A anemia devida à redução da produção de eritropoietina pelos rins geralmente se desenvolve quando a depuração de creatinina está abaixo de 30ml/min/1,73m² de superfície corpórea (SC).
POR QUE DEVEMOS TRATAR A ANEMIA DA DRC?
Porque quando não tratada resulta em:
- diminuição da qualidade de vida (com prejuízos no desenvolvimento neurocognitivo, na atenção escolar e na capacidade física),
- aumento da mortalidade e das hospitalizações,
- aumento do índice cardíaco e a hipertrofia ventricular esquerda (KDOQI, 2006).
PRINCIPAIS CAUSAS DE ANEMIA NA DRC:
- Deficiência de eritropoetina;
- Deficiência de ferro;
- Hiperparatireoidismo secundário;
- Hipotiroidismo;
- Uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina
- Bloqueadores do receptor de aldosterona;
- Má aderência ao tratamento;
- Toxicidade pelo alumínio;
- Deficiência de ácido fólico, vitamina B12;
- Supressão da eritropoietina por hemotransfusões repetidas;
- Hipoplasia da medula óssea; diminuição da sobrevida das hemácias;
- Hemólise aguda por substâncias utilizadas para reesterilizar dialisadores;
- Hiperesplenismo;
- Perdas sanguíneas pelo trato gastrointestinal, ou na sessão de hemodiálise;
- Infecção/inflamação; desnutrição;
- Aplasia pura de células vermelhas
DIAGNÓSTICO
Faixa etária | Diagnóstico de anemia |
---|---|
0,5-5 anos | Hemoglobina < 11g/dL |
5-12 anos | Hemoglobina < 11,5g/dL |
12-15 anos | Hemoglobina < 12g/dL |
Maiores de 15 anos | Meninos: Hemoglobina < 13g/dL |
Meninas: Hemoglobina < 12g/dL |
A recomendação mais aceita atualmente é manter os valores alvo de hemoglobina (hgb) entre 11 e 12g/dL nas crianças com DRC (KDIGO, 2012).
EXAMES A SEREM SOLICITADOS:
- Hemograma;
- Contagem absoluta de reticulócitos (ao menos uma vez ao ano);
- Ferritina sérica (estoque de ferro);
- Índice de saturação da transferrina (adequação de ferro para eritropoiese);
- Dosagem sérica de vitamina B12 e folato;
Obs.: A anemia da DRC é hipoproliferativa e, em geral, normocítica e normocrômica – morfologicamente indistinguível da anemia da doença crônica.
TRATAMENTO
Uso de eritropoetina (EPO)
- Dosar Hb mensalmente.
- Dose de EPO de ação curta em pacientes que fazem tratamento dialítico
- O objetivo é aumentar a hemoglobina em 1-2g/dL a cada mês.
- Evitar aumentos maiores que 2g/dL/mês.
- Lactentes: 275 a 350U/Kg/semana;
- Crianças maiores: 200 a 250U/Kg/semana.
- Fazem-se ajustes nas doses administradas conforme a resposta observada nos valores de hemoglobina sérica.
- Formas de administração
- via subcutânea e via endovenosa – para crianças em hemodiálise, administrar IV, aproveitando o acesso venoso utilizado para sessão, evitando aplicações subcutâneas dolorosas.
- Freqüência de administração:
- EPO de ação curta - 2 a 3 vezes por semana;
- EPO de ação longa
- Darbepoetina alfa: a cada 15 dias ou 1x/mês (não é fornecida para crianças no Centro Estadual de Medicamentos de Alto Custo Juarez Barbosa - CEMACJB);
- Glicopoetina beta (CERA): 1x/mês (não há certeza na literatura se é vantajosa em relação à EPO e Darbepoetina para pacientes pediátricos. Também não é fornecida para crianças no CEMACJB).
Reposição de ferro
- Iniciar reposição de Ferro (Fe) elementar assim que a sua deficiência for detectada.
- A suplementação deve ser por via oral nas crianças que não estão em hemodiálise e endovenosa nas que estão.
- Frequência dos testes para verificação do status de ferro do paciente:
- Mensalmente no início do tratamento com EPO;
- A cada três meses durante a fase de manutenção de EPO ou em pacientes que fazem hemodiálise sem uso de EPO.
- A interpretação dos testes de status de ferro deve ser feita em conjunto com o nível de hemoglobina e com a dose de EPO usada, para guiar a reposição de ferro;
- A terapia de reposição de ferro deve ser feita para manter os seguintes índices em crianças e adultos:
TRATAMENTO | FERRITINA SÉRICA | ÍNDICE DE SATURAÇÃO DE TRANSFERRINA |
---|---|---|
Conservador e Diálise peritoneal | >100ng/ml | >20% |
Hemodiálise | >100ng/ml | >20 % |
- Dose:
Hidróxido de Ferro – 1-2 mg/kg/semana;
Sulfato ferroso – 2-6 mg/kg/dia de ferro elementar dividido em 2 a 3 tomadas; - Suspender a administração de ferro endovenoso nos pacientes com infecções sistêmicas.
Hemotransfusão
- Usar com cautela: pacientes são candidatos a transplante renal;
- Não usar o nível de Hb alvo como indicador da necessidade de transfusão;
- Indicação: quadro clínico.
Avaliação e correção de falhas na manutenção do nível alvo de hemoglobina.
- Falta de resposta à terapia com EPO e com sulfato ferroso:
- Necessidade de doses altas de EPO para manter níveis adequados de Hb;
- Falha em aumentar os níveis de Hb acima de 11 g/dl apesar de doses de EPO acima de 500 UI/kg/semana.
- Avaliação do desenvolvimento de PRCA (Pure Red Cell Aplasia) deve ser iniciada quando um paciente recebendo EPO por mais de 8 semanas desenvolver um dos achados a seguir:
- Declínio rápido e repentino do nível de Hb (0,5 a 1,0 g/dL/semana) ou necessidade de hemotransfusão uma a duas vezes por semana;
- Contagem de leucócitos e plaquetas normais;
- Número de reticulócitos abaixo de 10,000/microL.
- Na suspeita de PRCA recomenda-se suspensão do ESA e uso de peginesatide (0,05-0,075mg/Kg superfície SC) a cada 4 semanas para tratamento.
- Causas de falha da EPO (eritropoietina): Deficiência de ferro (é a causa mais comum); perdas crônicas de sangue; osteíte fibrosa secundária a hiperparatiroidismo; toxicidade pelo alumínio; deficiência de folato ou vitamina B12; má nutrição; hemoglobinopatias; hemólise; deficiência de carnitina (raro); deficiência de cobre (raro).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Srivastava T, Warady BA. Overview of tha management of chronic kidney disease in children, Up to Date.
- KDOQI Clinical practice guidelines and clinical practice recommendations for anemia in chronic kidney disease. Am J Kidney Dis. 2006; 47(5):s90-s93.
- NICE clinical guideline 114. Anemia in people with chronic kidney disease. London: National Institute for Health and Clinical Excellence; 2011.38p
- KDIGO 2012. Clinical Practice Guideline for Anemia in Chronic Kidney Disease. Disponível em http://www.kdigo.org/clinical_practice_guidelines/pdf/KDIGO-Anemia%20GL.pdf Acesso em 03 abr. 13.