflexão para os envolvidos nas ações educativas.

O presente trabalho está vinculado a um plano de trabalho de Iniciação Tecnológica que pesquisa as ações de extensão desenvolvidas no Programa de Extensão Universitária “Fórum de Licenciatura, regional Goiânia, da Universidade Federal de Goiás”. A busca de dados ocorreu no site do Fórum e nas ações a ele vinculadas, no mês de junho de 2021, partindo da análise dos conteúdos das ações que apresentavam explicitadas em seu projeto as palavras: Covid-19 e pandemia.

Entre contextos e processos

O Programa conta com 17 ações que se dividem entre projetos, eventos e cursos, e está distribuído em vários institutos da UFG (Quadro 1).

Quadro 1 - Ações de extensão vinculadas ao Programa de Extensão “Fórum de Licenciatura, regional Goiânia, da Universidade Federal de Goiás”.

Nome da ação Categoria Instituto
Redescobrindo Goiás: cantando, vivendo e aprendendo Projeto Faculdade de Educação
Prosa afinada: dois dedos de poesia com poetas contemporâneos Projeto Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação - CEPAE
Portal do Fórum Goiano de Educação de Jovens e Adultos – instrumento de formação política e construção coletiva da luta pelo direito à educação Projeto Instituto de Ciências Biológicas
Pelo direito à literatura: um bem cultural produzido pela/para a humanidade Projeto Faculdade de Educação
Os (des)caminhos da educação brasileira contemporânea Evento CEPAE
Mulheres na Ciência Projeto Instituto de Ciências Biológicas
“LAVIL”: LABORATÓRIO VIRTUAL DE LICENCIATURAS Projeto Faculdade de História
I Encontro de Pesquisa da Rede de Pesquisa em Ensino de Ciências na EJA Evento Instituto de Ciências Biológicas
Grupo Trappo: voz e poesia Projeto CEPAE
Grupo de estudos "estudar também é resistir' Projeto Faculdade de Educação
Grupo de estudos Educação e Ciências humanas: ensino de história em questão Projeto Faculdade de Educação
Formação docente numa perspectiva freiriana Curso Faculdade de Educação
Educação em tempos de pandemia: matutar é preciso Projeto Instituto de Ciências Biológicas
Educação em tempos de pandemia: matutar é preciso - ano 2 Projeto Instituto de Ciências Biológicas
Desafios perspectivas dos campos de estágio: diálogo em tempos de pandemia Evento Faculdade de Educação
Ciclo de debates de reestruturação do Ensino Médio no Cepae: uma proposta democrática é possível? Evento CEPAE
Catador com ensino médio Projeto Faculdade de História
Fonte: os autores (2021).

Do total de ações desenvolvidas pelo programa de extensão, temos que três delas estão diretamente ligadas à problematização do contexto da pandemia, sendo elas: o evento “Desafios e perspectiva dos campos de estágio: diálogos em tempos de pandemia”; o projeto “Educação em tempos de pandemia: matutar é preciso” e sua continuidade em 2021 e o curso “Formação docente numa perspectiva Freiriana”.

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O evento “Desafios e perspectivas dos campos de estágio: diálogo em tempos de pandemia”, foi desenvolvido entre a Instituição de Ensino Superior (IES) e Instituições de Educação Básica, no período 24/11/2020 a 08/06/2021, tendo como intuito proporcionar aos futuros docentes um exercício de atividade em formação baseada na práxis, relacionando a realidade escolar com a perspectiva profissional. Assim, o evento discutiu esses processos em reuniões mensais, sendo toda a última terça-feira do mês e está em desenvolvimento de forma online por meio de ação fechada e plataforma privada (Google Meet).

O estágio é uma atividade crucial para formação do professor e para a construção da sua identidade profissional. Por meio desta atividade, os licenciandos têm a possibilidade de vivenciar a realidade educacional e confrontá-la com as bases teóricas aprendidas durante a sua formação. Esse diálogo entre teoria e prática, além de possibilitar novas discussões, pode proporcionar novas práticas do fazer e pensar docente.

Já o projeto “Educação em tempos de pandemia: matutar é preciso” se materializa em uma parceria interinstitucional na curadoria (IFG, UFG, PUC Goiás e SEDUC Goiás) para realização do programa “Matutando: diálogos formativos”. Nele são realizadas entrevistas semanais com especialistas sobre as temáticas que impactam a educação em tempos de pandemia, desde julho de 2020 até o presente momento. As entrevistas são veiculadas na TV UFG, com transmissão simultânea no canal do Youtube da EaD do IFG e totalizam, até o momento, 46 entrevistas .

Ainda que o “Matutando” esteja disponibilizado em uma plataforma hegemônica - como o Youtube -, ele atua em discussões contra hegemônicas, pois contribui com discussões que colocam a realidade em questão com intuito de transformá-la. Assim, ele é considerado um dispositivo de formação aberta que viabiliza o espaço e tempo em torno de um objeto formativo.

Nele se colocou em discussão o trabalho docente com tecnologias, às condições de aprendizagem dos estudantes, a arte, a cultura, as políticas públicas, a educação de jovens e adultos, a educação, a saúde e a ciência enquanto direito e, em três programas, se discutiu diretamente a comunicação entre comunidade não acadêmica-universidade, sendo eles: 1. Escola (com)Ciência na pandemia; 2. Ciência, divulgação científica e pandemia e 3. Comunicação social, jornalismo e pandemia.

O curso “Formação docente numa perspectiva Freiriana” tem como proposta ser desenvolvido para os estudantes da Universidade Federal do Tocantins (UFT), abrangendo também estudantes do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, como público interno. Sua base de desenvolvimento é de atividades a serem desenvolvidas através do site oficial do curso, levando o docente em formação a repensar o compromisso com a profissão relacionando com a defesa da vida de pessoas e por extensão a correlação com o planeta. São desenvolvidos também, encontros mensais que ocorrem de forma online por meio da plataforma privada “Google Meet”, baseados na fundamentação teórica que sustenta o diálogo em defesa da justiça e a pensar numa escola pós-pandemia.

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Paulo Freire nos trouxe amplos e importantes ensinamentos a respeito da prática educativa, desde a beleza e alegria nos sujeitos envolvidos até mesmo questões mais profundas como ideologias e posicionamentos. O autor nos ressalta a importância da íntima relação entre teoria e prática e, também, entre ensinar e aprender. Outro fator bem realçado por Freire é o rigor metodológico, visto que o docente precisa ser curioso, pesquisar, ter criticidade no seu trabalho e, principalmente, respeitar os conhecimentos prévios de seus educandos, pois é na superação dos conhecimentos cotidianos que se viabilizam o desenvolvimento dos conhecimentos científicos (FREIRE, 2002)

Além destas preocupações com o processo de ensino e aprendizagem, que seja de maneira respeitosa e democrática, com elementos culturais e afetivos, Paulo Freire mostra em suas obras um zelo com o movimento de resistência e valorização dos professores. Defende o posicionamento que os professores devem acreditar na mudança do mundo através da educação, que a educação vai muito além do ensino de conteúdos (FREIRE, 2004).

Em análise dos projetos de extensão citados, podemos compreender que as ações tratam diretamente sobre o desenvolvimento científico e educacional durante a pandemia e um deles trata sobre os reflexos que o ensino remoto emergencial terá sobre a escola e sobre os alunos pós-pandemia.

Todas as ações tratam diretamente sobre a pandemia de Covid-19 e suas consequências dentro da educação e popularização da ciência. As ações estão sendo desenvolvidas de forma online para atender melhor os estudantes e professores. Somente uma das ações, “Educação em tempos de pandemia: matutar é preciso”, é desenvolvida em plataformas de divulgação gratuita, como TV aberta (TV UFG) e a plataforma Youtube, partindo disso, pessoas que se encontram fora do âmbito universitário têm acesso direto às discussões dessa ação.

Considerações finais

A partir da análise feita sobre as ações extensionistas ligadas ao Fórum de Licenciatura da Universidade Federal de Goiás notamos a importância das ações que se relacionam de alguma forma a pensar e discutir a educação em tempos de pandemia. Ademais, compreendemos a necessidade de aprofundar nas pesquisas e discussões que tangem a temática, pois estão diretamente interligadas com a popularização da ciência.

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A comunicação científica e suas relações são processuais e estão vinculadas aos contextos históricos das sociedades, bem como de seus avanços científicos e tecnológicos. Com isso, é indispensável a continuidade de ações que pensem a realidade a partir da ciência e de ações que viabilizem o fenômeno da popularização da ciência e de sua comunicação pública, utilizando os recursos tecnológicos disponíveis para a maioria da população, seja a TV, o rádio e até mesmo a internet.

Referências

FAYARD, Pierre-Marie. La sorpresa de Copérnico: el conocimiento gira alrededor del público. Alambique: didáctica de las ciencias experimentales, v. 21, p. 9-16, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro. Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil. In: MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro; BRITO, Fátima. Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil. 2002. p. 43-64.

MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro. Divulgação científica no Brasil: algumas reflexões sobre a história e desafios atuais. In: MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro. Pesquisa em Divulgação Científica: Textos Escolhidos. 1. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, 2021. p. 15-55. Disponível em: https://www.inct-cpct.ufpa.br/index/2021/04/22/novo-livro-pesquisa-em-divulgacao-cientifica-textos-escolhidos/. Acesso em: 13 maio 2021.

NETO, Mercedes; GOMES, Tatiana de Oliveira; PORTO; Fernando Rocha; RAFAEL, Ricardo de Mattos Russo; FONSECA, Mary Hellen Silva; NASCIMENTO, Julia. Fake news no cenário da pandemia de Covid-19. Cogitare Enfermagem, v. 25, p. 1-7, 2020. Doi: dx.doi.org/10.5380/ce.v25i0.72627

Notas

1. Licenciando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É bolsista do Programa de Bolsas de Licenciatura (PROLICEN) e coordenador do projeto de popularização científica “A vida no Cerrado”.

2. Licencianda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID-UFG), integrante do Grupo de Estudos e Projeto de Extensão Mulheres na Ciência UFG e voluntária no programa de Iniciação Tecnológica.

3. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática (PPGECM) da UFG. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa Kadjót.

4. Docente do PPGECM da UFG. Líder do grupo de pesquisa Kadjót.

5. Site do Fórum de Licenciatura da UFG - https://forumlicenciatura.prograd.ufg.br/

6. Canal no YouTube da EaD do IFG - https://www.youtube.com/c/EaDIFGoficial/videos

7. Listagem de entrevistas realizadas no Programa Matutando: diálogos formativos está disponível em: https://docs.google.com/document/d/1bVyk3Vf7XixsTeU7-taptZmVWGjBpo5Ezcp0LEdSQgQ/edit

8. Site do curso “Formação docente numa perspectiva Freiriana”, onde também é possível encontrar a data das próximas reuniões: http://eventos.ufg.br/SIEC/portalproec/sites/gerar_site.php?ID_SITE=14701