Eliane da Silva Lima
elianylima@hotmail.com

Grazielly Katarinni Gomes Lemos
grazielly.lemos@seduc.go.gov.br

EIXO
Arte, Dança, Educação Física, Música e Teatro

Aplicação de jogos teatrais e dramático na sala de aula

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Resumo:O presente trabalho tem como objetivo compreender as práticas dos Jogos Teatrais e jogos dramáticos nos processos de ensino e aprendizagem no ensino fundamental da escola pública. O método escolhido para o desenvolvimento deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica, por meio do levantamento da seleção e análise do material publicado de acordo com o tema. Apoiado nos estudos teóricos de Viola Spolin (2007), Olga Reverbel (2009) e outros autores elucidam inúmeras dificuldades encontradas para se efetivar o ensino de teatro na escola, as práticas com os jogos teatrais e jogos dramáticos no ambiente escolar podem trazer inúmeros resultados positivos nos processos de aprendizagens. Contribuindo de forma efetiva na formação dos estudantes, para que sejam autônomos, mediados pelo pensamento dramático e pelas experiências de grupo. Através das vivências teatrais proporcionar aos estudantes possibilidades de reflexão crítica, o pensar com o corpo e com a voz, contribuindo para construção do seu conhecimento.

Palavras-Chave: Ensino e aprendizagem. Metodologia do ensino. Jogos Teatrais.

Este trabalho ressalta a importância de entender como os jogos teatrais e jogos dramáticos utilizados como recurso metodológico pelo docente na sala de aula, contribui de forma significativa para o trabalho pedagógico nas aulas de arte na modalidade de Teatro. Os jogos têm a finalidade de contribuir para que gere um clima de confiança entre os pares (professor e estudante, vice-versa, estudante e estudante) tenham respeito às diferenças, autonomia, além da reflexão crítica sobre o conteúdo trabalhado, articulando um ambiente de aprendizagem mais efetivo e pensando no ser humano de forma integral. A proposta metodológica deste trabalho foi realizada através de pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, de relatos pessoais onde foram utilizados os jogos teatrais e jogos dramáticos na sala de aula. Para que o referencial teórico transcorresse de forma positiva, houve necessidade de diversas leituras de livros, textos, periódicos pesquisados, e análise bibliográfica, além da pesquisa de campo, em sala de aula de 6º ao 9º ano do ensino fundamental, da rede pública de ensino. Todo o arcabouço adquirido, foram necessários para entender que ensino de teatro por meio dos jogos pode ser importante para o estudante refletir sobre a vida real, fazer críticas sobre as ideologias presentes na sociedade: nas relações sociais, políticas, econômicas e inter-humanas, sendo assim eles vão construindo sua identidade e autonomia, características de um sujeito emancipado.

É neste contexto que refletimos sobre a prática pedagógica do teatro “enquanto proposta de educação, trabalha com o potencial que todas as pessoas possuem, transformando esse recurso natural em um processo consciente de expressão e comunicação”, frisa Ingrid Koudela (1998, p. 78). Isto é, todos os estudantes têm potencial de entender e internalizar o teatro, e utilizá-lo no seu cotidiano. Mas para isso o ensino de teatro, precisa ter a finalidade de caráter pedagógico, ter intencionalidade e proposito de mudanças nas aulas ao que se refere ao ensino tradicional. Para mudança de paradigma precisa entender e utilizar a pedagogia do teatro, pois essa favorece ambiente de aprendizagem com clima de confiança, de respeito às diferenças e de reflexão, também permite a articulação de diferentes conhecimentos constituindo-se como instrumento metodológico aplicado na sala de aula. Contribuindo não somente para desenvolvimento de peças teatrais na escola, como para desenvolvimento do sujeito e a abordagem de temáticas relacionadas ao seu processo de formação. Os jogos teatrais e jogos dramáticos além de serem técnicas que tem elementos reflexivos sobre o senso comum, quebra paradigmas e as ideologias que estão impostas nos livros, nos textos e entre outros recursos.

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Desta forma alguns autores pesquisados fizeram parte dessa pesquisa, principalmente o referencial teórico de Viola Spolin (2007), Peter Slade (1978), Olga Reverbel (2009) que atentam para os jogos teatrais e jogos dramáticos na sala de aula como ponto de equilíbrio tanto para o professor quanto para o estudante. Descrevendo a respeito da relação afetiva no comprometimento da formação da autoestima e, consequentemente, o desempenho do aluno no processo ensino-aprendizagem.

O que os autores falam sobre os jogos teatrais e jogos dramáticos na sala de aula? Os jogos teatrais são procedimentos lúdicos com regras explícitas. Nos jogos teatrais o grupo de sujeitos que joga pode se dividir em "times", um time que apresenta e o outro time assiste o que outro apresenta e assim vice-versa. É durante os exercícios com os jogos teatrais que se desencadeia os processos de aprendizagem. No jogo dramático entre sujeitos (faz de conta) todos são "fazedores" da situação imaginária são "atores". E a palavra drama, oriunda da língua grega, quer dizer "eu faço, eu luto" (Peter Slade, 1978, p. 18). Para Ingrid Koudela os jogos dramáticos e jogos teatrais podem se entrelaçar e obter resultados significativos na sala de aula,

O “processo de jogos teatrais visa efetivar a passagem do jogo dramático (subjetivo) para a realidade objetiva do palco”. Entende-se, portanto, que o jogo teatral é um processo que tem por objetivo gerar uma nova realidade...Desta forma, a transição entre o jogo dramático infantil (ou jogo de faz-de-conta) para o jogo teatral é comparável à transformação do jogo simbólico (subjetivo) no jogo de regras (socializado)” (KOUDELA, 2001, p. 44).

Podemos afirmar que o estudante passa a ter um papel mais atuante em seu processo de aprendizagem se torna crítico ao participar dos jogos, isso quando o professor passa a usar por meio de método didático envolvendo a prática social.

As primeiras experiências com os jogos em sala de aula com os alunos do 6º ao 9º do ensino fundamental, não foi fácil de esquecer. Pois tiveram muitos desafios, muitas conquistas, além dos aprendizados tanto para as professoras quanto para os alunos. Iniciou o desafio ao fazer planejamento de aula, sendo necessário vários conhecimentos de teorias e técnicas dos jogos e do teatro, isto é, foi necessário especificar objetivos artísticos que incluíssem uma linguagem cênica, performance, a linguagem corporal, o espaço físico da sala de aula, entre outros, e estes puderam exigir reestruturação total a cada aula.

Com objetivo de propiciar uma vivência, experiência teatral aos alunos, incialmente foram propostas as seguintes dinâmicas: Aquecimento - expressão corporal de Olga Reverbel (2009), Jogos de movimento de Viola Spolin (2007), entre outros, com intuído de explorarem o espaço, a sensibilidade, a observação, a imaginação e a criatividade em cada jogo. Falamos dos objetivos da aula para eles, onde foi contextualizado a importância dos respectivos jogos como instrumento de aprendizagem, associado ao prazer e a criatividade. Após essa explicação, pedimos aos alunos que abríssemos um espaço na sala, retirando as carteiras do lugar e colocando-as no fundo da sala.

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Então solicitamos que os estudantes explorassem o ambiente, liberando gestos e energia. Pois as caminhadas no espaço da sala de aula propiciam a exploração mais minuciosa, tem foco, dando aos alunos a chance de se movimentar e explorar o espaço que já é familiar da sala de aula, proporcionando um novo imediatismo ao espaço, como reforça Viola Spolin (2007). E com isso eles foram experimentando várias linguagens teatrais, como perceber na caminhada os planos baixo, médio e alto da sala, o seu espaço e do outro, entre outras performances que fomos direcionando (professoras) e explorando ainda mais corpo e o espaço. E com isso todas as brincadeiras em formas de jogos, foram dirigidas, com intencionalidade, sem trazermos regras explicitas.

As experiências que vivenciamos na escola, foram intrigantes e inquietantes pelo fato de termos encontrado diversas dificuldades para a realização do trabalho, entre eles: falta de espaço físico apropriado nas escolas; certo preconceito por parte dos outros professores da escola com relação ao campo do teatro; e o fato de alguns discentes se mostrarem resistentes durante as aulas de teatro. Percebemos que tudo isso dificultou a fluência do processo do ensino do teatro, na execução dos projetos como a aplicação dos jogos teatrais na sala de aula e concomitante a dificuldade da formação cultural pelo teatro, tornando-se um desafio à prática docente. Mas não impediu de realizar atividades em sala de aula. Nesse sentido, precisou encontrar estratégias e habilidades que ajudasse a superar as dificuldades encontradas na escola e/ou adequá-las de acordo a organização da escola: horário, quantidade de alunos, espaço físico, entre outros.

Por isso, no trabalho que desenvolvemos nas salas de aulas, a práxis pedagógica dos jogos teatrais, jogos dramáticos, abordaram temas que normalmente ficam ausentes do ensino, por se tratar de temas que vem imbuídos ideologias, questões culturais, sociais sobre exclusão social ou ainda questões da ética na sociedade. Ao jogar todos tem mesmos direitos, tem responsabilidade e precisa respeitar o seu espaço e do outro, e acabam criando o seu próprio conhecimento corporal e espacial. Com essas construções de conhecimentos foram contribuindo, internalizando criação de futuras cenas teatrais, sem ao menos eles perceberem que as vivências dos jogos tinham esse propósito. E foi nesse passo a passo dos jogos, que foram construídas cenas teatrais, além da aprendizagem significativa para sua vida cotidiana.

Com isso os instrumentos utilizados na linguagem teatral, trouxeram para os estudantes alguns resultados positivos no seu comportamento, no seu conhecimento, que obtiveram a partir das contribuições dos jogos no ensino do teatro. Muitos desses desenvolveram a subjetividade, a percepção, a relação interpessoal com o outro, a responsabilidade, a criatividade e ampliando o diálogo dos estudantes mais tímidos.

Por isso o ensino de arte/teatro precisa ser uma construção de possibilidades que oportunizem o diálogo com o mundo. Para Paulo Freire “Ensinar exige compreender que educação é uma forma de intervenção no mundo” (2000, p.110). Os jogos teatrais e dramáticos utilizam atividade que são originadoras de problemas, cujas soluções levarão o grupo à reflexão e ao diálogo. Segundo Viola Spolin (2007)

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Os Jogos Teatrais podem trazer o frescor e vitalidade para a sala de aula. As oficinas de Jogos Teatrais não são designadas como passatempo do currículo, mas sim como complementos para aprendizagem escolar, ampliando a consciência de problemas e ideias fundamentais para o desenvolvimento intelectual dos alunos (2007, p. 29).

Os Jogos possuem afinidades que apontam a necessidade de se estabelecer um diálogo problematizador, ou seja, que leve a questionar, a ter outra visão sobre o que está jogando, devendo ter foco no ambiente educacional. Além da construção de um ambiente favorável à aprendizagem, mais humano e menos individualista, onde as diferenças possam ser respeitadas e que permita ao indivíduo o exercício pleno de sua cidadania é urgente na educação.

Enfim, os jogos teatrais e jogos dramáticos têm uma estrutura que permite a mudança de atitude por parte do professor, ou seja, dentro de um jogo, ele somente propõe o problema, pois a busca de solução é feita por todo o grupo. Sendo assim, não há, nessa situação, o detentor das respostas, mas a resposta pode ser dada por todos. Os jogos estabelecidos pelo docente se baseiam na resolução de problemas, a qual nasce do improviso. O processo de qualidade nas interações intersubjetivas, culturalmente mediadas, interfere decisivamente no processo de constituição dos sujeitos.

Referências

COURTNEY, Richard. Jogo, Teatro e Pensamento: As Bases Intelectuais do Teatro na Educação. São Paulo: Perspectiva, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 20ª.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos Teatrais. São Paulo: Perspectiva, 2001.

___________. Texto e Jogo. São Paulo: Perspectiva, 1999.

REVERBEL, Olga Garcia. Jogos teatrais na escola, atividades globais de expressão. São Paulo: Scipione, 2009.

SLADE, Peter. O jogo dramático infantil. São Paulo: Summus, 1978.

SPOLIN, Viola. Jogos Teatrais para a sala de aula: um manual para o professor / Viola (tradução Ingrid Dormien Koudela). São Paulo: Perspectiva, 2007.

Notas

1. Mestranda em Educação pela Faculdade de Inhumas-FacMais.

2. Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Catalão (UFG/UFCAT em transição).

3. Viola Spolin, importante educadora de Chicago que desenvolveu seu trabalho a partir dos jogos teatrais recreativos praticados com levas de imigrantes que chegaram durante a grande depressão nos EUA. Sistematizou sua prática teatral a partir de princípios teatrais defendidos e estudados por Brecht e Stanislavski.

4. O autor Peter Slade, pesquisador inglês, pioneiro no campo do teatro para crianças, escreveu o livro ‘O Jogo Dramático Infantil’, que foi publicado no Brasil, em 1978, defendendo estudo sobre os jogos dramáticos.

5. Olga Garcia Reverbel, desenvolveu pesquisas e teoria sobre teatro e educação no Brasil, além de autora de várias publicações, foi professora.