Anna Clara Campos Lopes
annalopes@discente.ufg.br

Isabela de Oliveira Caetano
isabelacaetano@discente.ufg.br

EIXO
Arte, Dança, Educação Física, Música e Teatro

As possibilidades artísticas adaptadas ao ensino remoto

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Resumo: O presente trabalho propõe discutir e trazer reflexões a respeito das possibilidades e dificuldades artísticas encontradas dentro do modelo de ensino remoto, proposto a partir do isolamento social decorrente da pandemia de Covid- 19. Para tal, parte de experiências vivenciadas no Subprojeto PIBID-Artes, realizado na Universidade Federal de Goiás desde 2020.

Palavras-Chave: Ensino remoto. Arte-educação. PIBID-Arte.

O tema deste trabalho foi escolhido e fundamentado a partir de experiências vivenciadas no Subprojeto PIBID-Artes que integra bolsistas das áreas de Música e Teatro e ocorre no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE-UFG). Pensar as possibilidades de adaptação ao ensino remoto é um desafio atual para a maioria das escolas de Educação Básica, através da obrigatória transição do ambiente escolar físico para o tecnológico e virtual, imposto pela epidemia de Covid-19, desde o início de 2020. No caso específico deste trabalho, pensaremos essas possibilidades no que se refere ao ensino de Música e Teatro. Consideramos ainda que o tema proposto se relaciona também com o mote trazido pelo Encontro de Licenciaturas e Educação Básica (ELEB) este ano: “Educação, sociedade e práxis educativa: desafios e perspectivas à formação e à atuação docente”, afinal, inúmeros foram os desafios para a reinvenção do ensino de arte neste contexto pandêmico.

Para desenvolver a reflexão, descreveremos brevemente o trabalho desenvolvido pelo PIBID-Artes, tanto no âmbito da EMAC-UFG quanto junto ao Projeto Revoada, que atende estudantes da Educação Básica no CEPAE-UFG. Tal projeto contribui com a formação em artes de seus integrantes por meio da realização anual de um musical, processo durante o qual as crianças têm a oportunidade de aprender as linguagens da Música, do Teatro e da Dança.

Debateremos aqui então, algumas das estratégias metodológicas utilizadas para realizar esse ensino remoto, refletindo a seu respeito à luz de colocações recentes de autores que começam a debater o desafio do ensino das artes em ambiente remoto.

Metodologia

As atividades realizadas pelos bolsistas do PIBID, Subprojeto-Artes, estão distribuídas em três momentos durante a semana. O primeiro se configura em um período de reflexões e estudos teóricos sobre a prática docente, incluindo debates sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Documento Curricular para Goiás Ampliado (DC-GO Ampliado) e ocorre apenas com a presença dos bolsistas e das professoras coordenadoras. O segundo momento é um encontro entre as professoras do Projeto Revoada - CEPAE e os pibidianos, com o intuito de planejar atividades com as crianças, organizar as práticas a serem realizadas, compartilhar e retomar ideias. Por fim, o terceiro momento é o encontro com as crianças participantes do projeto, onde visualizamos suas criações e realizamos as atividades selecionadas anteriormente pelas docentes e pelos aprendizes.

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Em função da pandemia de Covid-19, desde o início de sua execução em 2020/2021, o Projeto Revoada vem sendo realizado em modo remoto. Portanto, todos os momentos de trabalho mencionados acima acontecem remotamente e não há, ainda, vislumbre da retomada das atividades presenciais no CEPAE. Portanto, vimo-nos frente a um desafio muito grande: realizar um espetáculo e, mais do que isso, tornar a prática artística no geral (teatral, musical e de dança) eficiente, de forma totalmente remota. Excepcionalmente no momento atual que estamos enfrentando devido a Pandemia esses recursos tornaram-se necessários e tem feito parte do processo de ensino aprendizagem nas escolas. Devemos considerar que a utilização de tais ferramentas digitais é parte de uma construção cultural que conectam o esforço do professor e do estudante.

Aristides (2018) expõe o modelo de “triângulo pedagógico” de Houssaye (1992) para ilustrar o sistema de interações entre: professor-saber; aprendiz-saber; e professor-aprendiz, sendo estes atores da situação pedagógica. Observa-se que de um modo geral, os professores não utilizavam tanto essas ferramentas digitais e geralmente os alunos as usavam mais fora do ambiente escolar. É problemático ainda a adoção e apropriação dessas ferramentas digitais no Brasil, por conta da dificuldade em adoção pelos professores, adequação dos objetivos, a facilidade de uso e a aceitação dos alunos, sem contar os empecilhos tecnológicos que podem acontecer.

Elementos habituais às crianças foram dificultados ou suprimidos: o toque dos instrumentos, o contato físico na relação estabelecida durante a prática artística entre as demais crianças e com o professor, o uso do espaço a que estavam habituados, etc.

Foram muitas as dúvidas durante o processo. O primeiro desafio foi identificarmos que, devido à pandemia, nem todas as crianças poderiam ou gostariam de continuar conosco em modo remoto e nos deparamos com uma grande evasão de alunos. Impunham-se algumas questões: Quais atividades contemplariam todas as necessidades (físicas, financeiras, familiares, etc) de todas as crianças? Como produzir algo para apresentar? Como trabalhar corpo, voz e interpretação apenas por vídeos? Como estimular as crianças a abrirem as câmeras e participarem das atividades propostas sem que isso se tornasse exaustivo?

A fim de estimular a fundamental participação das crianças nos encontros, uma das estratégias propostas foi a ideia de que, a cada semana, um tema seria escolhido e então todas as pessoas deveriam vir caracterizadas a partir daquele tema. Como percebemos que a ideia funcionou e as crianças agora abriam as câmeras para apresentarem suas vestimentas, decidimos aproveitar um encontro em que estávamos todos trajados de roupa de banho para utilizar um fundo de tela do Google Meet que remete ao mar. Esse fundo de tela foi utilizado como elemento cênico e, desta forma, compôs o processo de ensino e aprendizagem de uma forma que não seria tão acessível em uma sala de aula presencial. Apesar dos desafios e do grande prejuízo que a supressão dos encontros presenciais causa para o aprendizado do teatro, descobríamos alguns caminhos para minimizar essa lacuna e qualificar um pouco a experiência do ensino remoto de artes.

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Além disso, se fez necessário o entendimento de outras linguagens tecnológicas bem como o aprendizado e a dedicação para a construção de um espetáculo em vídeo, uma nova linguagem que entrava em jogo. Em outra atividade proposta, as crianças compartilharam, a partir de um estímulo, novas palavras que aprenderam em 2020 que, em maioria, fazem parte do universo digital: online, link, live, microfonia, delay, remoto, host. Cada uma dessas atividades nos ajudava a adentrar juntos um universo que, a princípio, parecia muito distante. Apesar dos receios, houve também comemorações quando as crianças entenderam que o espetáculo poderia ser visto por pessoas de todo o mundo.

Ainda que identifiquemos pequenas conquistas ao longo do processo, inúmeras dificuldades foram encontradas. Dependíamos principalmente dos vídeos enviados pelas crianças para construirmos um espetáculo, vídeos que, compreensivelmente, nem sempre eram produzidos, em função de fatores externos diversos tais como o não entendimento da atividade proposta, dificuldades operacionais no momento das gravações de vídeos (iluminação, som, enquadramento), falta de tempo e/ou recursos suficientes etc. Entendemos que tais obstáculos são também consequência da falta de estímulo físico, do envolvimento e troca na sala de aula presencial. Os benefícios que esses elementos propiciam para a prática artística são inegáveis.

Musicalmente falando, o desafio também era imenso, pois as crianças não tinham acesso aos instrumentos e nem podiam tocar ou cantar juntas pelas plataformas digitais utilizadas. A maior parte das canções foram criadas pelas professoras e pibidianas totalmente inspiradas nas criações propostas pelas crianças. Devido às limitações das plataformas remotas, ampliaram-se as dificuldades de construir a percepção musical internalizada e de conseguir cantar na altura ou ritmo definido.

Resultados e discussões

Diante do exposto, é possível concluir que o processo artístico desenvolvido de maneira remota é desafiador e exige inúmeras condições que não dependem totalmente do educador para que esse aprendizado seja eficiente em relação aos alunos. Assim como Júlio César Viana Saraiva, acreditamos que

explorar a relação da cena com as Novas Tecnologias, nesse momento de crise, possa nos ajudar a descobrir formas de atuação em nossa área. E, como em todos os campos do fazer cênico, isso também demanda esforço, estudo, entendimento dos processos e de seus elementos e abertura para o risco, para explorar o novo, o desconhecido. (SARAIVA, 2021, p. 95)

A participação dos pais, o envolvimento dos alunos com as atividades; os recursos tecnológicos disponíveis; a metodologia utilizada; são considerações a serem realizadas. Ainda não obtemos um resultado final da experiência com o Projeto Revoada Musical, mas todas as questões levantadas foram pertinentes para que pudéssemos chegar ao objetivo de conseguir realizar o espetáculo.

Referências

Saraiva, J. C. V. (2021). Relato de Experiência: Sobre a experiência de se criar cenicamente em meio à pandemia. Transverso, (9), 89–95.

EMAC, UFG. Mesa 2 - Processos de Criação na Pandemia - Youtube, 08jun. 2021. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=VpSRg30kvak >. Acesso em: 26jun. 2021.

EMAC, UFG. Mesa 3 - Metodologias de Ensino em tempos de ensino remoto- Youtube, 09jun. 2021. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=XawtbhIux50 >. Acesso em: 26jun. 2021.

ARISTIDES, M. A. M.; SANTOS, R. M. S. Contribuição para a questão das tecnologias digitais nos processos de ensino-aprendizagem de música. Revista da Abem, v. 26, n. 40,p.91-113, jan./jun.2018.

Notas

1. O trabalho aqui apresentado faz parte da pesquisa desenvolvida no PIBID 2020 – Subprojeto Arte, orientado pelas professoras doutoras Joana Abreu e Thaís Lobosque, da EMAC-UFG, e supervisionado pelas professoras doutoras Kely de Castro e Telma Assis, do CEPAE-UFG, e Ana de Pellegrin (FEFD-UFG).

2. PIBID-EMAC/UFG

3. PIBID-EMAC/UFG