Reitoria Digital UFG

5 ANOS (2019-2024)

“Era algo diferente”: um setor dedicado à comunicação da Gestão Superior da UFG

Fabrício Soveral
Pablo Fabião Lisboa

Introdução

Fabrício Soveral nasceu no dia 30 de julho de 1977, em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Formado em Rádio, TV e Vídeo e em Jornalismo, tem passagens por nove redações de rádio, internet e televisão, e traz essas experiências para a Reitoria Digital, sempre prezando pela técnica jornalística e pela responsabilidade no exercício da função, sem perder o bom humor e colaborando com a união da equipe.

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Pablo Fabião Lisboa: Qual é sua formação profissional e experiências anteriores à chegada na Reitoria Digital?

Fabrício Soveral: A minha primeira graduação realizada na Universidade de Passo Fundo foi em Rádio, TV e Vídeo. Posteriormente, fiz também a graduação de Jornalismo na Universidade Católica de Pelotas. Nesse meio tempo, eu entrei no mercado profissional. Durante a graduação, eu já trabalhava em Rádio FM. A minha primeira função foi elaborar notícias curtas para que fossem lidas durante a programação. Era bem rudimentar na época porque ainda era uma época pré-internet. Às vezes, a gente pegava as informações dos jornais locais da cidade, dos jornais estaduais e também por meio de rádio-escuta, ouvindo Rádios AM. Depois desse período na FM, eu também passei a fazer locução e apresentar programas de teor musical. Mas, como eu sempre tive muito interesse pela parte jornalística, eu busquei o radiojornalismo e fui trabalhar em uma Rádio AM, onde eu tive a oportunidade de ser repórter, produtor, plantão esportivo, repórter esportivo de campo e comentarista. Isso tudo ainda durante a graduação. Depois que eu me formei, eu passei a trabalhar em televisão, onde fiquei praticamente 15 anos da minha vida na RBS TV, que é a afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul. Trabalhei em Uruguaiana, Passo Fundo, Pelotas e Porto Alegre, em várias funções: repórter, apresentador, editor, e, por fim, em Porto Alegre, como coordenador de transmissão esportiva.

Pablo: Como é chegar na TV? A TV é algo que chama muito a atenção, muitas vezes é um sonho para o estudante. Como foi, para você, entrar nesse meio de comunicação?

Fabrício: A minha primeira formação foi no final de 1999. Naquela época, como não tinha essa influência tão grande da internet, a televisão tinha um fascínio maior ainda. O meu ingresso na televisão foi através de um programa chamado Caras Novas, da RBS TV, que era um programa para selecionar talentos que estavam no último ano de graduação. Então, em 1999, no segundo semestre, houve uma seleção e a RBS TV, no Rio Grande do Sul, escolheu 20 estudantes de todo o Estado para estarem nesse programa, que era um intensivo de telejornalismo de três meses. Deste período, um mês era realizado em Porto Alegre, na capital, então tinha um outro fascínio para nós, que éramos do interior. Eu consegui entrar e realmente considero que foi uma grande conquista, porque foi muito concorrido; com centenas de quase jornalistas e quase radialistas se formando, consegui ficar entre esses 20. A partir do momento em que eu me formei nesse curso, surgiram propostas para começar efetivamente a carreira, e, no meu caso, a carreira como repórter. Eu tive duas propostas, uma em Santa Rosa, que seria uma sucursal e não cidade-sede da emissora, e outra em Uruguaiana, que era bem mais distante da minha cidade natal, mas era a cidade-base da emissora. Então eu fui para a fronteira do Uruguai com a Argentina e fiquei um ano, até que surgiu uma oportunidade na minha cidade natal, Passo Fundo, quando fui convidado por pessoas que já me conheciam. Obviamente, por ser a minha cidade natal, eu acabei retornando e ficando lá por dois anos.

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Pablo: Quais são os desafios de trabalhar na TV? Tem alguma coisa que você mais gostava e sente falta?

Fabrício: Eu acho que o principal desafio na televisão é trabalhar com a visibilidade, principalmente para quem aparece no vídeo. As pessoas te veem e, automaticamente, você é muito mais julgado que os outros. É difícil administrar essa visibilidade. Não somente no sentido do julgamento, mas de você saber que está ali cumprindo uma função, que você é um trabalhador como os outros, não é alguém super especial simplesmente porque você está aparecendo na televisão. Às vezes, acontece esse problema, como a gente fala na gíria, de “subir para a cabeça”, porque, na realidade, o nosso ganho financeiro também é de trabalhador normal. Eu comparo a televisão com o futebol: muitos garotos começam na base e acham que já vão ficar milionários, mas, na realidade, mais de 90% dos jogadores profissionais de futebol ganham muito pouco. Acho que menos de 10% estão em grandes clubes, com aqueles salários astronômicos. Em televisão é o mesmo caso. Tem as chamadas estrelas, as pessoas antigas, os grandes âncoras, os repórteres que já têm uma carreira e que realmente têm um ganho bem substancial, mas a base mesmo da reportagem, da produção, dos cinegrafistas ganha o salário-base. Então, às vezes, você pode se confundir com esse mundo em que você circula mas não é a sua realidade social. Acho que esse é o grande desafio. E o que eu mais gostei, sem dúvida, foi trabalhar com esporte, porque sempre foi uma paixão, desde criança. A gente fala que o garoto que é perna de pau e não consegue ser jogador, vai para o jornalismo esportivo para poder ficar pertinho do campo, dos jogadores, do circo do futebol e das grandes plateias. A energia de um estádio cheio de uma torcida apaixonada, de uma torcida vibrante, em momentos decisivos, é vida. Não conheço nada mais estimulante que isso até hoje.

Pablo: Você já comentou a respeito de algumas situações de trabalho na TV, como um dia em que você passou muitas horas na chuva ou coberturas de situações de morte. Como lidar com isso?

Fabrício: Eu acho que, como tudo na vida, as coisas acabam se tornando comuns, por mais chocantes que sejam. Nem todos conseguem. Tem pessoas que, conforme a situação, desistem. Eu me lembro, por exemplo, quando comecei na TV e fazia reportagem geral, o que mais me chocava eram acidentes com morte. Você vai lá e não vai mostrar na televisão. Por exemplo, o cinegrafista vai filmar o carro, vai filmar a estrada, mas não vai mostrar a pessoa morta. Só que você é o repórter e vê aqueles corpos, aquelas situações. Em outros momentos, para mim, o mais delicado é trabalhar com o pós. Por exemplo, quando eu trabalhava em Uruguaiana, teve uma tragédia terrível, em uma creche onde morreram doze crianças carbonizadas. Uma das nossas funções, depois daquela tragédia, era fazer reportagem com os parentes, tentar ouvir pai e mãe, cobrir velório. Então, isso é muito complicado; é um momento em que muitas pessoas, às vezes, ficam muito próximas de uma agressão a você. Por mais que você tente ser o mais respeitoso possível, porque a gente tem que entender a pessoa naquele momento de dor, para mim isso realmente era o mais difícil. Eu tive colegas de trabalho que desistiram da profissão porque falaram que não fariam mais aquele tipo de reportagem, que não queriam aquilo para a vida deles. Teve também o caso do acidente do ônibus do Brasil de Pelotas, onde morreram jogadores e membros da comissão técnica. O grande ídolo do time na época, o Claudio Milar, um dos que morreram, era um dos jogadores mais parceiros que eu tinha para fazer matérias especiais, diferentes; para você sair daquela coisa comum, só do treino, quem joga, quem não joga. Ele era super parceiro. O próprio Giovanni, que morreu também, na época era um parceiro da TV, porque tinha o programa chamado Guri Bom de Bola, e o Giovanni era um professor de educação física de escola básica em Pelotas. Ele treinava time de garotas e era uma pessoa fantástica. Então, você tem que trabalhar com isso. Você tem que estar falando sobre isso na frente de uma câmera para milhares de pessoas, não é falando para um amigo seu, para um colega. Realmente são grandes desafios. Não menosprezando as pessoas do rádio, do jornal, da internet, mas como já passei por todos esses meios, pelo jornalismo on-line, jornalismo escrito, rádio, televisão, assessoria de imprensa, assessoria de comunicação, digo que a televisão é o meio mais difícil para se trabalhar, é o mais desafiador.

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Pablo: Mas, antes de chegar à Reitoria Digital, você saiu do Rio Grande do Sul e teve outras experiências. Conte um pouco a respeito disso.

Fabrício: Primeiro, fiz um intervalo na carreira, resolvi me especializar um pouco mais. Fiz uma especialização de dois anos em jornalismo político na PUC de São Paulo. Depois voltei para o Rio Grande do Sul e voltei a trabalhar em rádio: apresentava programas de rádio, de entrevistas, era editor de jornal diário. Aí retornei para a televisão, em Pelotas, e depois fui para Porto Alegre e fiquei lá um período. Minha última função foi editor de esportes da RBS TV e também era repórter de transmissões esportivas e coordenador de transmissões. Depois eu fui para o Tocantins com a missão de implantar o portal G1 Tocantins e Globoesporte.com Tocantins. Na época, em 2013, Tocantins e Amapá eram os únicos estados da federação que não tinham o portal do G1 ainda; e era um acordo das afiliadas da Rede Globo, que precisavam ter o G1. Como eu tive a experiência de vivenciar dentro da redação a implantação do G1 em Porto Alegre e, principalmente, do Globoesporte.com e ainda com a minha experiência no ClicRBS, que era uma iniciativa da própria RBS em que a gente já fazia a reportagem da TV e redigia um pequeno texto para o site, eu aceitei esse desafio. Participava de treinamentos em São Paulo e no Rio de Janeiro e voltava para o Tocantins, onde eu tinha selecionado uma equipe jovem, com pouca experiência, e repassava esses treinamentos. A gente fez a implantação do portal G1 Tocantins e Globoesporte.com Tocantins, que completou 10 anos em junho de 2023. Fiquei dois anos coordenando o site, quando eu saí para fazer mestrado e resolvi investir novamente um pouco mais na carreira acadêmica. Foi uma experiência muito boa vivenciar não apenas o jornalismo on-line, mas em uma função de coordenação, tendo a experiência de gerenciar equipes, gerenciar processos, buscar soluções tecnológicas. Foi uma experiência muito rica e que me ajuda até os dias de hoje.

Pablo: E como foi a sua chegada à Reitoria Digital da UFG?

Fabrício: Antes de chegar à UFG, eu também pude ter uma experiência em universidade, em assessoria de comunicação, porque eu também fui jornalista concursado na Universidade Estadual do Tocantins (Unitins). Nesse período em que eu passei a fazer mestrado e precisava de um pouco mais de tempo, eu comecei a fazer concursos e fiquei quase dois anos na Unitins, que é uma universidade bem menor do que a UFG, mas já me deu um pouco de base para entender como é uma universidade, processos, pró-reitorias, enfim. Minha chegada na Reitoria Digital realmente foi bem interessante, porque quando eu fui me apresentar para o trabalho, fui recebido no Gabinete da Reitoria e me encaminharam para a sala, dizendo que eu ia trabalhar na Reitoria Digital, mas eu não sabia da existência da Reitoria Digital na UFG. Para mim, eu iria para a Secom ou Ascom, seria uma coisa geral. Cheguei na sala e só tinha a Ana Paula. No primeiro momento eu olhei e pensei: “esse setor só tem uma pessoa?”. A Ana Paula me recebeu dizendo que tinha sido avisada de que chegaria outra pessoa. Aí conversei com ela, comecei a perguntar como era o trabalho. Ela falou que, além dela, tinha uma bolsista de tarde e o Pablo. Quando ela começou a falar, eu disse, como é o sobrenome do Pablo? “Lisboa”. Eu disse: “Ele é de Pelotas?”. Ela disse que achava que sim. Aí eu puxei as redes sociais e descobri que já o conhecia do tempo de Pelotas; foi uma situação bem inusitada.

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Pablo: Na Reitoria Digital, quais tarefas você desempenha? Como é a sua rotina de trabalho?

Fabrício: Eu quero dizer que o meu primeiro desafio no departamento foi entender o que era a Reitoria Digital e qual era a função dela na instituição, porque não era algo que eu via como comum nas outras assessorias de universidade. Era algo diferente. Então, eu passei a entender os processos da questão da comunicação da Gestão Superior, não apenas o geral da universidade. A universidade produz muito conhecimento, muitas ações e coisas interessantes que são noticiáveis. Nesse grande universo, realmente se faz necessário ter um olhar para as ações da gestão, porque as ações da gestão são aquelas que em geral impactam toda a comunidade universitária. Às vezes, não apenas a comunidade universitária, mas também a comunidade externa. Então, esse foi o desafio. Atualmente, no primeiro momento, a gente acompanha a agenda da reitora e do vice-reitor para ver de quais ações eles estão participando, quais ações merecem uma cobertura para que tenham uma publicação; porque é comum essas agendas serem conversas iniciais. Essas propostas iniciais, às vezes, não é interessante que a gente já divulgue porque são coisas que a gente não sabe se vão se efetivar ou não e se você publica algo pode criar uma falsa expectativa. Então, a gente tem essa preocupação de fazer as publicações de coisas mais concretas ou coisas que já estão em andamento. Fora isso, a gente acompanha as reuniões do Conselho Universitário, em que são realizadas algumas das principais deliberações a respeito da universidade e a gente acompanha também, no geral, todos os movimentos da sociedade. Coisas que podem influenciar a universidade, em nível municipal, estadual, federal, ações do governo; questões que envolvem, por exemplo, o orçamento das universidades, a gente tem que estar atento. As próprias ações da Andifes, que é a associação que reúne os reitores das universidades federais, a gente procura estar atento a esses movimentos, para ver o que é interessante fazer uma ligação. Também procuramos fazer ações como, por exemplo, gravar vídeos com gestores para divulgar principalmente nas redes sociais, espaço que tem uma maior velocidade para as pessoas receberem o material e engajarem com ele. Quando são ações que as pessoas precisam saber daquela informação para não perder oportunidades, ou ações realmente importantes para a instituição, a gente procura gravar esses vídeos, entre outras coisas.

Pablo: Às vezes, as pessoas acham que é só fazer uma cobertura descritiva, mas tem muita inteligência, na escolha de um termo específico, por exemplo. Às vezes, isso muda tudo na relação política de uma instituição.

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Fabrício: É, porque muitas vezes não se trata apenas de uma questão semântica. Acredito que no nosso departamento a gente tem muita preocupação sobre isso e procura conversar com os colegas, sempre um procura ler o texto do outro. É muito importante que outras pessoas do departamento leiam o seu texto antes que ele seja publicado, porque é sempre um segundo, terceiro olhar que acaba percebendo alguma coisa que, às vezes, nem se trata de um erro, mas sim de aperfeiçoamento, para termos um produto melhor.

Pablo: Como você constrói a sua matéria? Como você se prepara, quais recursos você usa? Você ainda usa o bloco de papel?

Fabrício: Eu uso o bloco de papel, mas faço anotações no celular também e, às vezes, algumas gravações de áudio. Mas eu acho que o importante e o que não se deve perder é o que a gente chama, no jornalismo, de lição de casa. Você tem que fazer a sua lição de casa. Por exemplo, você vê na agenda que tem uma reunião para assinatura de um convênio com a Marinha do Brasil. Você tem que buscar saber o que é o convênio, de preferência já ter o documento em mãos, para saber quais são os termos, as pessoas envolvidas, procurar saber quem elas são, até por uma identificação visual, para ficar mais fácil o contato. Então, você tem que fazer essa lição de casa, para quando você chegar na reunião e começar a acompanhá-la, você já ter um conhecimento prévio sobre o que está sendo tratado e sobre quem são os atores. Eu procuro sempre fazer isso e a gente tenta dar sempre o tratamento de um texto jornalístico padrão. O que é o texto jornalístico padrão? É aquele que privilegia a objetividade da informação em um primeiro momento e, se tiver necessidade de você desenvolver mais, você desenvolve na sequência do texto. Não fazer aquele jornalismo antigo, que era chamado de nariz de cera. Por exemplo, “ah, numa noite de céu estrelado, estavam lá os fulanos e os sicranos, ao som do não sei o que…” Eu não desprezo o jornalismo literário, não, pelo contrário. Mas acho que, para a nossa missão, primeiro, a gente precisa informar. Então, primeiro, dar a informação. O que foi? Quem estava? Onde? Como? Depois você desenvolve, depois você desenrola, até porque a gente está falando de um texto que vai ser escrito e não de uma mídia televisiva ou um vídeo para a internet. Aí poderíamos pensar em outro formato, mas como nós estamos falando nesse aspecto de texto escrito, eu sempre penso na questão, primeiro, da objetividade da informação.

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Pablo: Pela natureza do conteúdo que a gente transmite na Reitoria Digital, existe um temor de que a gente se repita muito. A palavra Reitoria vai estar presente em quase todas as manchetes. Como sair dessa questão?

Fabrício: Eu acho que qualquer tipo de publicação, quando vai ficando muito parecida, de certa maneira, pode perder a atratividade. Se tiver recursos que estejam dentro do que você almeja para o seu trabalho e estão adequados, eu acho que têm que ser usados. Como a gente trabalha com comunicação pública, tem sempre aquela preocupação de você não ficar projetando uma pessoa em específico. Embora, às vezes, o grande dirigente vai aparecer de qualquer maneira. Mas eu acho que a gente consegue trabalhar bem isso. Às vezes, você usando o nome do gestor ou alguma frase que foi realmente uma frase de impacto, que dá um resumo ou parte do sentimento daquela cobertura, eu acho que é uma ferramenta interessante de ser usada e que não prejudica de maneira alguma a nossa missão.

Pablo: Assim que você chegou à Universidade, veio a pandemia de covid-19. Parece que a gente estava prevendo a criação da Reitoria Digital para dar conta da comunicação institucional e de tarefas como a coordenação do YouTube. Você se lembra de alguns detalhes desse momento?

Fabrício: Eu acho que eu nunca trabalhei tanto como na pandemia da covid-19, porque na realidade nós não paramos. A Universidade não parou. Teve uma interrupção das aulas, mas a Universidade não parou em momento algum. Pelo contrário, a Universidade abriu uma série de ações em outras frentes, inclusive, para ajudar no combate à pandemia da covid-19. A gente passou a usar cada vez mais o virtual: as reuniões passaram a ser virtuais, os eventos passaram a ser de forma on-line. Só que às vezes, a questão do on-line é que ela te dá mais trabalho, porque tudo você tem que escrever, tem que comunicar coisas que, se você está no mesmo ambiente, você fala com seu colega e pronto. Ali você tem que escrever quando você vai dar uma orientação ou chamar atenção para alguma coisa, você tem que especificar. Infelizmente teve a pandemia, mas, por outro lado, ela mostrou que existem outros caminhos. Acho que já existiam, mas talvez as pessoas não estivessem tão antenadas a isso, tanto para o mundo do trabalho como para a questão da própria educação. Muita gente, depois da pandemia, começou a usar nas atividades acadêmicas o ensino remoto, não de forma total, mas algumas atividades em um modelo híbrido. Defesas de teses e dissertações, por exemplo, que passaram a poder contar com professores de outros estados e até de outros países, por serem remotas. Então, eu vejo que muito disso foi seguido. Para a universidade, foi um grande desafio, mas ela mostrou a sua importância não só para a comunidade universitária, mas para toda a sociedade.

Pablo: Durante a pandemia, você realizou algumas lives com convidados da gestão. Como foi a criação deste produto? Como você fazia?

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Fabrício: As transmissões já existiam pré-pandemia, mas pouca gente fazia. Já havia várias ferramentas tecnológicas que ofereciam a possibilidade da realização das lives. A partir da pandemia, as pessoas passaram a ter, digamos assim, o hábito de consumir mais. Então, foi pensado assim, olha, se as pessoas estão consumindo mais transmissões ao vivo, nós também precisamos oferecer esse produto para elas. Foi muito interessante fazer com os gestores porque, às vezes, algumas pessoas podem ver os gestores como pessoas muito distantes e a live faz essa aproximação. Quando você está com o gestor e as pessoas estão interagindo em tempo real, fazendo um questionamento e o gestor podendo responder naquele momento, isso causa essa aproximação. A live gera uma interação que talvez não fosse pensada anteriormente. Eu acho que essa interação causa muitos efeitos benéficos, de promover aproximação, engajamento e até mesmo um sentimento de pertencimento, por exemplo, do estudante com a universidade.

Pablo: A Reitoria Digital é um locus de estágio para jornalistas, designers e publicitários. Como é essa questão de contribuir com a formação dos estudantes?

Fabrício: Olha, o meu sentimento é que dá trabalho, viu? Porque às vezes a pessoa pensa, “ah, vai entrar o estagiário para desempenhar funções”. Mas, na realidade, não basta você repassar funções para eles fazerem. Você tem que, primeiro, entender qual é o conhecimento prévio que ele tem, qual caminho ele já percorreu, tanto dentro da universidade como em lugares onde ele possivelmente já trabalhou. Em geral, o que acontece é que, digamos assim, jornalisticamente, eles são muito crus ainda, têm pouca experiência. Você tem que procurar passar as coisas do início, mas tem questões que são das pessoas. Por exemplo, o feeling jornalístico, a habilidade da escrita, que vem muito da leitura, de como foi a fase anterior dessa pessoa na escola, em casa… Se a pessoa não lê, ela não escreve bem. Então, o primeiro trabalho é verificar qual é a condição desse estagiário e depois ir passando funções que estejam acessíveis a ele. São funções supervisionadas e, às vezes, acaba tendo que ser feito todo um material novamente, por isso dá trabalho. Mas é a forma, você tem de passar. A gente explica, primeiro, que o que eles vão praticar, naquele semestre que estão ali, é o trabalho de assessoria de comunicação, que é muito importante, porque atualmente cerca de 70% dos jornalistas formados vão para o mercado de assessorias, ou de imprensa, ou de comunicação; então eles têm que estar habilitados para esse meio também. Para essa categoria de comunicação, a gente procura passar o que é a nossa missão, o que eles precisam cobrir e a gente tenta já colocá-los em coberturas, para que, mesmo que nunca tenham participado, quebrem aquele gelo de estar em uma cobertura, em uma sala com dirigentes, entrevistar pessoas, pedir informações. Acontece muito, de início, de passar alguma coisa, mas é um processo normal. Com o tempo, o que a gente fica satisfeito, é quando você vê que ocorre uma evolução desse estudante. Você vê que ele melhora o texto, que a cobertura dele já é melhor, que ele já percebe fatos. A cereja do bolo é quando você recebe uma pessoa que é proativa e, além disso, já oferece sugestões. Eu sempre brinco com os estagiários novos, eu digo: “olha, vocês são os jovens desse mundo tecnológico, né? Então, quando a gente fala em publicações para redes sociais, vocês têm que nos oferecer ideias”. Tem esse desafio, mas ele é muito satisfatório quando você consegue perceber a evolução e cumprir a missão que você fala lá no início para eles, que é assim: “quando você sair daqui, a nossa missão é que você nos diga, olha, eu saio daqui melhor do que eu entrei, com mais capacidade para alguma coisa”. A nossa missão é essa. Se isso ocorrer, mesmo que seja um pequeno avanço, acho que a gente já cumpriu a nossa missão.

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Pablo: Nesse sentido, você harmoniza o ambiente, por lidar com os gestores mas também com os mais jovens. Como você usa isso como ferramenta, é mais intuitivo ou foi um aprendizado que você adquiriu ao longo da sua carreira?

Fabrício: Eu acho que é intuitivo, mas tem um pouco de intencionalidade, sim. Primeiro, a questão é o sentimento de pertencimento. As pessoas têm que ter o sentimento de que pertencem àquele lugar, que são parte integrante. E a gente, às vezes, percebe algumas situações ao longo da vida profissional, de pessoas que estão no ambiente mas não se veem ali. Então, a primeira situação, inclusive para o próprio desempenho profissional dela e também de realização pessoal, é ela se sentir parte daquilo. As pessoas têm que ter ambições de sempre melhorar e não tem problema nenhum você querer alçar novos planos. E outra coisa também das minhas experiências é que eu vejo que ninguém infeliz trabalha bem. Quem estiver infeliz, chateado, não vai fazer um bom trabalho, não adianta; pode ser o melhor profissional do mundo, não vai fazer. Então, é nesse sentido mais de acolhimento, que as pessoas se sintam parte daquele ambiente, mas sempre tendo em mente que o trabalho é sério e que o trabalho precisa ser feito. Embora às vezes a gente até faça umas brincadeiras, mas na realidade é assim, a gente sabe que o trabalho tem que ser feito, que as coisas importantes não podem ser deixadas de lado e têm que ser feitas com seriedade. Se a gente puder fazer a nossa função bem feita e ainda trabalhar com um pouquinho de leveza, acho que fica melhor ainda.

Pablo: Eu gostaria que tu comentasse a respeito do tempo de publicação, do quão importante é isso e qual é a tua opinião sobre o envelhecimento da notícia hoje, na atualidade?

Fabrício: A questão do tempo da notícia é algo que, para mim, é muito forte no mercado de trabalho do jornalismo profissional. Eu vejo em algumas assessorias, principalmente de comunicação, porque normalmente as de imprensa são mais ágeis, uma certa acomodação que sempre me incomodou, uma acomodação no tempo da notícia. Por exemplo: estou cobrindo uma notícia hoje, que é segunda-feira, e eu posso publicar na quarta-feira, né? Ou, eu fiz uma cobertura na manhã de segunda e aí eu publico no final da tarde de terça-feira. Eu não vejo sentido nisso. Eu até acredito, sim, claro, cada um tem os seus horários de trabalho, não pode fazer hora extra, tem essas coisas, mas eu não vejo sentido em uma matéria que leve, digamos, mais que o dia seguinte para ser publicada. Se um jornalista não tem a capacidade de escrever um texto em um turno do seu trabalho, eu acho que ele tem que, de repente, rever a sua profissão. Eu vejo isso como uma herança ruim e não falo só em termos de universidade, falo de várias instituições, principalmente públicas. Parece que, por ser público, está tudo bem eu divulgar a notícia muito mais tarde. Não é porque é assessoria de comunicação que não tem que ter o sentido da urgência da notícia. Se você tem todas as informações na mão, por que você vai demorar para publicar? Algo que eu aprendi também nos tempos de jornalismo on-line é o seguinte aspecto: quando algo é realmente importante, você publica o essencial daquela matéria tão logo depois daquele fato e deixa para complementar depois. Depois você pode complementar a própria matéria com os pormenores, com as falas dos atores envolvidos, ou inclusive fazer uma segunda matéria explicando melhor algo referente à primeira, mas a informação principal você já publica. Isso, para mim, é algo que me incomoda; eu procuro, sempre que possível, ir imediatamente para o computador após a cobertura, fazer o texto e publicar. Não tem motivo para esperar. Dos anos que eu passei por nove redações na minha vida, percebi que quanto mais você demora para publicar, mais vai demorar. “Eu só vou parar para tomar um cafezinho antes, só vou fazer um lanche antes”, vai ficando cada vez mais difícil. Tem que ser logo depois do fato, quando as ideias estão mais presentes na sua cabeça, a sua memória está mais ativada. Eu sempre recomendo isso. Não é porque é assessoria de comunicação, não é porque é serviço público, que a gente tem que, de certa forma, acomodar-se na produção do nosso material de trabalho.

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Pablo: Tem alguma ação que te marcou nesse tempo de Reitoria Digital?

Fabrício: Tiveram muitos fatos marcantes, mas talvez um mais marcante tenha sido o início das lives, que nós passamos a gerenciar pelo canal UFG Oficial no YouTube. A gente foi apresentado para uma ferramenta, o StreamYard, e nós tivemos que aprender para ensinar para as outras pessoas. Foi muito rápido. No início, eu confesso que fazia muito tempo que eu não sentia o chamado frio na barriga na profissão, como na primeira live em que eu fui o gestor de telas. É uma responsabilidade, porque você é um gerenciador de telas, ao mesmo tempo um diretor de imagens, um produtor; você fica falando com as pessoas no chat privado, no WhatsApp, dando orientações e ajustando câmeras… Para mim foi o grande desafio, esse início da transição de quando a Reitoria Digital passou a administrar o canal da UFG no YouTube. Deu uma adrenalina diferente e aquela sensação boa, tudo redondinho, aquela sensação de dever cumprido e de que, olha, estamos fazendo algo bacana, estamos fazendo algo legal, algo que impacta a instituição. Também acho que algo importante no nosso departamento é essa liberdade que nós temos de discutir no bom sentido; de debater ideias, mesmo que às vezes a gente não concorde, mas só o fato de nós nos sentirmos à vontade para divergir, acho que é muito enriquecedor. A gente não precisa estar sempre certo. Eu tenho certeza de que eu também não estou certo sempre, mas a possibilidade de debater isso dentro do ambiente de trabalho, conversar com as pessoas, de ter esse entendimento, acho que isso também é algo muito rico para o departamento em geral. Nós temos algo muito interessante, que é uma franqueza, uma sinceridade de conversar, às vezes até de reclamar. Tudo dentro da linha do respeito e cada um sabendo a sua função, o que deve ser realizado. E a respeito da Reitoria Digital, para mim também é uma grata surpresa na minha trajetória; já tenho bastante esse sentimento de pertencimento e vamos seguir o trabalho e ver qual vai ser o caminho, sempre de olho em novidades, no que pode ser melhorado, para que a gente possa seguir oferecendo informações de qualidade, com utilidade para as pessoas da comunidade universitária, principalmente, mas também para a comunidade externa.

Notas

23. O Grêmio Esportivo Brasil é uma agremiação esportiva brasileira de Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul, fundada em 7 de setembro de 1911.

24. Percepção