10 ∙ Refluxo Vesico Ureteral

Sumário

10 ∙ Refluxo Vesico Ureteral

  • Tayro de Lemos Amâncio Barbosa Dantas
  • Marcelo de Oliveira Rosa
  • Maysa Campos Mota de Oliveira
  • Johnathan Santana de Freitas
  • Lucas Viana Faisano

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DEFINIÇÃO

O refluxo vésico-ureteral (RVU), é definido como refluxo da urina no ureter e nos rins. Esse refluxo pode facilitar a Ascenção de bactérias, causando pielonefrite e lesões renais.

APRESENTAÇÃO CLÍNICA

A doença possui duas principais apresentações:

  • ITU recorrente
  • Hidronefrose pré-natal

CLASSIFICAÇÃO

A classificação é baseada no exame padrão ouro para diagnóstico (Uretrocistografia miccional), e leva em consideração o grau de dilatação do cálice renal, pelve e ureter.

A classificação é dividida entre I e V como mostrado na figura 1.

Figura 1: Classificação internacional do RVU
Fonte: International classification of vesicoureteral reflux (International Reflux Study Committee, 1981).

Classificação do RVU quanto ao grau:

Grau I: refluxo preenche o ureter, sem dilatação;
Grau II: refluxo preenche o ureter e o sistema coletor, sem dilatação;
Grau III: refluxo preenche e dilata moderadamente o ureter e sistema coletor com moderada perda do ângulo anatômico dos cálices;
Grau IV: refluxo preenche e dilata intensamente o ureter e o sistema coletor com convexão dos cálices renais. Alguma tortuosidade do ureter também é presente;
Grau V: refluxo massivo dilata intensamente o sistema coletor. Todos os cálices estão invertidos com perca da impressão papilar; refluxo intra-renal pode estar presente. Há importante dilatação e tortuosidade do ureter.


Classificações do RVU quanto à gravidade:

Leve: graus I e II
Moderado: grau III
Severo: Graus IV e V

Ou

Pobre/baixo “low”: graus I a III
Intenso/alto “high”: graus IV e V

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INVESTIGAÇÃO E DIAGNÓSTICO

Anamnese

História clínica:

  • ITU recorrente;
  • Hidronefrose pré-natal;
  • Hábito intestinal (Constipação);
  • Frequência urinária, urgência ou incontinência.

Exame Físico

  • Desenvolvimento – Peso e altura;
  • Pressão arterial sistêmica;
  • Avaliação abdominal – Bexigoma? Fecaloma?;
  • Avaliação de Disrafismo espinhal.

Avaliação Laboratorial

  • Função renal – Ureia, Creatinina (Estimativa de Clearance renal);
  • Urina tipo 1 e Urocultura (proteinúria, bacteriúria)- por cateterismo vesical nas crianças que não possuem controle esfincteriano miccional.

Estudos de Imagem

Uretrocistografia miccional

  • Exame padrão ouro para diagnóstico- avaliação anatômica do trato urinário.
    • Iodo como meio de contraste;
    • Permite a classificação de RVU;
    • Avaliação anatômica da uretra e bexiga.

Cintilografia DMSA

Investigação Top-Down (onde o primeiro exame a ser realizado é a Cintilografia DMSA)- Indicada quando:

  • Histórico de ITU febril;
  • RVU IV-V;
  • Lesões renais visíveis em USG de rins e vias urinárias.

Cistocintilografia miccional Direta

  • Realizada após infusão de marcador DTPA por cateterismo uretral.
    • Avaliação anatômica inferior a Uretrocistografia;
    • Acompanhamento pós cirúrgico.

USG de rins e vias urinárias

  • Não permite o diagnóstico, porém é responsável pela avaliação do resíduo pós-miccional;
  • Monitora o agravamento da hidronefrose.

QUEM INVESTIGAR?

  • Lactente com ITU;
  • Crianças com ITU febril;
  • Após visualização de cicatriz renal em USG de Rins e Vias urinárias;
  • Recém-nascidos com hidronefose pós-natal em USG grau III a IV- (Classificação ultrassonográfica);
  • Recém-nascidos com hidronefrose pré-natal de alto grau ou com dilatação ureteral;
  • Sinais de ureterocele;
  • Duplicação ureteral;
  • Alterações vesicais.

A investigação de rotina em irmãos e filhos de portadores de RVU é controversa. O exame inicial deverá ser a USG.

ANTIBIOTICOPROFILAXIA

  • Indicado em todos os lactentes e crianças que ainda não possuem o controle esfincteriano ou com grau III ou superior (Classificação de RVU).
  • RVU de baixo grau (I-II) a decisão deverá ser compartilhada com a família.
  • Realizar Antibioticoprofilaxia até a resolução do refluxo ou controle esfincteriano.
  • Infecção persistente mesmo com ATB profilaxia, estará indicado o tratamento cirúrgico.

Antibioticoprofilaxia:

  • Dose: 25-50% da dose terapêutica:
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Lactentes

  • cefalexina 10mg/dia;
  • amoxacilina 10mg/dia.

> 6 meses de idade

  • cefalexina 10mg/dia;
  • amoxacilina 10mg/dia.
  • nitrofurantoína 1 a 2 mg/dia;
  • sulfametoxazol-trimetoprima 2mg de TMP/dia;
  • ampicilina 20mg/dia;

RECOMENDAÇÕES CIRÚRGICAS

  • Grau I e II sem antibiótico profilaxia e sem ITU deverá ser realizado conduta conservadora.
  • Grau I e II apresentando ITU mesmo com profilaxia devem ser avaliados tratamento endoscópico.
  • Grau III ao V apresentando ITU mesmo com profilaxia, deverá ser avaliado intervenção endoscópica ou cirurgia aberta.
  • Grau III ao V com antibioticoproxilaxia e sem quadros de Itu devem ser encaminhados para cirurgia somente se apresentarem:
    • Cicatrizes renais
    • Disfunção vesical
    • Alterações anatômicas (Duplicidade, ureter ectópico, ureterocele, divertículo.)

Indicações Absolutas

  • Preferência dos pais;
  • ITU recorrente mesmo com antibioticoterapia;
  • RVU com baixa chance de resolução.

Indicações Relativas

  • Persistência de RVU em grau III a V assintomático;
  • Cicatriz Renal;
  • Grau III a V em pacientes com Cicatrizes renais;
  • Dificuldade de acesso ao serviço de saúde;
  • Persistência de RVU em meninas após 5 anos de idade.

Obs.: Postectomia: Reduz a incidência de EAS infeccioso, porém não reduz ITU sintomáticas ou cicatrizes renais

Tipos de intervenções cirúrgicas:

Injeção endoscópica

-1º Opção, menos invasivo.

Exceto em grau V com dilatação significativa.


Cirurgia aberta

  • Altas taxas de sucesso (95%) com baixas taxa de complicações (2% obstrução e 9% de refluxo contralateral).

Cirurgia Laparoscópica

  • Mesma taxa de sucesso da cirurgia aberta.
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PROGNÓSTICO

  • Quanto > o grau de RVU < a chance de resolução espontânea.
  • Grau IV e V tem chance de resolução de 5-20%;
  • Grau I e II tem resolução em 80%.

Fatores contrários a resolução espontânea:

  • Meninas
  • RVU bilateral
  • Cicatrizes na DMSA
  • Apresentação após 1 ano de idade.
  • Diâmetro do ureter distal
  • Duplicidade, ureterocele, divertículo para-uretral

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. Mattoo TK, Greenfield SP. Clinical presentation, diagnosis, and course of primary vesicoureteral reflux, Up to Date. Acessado em 13-07-19.
  2. Mattoo TK, Greenfield SP. Management of vesicoureteral reflux, Up to Date. Acessado em 13-07-19.
  3. Williams G, Hodson EM, Craig JC. Intervenções para refluxo vesicouretérico primário. Cochrane Database of Systematic Reviews 2019, Edição 2 No .: CD001532. DOI: 10.1002 / 14651858.CD001532.pub5. Acessado em 13-07-19.