Promoção da sustentabilidade por meio da economia compartilhada dos resíduos sólidos advindos da produção de peças jeans

Resumo Esse trabalho tem como objetivo discutir a gestão dos resíduos sólidos na cidade de Jaraguá, importante polo têxtil goiano. A abordagem teórica e a metodologia da coleta de dados foram os caminhos que encontramos para realizar a pesquisa sobre a cooperativa na cidade. A iniciativa envolverá ativamente proprietários das indústrias que utilizam denim (fornecedor dos resíduos), poder público (mediador) e comunidade local (cooperados e consumidores). Por meio da reciclagem dos retalhos de denim, espera-se abranger todas as esferas do Triple Bottom Line, dando um destino melhor aos rejeitos e oportunizando a geração de empregos e renda para a cidade.

Palavras-chave Denim, Gestão de Resíduos Sólidos, Sustentabilidade, Triple Botton Line.

Autoria

  • Ana Paula Alves Lopes Santana

    Especialistas em Processos e Produtos Criativos/UFG.

  • Daniel Carvalho Alexandre Moreira

    Especialistas em Processos e Produtos Criativos/UFG.

  • Denise Monteiro de Faria

    Especialistas em Processos e Produtos Criativos/UFG.

  • Mariane Rodrigues da Vitória

    Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Católica de Brasília (2015). Especialista em Processos e Produtos Criativos pela Universidade Federal de Goiás - UFG (2018).Tem experiência na área de Engenharia Civil como docente (curso técnico e graduação). Experiência na área administrativa em atividades voltadas para coordenação, planejamento e controle de atividades de diversas. Atualmente é mestranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pelo Programa de Pós-graduação em Agronegócio (PPAGRO) da Universidade Federal de Goiás - UFG.

  • Maryelle Carmo Oliveira Zago

    Atuou como professor - Lions Clube de Goiânia Sul. Tem experiência na área de Biologia Geral, com ênfase em Biologia Geral e na área educacional. Atualmente é assistente de secretaria na função de Atendente de secretaria da Educação básica articulada ao Ensino profissionalizante (EBEP), na Escola SESI/SENAI Canaã.

Orientadora

  • Lavínnia Seabra

    Doutora pelo Programa de Pós Graduação em Artes pela UnB, com trabalho sobre estamparia digital e cocriação. www.textilskin.com/. Doutorado sanduíche pela Universidade do Minho/PT - engenharia têxtil. Mestre em Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás (2007) e graduação em Design de Moda (2001) pela mesma Instituição. Foi consultora do Projeto Pedagógico do curso de especailização em Moda e Design pelo Instituto de Filosofia e Teologia do Estado de Goiás - IFITEG - 2008. Foi professora no curso de Design de Moda da Universidade Salgado de Oliveira de 2003 a dezembro de 2008. Professora convidada do curso de Design de Moda na UFG durante o período de 2006 a 2008. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Aprendizagem e Percepção em Criação de Moda, atuando principalmente nos seguintes temas: moda, criatividade, arte, pesquisa e interdiciplinaridade, customização, tecidos e composição, tecelagem plana, costura e gestão. Tem atuado desde 1998 na área de moda com planejamento e desenvolvimento de coleção em confecção de streetwear, jeans e lavanderia. Possui artigos publicados na área de moda, arte e tecnologia têxtil. Atualmente é representante da ABTT - Associação Brasileira de Técnicos Têxteis - na região Centro-Oeste. Integrante da rede social - Escola de Redes desde janeiro de 2011. Faz parte do Comitê Científico dos Eventos: Contexmod e ENPMODA. Hoje, é professora efetiva - Adjunto 3, na Universidade Federal de Goiás. Atua no curso de Design de Moda; coordenadora do curso à distância em Processos e Produtos Criativos; Avaliadora INEP desde 2018.

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1. Introdução

Desde a Conferência de Estocolmo (1972), a temática ambiental passou a integrar as agendas políticas mundiais. Com o advento da internet, ocorreu uma expansão de pesquisas e redes de pessoas, bem como organizações que discutem sobre o tema, trazendo à tona os problemas ambientais atuais e futuros. O intuito desta ampla abordagem é de conscientizar quanto à coletividade da busca pelo desenvolvimento sustentável, com vistas no fortalecimento da postura crítica em relação às ações políticas e sociais que tangem o assunto, e se conceber como parte integrante e possível agente modificador (OLIVEIRA, 2012, p. 02).

No âmbito dos negócios, a temática sujeitou as empresas a mudarem suas concepções acerca da importância da preservação do meio ambiente – antes as companhias se restringiam a preocupações com a qualidade dos produtos, preços competitivos e em superestimar o lucro (DUARTE & TORRES, 2005, p. 24). Segundo Pereira (2006, p. 01) e Figueiredo et al. (2009, p. 109), a influência das “questões ambientais” no comportamento de compra do cliente força a adoção de uma postura empresarial sustentável, sob risco de “perder a sintonia com o consumidor”. Também há a necessidade de atentar à legislação brasileira no que se refere à responsabilidade ambiental de pessoas jurídicas ou não, como tipificado na Lei de Crimes Ambientais – número 9.605 de 12/02/1998, na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – número 6.938 de 17/01/1981 e também na Lei Nacional da Política de Resíduo Sólido número 12.305 de 2010.

Em seu trabalho, Coltro (2006, p.02) afirma que, devido ao meio ambiente ser “fonte de matérias primas e energia, local de despejo dos rejeitos e contribui [...] para o bem-estar da população”, a questão ambiental permeia as áreas de estudo da economia, transcendendo o aspecto ambiental para as áreas social, cultural, econômica e política. Assim, a responsabilidade social empresarial emerge com o objetivo de promover o desenvolvimento humano sustentável, com soluções voltadas para a redução e mitigação dos impactos ambientais (DUARTE & TORRES, 2005, p. 24). Abreu et al. (2008, p. 02) completa que a transição da visão limitada ao lucro, para a concepção de que o objetivo é tridimensional (incorpora crescimento econômico à conservação ambiental e igualdade social, componentes fundamentais para o desenvolvimento sustentável), originou o termo Triple Bottom Line, designado a esse novo comportamento das corporações que convergem essas três dimensões ao seu planejamento estratégico, agregando valor à empresa.

No segmento têxtil, segundo afirmam Guimarães & Martins (2010, p. 186), apesar de a indústria do vestuário no Brasil ser um dos setores industriais que mais crescem em economia e geração de empregos, ela também é responsável por considerável impacto ambiental. Isso se deve às etapas dos processos produtivos (como a geração de expressiva quantidade de resíduos sólidos sob a forma de restos de tecidos e outros) e do alto índice de produtos descartados antes do final do seu ciclo de vida útil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os cultivadores do algodão (matéria-prima para confecção de denim) compõem um terço do total de vítimas de intoxicações agroquímicas no mundo. Portanto, a reciclagem é um componente relevante da moda ecológica para proteger o meio ambiente e recuperar materiais nos países em desenvolvimento. Contudo, no Brasil, mesmo com a ISO 14000 – em que algumas instituições têxteis passaram a desenvolver projetos ambientais e sociais – são poucas as empresas do ramo que adequam-se aos princípios da sustentabilidade ambiental (SCHULTE & LOPES, 2008, p. 36).

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Sob esse escopo, o presente trabalho mostra um panorama acerca da problemática referente à geração de resíduos denim, por fábricas do município de Jaraguá-GO. Posteriormente, é apresentada uma proposta de solução na cadeia produtiva do denim em relação ao descarte e reciclagem dos resíduos gerados. A finalidade é de incentivar e viabilizar a reciclagem desses resíduos, tornando-os matéria-prima para confecção de novas peças. Isto se dará por meio de práticas como o ecodesign, upcycling e da economia circular, para fins comerciais. Espera-se, assim, despertar o interesse das demais fábricas e da sociedade em geral acerca da importância de práticas que diminuam os impactos ambientais e promovam o desenvolvimento econômico, social e ambiental.

A coleta de dados se deu a partir da observação dos processos produtivos da fabricação de denim em uma confecção local, análise de documentos, entrevista com proprietários de confecções, autoridades locais, órgãos regionais referentes ao setor, e pesquisa bibliográfica. O objetivo é aplicar os conceitos de sustentabilidade, no que diz respeito às esferas ambiental, econômica e social, na produção de peças com denim advindas do município.

1.1. Sustentabilidade

Conceitua-se sustentabilidade como a capacidade de suprir as necessidades atuais sem comprometer a capacidade de que as gerações futuras atendam às suas próprias necessidades. Sustentabilidade pressupõe maturidade, que por sua vez, pressupõe altruísmo e renúncia. Tem a ver com a construção de um outro futuro possível, com a maneira que se aprende e se ressignifica o passado. E, mais importante, sobre como se lida com a inexorabilidade do tempo (CARVALHO, 2011, p. 29).

Em 1992, o conceito de sustentabilidade culminou como uma demanda da necessidade das organizações repensarem seu modo de atuar. Desde então, o desenvolvimento sustentável tornou-se uma fórmula utilizada para expressar a necessidade de manter o equilíbrio entre as dimensões econômica, social e ambiental.

Paralelamente, as organizações começaram a integrar esses conceitos na sua estratégia empresarial. Dos anos 90 até hoje, certificações socioambientais, movimentos e campanhas de conscientização foram criados em várias partes do mundo com o objetivo de consolidar conceitos como responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, transcrevendo-os em práticas de gestão.

Contudo, para iniciar essa ferramenta estratégica, é necessário ampliar o olhar para além do que a organização almeja, que em via de regra é o lucro. É necessário considerar os interesses dos stakeholders, ou seja, considerar não só o interesse da empresa, mas de todas as partes envolvidas no negócio.

Presumir os interesses de diversos públicos que interagem com o negócio é o primeiro passo para implementar os conceitos de sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável surge quando a organização encontra um ponto de equilíbrio entre as partes interessadas e consegue, dentro da sua atividade, gerar valor para todos os envolvidos, otimizando seus processos, com vistas à geração de lucros, com maior agregação de valor para todos os interessados.

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Nessa perspectiva, esse trabalho tem a pretensão de induzir uma reflexão, que vai além da aplicação do conceito da sustentabilidade na moda, e promover a tomada de consciência em uma cidade com potencial de lançar mão e tirar proveito para todo o seu sistema: fornecedor (indústria denim), poder público (mediador) e comunidade local (cooperados e consumidores).

Uma forma de considerar o tripé da sustentabilidade na indústria da moda é englobar os aspectos econômicos, sociais e financeiros em toda a cadeia do ciclo de vida do produto e aplicar a metodologia dos 3 R’s – Repensar, Reusar e Reciclar. Tal conceito otimiza os processos da indústria e incorpora benefícios para as pessoas por meio de práticas de responsabilidade social. Como exemplo, citamos a economia solidária como uma forma de gerar benefícios para a sociedade e parceiros – representados aqui pelas cooperativas.

1.2. Economia Circular

O conceito de economia circular surgiu como re-thinking progress, the circular economy. É a ciência que incorpora o conceito de desenvolvimento sustentável, aumentando a eficiência dos produtos por meio do reaproveitamento dos resíduos sólidos. Seu objetivo é manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor, pelo maior tempo possível.

Como proposta de trabalho, procuramos articular interesses da cidade, indústria e comunidade local, unindo conceitos de sustentabilidade e economia circular para o segmento denim em toda a cadeia do ciclo de vida de uma indústria de confecção. Fomentar, ainda, o pensamento dos empresários, em longo prazo, para sair do status quo de gerar lucro por lucro e estimular a venda desses conceitos. Aliado a isso, destacamos a geração de emprego e renda para os cooperados e a mitigação do impacto ambiental dos resíduos denim na cidade de Jaraguá, fornecendo produtos socialmente responsáveis.

1.3. Estudo de Caso na Cidade de Jaraguá – GO

Jaraguá é um município de 41.870 habitantes, localizado a 122 quilômetros, na direção noroeste de Goiânia, de vocação tradicional rural (criação de gado e produção de abacaxi) e que, a partir de 1984, começou a desenvolver indústria de confecções para atender o mercado local (NORONHA; TURCHI, 2005, p. 10). A partir de então, a produção das confecções expandiu-se sistematicamente. De acordo com a literatura, a cidade deixou de ser conhecida pela produção de roupas "piratas", tornando-se sede de um polo formal confeccionista. Atualmente, a produção com denim é estimada em 2,2 milhões de peças por mês (GUIMARÃES, 2014, p. 01).

Se considerarmos o Arranjo Produtivo Local - (APL) das confecções, que inclui os municípios de Itaguaru, São Francisco de Goiás, Goianésia e Uruana, são 2.731 empregos gerados em 784 empresas, ou seja, a representação de Jaraguá é de 78% para empregos e de 89% para empresas no APL. Contando com o emprego informal, estima-se que 10 mil pessoas trabalhem ligadas à atividade. Apesar da importância na geração de empregos e na economia local, essas indústrias causam grande impacto ambiental, uma vez que seus resíduos são descartados no meio ambiente de forma incorreta.

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Com suas 480 empresas distribuídas entre confecções, lavanderias, unidades de acabamento, bordado, estamparia, entre outras firmas (GUIMARÃES, 2014, p. 01), é notável a grande quantidade de resíduos têxteis produzidos no polo. Segundo os dados levantados, estima-se que uma empresa confeccione aproximadamente 15.000 peças por mês, com um gasto de 1,5 metros de tecido por peça. Assim, para a produção mensal, será necessária uma quantidade total de 10.000 metros de tecidos. Levando em consideração uma perda de 10% de tecido em cada corte, obteremos 600 kg de resíduos sólidos por mês – ou seja, mais de meia tonelada de dejetos gerados por uma única fábrica – que serão destinados ao lixão local, conforme retrata a figura 1.

Figura 1. Resíduos produzidos durante um dia de produção em uma única fábrica de Jaraguá. Fonte: Arquivo pessoal de Ana Paula Alves Lopes (usado com a permissão do autor).

Tal atitude causa considerável descarte de retalhos de denim que são jogados nos lixões por caminhões de lixo comuns da prefeitura, sem a devida preocupação com o tratamento e destinação adequada. Esse fator ocasiona um enorme problema na região em decorrência da degradação do meio ambiente com fatores como a contaminação do solo, emissões de resíduos sólidos, perda da biodiversidade (com destaque na contaminação dos lençóis freáticos e escassez de recursos naturais não renováveis), refletindo negativamente na saúde humana, conforme concordam Fletcher & Grose (2011, p. 13) e ilustra a imagem abaixo:

Figura 2. Lixão de Jaraguá. Fonte: Arquivo pessoal de Ana Paula Alves Lopes (usado com a permissão do autor).

De acordo com informações coletadas no município e com o secretário da indústria do meio ambiente da cidade de Jaraguá, Henrique Bernardes, não existe, na presente data (2018), um levantamento de dados que analise os resíduos sólidos gerados nessa região, o que demonstra uma fragilidade na gestão do município. Essa ausência de dados, gestão e fiscalização, faz com que grande parte dos empresários não dê a devida atenção ao caso, aumentando a poluição pelos processos produtivos. Mesmo com a utilização de tecnologias no processo de confecção, o que auxilia na redução de aparas, as confecções geram grande quantidade de material proveniente do processo de corte (2013, p. 02), conforme ilustra a figura abaixo:

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Figura 3. Risco graduado de modelagem para corte, no programa Audaces. Fonte: Ana Paula Alves Lopes (Usado com permissão do autor).

Outra fragilidade levantada na área de estudo é a ausência de um aterro sanitário. O único local destinado ao descarte de resíduos são lixões, que em muitos casos, são terrenos baldios que não apresentam condições apropriadas para a deposição e descarte de resíduos. Há ainda a ausência de instituições ou entidades como cooperativas, que possam realizar uma melhor destinação para esse material. Tais apontamentos evidenciam a necessidade da implantação de práticas que possam reduzir ou minimizar essas sobras adquiridas nas confecções, juntamente com uma gestão ambiental eficiente.

1.4. Proposta de tratamento para os resíduos gerados

Com vistas a resolver esse tipo de problemática, entra em cena a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, por meio da Lei nº 12.305, de 05 de agosto de 2010, regulamentada pelo Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010, cujo propósito é o trato de soluções aos problemas relativos à gestão dos resíduos sólidos, buscando mitigar os impactos ambientais gerados por diversos setores produtivos da sociedade, além de envolver diversos atores – entre eles o estado, o município e a sociedade. Sendo assim, todos são responsáveis pela gestão ambientalmente correta dos resíduos que geram.

A lei supracitada é bastante atual, com instrumentos importantes para permitir os avanços necessários ao País, que tem presenciado diversos problemas ambientais. Como exemplo, temos a escassez hídrica. Há uma vantagem comparativa para o Brasil, no sentido de gerar uma projeção de igualdade perante aos principais países desenvolvidos, por meio da inclusão de catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis tanto na logística reversa quando na coleta seletiva.

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Figura 4. Ordem de priorização de gerenciamento de resíduos sólidos. Fonte: Portal dos resíduos sólidos (Usado com permissão do autor).

1.5. Reuso de Resíduos Têxteis

Nesta seção sugerem-se alguns métodos que podem ser aplicados em relação ao reuso de resíduos denim: Economia circular e Ecodesign e Upcycling, ambos com o objetivo de minimizar ou eliminar a emissão de resíduos industriais.

1.6. Economia circular aplicada a indústria têxtil e de vestuário

Amaral (2017, p. 4), afirma que a economia circular tem a ambição de manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo, não apenas reciclando, mas revalorizando ao longo dos processos produtivos, sejam os ciclos técnicos ou biológicos.

De acordo com Stahel (2010, p. 8), economia circular é o desenvolvimento e a implantação de estratégias que fomente a transição de uma economia linear para uma economia circular, baseada em um modelo de desenvolvimento sustentável, podem representar uma oportunidade com vários benefícios associados em relação à geração de impacto ambiental. Isso através da redução de recurso, matérias-primas e impacto social, promovendo a geração de empregos e o crescimento econômico do setor em que for empregado. Assim, a gestão dos resíduos de forma responsável cria uma infinidade de oportunidades econômicas, aumentando a competitividade por meio de processos produtivos que minimizam o desperdício por meio da recuperação de recursos. Corroborando com isso, Amaral (2017, p. 3), reforça que a maioria dos resíduos têxteis (retalhos) são passíveis de serem reciclados de forma mecânica ou química.

Figura 5. Economia circular na indústria têxtil. Fonte: Amaral, et al, 2017 (Usado com permissão do autor).

1.7 Ecodesign

De acordo com fontes do Ministério do Meio Ambiente, o Ecodesign, também conhecido como design ecológico, ecofriendly, design sustentável e green design, pode ser definido como todo processo que contempla os aspectos ambientais, cujo objetivo principal é projetar ambientes, desenvolver produtos e executar serviços que minimizem o impacto ambiental, ou que de alguma maneira, reduzam o uso de recursos não-renováveis ou ainda, minimizem o impacto ambiental dos mesmos durante seu ciclo de vida. Isso significa reduzir a geração de resíduo e economizar custos de disposição final (BRASIL, 2014).

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Dessa forma, o Ecodesign pode ser entendido como uma ferramenta de competitividade utilizada pelas empresas em diversas áreas, como arquitetura, engenharia e design, tanto no mercado interno quanto externo, atendendo novos modelos de produção e consumo, contribuindo para o desenvolvimento sustentável através da substituição de produtos e processos por outros menos nocivos ao meio ambiente (IBID, 2014).

1.8. Upcycling

O termo Upcycling foi utilizado pela primeira vez em 1994, pelo empresário e ambientalista alemão Reine Pilz. Mas só em 2002, no livro Cradle to Cradle: Remaking the Way we Make Things, alcançou os olhos do público. Nele, os autores William McDonough e Michael Braungart, afirmam que o objetivo do upcycling é evitar o desperdício de materiais potencialmente úteis, reduzindo o consumo de novas matérias-primas durante a criação de novos produtos e o consumo de energia, a poluição do ar e da água e as emissões de gases de efeito estufa, resultantes dos processos industriais da reciclagem. Isso torna a prática ainda mais positiva do que a própria reciclagem, do ponto de vista ecológico (ZUPI, 2015, p. 01).

Conceitualmente, upcycling pode ser definido como o aproveitamento de algo considerado sem valor comercial e que seria descartado, ocorrendo a sua transformação em algo diferente, com um novo uso e propósito, sem passar pelos processos transformadores químicos e físicos da reciclagem. É reutilizar um material que se tornaria lixo, aproveitando suas propriedades originais. Segundo a designer Thaís Tulha, criadora do estúdio Lagartta, dedicado, entre outras coisas, a criações de Upcycling:

“Reutilizar e reciclar são conceitos diferentes e ainda muito confundidos. Upcycling, termo não muito difundido por aqui, é uma vertente da reutilização e preserva as características originais do material. Compartilho da opinião do visionário Buckminster Fuller de que ‘lixo é a coisa certa no lugar errado” (ZUPI, 2015, p. 01).

Assim, o Upcycling tem como foco o baixo impacto ambiental, com alto impacto social.

2. Metodologia

Para a execução do presente trabalho a metodologia foi dividida em três partes: inicialmente realizou-se um levantamento bibliográfico através de livros, trabalhos e pesquisas já realizadas, documentos, registros diversos em meios físicos e digitais, com o intuito de buscar informações necessárias para o levantamento de dados e informações pertinentes ao assunto design, resíduos sólidos e normatizações.

A segunda fase se deu através de um levantamento de dados técnicos acerca do polo de confecção de Jaraguá por meio de levantamento bibliográfico, pesquisa in loco, entrevistas, visitas, entre outros instrumentos com atores-chave, tais como o secretário do meio ambiente da cidade de Jaraguá e o dono da empresa Skeel Indústria e Comércio de Confecções – objeto de levantamento de resíduos –, a fim de verificar a problemática da gestão de resíduos sólidos na cidade. Outro levantamento realizado foi a verificação de uma política municipal de resíduos sólidos, ou seja, observar se as indústrias de confecção possuem leis pertinentes ao atendimento da PNRS – Lei 12.305 e às políticas estaduais de resíduos sólidos. Por meio desse levantamento seria possível identificar seo município possui o seu Plano de Gestão Municipal Integrado de Resíduos Sólidos para orientar as ações de gerenciamento dos resíduos têxteis industriais gerados no polo confeccionista.

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Posteriormente, na terceira fase foi levantada uma possível estrutura de cooperativa, a fim de resolver a problemática do descarte inadequado de resíduos sólidos. O escopo da cooperativa foi formulado conforme Pereira (2017, p. 85), que em seu trabalho realizou uma proposta de modelo esquematizado para o tratamento dos resíduos têxteis, como forma de implementação das políticas públicas voltadas para a temática nos polos de confecção para o tratamento dos resíduos.

Dividimos nossa metodologia de diagnóstico e avaliação do caso em foco de acordo com as seções que seguem.

Diagnóstico do polo

Inicialmente é preciso identificar as características locais, tais como o perfil industrial, tamanho das indústrias, segmentos atuantes, quais e quantos produtos produzem por mês, qual ou quais os tipos de matéria-prima (tecido) utilizam para confecção dos produtos, quanto de resíduos têxteis é gerado, como é feita sua coleta e para onde são destinados esses resíduos.

Atores

Nessa etapa são definidos os atores envolvidos, como setor público (secretários, vereadores, prefeito), empresas de confecção e os artesãos ou grupos de interesse.

Alternativas de tratamento

Nessa etapa deve ser realizado um estudo a fim de verificar as alternativas mais viáveis para o tratamento dos resíduos têxteis gerados no polo, como o reaproveitamento ou a reciclagem. Esse fator dependerá da quantidade de resíduo gerado, tipo de resíduo e sua viabilidade de trabalho.

Escopo do projeto

O modelo identificado como o mais viável para desenvolver o projeto seria a organização de uma cooperativa, que teria como função contribuir para a destinação correta dos resíduos têxteis de acordo com a legislação, assim como promover ações que visem à organização produtiva, economia solidária de mercado e, acima de tudo, a preservação ambiental. A empreitada tem o objetivo de gerar renda e oportunidade de trabalho para vários atores envolvidos.

Figura 6. Proposta layout para a cooperativa de Jaraguá-GO. Fonte: Ana Paula Alves Lopes (Usado com permissão do autor).
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A cooperativa seria formada por mobilizadores locais, designers, projetistas, empresas do ramo, órgãos públicos e todos os agentes interessados na mudança de realidade da comunidade. A fim de contemplar as premissas do Triple Bottom Line, as seguintes ações serão formuladas:

Figura 7. Tríade da gestão ambiental – Triple Botton Line. Disponível em: http://ouripdfinal.blogspot.com/p/triple-bottom-line-matrix.html.

3. Considerações Finais

Apesar da importância na geração de empregos e na economia local, as indústrias confeccionistas brasileiras causam grande impacto ambiental, uma vez que seus resíduos são descartados no meio ambiente de forma incorreta, em sua grande maioria. Com base nos dados levantados na indústria que foi objeto de pesquisa, calculamos a quantidade média anual de 7 (sete) toneladas de resíduos de denim que são descartadas irregularmente no meio ambiente, haja vista que a cidade não dispõe de um aterro sanitário, além de inexistirem políticas municipais capazes de nortear questões referentes ao descarte dos resíduos sólidos.

Diante de dados tão críticos, parece necessária a criação de cooperativas que tenham como trabalho a reciclagem/reaproveitamento de retalhos de denim para produção de peças comerciais. Esse deve ser um caminho na busca da minimização dos impactos ambientais na região, por meio de uma atividade tanto social quanto econômica.

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O modelo de tratamento dos resíduos têxteis proposto para os polos de confecção de Jaraguá-GO, surgiu com a finalidade de dar uma melhor destinação aos resíduos têxteis gerados nos processos fabris das indústrias de confecção. As políticas públicas que representam a gestão de resíduos sólidos industriais abordam que a gerência desses resíduos é de responsabilidade de seus geradores. A presente proposta aqui apresentada, convida os envolvidos a repensar os processos de descartes inadequados dos resíduos têxteis e na degradação ambiental por eles gerada ao meio ambiente local. Sendo que esses resíduos, se bem gerenciados, poderiam contribuir na geração de trabalho, renda e na sustentabilidade.

A ideia central visa sugerir que o empresário do polo confeccionista em questão tenha para onde enviar os resíduos gerados e que estes sejam utilizados pela sociedade, gerando renda e promovendo a cidadania. Outra vantagem na adesão ao projeto por parte dos setores empresariais estaria no sentido da promoção de uma melhor imagem para as empresas participantes, partindo do pressuposto de que a sociedade pede e reconhece cada vez mais o importante papel do desenvolvimento sustentável e de um meio ambiente em perfeitas condições. Grandes marcas do segmento da moda e outros setores já trabalham ou aderiram a práticas que remetem a um processo sustentável. Devido à sua viabilidade, tanto de execução quanto de adequação ao Triple Botton Line, o modelo de cooperativa mencionado pode ser replicado em outros locais que ainda não conseguem lidar com a problemática.

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Conceito lançado no Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Holanda, 1998), relata que a “responsabilidade social corporativa é o comprometimento permanente dos empresários em adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico” de forma sustentável (DUARTE & TORRES, 2005, p. 24).

Denim: tipo de tecido popularmente conhecido como jeans.

Normas que determinam diretrizes para garantir que determinada empresa (pública ou privada) pratique a gestão ambiental.

Stakeholders refere-se a empresários ou gestores que buscam priorizar seus interesses e os dos outros grupos também interessados em uma mesma atividade, podendo ser eles funcionários, clientes, fornecedores, comunidades, dentre outros (BORGES, 2014, p. 12).

Segundo a norma NBR 10.004/2004 da ABNT, os resíduos têxteis são classificados como resíduos sólidos de classe II A – não inertes, podem ter propriedades como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. Se contaminados com óleo de máquina, por exemplo, passam a ser classificados como resíduos sólidos de classe I – perigosos, causam riscos à saúde pública.

Aterro sanitário é uma espécie de depósito no qual são descartados resíduos sólidos provenientes de residências, indústrias, hospitais e construções. Grande parte deste lixo é formada por materiais não recicláveis.