“Entendi que eu seria a primeira jornalista do quadro permanente do setor”: os primeiros padrões jornalísticos da Reitoria Digital
Ana Paula Vieira de Souza
Pablo Fabião Lisboa
Introdução
Ana Paula Vieira de Souza nasceu em Goiânia, em 29 de julho de 1987. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela UFG, iniciou o caminho profissional na própria Universidade, durante estágio na então Assessoria de Comunicação. Após várias experiências em outros estados e instituições, retornou à UFG como servidora no início da estruturação da Reitoria Digital e ajudou a construir essa história que chega ao quinto ano. O relato como egressa da Universidade deixa claro o orgulho de ser UFG e a gratidão pela formação recebida e pela oportunidade de contribuir como técnica-administrativa.
Pablo Fabião Lisboa: Qual é sua formação profissional e quais foram suas experiências anteriores à chegada na Reitoria Digital?
Ana Paula Vieira de Souza Dias: Eu fiz Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na UFG entre 2005 e 2008 e, mesmo ainda não formada, eu gosto muito de falar da minha experiência na própria UFG, enquanto estagiária e bolsista, porque foi um período muito legal. Em 2005 teve eleição para a Reitoria e, em 2006, começava um novo mandato, que era o primeiro mandato do professor Edward Madureira, quando ele fez grandes mudanças na comunicação. Eu falo com muito orgulho que pude acompanhar essas grandes mudanças muito de perto, como uma aprendiz mesmo. Eu era estudante do segundo ano de jornalismo quando estava sendo criado o Jornal UFG, que era um jornal impresso, de 16 páginas, com capa e contracapa colorida, miolo preto e branco, formato tabloide. Um belo dia, a professora Silvana Coleta, que era nossa professora da disciplina “Produção de Texto Jornalístico”, chegou na nossa sala e convidou alguns estudantes para fazer um teste para ser bolsista do Jornal UFG, do qual ela seria editora. Ela chamou três nomes, entre eles o meu. Foi uma surpresa. A gente fez um teste e eu passei para ser bolsista do Jornal. Então minha experiência, mesmo ainda não formada, começou ali, tanto na produção de texto, quanto com assessoria de comunicação, porque o Jornal era produzido dentro da antiga Assessoria de Comunicação da UFG, que hoje se chama Secretaria de Comunicação. Naquele contexto, eu não fazia apenas reportagens para o Jornal, mas também vivia o dia a dia de uma assessoria de comunicação. Ali eu comecei a aprender na prática o que eu via lá no curso, na teoria. Eu conheci a Universidade por meio das pautas. Entrei muito nova no curso, com 17 anos, e não tinha muita noção do que era a universidade, a universidade pública, a potência dos projetos de ensino, de pesquisa e de extensão; fiz muitas pautas legais para o Jornal e pude compreender melhor o contexto da UFG. Na primeira edição eu fiz a contracapa, que está até emoldurada na minha casa: foi uma matéria sobre um projeto de extensão da professora da então Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb), Lisbeth Oliveira, chamado Pezinho de Jatobá, realizado no setor Shangri-lá. Eu adoro essa matéria assim como tantas outras da época do Jornal UFG, que tenho guardadas até hoje. Viver esse momento foi fundamental para a minha formação. Me formei em 2008 e também devido a essa experiência que eu tive na Ascom, fui indicada pelo professor Edward Madureira e pela professora Silvana Coleta para uma vaga de assessora de imprensa da Andifes, que é a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior. Essa posição estava aberta e eu acredito que devido ao meu desempenho e a minha dedicação na Ascom eu fui indicada para assumí-la. Lá fui eu de mudança para Brasília, com apenas 21 anos, antes mesmo da minha colação de grau. Enquanto a Ascom e o Jornal UFG foram o meu laboratório na graduação, eu digo que a Andifes foi minha pós-graduação, entre aspas, porque foi outro grande aprendizado, com grandes questões. Fernando Haddad era ministro da Educação e uma das principais pautas dele naquele momento foi a proposição de um novo formato para o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, que naquela época a gente chamava de “Novo Enem” e foi o embrião do que é, hoje, o Sistema de Seleção Unificada, o Sisu. Ele propunha uma grande prova nacional, que pudesse democratizar um pouco mais o acesso às universidades, facilitar a participação dos estudantes em mais vestibulares, como eram chamadas as seleções à época, de forma que eles não precisassem viajar para participar de diversas provas. Acompanhei também outros grandes temas daquele momento, como intensas discussões sobre autonomia universitária e diversas questões envolvendo o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, que já tinha sido lançado (o ano era início de 2009 e o Reuni já tinha começado), mas ainda tinha muitas implicações e outras etapas em debate. Eu era assessora da Andifes, em 2010, quando passei no concurso para jornalista do Instituto Federal de Goiás, câmpus Itumbiara. Então a minha trajetória sempre foi de trabalhar em instituições de educação ou ligadas a ela. No Câmpus Itumbiara do IFG tive outra experiência muito interessante, porque ainda na esteira da criação dos Institutos Federais, incluída nas políticas de expansão do ensino superior do primeiro Governo Lula, os Institutos cresceram muito, criaram novos câmpus e eu fui a primeira profissional de comunicação do Câmpus Itumbiara do IFG, onde o desafio foi a estruturação de toda uma assessoria, então foi outra experiência muito legal. Depois fui para a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde ocorreu outra grande mudança profissional. Chegando lá, eles tinham uma demanda por um jornalista para trabalhar na TV Universitária, cujo canal já existia, permitido pela Lei do Cabo, mas mesmo já tendo produzido anteriormente, o Canal Universitário de Vitória estava sem produção naquele momento. Então foi outro desafio, a reestruturação da TV Ufes, que eu participei junto com a equipe da Superintendência de Cultura e Comunicação da Ufes. Eu ainda não tinha trabalhado com audiovisual e telejornalismo, só tinha feito as disciplinas na faculdade, então tive que estudar e foi muito interessante presenciar essa reestruturação. Tanto é que, lá na Ufes, eu fiz o mestrado e meu objeto de pesquisa é a TV Universitária, considerando-a como uma TV pública, no viés da comunicação pública. Então lá eu fiz bastante coisa também, porque depois eu saí da TV, trabalhei com redes sociais, mas sempre ajudava na assessoria, produzindo conteúdos para site, revista de divulgação científica e fui a secretária de Comunicação substituta por alguns anos. Depois voltei para a minha casa, que é a UFG, onde cheguei como servidora em janeiro de 2020.
Pablo: Então fale um pouco sobre os detalhes deste início de trabalho, você chegou na Reitoria Digital e em poucos dias o setor ficou nas suas mãos durante as férias do coordenador. Como foi esse momento, tanto no aspecto profissional quanto pessoal?
Ana Paula: Primeiramente, eu estava muito feliz de voltar para a minha casa, porque com todo esse vínculo que eu contei até agora, a UFG virou parte da minha vida. Foi onde eu aprendi as bases de tudo que eu sei. Sou muito grata e, quando retornei como servidora, eu senti como uma oportunidade de retribuir tudo que eu tinha aprendido e vivenciado na UFG. Eu estava muito feliz de voltar e tinha informações esparsas de que eu ia para um setor novo e não para a Secom, que eu já conhecia. Era uma iniciativa diferente, porque a gente tem mais ou menos um modelo de assessoria de comunicação tradicional como setores ligados às Reitorias, que ficam próximo a elas, mas não exatamente dentro do Gabinete em si, e produzem aquele conteúdo geral sobre a universidade toda, de forma ampla. Naquela época, eu fiquei sabendo que eu iria para a Reitoria Digital, que era um setor dentro do Gabinete do reitor destinado a essa comunicação mais institucional e voltada à agenda da Reitoria, com o objetivo de acompanhar, dar publicidade e visibilidade às ações da Reitoria especificamente, enquanto a Secretaria de Comunicação ficava com as pautas gerais da Universidade. Então já achei diferente das minhas experiências anteriores e, quando cheguei, tinha o Pablo como coordenador e a Marina Sousa, que era bolsista profissional. Naquele momento, entendi que eu seria a primeira jornalista do quadro permanente do setor, apesar de ele já ter contado com a colaboração anterior da Versanna, servidora que veio “emprestada” da Secom. Fiquei curiosa, querendo saber como ia se desenvolver esse trabalho. O coordenador conversou um pouquinho comigo e disse que estava saindo de férias. Eu pensei: “ok, vou aqui fazer o que eu sei”, ainda tentando entender um pouco do setor e, claro, trazendo a minha ideia de que, sendo dentro do Gabinete da Reitoria ou não, estamos na universidade federal, que é uma instituição pública. Por isso, no meu entendimento, eu continuaria trabalhando com comunicação pública e prezando pelos pilares de buscar a informação de interesse público, dar visibilidade a ela da forma mais ampla possível e estimular a participação da sociedade por meio dos conteúdos produzidos. Sempre trazendo esse senso de responsabilidade muito grande no sentido de que eu estou aqui para que as pessoas saibam o que é a UFG, para que serve a UFG, quais são as oportunidades que ela oferece. Por mais que eu estivesse acompanhando prioritariamente a agenda da Reitoria, tudo que é discutido na Reitoria é de interesse público porque as pessoas têm o direito de saber, o direito à informação, à comunicação, à transparência, de forma a ter conhecimento do que os gestores estão propondo para a Instituição porque, no fim das contas, a gente existe para prestar um serviço para a sociedade. Então eu me vejo nessa posição de transmitir tudo isso para as pessoas e por isso um senso de responsabilidade muito grande, pois a gente tem que responder ao interesse público, ao cidadão, que é o que importa.
Pablo: O setor foi criado a várias mãos e de forma intuitiva, às vezes. Mas também guarda suas complexidades e uma delas é a respeito da textualidade. Como foi a sua adaptação ao mundo digital e como constrói o texto para que ele possa cumprir com a sua missão institucional?
Ana Paula: Eu lembro de perguntar ao coordenador, no início, sobre os padrões de texto adotados pelo setor, as questões técnicas mesmo. E aí eu descobri que não tinha muita definição porque ainda estava no início. O que pensei foi: ver como estava sendo feito e dar continuidade. Então isso tudo foi sendo desenvolvido naturalmente, à medida que a gente ia fazendo. Eu me considero uma pessoa muito exigente com o texto, então tento nunca perder de vista as questões técnicas mesmo: o lide, o que é notícia, a pirâmide invertida, a objetividade; imparcialidade não existe, mas a busca dela e de uma honestidade com o texto e com os leitores, tentando mostrar todos os lados da questão. E, claro, observando também os parâmetros da comunicação pública que eu já comentei. Sobre o digital, foi realmente uma adaptação porque estava mais acostumada a escrever para sites e, já naquela época, deu para perceber que o carro-chefe eram as redes sociais. A limitação de espaço foi uma questão, porque nas redes os textos geralmente são mais curtos e a gente sabe que as pessoas correm o feed rapidamente, provavelmente não lêem com toda aquela atenção; elas costumam ter um foco inicial nas imagens, que é o que as captura de maneira primária. Então eu sabia que eu não ia fugir dos critérios jornalísticos, mas teriam que ser textos menores. Até hoje continuamos seguindo esses padrões, mas passamos pela evolução das manchetes, pois no início publicávamos a foto e depois passamos a produzir uma arte com a foto e a manchete escrita sobre ela, além da cartola (que alguns chamam de chapéu). Para mim, tudo isso foi sendo internalizado aos poucos; no início eu ainda fazia, muitas vezes, uma versão maior do texto para o site e uma menor para as redes sociais. Atualmente, na maioria das vezes trabalho com apenas uma versão do texto, que vai para as redes e, às vezes, para o site, porque nessa evolução também passamos a filtrar mais o que vai para o reitoriadigital.ufg.br, já que o site tem uma característica mais perene e algumas notícias são mais rápidas e dinâmicas, adaptando-se melhor para as redes mesmo. Além da questão dos critérios jornalísticos, sempre prezo por aquilo que o coordenador sempre enfatizou: a voz institucional. Ou seja, dificilmente temos uma matéria sem a fala dos gestores envolvidos no assunto. Essa é uma questão muito importante, no sentido de que em alguns momentos essa palavra vem para tranquilizar a comunidade sobre algum fato, como aconteceu bastante durante o período da pandemia de covid-19. Naquele contexto, como em tantos outros, é importante ter esse amparo de o reitor ou a reitora falar, de forma que a fala do ocupante do cargo público confira ainda mais seriedade ao assunto e tranquilidade aos leitores, à sociedade e à comunidade universitária.
Pablo: E como funciona, no dia a dia, o acompanhamento da agenda da Reitoria? Qual seu turno de trabalho e que ferramentas você usa para construir a matéria para depois ser publicada?
Ana Paula: Na Reitoria Digital, meu turno sempre foi o da manhã. Em relação às pautas, nosso primeiro crivo é a agenda da Reitoria. Por questões de transparência, garantidas pela Lei de Acesso à Informação, as instituições públicas são obrigadas a disponibilizarem as agendas dos gestores nos sites. Então a agenda da Reitoria está publicada e a Reitoria Digital faz esse acompanhamento mais profundo para trazer as notícias relativas aos compromissos da agenda. Eu chego no trabalho e a primeira coisa é abrir a agenda no site. Particularmente, também tenho o costume de olhar, na noite anterior, em casa, quais são os compromissos do dia seguinte para já ficar preparada para eles. A gente teve, principalmente no início, uma certa dificuldade para identificar, entre o que está marcado na agenda, o que é notícia. Às vezes, por limitação de espaço e da descrição possível ali na agenda, não dá para identificar prontamente se é um evento que devemos cobrir; então perguntamos e procuramos saber do que se trata. Quando algumas questões ainda são debates iniciais e não têm decisões fechadas, não necessariamente geram a divulgação de informações concretas. Eu converso muito com as pessoas responsáveis pela agenda, para apurar mais informações sobre os compromissos antes de ir para a cobertura. Considerando o trabalho presencial, a gente vai acompanhar a reunião e, desde quando cheguei na Reitoria Digital, estou usando apenas o celular. Eu já usava essa ferramenta mas muitas vezes ainda levava papel e caneta; agora uso apenas o telefone. No início do setor, a gente produzia o texto e a foto da publicação, com o celular mesmo. Atualmente, temos outra pessoa da equipe para fotografar, mas ainda assim eu costumo tirar uma foto para depois lembrar de todas as pessoas presentes. Também registro, às vezes, alguns slides apresentados e os nomes dispostos em prismas sobre a mesa, para não esquecer ou passar informações erradas. Antigamente eu usava o bloco de notas do celular, mas agora eu utilizo um grupo de WhatsApp cujo único membro sou eu. Ali é o meu “repositório”: anoto as coisas, gravo áudios, se preciso, e fica tudo registrado ali. Se eu quiser procurar uma pauta de um ano atrás, provavelmente ela vai estar lá no grupo. Depois, quando volto para o computador, a facilidade de não usar o papel é que as coisas já estão digitadas, então eu só copio e colo do meu grupo para o editor na nuvem, que é o Google Docs. A partir daí vou estruturar o texto. Quando eu saio da pauta, já tenho mais ou menos definidas as falas que eu vou usar e a estrutura da matéria. Sempre privilegio as falas, como já comentei, e também procuro explicar de forma bem clara o que é aquela parceria, projeto ou ação que está sendo discutida. Envio o texto no grupo da Reitoria Digital no WhatsApp e peço a produção da manchete. Antigamente, a gente ainda esperava por uma aprovação do Pablo, mas à medida que a gente foi estabelecendo os critérios e adquirindo mais segurança, passamos a publicar de forma mais autônoma. A não ser que seja uma questão que a gente saiba que precisa de um olhar de alguém da gestão, já publicamos direto. Esse processo acontece de forma muito rápida, tanto é que um dos elogios frequentes à Reitoria Digital é a rapidez e agilidade nas divulgações.
Pablo: Como é a interação com os colegas e como é a sua relação com a imagem, já que disse anteriormente dar muita ênfase ao texto?
Ana Paula: Quanto aos colegas, a gente sempre usou muito bem, acredito eu, o grupo de WhatsApp da equipe da Reitoria Digital. Essa é uma coisa que ainda envolve muitas discussões sobre o uso profissional dessa ferramenta. A gente usa os próprios celulares e até legalmente acho que ainda precisa de avanços, mas sempre usamos muito bem o grupo, sem excessos, dentro dos horários de cada um, sem problemas. Então a gente sempre conversa ali, troca ideias, um ajuda o outro, pedimos opiniões sobre melhores ajustes nos textos e melhores fotos a serem utilizadas. Quanto às imagens, eu particularmente considero que tenho dificuldade com a imagem, não é minha especialidade dentro da comunicação, ainda que nos primeiros tempos a gente fizesse o texto e a foto. Então eu acredito que eu não faço tão boas imagens quanto eu faço bons textos, mas sempre me esforço e tento superar alguns desafios comuns como a iluminação de alguns locais e a dificuldade de todos os atores aparecerem nas fotos. Falando de forma bem pessoal, é uma dificuldade para mim, mas depois foi evoluindo a partir do momento que a gente teve quem acompanhasse a gente nas pautas. Também acho interessante ressaltar que, ainda que eu fosse uma excelente fotógrafa, para qualquer profissional que for um excelente fotógrafo e um excelente redator, é difícil fazer as duas coisas ao mesmo tempo e é grande a chance de uma coisa ou outra se perder, então o ideal é que sejam duas pessoas nas coberturas.
Pablo: Quais desafios enxerga para o futuro da Reitoria Digital?
Ana Paula: Eu acho que um dos desafios que a gente tem é ir além do post no Instagram, que ainda é o nosso carro-chefe. Já temos ações super interessantes como o Boa Semana UFG, um programa da Rádio Universitária veiculado também na internet, agora com destaques publicados na lógica dos reels do Instagram. Também divulgamos vídeos preparados especificamente para as redes sociais como um pronunciamento institucional a respeito de alguma questão importante do momento. Talvez a gente ainda tenha um desafio que é ultrapassar um pouco essa lógica do factual, que a gente já faz bem. A ideia do podcast, por exemplo, que é muito utilizado atualmente e nós já gravamos alguns pilotos, mas ainda não fechamos um formato. Nesse sentido, às vezes eu acho que um desafio é não incorrer na lógica de falar somente para a própria gestão. Como fazer a informação institucional chegar ao cidadão? Então eu acho que a definição desse público tanto para o podcast quanto para outros produtos ainda é um desafio que a gente tem que pensar mais, para estimular mais a participação das pessoas como a gente já teve em outros momentos, como na pandemia. Como fazer com que essa participação ocorra de forma mais permanente mesmo e a gente se consolide como um canal de diálogo com a sociedade? Nós já promovemos essa troca, mas acho que o desafio é aprofundar isso. Outra questão, em se tratando de redes sociais, é acompanhar a velocidade com que elas mudam e com que as redes oferecem novas funcionalidades. São muitas mudanças e que acontecem muito rapidamente, então eu acho que esse é um desafio para qualquer profissional de comunicação da atualidade, principalmente para aqueles que trabalham com redes sociais.
Pablo: Na sua história nos quatro anos da Reitoria Digital, você se tornou mãe. Como foi esse momento da licença maternidade e como isso influencia na sua atuação profissional?
Ana Paula: Eu acho que uma coisa fundamental para um setor, já que estamos comemorando cinco anos e pensando esse livro como um registro da Reitoria Digital, é a importância de ter servidores de carreira, sem ficar à mercê de projetos esporádicos que têm começo e fim. Então eu acho que a Reitoria Digital ter se estruturado com servidores concursados e efetivos é uma questão muito importante. Olha só, em cinco anos, o quanto a gente já falou aqui de evolução. Se a gente não tivesse profissionais que acompanhassem isso, a cada troca de gestão, que é normal na estrutura da universidade, correria-se o risco de uma regressão. Então a garantia da continuidade com os servidores já é um ponto positivo para a Reitoria Digital, na minha opinião. Com essa estabilidade, nós temos outras oportunidades de realizar conquistas pessoais também, como foi a maternidade para mim. Eu engravidei em 2021 e o Nikola nasceu em 29 maio de 2022, de forma adiantada. Eu ia apresentar um Boa Semana UFG em uma segunda-feira, e ele nasceu na véspera, em um domingo. Sou muito grata e acho muito importante que a gente tenha esse tipo de possibilidade, porque os profissionais também crescem à medida que suas vidas pessoais crescem e evoluem, como é o caso de se tornar mãe, uma experiência que é super desafiadora, com a qual aprendo todos os dias. E eu acredito que, de certa forma, eu trago coisas diferentes para a minha vida profissional após a maternidade. O Nikola nasceu em maio de 2022, eu fiquei seis meses de licença maternidade, um mês de férias e aí eu emendei uma licença capacitação, que é outro recurso importantíssimo que o servidor público tem. Então eu pude também fazer uma atualização, ao mesmo tempo em que fazia uma adaptação com o filho na creche para poder voltar de forma mais tranquila para o trabalho, então foi super importante. Eu fiz cursos em uma área que eu já vinha querendo explorar, que é a revisão textual. Como eu disse, eu gosto bastante do texto, então eu usei esse período da licença para capacitação para me aperfeiçoar nesse sentido. Retornei em abril de 2023, quando o Nikola tinha dez meses.
Pablo: E como ficou a vida profissional após esse retorno?
Ana Paula: A questão profissional, após dez meses das licenças, parece que você vai voltando aos poucos. É uma nova forma de ver o mundo. Além disso, tem a preocupação de trabalhar e garantir o bem-estar do filho ao mesmo tempo, os atestados médicos que acontecem, porque a criança fica doente, então essa volta é mesmo uma adaptação sob várias perspectivas. Mas a gente consegue. A missão de fazer a cobertura do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), em outra cidade, foi muito legal e eu considero que foi muito importante perceber que sim, posso ir cobrir um evento em outra cidade, um festival grande, que vai dar certo e vai ficar tudo bem. A única diferença é que a gente tem que levar a criança, vó, berço, banheira, enfim, toda uma estrutura, mas a gente dá conta. Na minha visão, a maternidade de nenhuma forma me impediu de desempenhar o meu papel profissional e eu fico muito tranquila de viver todos esses momentos dessa forma, carregando o filho, sabendo que eu estou em uma instituição que valoriza a atuação das mulheres, em uma gestão que incentiva que elas busquem os sonhos profissionais e pessoais. Jamais me senti “repreendida” porque tive que apresentar atestado, porque tive que dar uma atenção especial em algum momento; esse é outro grande privilégio e outro fator pelo qual eu sou muito grata. Acredito que eu sou uma nova pessoa depois da maternidade, uma nova profissional, e continuo conseguindo colaborar com o setor.
Pablo: Em relação à localização da sala da Reitoria Digital, você que também trabalhou na Secom, que é um pouco mais longe do Gabinete, o que você pensa dessa proximidade? Ela ajuda ou não faz tanta diferença?
Ana Paula: Eu aprendi que a comunicação, para ser estratégica da forma como a gente pensa que é o ideal, tem que sempre estar próxima das instâncias decisórias e dos gestores. Então, nesse sentido, a gente está muito bem, porque a gente está dentro do Gabinete. Porém, hoje em dia, as coisas acontecem de forma muito rápida e os recursos virtuais fazem com que a gente esteja em todos os lugares ao mesmo tempo. Então acredito que, atualmente, isso seja um pouco diferente, porque parece que às vezes, mesmo estando muito perto, ainda é preciso um afinamento melhor no sentido de ter uma comunicação rápida para a gente saber das pautas. Então acho que a localização física é importante, mas é ainda mais relevante esse alinhamento de todos, incluindo a gestão, para estarem atentos a esse trabalho estratégico da Reitoria Digital. Portanto, tem esse fator mais estratégico de valorização do nosso trabalho, de lembrar que estamos ali ao lado para prestar esse serviço e que muitas vezes a nossa presença é importante para os registros e cobertura. Acredito que nós somos valorizados e que a equipe compreende que a nossa atuação faz diferença.
Pablo: Nesses cinco anos de trabalho na Reitoria Digital, tem alguma história marcante para você?
Ana Paula: Já acumulamos algumas histórias importantes! Entre 2020 e 2023, acredito que todos nós ficamos muito marcados pela pandemia de covid-19 e como ela impactou nosso trabalho e nossas vidas. Teve um momento que eu não me esqueço, que foi o Simpósio Ciência, Arte e Educação em tempos de pandemia, o primeiro grande evento on-line promovido pela UFG naquele contexto de medidas de isolamento social, protocolos de higiene etc. A Reitoria Digital fez a transmissão, com a gestão de telas do Pablo e eu e o Fabrício viemos ajudar na produção, apresentação e gestão do chat. Foi inesquecível, para mim, por dois motivos. Primeiro porque ainda não tínhamos muita prática nas transmissões, tudo era muito novo e não sabíamos bem como fazer, então eu estava um pouco nervosa. Lembro que o computador que estava fazendo a gestão pelo StreamYardtravou e eu tive que sair correndo para avisar o Edward e dizer que ele teria que fazer a apresentação sozinho mesmo, pois ficamos um tempo sem conseguir alternar as pessoas na tela. Então, do ponto de vista técnico, foi tudo muito diferente, mas foi um sucesso e conseguimos realizar um grande evento. Do ponto de vista da pandemia, eu estava morrendo de medo, foi praticamente a primeira vez que saí de casa desde a recomendação do isolamento social. Cheguei aqui com meu vidro de álcool, limpei tudo antes de usar, porque como eu tenho asma, estava no grupo de risco da doença. E aí o evento foi um sucesso, mas depois dele, o reitor positivou para covid-19. Foi o meu primeiro contato com algum caso positivo, fiquei morrendo de medo e me isolei do resto da minha família. Eu fiquei tranquila porque eu estava bem, não sentia nada diferente. A UFG chamou a gente para fazer o teste e deu negativo. Enfim, virou história para contar. E outro momento muito marcante foi quando fiquei responsável por redigir e publicar a matéria da nomeação da professora Angelita Pereira de Lima como reitora da UFG. O momento foi atípico porque ela era a terceira colocada da lista tríplice para a Reitoria formada pelo Conselho Universitário, que tinha a professora Sandramara Matias Chaves em primeiro lugar. Senti uma responsabilidade muito grande de dar essa notícia e ao mesmo tempo viver aquele momento histórico de, infelizmente, ter a vontade da comunidade acadêmica desrespeitada e a autonomia universitária, ferida. Esse foi mais um capítulo triste na história das universidades federais brasileiras, que passaram por um período de grande desvalorização mas, com sua força, engajamento e compromisso, conseguiram superar, como foi o caso da UFG. A comunidade universitária se uniu e apoiou as professoras Angelita e Sandramara, naquele momento. Esse foi um daqueles momentos da vida do jornalista em que percebemos que estamos participando de algo histórico. Fora essas histórias, meu comentário sempre é de gratidão à UFG. Eu realmente tenho muito orgulho de ter me formado aqui e agora ser servidora. As coisas mudam, o jornalismo é uma área muito dinâmica em que a gente tem que aprender todo dia, mas a base que eu adquiri eu considero que é fundamental para todo esse trabalho. Tenho muita gratidão mesmo por estar aqui hoje na UFG, na Reitoria Digital, tentando colaborar. Eu sempre tenho uma preocupação muito grande de ir além: não quero apenas fazer uma pauta, postar dois mil caracteres e ir embora quando der o meu horário. Eu não quero passar ali, cumprir minha carga horária e pronto; eu quero realmente fazer a diferença para a UFG em agradecimento a tudo que ela me proporcionou. A gente está registrando cinco anos de Reitoria Digital mas, na minha opinião, sabendo que ainda vai mudar muito, ainda vai evoluir, ainda vão ter coisas diferentes a cada dia, como já tem acontecido. Uma coisa que a gente não mencionou mas que eu acho super legal é a contribuição dos estágios não obrigatórios, porque assim como eu fui estudante e tive essa oportunidade, eu também sinto uma responsabilidade muito grande quando chega um estudante falando que vai fazer estágio aqui na Reitoria Digital, porque eu penso que eu tenho que fazer a diferença na vida acadêmica e profissional daquela pessoa. Meu objetivo é, por meio do meu trabalho, devolver para a sociedade tudo aquilo que a gente tem de oportunidade nas instituições públicas e é por isso que eu acredito muito na nossa missão e trabalho com comunicação pública, por causa desse grande senso de responsabilidade e de gratidão mesmo.