DEFINIÇÃO
É uma glomerulonefrite (GN) secundária ao Lúpus eritematoso sistêmico (LES), sendo essa última uma doença inflamatória crônica, que pode atingir múltiplos sistemas e cuja produção de autoanticorpos e consequente formação de imunocomplexos culmina em ativação do sistema complemento.
QUANDO PENSAR EM NEFRITE LÚPICA (NL) EM PACIENTE LÚPICO?
- Leucocitúria com urocultura negativa;
- Hematúria microscópica ou macroscópica;
- Proteinúria subnefrótica ou nefrótica;
- Sinais e sintomas de síndrome nefrótica;
- Redução da função renal (em alguns casos pode ser rapidamente progressiva) podendo evoluir para IRA com progressão para cronicidade.
Obs: O paciente pode abrir o quadro de LES com apenas o quadro de NL.
DIAGNÓSTICO
BIÓPSIA RENAL
- Os achados clínicos nem sempre se correlacionam com a extensão ou gravidade do envolvimento renal;
- Útil para confirmar o diagnóstico;
- Avaliação de características de atividade e cronicidade que informam as decisões de tratamento e prognóstico;
- Imunofluorescência(IF): deposição de imunoglobulinas e imunocomplexos;
- IF Full-house : depósito simultâneo de IgA, IgG, IgM, C1q e C3.
| Itens incluídos no escore de atividade do NIH* | Evolução | Pontos | Escore |
|---|---|---|---|
|
Não presente | 0 | 0-3 |
| 0-3 | |||
| Presente em: | (0-3) x2 | ||
| <25% | 1 | 0-3 | |
| 25-50% | 2 | (0-3) x2 | |
| >50% | 3 | 0-3 | |
| Escore total de atividade: 0-24 | |||
| Itens incluídos no escore de cronicidade do NIH | Evolução | Pontos | Escore |
|
<10% | 0 | 0-3 |
| 10 - 25% | 1 | 0-3 | |
| 25-50% | 2 | 0-3 | |
| >50% | 3 | 0-3 | |
| Escore total de atividade: 0-12 | |||
|
Outros itens não incluídos nos escores:
|
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CLASSIFICAÇÃO HISTOPATOLÓGICA
(Sociedade Internacional de Neurologia -ISN)/Sociedade de Patologia Renal -RPS)
| Categoria | Descrição |
|---|---|
| Classe I | Glomérulo normal à Microscopia Óptica (MO), imunocomplexos na Imunofluorescência (IF) ou na Microscopia Eletrônica (ME). |
| Classe II | Hipercelularidade mesangial com depósito imuno-mesangial; expansãoda matriz mesangial à MO. |
| Classe III | Doença focal segmentar ou global envolvendo < 50% dos glomérulos III (A): lesões ativas III (A/C): atividade ou lesões crônicas III (C): lesões crônicas inativas |
| Classe IV |
Doença difusa segmentar (S) ou global (G) envolvendo ≥ 50% dos glomérulos IV-S: ≥ 50% dos glomérulos com lesões segmentares IV-G: ≥ 50% dos glomérulos com lesões globais IV-S (A), IV-G (A): lesões ativas IV-S (A/C), IV-G (A/C): lesões ativas e crônicas IV-S (C), IV-G (C): lesões crônicas inativas |
| Classe V | Depósitos imuno-subendotelial global ou segmentar com espessamento da membrana basal glomerular (MBG); presença de depósito de imuno-complexos; pode ocorrer em combinação com a Classe III ou IV. |
| Classe VI | Esclerose avançada; ≥ 90% de glomérulos esclerosados |
MANEJO GERAL DE PACIENTES COM NEFRITE LÚPICA
- Objetivo de evitar a progressão da nefrite existente e consequentemente a evolução para insuficiência renal terminal;
- O tratamento é instituído baseado no achado da biópsia renal.
AO DIAGNÓSTICO, INICIAR O TRATAMENTO COM HIDROXICLOROQUINA:
- 6,5 mg / kg / dia ou 400 mg / dia;
- 4 a 5 mg / kg / dia - durante a fase de manutenção;
- Dose 25% menor deve ser administrada a pacientes com TFGe <30 ml / min / 1,73 m ².
Todos os pacientes devem fazer um exame inicial da retina e depois teste oftalmológico anual, especialmente após cinco anos de uso.
TRATAMENTO IMUNOSSUPRESSOR
1) Nefrite lúpica classe I ou classe II
- Geralmente têm função renal normal;
- Baixo grau de proteinúria (subnefrótica) e às vezes hematúria microscópica;
- Para esses pacientes, utiliza-se imunossupressão do LES, não tem terapia específica para a nefrite lúpica;
- Histologicamente, são semelhantes aos pacientes com lesões mínimas e geralmente tem boa resposta ao corticoide.
2) Nefrite lúpica classe III e IV
BIÓPSIA COM LESÕES EM ATIVIDADE
TRATAMENTO DE INDUÇÃO
Corticoide associado a ciclofosfamida intravenosa:
Pulsoterapia com metilprednisolona 20 mg/kg/dia (máxima: 500mg/dia) de 1 a 3 dias. Seguido por dose oral de prednisona 0,6-1 mg/kg/dia (máximo de 80 mg/dia).
- Ciclofosfamida venosa de 0,5-1 g/m²/mês por 6 meses OU
Ciclofosfamida venosa 500mg a cada 15 dias (6 ciclos) OU
Ciclofosfamida oral 1-1,5 mg/kg/dia (máximo de 150mg/dia) por 6 meses OU - Terapia alternativa:
Corticoide associado ao Micofenolato de mofetila ou de sódio: - Micofenolato de Mofetila 2-3g/dia por 6 meses OU
Micofenolato de sódio 1140-2160 mg/dia por 6 meses
BIÓPSIA COM LESÕES CRÔNICAS SEM ATIVIDADE
Tratamento de suporte para doença renal crônica (DRC), se houver concomitante classe V, tratar como classe V.
Regime de corticoide
| Esquema de dose inicial | Esquema de redução da dose | |
|---|---|---|
| Pulso com metilprednisolona | 0,25- 0,5 g/dia x3 | 0,25-0,5g/dia x 2-3 |
| Equivalente de prednisona oral | ||
| 0-2 semanas | 0,6-1 mg/kg (máx 80 mg/dia) | 20-25 mg |
| 3-4 semanas | 0,3-0,5 mg/kg | 20 mg |
| 5-6 semanas | 20 mg | 15 mg |
| 7-8 semanas | 15 mg | 10 mg |
| 9-10 semanas | 12,5 mg | 7,5 mg |
| 11-12 semanas | 10 mg | 5 mg |
| > 12 semanas | 5-7,5 mg | 2,5 mg |
Terapia inicial com esquema triplo de imunossupressor (inibidor da calcineurina-ciclosporina ou tracrolimo- Micofenolato em dose baixa e corticosteróides) em pacientes que não toleram dose padrão de micofenolato e não toleram esquemas com ciclofosfamida.
Terapia de manutenção para nefrite lúpica classe III e classe IV:
Dose de manutenção:
Micofenolato de mofetila: 1 a 2 g/dia OU
Micofenolato de sódio: 720 a 1440 mg/dia OU
Azatioprina 1 a 2mg/kg dia OU
Ciclosporina atingir o nível sérico de 60-100 ng/ml OU
Tacrolimo atingir o nível sérico de 4-6 ng/ml.
- Os corticosteróides devem ser diminuídos para a menor dose possível durante a manutenção, exceto quando são necessários corticosteróides para o lúpus extrarrenal.
- A suspensão do corticoide deve ser considerada após completa resposta clínica renal por aproximadamente 12 meses.
- Duração do tratamento indutor + manutenção deve durar pelo menos 36 meses.
| Resposta completa |
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|---|---|
| Resposta parcial |
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| Ausência de resposta renal |
|
Obs.: Se paciente com resposta insatisfatória após 6 a 12 meses de tratamento, avaliar nova biópsia renal para condução o tratamento.
Tratamento da recidiva
Após uma remissão completa ou parcial, a recidiva deve ser tratada com a mesma terapia inicial usada para alcançar a resposta ou uma terapia de primeira linha alternativa.
Referências Bibliográficas:
- Kidney Disease Outcomes Quality Initiative. Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO). KDIGO-GN Clinical Practice Guideline for Glomerulonephritis. lupus nephritis. Kidney International Supplements, chapter 10, 2020.