DEFINIÇÃO
- Multiplicação de um único germe patogênico em qualquer porção do trato urinário, que seja identificado por urocultura coletada por um método de confiança.
- Pielonefrite: infecção do parênquima renal.
- Cistite: infecção da bexiga.
CLASSIFICAÇÃO
ITU atípica
- Doença severa
- Fluxo urinário pobre
- Massa abdominal ou vesical
- Creatinina elevada
- Septicemia
- Falta de resposta ao tratamento com antibiótico adequado após 48 horas
- Infecção por outro microrganismo que não a Escherichia coli
ITU recorrente
- 2 ou mais episódios de pielonefrite
- 1 episódio de pielonefrite mais 1 ou mais episódio de cistite
- 3 ou mais episódios de cistite
CAUSAS
Principal causa é a infecção pela bactéria Escherihia coli (60 a 92%).
ATENÇÃO!
ITU:
- Infecção bacteriana mais frequente em <2 anos de idade;
- Pode ser o primeiro sintoma de anormalidades congênitas dos rins e trato urinário (sigla em inglês: CAKUT)- Refluxo vesico-ureteral (RVU) é o mais prevalente.
Podem abrir o quadro como sepse.
Lactentes e crianças menores
- Febre com ou sem sintomas sistêmicos (em casos de febre sem foco, deve-se coletar exame de urina- 5% deles tem ITU);
- Sinais e sintomas inespecíficos;
- Raramente apresentam sintomas urinários.
Crianças maiores e adolescentes
- Sintomas urinários típicos sugestivos de pielonefrite (febre, vômitos e dor lombar);
- Sintomas urinários típicos de cistite (dor suprapúbica, disúria e frequência urinária).
DIAGNÓSTICO
- Coleta de amostra de urina para exames de EAS (elementos anormais e sedimentoscopia urinária) e urocultura.
- Coleta pode ser por saco coletor, jato médio, cateterização vesical e punção supra púbica.
Sobre a coleta por saco coletor...
- Oitenta e cinco por cento das culturas positivas colhidas por saco coletor podem ser falso positivas;
- Desde 2011 os guidelines concordam que amostra de saco coletor só tem valor quando negativa – para descartar o diagnóstico de ITU;
- O diagnóstico de ITU não pode ser realizado de modo confiável através de amostra de urina coletada por saco coletor (Evidência A).
Estratégia para o pronto socorro...
• Colher amostra de urina pela técnica mais conveniente (ex.: saco coletor);
Se EAS sugestivo de ITU (nitrito, esterase leucocitária ou leucócitos ou bactérias) coletar nova amostra para urocultura (por cateterismo ou punção supra púbica).
Nitrito
- Conversão do nitrato da dieta por bactérias gram-negativas;
- Tem alta especificidade par ITU;
- Seu resultado pode vir negativo se a bexiga tiver sido esvaziada recentemente ou se o germe é gram-positivo.
Esterase leucocitária
- Marcador substituto da piúria;
- Sensibilidade de 79% e especificidade de 87% para ITU.
Leucocitúria
- Indicador de inflamação associado a ITU;
- Não é patognomônico.
CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA
Por meio da urocultura!
- Cateterização vesical: Presença de crescimento bacteriano ≥1000 UFC/mL;
- Jato médio (após assepsia prévia): contagem bacteriana ≥100.000 UFC/mL ou ≥ 50.000 UFC/mL associada com a análise de urina demonstrando evidência de piúria.
- Bacteriúria assintomática – todos os guidelines concordam que não há necessidade de intervenção nesse caso.
- Crianças com bexiga neurogênica em cateterismo vesical intermitente normalmente apresentam bacteriúria assintomática quando realizam urocultura, sem manifestações sugestivas de ITU.
TRATAMENTO
- Não há diferença entre tratar com antibiótico endovenoso por 10 a 14 dias ou fazê-lo endovenoso até a melhora dos sintomas e continuar o tratamento por via oral até completar 10 a 14 dias de duração total;
- Inicia-se o tratamento empiricamente (cobertura para E.coli, principal causa de ITU);
- Após o resultado da urocultura modificar tratamento baseado na sensibilidade dos antibióticos testados.
Antibiótico para o tratamento parenteral da ITU:
Antibiótico | Dose |
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Ceftriaxone | 75 mg/kg – 150 mg/kg/24 horas |
Cefotaxime | 75 mg/kg – 150 mg/kg/24 horas |
Ceftazidime | 100 mg/kg- 150 mg/kg/8 horas |
Gentamicina | 7,5 mg/kg/24 horas |
Tobramicina | 6 mg/kg/24 horas (a cada 6 a 8 horas) |
Amicacina | 15 mg/kg/24 horas |
Piperaciclina | 300 mg/kg/24 horas (a cada 6 a 8 horas) |
Antibiótico para o tratamento oral da ITU:
Antibiótico | Dose |
---|---|
Amoxicilina+ Clavulanato | 20-40 mg/kg/dia (a cada 8 horas) |
Sulfametoxazol+ Trimetroprima | 30-60 mg/kg/dia (a cada 12 horas) |
Cefalexina | 50- 100 mg/kg/ dia ( a cada 6 horas) |
Axetil-Cefuroxime | 20- 30 mg/kg/dia ( a cada 12 horas) |
Cefprozil | 30 mg/kg/dia ( a cada 12 horas) |
- Deve-se considerar o perfil de sensibilidade de cada região, assim como o uso racional de antibióticos (escolhendo-se sempre que possível o antibiótico de menor espectro e menor poder de indução de resistência bacteriana).
- Deve-se individualizar a escolha, considerando-se as contraindicações e efeitos colaterais de cada antibiótico de acordo com a faixa etária e situação clínica do paciente.
- Em casos de sepse, deve-se iniciar o tratamento de modo empírico com antibiótico terapia de amplo espectro.
- Se a criança apresentar melhora clínica com o antibiótico utilizado, não há necessidade de repetir urocultura após o tratamento.
Duração do tratamento
- 7 a 10 dias para o tratamento de pielonefrite.
- 3 dias tratamento de cistite.
Atenção
-O uso de nitrofurantoína para tratamento da pielonefrite é contra-indicado, uma vez que não alcança doses terapêuticas na corrente sanguínea, mesmo tendo alta excreção urinária.
PROFILAXIA
- Crianças com trato urinário normal profilaxia deve ser avaliada com cautela (possibilidade de aparecimento de cepas mais resistentes);
- Crianças com ITU de repetição com trato urinário normal e disfunção miccional realizar quimioprofilaxia (por 3 a 6 meses até que haja correção de disfunções);
- RVU ≥ 3° graus e crianças com cicatriz renal realizar quimioprofilaxia;
- Processos obstrutivos (estenose de junção uretero pélvica e uretero vesical) realizar quimioprofilaxia até que seja realizada a correção cirúrgica.
Antibióticos utilizados para profilaxia de ITU:
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2016.
Antibiótico | Dose |
---|---|
Nitrofurantoína* | 1 -2 mg/kg/d |
Sulfametoxazol+ Trimetroprima | 20 mg/kg/d |
Cefalexina** | 20- 30 mg/kg/d |
SEGUIMENTO- INVESTIGAÇÃO POR IMAGEM
Principal objetivo dos exames de imagem é identificar crianças com CAKUT que podem ser mais susceptíveis a ITUs recorrentes e cicatrizes renais futuras.
Okarska-Napierata, 2017, após análise dos principais guidelines atuais sobre o tema propõe:
Roteiro de investigação do trato urinário na infância com exames de imagem | |
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USG | crianças < 2 anos – realizar em todos os que tiveram o primeiro episódio de ITU; crianças > 2 anos de idade – somente para os que tiverem fatores de risco para CAKUT. |
UCM | Para aqueles que apresentaram ITU febril recorrente, anormalidades ao USG ou outro fator de risco para CAKUT. |
DMSA | Para aqueles que tem pielonefrite recorrente, RVU graus III a V, alto risco de cicatriz renal. |
Ultrassonografia de aparelho urinário (USG)
- Detecta hidronefrose, hidroureteres, anormalidades da parede vesical, complicações da ITU (ex.: abscessos renais ou perirrenais);
- Sua maior limitação é ser altamente examinador dependente.
Uretrocistografia miccional (UCM)
É o padrão-ouro para o diagnóstico e graduação do RVU ;
- Útil para visualizar a anatomia da uretra e da bexiga;
- Desvantagens: exposição à radiação, risco de causar ITU, custo e desconforto ao paciente;
- A maioria dos guidelines não recomenda a UCM de forma rotineira. Só indica o exame se a USG demonstrar anormalidade sugestivas de CAKUT ou outras circunstâncias clínicas específicas.
Cintilografia
- Usada primariamente para acompanhar o RVU após a sua correção cirúrgica, evitando repetir a UCM;
- Gradua o RVU em leve, moderado ou severo;
- Não consegue revelar defeitos anatômicos e não é utilizada para o teste diagnóstico inicial do RVU;
- Cintilografia com DMSA é o padrão-ouro para o diagnóstico de pielonefrite aguda e cicatrizes renais (caso o paciente tenha apresentado episódio de ITU recente, é necessário esperar 4 a 6 meses após o episódio de pielonefrite aguda para realizar o DMSA para poder saber se resultou em cicatrizes renais).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Okarska-Napierata M, et al., Urinary tract infection in children: Diagnosis, treatment, imaging – comparison of current guidelines, Journal of Pediatric Urology (2017), http://dx.doi.org/j.jpurol.2017.07.018
- AAP Subcommittee on urinary tract infection. Reafirmation of AAP Clinical Practice Guideline: The Diagnosis and Management of the Initial Urinary Tract Infection in Febrile Infants and Young Children 2-24 Months of Age. Pediatrics. 2016; 138(6):e20163026.
- Lee, SJ. Clinical Guideline for Childhood Urinary Tract Infection (Second Revision). The Korean Society of Pediatric Nephrology. Child Kidney Dis 2015; 19:56-64.
- Saadeh, SA; Mattoo TK. Managing urinary tract infections. Pediatr Nephrol (2011) 26:1967-1976.
- Management and Screening of Primary Vesicoureteral Reflux in Children: American Urological Association Guideline. Revised, 2010. Disponível em: http://www.auanet.org/Documents/education/clinical-guidance/Vesicoureteral-Reflux-a.pdf, acessado em 04-12-17.
- National Institute for Health and Care Excellence (NICE): Urinary tract infection in children – diagnosis, treatment and long-term management. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists: London, ago. 2007.
- Sociedade Brasileira de Pediatria. Infecção do Trato Urinário. Departamento Científico de Nefrologia. Nº 1, Dezembro de 2016.