“A Reitoria Digital é uma necessidade no mundo contemporâneo”: a origem do novo setor
Pablo Fabião Lisboa
Ana Paula Vieira de Souza
Introdução
Pablo Fabião Lisboa nasceu em 11 de março de 1981, em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Formado em Design Gráfico e em Artes Visuais - licenciatura, é professor do curso de Museologia da UFG há 11 anos e foi o responsável pela criação e implantação da Reitoria Digital, projeto iniciado em 2019 e que ele coordena até os dias atuais. Seguindo sua trajetória de preocupação com a memória e o patrimônio, Pablo faz um relato detalhado desde a concepção da Reitoria Digital até suas principais ações nesses cinco anos, além de analisar a importância da presença digital da Instituição e da escuta realizada por meio das redes sociais.
Ana Paula Vieira de Souza Dias: Como foi o contexto da sua vinda para Goiânia e chegada à UFG?
Pablo Fabião Lisboa: Eu não conhecia Goiânia, nunca tinha estado perto do estado de Goiás. Pela minha formação em Design Gráfico e Memória e Patrimônio, eu fiz concursos em todo o Brasil na área de Design e Museologia. Fui aprovado aqui e sou professor do curso de Museologia, que fica na Faculdade de Ciências Sociais da UFG.
Ana Paula: Qual é sua formação profissional e experiências anteriores à chegada na UFG?
Pablo: Sou formado em Design Gráfico na Universidade Federal de Pelotas e em Artes Visuais - licenciatura. Dei aula de educação artística para meninos de quinta, sexta e sétima séries no estado do Rio Grande do Sul por mais ou menos um ano e meio e logo em seguida fui aprovado como professor temporário na Universidade Federal de Pelotas, onde lecionei no curso de Design Digital. Daí segui a carreira. Naqueles dois anos como temporário, fui fazendo concursos em todo o Brasil e dei a sorte de ser aprovado em Museologia aqui na UFG e no curso de Design Industrial em Curitiba, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Não tive dúvidas para onde ir, por conta da natureza do povo goiano, da característica de acolhimento do povo sertanejo. Eu me identifiquei muito quando cheguei a Goiânia para fazer o concurso. Sou muito feliz aqui, já comi muitos quilos de pequi e já me tenho como um “goiúcho”. Essa formação acadêmica básica foi depois sucedida pelo mestrado em Memória e Patrimônio na Universidade Federal de Pelotas, que me abriu então para o campo da Museologia, do patrimônio cultural, muito embora eu já tratasse desses assuntos. Fiz parte do Conselho de Cultura de Pelotas, do qual fui vice-presidente e consegui ter a maior votação daquele pleito, em 2008. Fui assessor parlamentar de comunicação, sempre atuando em comunicação e patrimônio, e fui secretário do Bicentenário do município de Bagé, no Rio Grande do Sul. Nesse cargo, eu tive a oportunidade de lidar com esse tema em variados níveis, desde um churrasco para deputados federais do Rio Grande do Sul em Brasília, que presentearam o município de Bagé com emendas parlamentares nas áreas da Saúde, do Esporte, da Educação; até uma negociação com uma padaria bem singela para fazer o bolo dos 200 anos da cidade. Então, a minha condição de secretário do Bicentenário durante dois anos em Bagé foi uma escola para lidar com a diversidade em diferentes níveis, sempre focado na questão do patrimônio cultural e da memória. Isso talvez tenha me ajudado a chegar aqui e conseguir exemplificar os projetos e as ações de patrimônio junto aos alunos de Museologia.
Ana Paula: Então você já estava há cerca de seis anos na UFG quando veio o convite para a criação da Reitoria Digital. Como foi esse convite e o processo de concepção do setor?
Pablo: É muito legal fazer esse resgate. Eu entrei aqui como mestre, porque no contexto do Reuni [Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais], foram criados muitos cursos de Museologia. Hoje são 15 no Brasil. Então, por não ter muita formação em mestrado e doutorado nessa área no País, o concurso de Museologia aqui conseguiu aprovar mestres. Eu e o professor Glauber [Glauber Guedes Ferreira de Lima] entramos no mesmo concurso como mestres, por conta da ausência de formação doutoral nessa área, em larga escala. Então, eu entrei como mestre e existe na universidade uma divisão bem demarcada entre quem tem mestrado e quem tem doutorado. Quem tem mestrado, eu digo que é o “baixo-clero”, possivelmente não vai estar em programas de pós-graduação e, por isso, não vai ter um certo tipo de produção e um certo tipo de acesso a recursos. A universidade é bem hierarquizada nesse sentido. Eu fiz meu doutorado na casa, no Programa de Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da UFG, tratando de museus e tecnologias, orientado pelo professor Cleomar Rocha. Então, até o momento do doutorado, eu fui coordenador do curso de Museologia, mas ainda estava travado nessa hierarquia de ser mestre. Eu concluí o meu doutorado em fevereiro de 2019 e, ali, eu já tinha uma forte relação com o professor da área de Sociologia Ricardo Barbosa, que é o meu colega de sala na Faculdade de Ciências Sociais, com quem eu tenho uma profunda reflexão sobre o mundo e uma grande aproximação sobre os grandes temas. Ele me apresentou o professor Edward Madureira, para quem, na campanha de 2018 à Reitoria, eu já tinha feito alguns comentários sobre as necessidades que a Universidade tinha, na sua dimensão institucional, de dar maior vazão e transparência à agenda da Reitoria. Eu fiz esses comentários com o professor Edward, por meio dessa interlocução com o professor Ricardo, e saí para o meu doutorado. Quando eu retornei para Goiânia, o professor Ricardo me consultou novamente sobre a possibilidade de eu dar mais alguma ajuda na definição do que seria essa assessoria de comunicação para a Reitoria. Despretensiosamente, escrevi quatro páginas e entreguei para o professor Edward e para o professor Ricardo. Em seguida, eles me lançaram o desafio. Na época, a professora Daiane Stasiak era a secretária de comunicação; cargo ocupado anteriormente pelo professor Magno Medeiros. Pessoas muito gabaritadas para o serviço, mas que, por vários motivos, um dos principais a falta de time, não conseguiram criar essa assessoria de comunicação mais próxima à Reitoria. Foi aí, então, que foi feito o convite para que eu coordenasse esse setor e ajudasse a desenhá-lo. Em julho de 2019, eu assumi enquanto secretário ainda do Gabinete Digital, que foi a primeira ideia. Aquele primeiro mês, de julho a agosto, foi o mês de elaboração e reflexão sobre o que seria esse setor, qual a sua missão e qual o seu desenho institucional. A gente montou um primeiro time, que contava com a jornalista Versanna Carvalho, que hoje atua na Secom [Secretaria de Comunicação], o produtor gráfico e designer Eurípedes Júnior e a técnica-administrativa Roberta Basile. Esse foi o primeiro time, em agosto de 2019. Com a chegada da jornalista Ana Paula Vieira em janeiro de 2020, tivemos algumas mudanças, pois foi sentida uma grande falta desses profissionais que atuavam na Secom e eles tiveram que retornar. Mas a gente precisava de um time de fato. Além da jornalista Ana Paula Vieira, contávamos também com uma bolsista profissional que, na época, era a jornalista Marina Sousa. Depois chegou o profissional Fabrício Soveral, que é jornalista. Por último a gente tem a chegada do analista de Tecnologia da Informação Murilo Franco e, atualmente, contamos também com três bolsistas profissionais que nos auxiliam em todas as tarefas da Reitoria Digital.
Ana Paula: E como era o contexto quando você chegou? Já tinha sala, equipamentos?
Pablo: É importante mencionar que o fundamento da Reitoria Digital é uma necessidade do mundo contemporâneo, da era das tecnologias digitais. Porém, tínhamos uma necessidade específica, que era contra-atacar e se defender dos ataques às universidades públicas federais, naquele contexto ainda do antigo Governo Federal. Chegou a ser ventilado que as universidades só serviam para a produção de drogas. Como contra-ataque, a gente decidiu então instituir um setor que desse mais visibilidade ao que a Universidade faz. Até então, eu intuía que a universidade é algo consagrado, que todo mundo respeita. Mas a gente viu, principalmente em 2019, que não era bem assim. Muitas pessoas “desentusiasmavam” seus filhos a ir à universidade. Muitas pessoas embarcaram nessa furada que é o combate à educação e à ciência. Então, esses foram alguns dos fundamentos: a ausência de cobertura das atividades institucionais e o ataque às universidades públicas federais. Talvez tenha sido aí o gatilho para que os gestores pudessem, então, investir no setor de assessoria de comunicação, que foi a Reitoria Digital. Nesse contexto, também há uma diversidade de canais que atualmente uma única instituição pode ter. Nas mídias clássicas como jornal, rádio e TV, a gente tinha muito bem definidos os tempos, os horários, o tipo de conteúdo, a quantidade de caracteres, a quantidade de fotos. Hoje, com o mundo digital, tu podes ter cinco perfis de uma mesma instituição com conteúdos que são praticamente os mesmos, mas performados de forma diferente; pode ser por meio de uma piada, de uma nota, de uma matéria ou de um vídeo. Hoje o mundo das redes sociais possibilita que a gente tenha uma diversidade de ferramentas para lançar uma mesma mensagem. Então, ter um perfil como o UFG oficial, um perfil da Reitoria da UFG, junto com o perfil da Rádio Universitária e com o perfil da TV UFG, um não atrapalha o outro e, sim, contribui. Inclusive, a gente tem processos de replicar uns aos outros. Na época, não tinha nenhuma sala disponível e para mim era muito importante que uma assessoria de comunicação, para dar certo, estivesse próxima ao gestor. Então a gente ocupou uma sala de reuniões no Gabinete, colocando computadores, backdrop e estrutura para dar conta de fazer essa assessoria. Hoje nós estamos, penso eu, a uns 20 metros do Gabinete da Reitoria, o que nos dá uma condição de agilidade para atender a reitora e o vice-reitor. Não tinha nenhum equipamento. Tão logo o Edward determinou a criação da Reitoria Digital, a professora Sandramara Matias Chaves entrou para estruturar, ajudar no mobiliário e na aquisição de tecnologias. A gente não comprou nada. Fizemos um pedido para algumas pessoas e o professor Gilson, do LabTIME, que é um dos padrinhos da Reitoria Digital, doou algumas máquinas que já estavam obsoletas para o tipo de material que ele produz, mas que, para nós, eram suficientes.
Ana Paula: Quais foram as primeiras definições para a Reitoria Digital?
Pablo: A gente teve aproximadamente de um mês a um mês e meio para elaborar isso. Fizemos muitas reuniões que tiveram a participação da Versanna, da Roberta e, às vezes, do professor Tasso , do Eurípedes, do Leandro e do professor Ricardo Barbosa. A professora Sandramara e o professor Edward participavam nas linhas gerais do que deveria ser feito. O nome Reitoria Digital surgiu de uma dessas reuniões, de um diálogo feito pelo Eurípedes Júnior, por mim e pelo Leandro Pinho. O Leandro considerou que o nome Gabinete Digital seria muito abrangente, porque Gabinete Digital pode ser de qualquer instituição, mas reitoria, que é uma palavra muito específica das universidades, comunicaria melhor. A partir daí, o Leandro fez um primeiro desenho da marca da Reitoria Digital e o Eurípedes, as primeiras aplicações nos produtos visuais que a gente tinha. Eu acho que foi uma grande sacada a gente chamar de Reitoria Digital porque o nome Reitoria é bem descritivo do espaço sobre o qual a gente está produzindo material; e o digital é uma grife interessante, principalmente porque a gente vive na era digital, dando um aspecto moderno e causando impacto no público. Eu concebo, ainda, que a Reitoria Digital pode caminhar para um conjunto de serviços que a comunidade interna pode acessar, seja para pegar seu diploma, fazer uma agenda com os pró-reitores, a reitora ou o vice-reitor; esse conjunto de serviços pode estar dentro desse guarda-chuva que é a Reitoria Digital. Hoje, ela é uma assessoria de comunicação com esse nome, mas ela poderá avançar para uma espécie de canal de contato para todos os serviços que a Reitoria pode oferecer. Isso é algo que pode ser vislumbrado para o futuro. Hoje, ela é um setor de assessoria de comunicação que conta com outros tipos de serviços também, como exposições institucionais e o gerenciamento, treinamento e divulgação do canal oficial da UFG no YouTube.
Ana Paula: Dentro dessa concepção, quais foram as primeiras ações implantadas pela Reitoria Digital?
Pablo: O mínimo planejamento foi possível em um mês e meio. A gente tinha a noção de que era necessário estar presente nas redes sociais. A presença digital dos aspectos e dos atos da Reitoria era muito importante. A gente começou com perfis no Instagram, no Twitter e no Facebook, além de uma página vinculada ao portal da UFG - reitoriadigital.ufg.br -, em que temos a organização e o arquivo de todas as notícias, que também vão para as redes sociais. No início, uma das discussões era se o conteúdo seria igual para as redes e para o site, e a gente decidiu entregar o máximo possível nos dois espaços. Atualmente, muitas revistas, jornais e até assessorias de comunicação dão só uma síntese do que é a matéria e pedem para que as pessoas acessem o site. Decidimos não fazer isso, como forma de ser mais efetivo na comunicação; e eu acho que a gente foi bem-sucedido nessa estratégia que segue até hoje. Evidentemente, às vezes, a gente precisa de uma matéria mais aprofundada e não tem como entregar isso nas redes sociais por conta do limite de caracteres de cada rede; mas são casos específicos, não é a nossa regra.
Ana Paula: Logo após a criação da Reitoria Digital, esse tempo de elaboração, a criação das primeiras redes sociais e a chegada dos primeiros servidores, veio a pandemia de covid-19. Como foi esse momento? Quais foram os desafios e as mudanças que surgiram desse processo?
Pablo: Parecia que sabíamos que ia acontecer a pandemia, porque a Reitoria Digital foi muito importante durante o período pandêmico, quando precisamos fazer o isolamento social. A Reitoria Digital era o canal que estava pronto para fazer as comunicações institucionais. A gente teve o lançamento de notas técnicas da comissão de saúde para que tivéssemos o afastamento social e, posteriormente, o estabelecimento do ensino remoto emergencial. O professor Edward fazia uma live toda quinta-feira, coordenada por nós, que aconteceu no Instagram e também no YouTube. Ele convidava pessoas e as entrevistava. Essas transmissões tiveram muito sucesso. Chegamos a ter, no Instagram, 500 pessoas assistindo de forma concomitante a uma live após reunião do Conselho Universitário que estabeleceu o ensino remoto emergencial. É interessante, porque aquilo foi um bombardeio de informações; o professor Edward manteve a calma, conseguiu comunicar e fazer uma interação com o público. Dentro desses 500 perfis de audiência que tivemos nessa live específica, a gente teve uma diversidade de opiniões, inclusive algumas críticas. Então, o professor Edward e a gestão conseguiram, de uma forma muito rápida, durante uma hora de transmissão, fazer uma escuta das críticas que aconteciam. Se não tivéssemos esses canais de comunicação, a crítica ia acontecer e a gestão não ia ficar sabendo. Claro que não é a totalidade da crítica, as redes sociais são sempre parciais, não são a verdade exclusiva e totalitária, mas é um processo de escuta. Eu costumo dizer que a Reitoria Digital trabalha com a voz e a escuta institucional, pela condição das redes sociais de receberem comentários e de a gente ter, no nosso inbox, mensagens em que as pessoas fazem solicitações e colocam as suas opiniões. Quase todos os dias, nas nossas redes sociais, estudantes, professores, técnicos-administrativos ou pessoas da comunidade externa fazem perguntas de forma não burocratizada e atendemos. É interessante resgatar essa ideia de voz e de escuta institucional para que não percamos um paradigma contemporâneo de comunicação, que é falar e escutar para melhorar a fala.
Ana Paula: E na história da estruturação da Reitoria Digital, com a pandemia de covid-19, surgiu uma demanda enorme que foi o gerenciamento do canal da UFG no YouTube. Como foi esse processo?
Pablo: Quando a gente teve que fazer o afastamento social, por força da pandemia, nós tínhamos cerca de seis mil seguidores no canal UFG Oficial no YouTube e a comunidade universitária precisava continuar trabalhando. Foi então que começaram a chegar mais demandas. À época, era a Secretaria de Comunicação que coordenava as produções do YouTube e isso ficou sobreposto à grande quantidade de trabalho que a Secom já tinha. Fizemos uma reunião com o secretário de Comunicação da UFG, Salvio Juliano, a diretora da Rádio Universitária, Márcia Boaratti, a diretora executiva da Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural, que tem a concessão da TV UFG, Silvana Coleta, e eu, como coordenador da Reitoria Digital. Houve uma discussão e eles viram na Reitoria Digital um potencial para coordenar esse processo. Como nós estávamos em fase de construção e crescimento, ainda não tinha muito bem delineado tudo que a gente ia fazer. Coube a mim, então, pegar essa responsabilidade e, junto à Gestão Superior, organizar a administração do canal oficial da UFG no YouTube, que continua contando, é bom ressaltar, com a participação da Secom e da TV UFG. Existem produções que requerem uma atuação conjunta, então a gente faz isso de forma colaborativa, mas a Reitoria Digital assumiu para si a condição de organizar tudo isso. Estabelecemos um protocolo em que as pessoas mandam um e-mail para reitoriadigital@ufg.br descrevendo a live: nos informam o título, a data, o horário e o responsável. A partir disso, nossa equipe rapidamente já coloca na agenda disponibilizada no site da Reitoria Digital e forma um grupo de WhatsApp onde todos os participantes da produção e da própria live unificam a comunicação. Temos tido muito sucesso nesses grupos porque, ao unificar a comunicação, a gente otimiza o tempo. De lá para cá, tivemos que ampliar a equipe com bolsistas profissionais e hoje temos duas pessoas nessa função, que são o Henrique Moreira e a Marília Sabino. Antes, tivemos ainda o Wesley Menezes e a Lais Dias cuidando disso e todos do time já se envolveram de alguma forma nessa organização das transmissões. A gente dá o treinamento sobre como fazer a live, para as pessoas não ficarem dependentes da Reitoria Digital. Ensinamos como utilizar as ferramentas, como ter melhores enquadramentos e iluminação, como começar uma live, como fazer seu desenvolvimento e como finalizar. A partir daí, com a rica produtividade da Universidade Federal de Goiás, a gente naturalmente cresceu e passou de seis mil seguidores para hoje, julho de 2023, 46 mil e 300 seguidores. Isso certamente é resultado do trabalho da Reitoria Digital, mas, principalmente, dos professores e dos pesquisadores da Universidade e dos setores que trabalham colaborativamente conosco.
Ana Paula: Quais produtos a Reitoria Digital oferece atualmente? Como foi a evolução dessas tarefas?
Pablo: De forma panorâmica, a gente pode dizer que começou, em agosto de 2019, fazendo matérias, imagens e vídeos como assessoria de comunicação para transmitir os atos institucionais. Em março de 2020, a gente assumiu o canal da UFG no YouTube. Com a chegada da professora Angelita Pereira de Lima e do professor Jesiel Freitas Carvalho à Reitoria, a gente assumiu também a tarefa de fazer exposições institucionais, pela condição que eu tenho de professor da Museologia focado na área de comunicação patrimonial. Então, a gente fez a exposição "UFG na luta contra a covid-19", que reuniu sete projetos de destaque no combate à pandemia. No ano de 2023, a gente teve a exposição sobre o jornal “O 4º Poder”, apresentando sete capas desse periódico que foi veiculado e produzido nos primeiros anos da UFG. Foi uma exposição contemplativa e experiencial, porque além das capas, também simulamos uma banca de jornal e imprimimos duas mil cópias de uma das edições para que as pessoas pudessem levar para casa, ler esse jornal e rememorar algo que não é tão corriqueiro hoje, que é o jornal impresso. Agora estamos trabalhando para a construção da exposição dos 125 anos da Faculdade de Direito, que antecede a criação da Universidade Federal de Goiás. A partir de então, a gente tem várias unidades nos procurando para que a gente faça essas exposições institucionais, como é o caso da Emac [Escola de Música e Artes Cênicas], que vai completar 75 anos, e da Faculdade de Educação Física e Dança, que também está promovendo uma exposição com o nosso auxílio de resgate histórico. Temos também a previsão de fazer a exposição dos 50 anos da Faculdade de Enfermagem, que promete ser muito importante, principalmente por conta da covid-19. Hoje, a gente não tem o Museu da UFG, mas a gente está dando conta, por meio da Reitoria Digital, de dar esse auxílio de demarcações e resgate de boa parte da memória da Instituição. Um outro projeto que a gente inaugurou esse ano é o UFG Memória, baseado na coleta de relatos históricos de pioneiros da UFG, decanos das Unidades Acadêmicas, diretores e aposentados. A ideia é resgatar, a partir da história oral, a história das pessoas e, por conseguinte, da Universidade Federal de Goiás. A projeção é de, em cinco anos, lançar cinco temporadas, sempre no aniversário da UFG, que é no dia 14 de dezembro. Neste ano de 2023 a gente vai lançar a primeira temporada do UFG Memória no canal oficial do YouTube. Não tem um número fechado de entrevistas, a gente começa sempre em março e vai até outubro. O método é entrevistar pessoas e, a partir dos relatos, chegar a outras pessoas importantes. Então, há uma curadoria que nasce com uma primeira missão de resgatar a história da UFG a partir de relatos dos mais antigos, mas, a cada entrevista, ajustamos a curadoria. Pretendemos, em cinco anos, entrevistar boa parte desses pioneiros aposentados, diretores e decanos para cumprir com a missão de resgate dessa Instituição que já vai fazer 63 anos e se vê na necessidade de contar sua história.
Ana Paula: Os depoimentos do UFG Memória sairão apenas em vídeo?
Pablo: A metodologia é que a gente não tenha um tempo determinado para cada entrevista, com o objetivo de gerar arquivo, um produto de memória. Então, ao entrevistar um professor ou um técnico-administrativo, a gente vai gerar um arquivo para que outros profissionais possam acessar esse material, inclusive extraindo trechos para fazer livros, documentários, exposições e outros subprodutos. A nossa equipe também está fazendo a transcrição desses relatos para entregar o texto ao pesquisador que depois vai explorar os nossos materiais. O insight para que a gente fizesse o UFG Memória e as exposições institucionais foi porque a professora Angelita, que é jornalista, sentiu a ausência, logo que chegou ao cargo de reitora, de documentos que contassem a nossa história. Por mais que o Cidarq [Centro de Informação, Documentação e Arquivo da UFG], a Casa de Memória e o Museu Antropológico também cumpram com uma função de resgate da memória e façam um excelente trabalho, ainda existe a ausência desses arquivos e o método de busca é sempre muito precário, porque nem tudo está digitalizado. Por isso, ela pediu as exposições institucionais e, ao fazê-las, também senti falta desses arquivos. O UFG Memória é também para subsidiar as exposições e as exposições são para subsidiar o resgate da memória e da história da UFG.
Ana Paula: Você mencionou as exposições como uma ação dessa gestão. Fale um pouco sobre como é trabalhar na Reitoria e como é a relação da Reitoria Digital com os gestores e a pauta institucional.
Pablo: Existe uma complexidade nas assessorias de comunicação, porque elas são compostas por profissionais formados para esse fim, que são exímios entendedores de uma gramática visual, da produção textual, da transmissão de informações e das performances de comunicação que um gestor precisa ter. No entanto, nem sempre os gestores gozam, como é o caso da professora Angelita, que é jornalista, dessa formação. Nem todos sabem exatamente como fazer um pronunciamento, porque eles são representantes e, para serem representantes, eles não precisam ser especialistas em comunicação. A gente tem um parecer do que fazer em comunicação que nem sempre é acolhido pelos gestores, então é importante que a gente deixe clara a ideia de assessoria de comunicação como um setor para sugerir e auxiliar o gestor na melhor performance de comunicação. O setor de comunicação não pode estar acima do gestor. Então, a assessoria de comunicação tem que auxiliar naquilo que o gestor não consegue dar conta e apresentar novas opções. É isso que a gente tem feito. O nosso time na Reitoria Digital é bastante multidisciplinar, um componente que enriquece muito as equipes. A gente tem jornalistas gabaritados: o trabalho da Ana Paula Vieira e do Fabrício Soveral é fundamental, porque é a segurança de um bom texto e de uma boa descrição de uma reunião, ou da transmissão de um assunto delicado que a gente possa vir a ter na Reitoria. Os canais de comunicação de Goiás e também do Brasil acessam a Reitoria Digital para saber o que o gestor está pensando. Isso é uma grande vitória para nós, que já fomos citados diversas vezes na imprensa local. Junto a esses jornalistas, a gente tem outros profissionais, como o Murilo Franco, que se agregou no ano de 2020 à Reitoria Digital, é analista de tecnologia da informação e ajuda muito na edição e produção de vídeos, além da análise de como a gente deve caminhar com o nosso canal no YouTube, que é um sucesso. Hoje, o canal da UFG goza da primeira colocação do ranking das universidades públicas federais no YouTube. Isso é motivo de orgulho para nós, para a Universidade Federal de Goiás e para as universidades brasileiras. Hoje, as pessoas querem acessar o conteúdo na fonte, sem os jornais mediando a universidade e a população. A gente tem os nossos canais, que conseguem entregar de uma maneira mais original, digamos assim, as informações relativas à universidade. Junto ao Murilo, à Ana Paula e ao Fabrício, que são técnicos-administrativos concursados do quadro da UFG, a gente teve a estratégia de ter terceirizados: três bolsistas profissionais a partir de um projeto de pesquisa que eu coordeno. As bolsas, atualmente, são ocupadas pelo Henrique Moreira, que é museólogo e arquiteto; pela Nathália Alves, que é jornalista, e pela Marília Sabino, que é Relações Públicas. Essa diversidade do time faz com que a gente tenha uma riqueza nos encaminhamentos em termos de informação e comunicação. O Henrique coordena essa parte de fazer uma varredura nas notícias, um clipping feito “no braço”, em que a gente fica monitorando os perfis de redes sociais dos jornais onde pode ser veiculado algum assunto relativo à Universidade. Ali a gente rapidamente faz a escuta. Se for um assunto mais sensível, a nossa equipe faz uma leitura pormenorizada e informa o gestor a respeito. Se precisa dar uma resposta, a gente faz uma nota. Se a gente acha que não precisa, a gente fica monitorando para ver a sentimentalização da rede a partir dos comentários. Os ataques às universidades continuam por um grupo que acha que a ciência e a educação são maléficas para a sociedade. Por outro lado, a maioria acredita que a Universidade é um grande patrimônio do estado de Goiás e do Brasil e que a gente precisa investir nela para que tenhamos edificação social, para que as pessoas possam se tornar cada vez mais cidadãs e para que a gente tenha progresso.
Ana Paula: Você mencionou as análises de rede e os infográficos, trabalhos que tiveram a participação de estagiários. Como é a relação com eles e como foi o desenvolvimento desses produtos?
Pablo: É importante destacar que a Reitoria Digital tem uma boa característica laboratorial. Nós não estabelecemos uma missão e ficamos apenas com ela; a gente está sempre em um processo de escuta e diálogo permanente com os diversos setores da Universidade, principalmente com a Reitoria, para acolher novas demandas. Para atender essas novas demandas, me parece salutar que a gente tenha times complexos e acolha estagiários de diversas áreas. Quanto aos infográficos, pela minha característica de designer, eu fiz alguns, mas também tivemos estagiários de Design que fizeram e hoje a gente conta, a cada semestre, com estagiários de Design Gráfico da Faculdade de Artes Visuais. Também tivemos, em algumas oportunidades, estagiários do curso de Gestão da Informação, que investiram na análise de redes sociais. Isso foi muito bom. Hoje a gente não conta com um profissional específico de Gestão da Informação, mas me parece produtivo que a gente conte com esses profissionais, sejam estagiários ou servidores do quadro. A análise de redes sociais é sempre parcial, mas é importante para fazer a escuta institucional. A gente conta sempre com bolsistas e estagiários da área do Jornalismo mas tentamos acolher outras áreas também, como Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e áreas correlatas, para dar conta de executar projetos complexos como as exposições institucionais, o UFG Memória, coordenação do YouTube e a própria tarefa básica de assessoria de comunicação da Reitoria Digital. A gente contou com outros bolsistas profissionais, como Wesley Menezes, Lais Dias, Marina Sousa, Thais Lucena e Augusto César Araújo. Eu acredito que essa característica laboratorial da Reitoria Digital cumpre um papel com esses profissionais que não são do quadro também, porque é uma bolsa mediana, que cabe muito bem para um profissional em início de carreira. A gente conta com esse profissional que ajuda e deixa um legado para a Reitoria Digital, mas ele também dá continuidade ao seu processo de formação e vai para o mercado de uma maneira mais qualificada, além de levar alguns valores da essência da universidade, de edificação, de progresso e de lutas sociais, da busca por uma sociedade mais justa e por uma ampliação do ensino para as parcelas que ainda não tiveram acesso à universidade. Tem um período médio de participação desses bolsistas profissionais que é variável, mas à medida que eles vão galgando novos espaços, deixam a Reitoria Digital e vão cumprir o seu papel em outras instâncias. Assim, a gente também recicla o time, sempre renovando as características do setor. Então, a gente conta com três servidores do quadro e três bolsistas profissionais. Eu acho que essa equalização é muito salutar para nós, sempre defendendo a importância dos profissionais concursados. Estamos sempre em busca de concursos para a área da comunicação, no entanto, às vezes, esse recurso é maior do que contratar um bolsista profissional. Então, nem só de bolsistas profissionais se faz o setor, mas também nem só de técnicos-administrativos. A gente tem uma boa relação e uma boa produtividade com esses bolsistas recém-formados que chegam a nossa equipe através de seleção.
Ana Paula: Nesse período, também foi feito o dossiê “O discurso anti-ciência nas redes sociais na internet”. Fale um pouco sobre esse trabalho.
Pablo: Em 2020, na esteira dos ataques às universidades públicas federais e à ciência, eu e o professor Ricardo Barbosa organizamos uma chamada pública para um dossiê na Revista UFG. À época, a pró-reitora de Extensão e Cultura Lucilene Sousa acolheu de pronto e nos auxiliou na condução dessa chamada, que teve proposituras de ensaio visual e de artigos sobre esse cenário. Tivemos uma série de submissões que versaram sobre o tema dos ataques às universidades federais e à ciência. Teve um trabalho que eu me lembro agora, que foi bastante contundente, de um grupo de pesquisadores que frequentava há algum tempo grupos de WhatsApp e Telegram de pessoas bolsonaristas e anti-ciência. Eles fizeram uma pesquisa, equalizaram essa análise e viram um padrão de organização que estava em consonância com a agenda política do Governo Federal. Estou destacando aqui um dos artigos, de tantos outros. O Fábio Malini, que é um expoente, hoje, na análise de redes sociais, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, foi um dos que submeteu um artigo também muito interessante nessa análise de redes. A gente também teve um artigo importante do professor Magno Medeiros e do servidor da Secretaria de Comunicação da UFG, Leonardo Rézio, que falou sobre como as redes sociais colocam no mesmo parâmetro o discurso do cientista, que é gabaritado, e o discurso de uma pessoa que desconhece o tema, e como essas informações são rivalizadas nas redes sociais. A gente já não tem uma hierarquia de informação como tinha antes das redes sociais, então a Reitoria Digital também significou “dar a cara a tapa”. Eu considero que foi um ato de coragem do professor Edward e da professora Sandramara estabelecer esse canal aberto e franco com a comunidade, porque as redes sociais são uma selva e eles poderiam sofrer muitos ataques. Mas, durante esse percurso de quatro anos, eu acho que a comunidade da Universidade soube muito bem defender o seu patrimônio, que é a UFG. Não tivemos muitos ataques nas nossas redes, mas sabemos que nos grupos e em outros canais eles ainda acontecem e precisamos estar atentos no sentido de cuidar da universidade que é um patrimônio público. A universidade é importante para a construção da cidadania e para a formação dos profissionais que vão atuar no mercado, por isso é algo que a gente tem que defender.
Ana Paula: Dentre todos esses fatos e a evolução da Reitoria Digital nesses cinco anos, qual foi uma ação entre as mais marcantes que você desenvolveu ou acompanhou na RD?
Pablo: Acho que o que mais me marca nesses cinco anos de Reitoria e de Reitoria Digital é aquilo que me marcou quando eu optei por Goiânia e não por Curitiba, que é a capacidade da coletividade da comunidade da UFG. Tudo que a gente consegue de resultados, seja no ranking das universidades mundiais, seja no ranking das universidades do Brasil, seja no sucesso de pesquisadores, de alunos, de técnicos-administrativos, da própria Reitoria, não se faz sozinho, se faz de maneira coletiva. Eu acho que a Reitoria Digital é um sucesso. Ela é um sucesso pela qualidade de todos os seus profissionais e principalmente por conta da colaboração que a gente tem com outros setores e com professores da própria Universidade. Então, se há algo marcante nesses cinco anos é a condição colaborativa da comunidade da UFG de dar as mãos nos momentos difíceis para preservar o ensino público, gratuito e de qualidade. O canal da UFG no YouTube ter 46 mil seguidores não é fruto de uma pessoa e não apenas do nosso setor, mas de toda a Universidade, que não para de produzir, é comprometida e muito qualificada. A gente precisa dar voz aos gestores, mas também ter sensibilidade para escutar e criar relações. A palavra integração é a palavra que norteia muito do meu trabalho e acho que tem que nortear muito do trabalho das instituições hoje. Também gostaria de lembrar que a tarefa de um jornalista, de um agente de comunicação ou de um memorialista, um profissional de Museologia, de História, vai ser sempre parcial. Ele nunca vai conseguir pegar todas as nuances de um fato histórico, de uma pessoa ou de uma narrativa. A gente tem que ter clareza disso. De certa forma, é um pouco frustrante, porque está no DNA do jornalista a busca pela verdade e a transmissão das informações, dos atos públicos. Está no âmago da formação de um Museólogo a condição de resgate e de preservação da memória. Mas isso sempre vai ser parcial. Então, seja no Jornalismo, na Museologia, no Design, os recortes curatoriais precisam acontecer e eles sempre vão acontecer em detrimento de tantas outras informações. Acho que consegui narrar aqui um pouco do que foi a história da Reitoria Digital. Lançar mão da ferramenta de livro, de narrações, de relatos, me parece mais rico e mais sincero com a equipe e com a nossa audiência. Geralmente, se faz um livro descritivo, mas que ressente um pouco a questão do indivíduo. Estabelecer, ao término de cinco anos da Reitoria Digital, um livro dessa natureza, enriquece um pouco mais o que é esse projeto que foi elaborado por várias pessoas.