Movimento Ideário: conhecimento compartilhado sobre design

Resumo Este artigo, escrito como forma de avaliação de trabalho final de conclusão de curso (TCC), da especialização a distância em Processos e Produtos Criativos/FAV – Universidade Federal de Goiás – Turma 2016, tem como objetivo apresentar o Movimento Ideário. O propósito deste projeto é estimular a valorização do design, encontrada em suas mais diversas áreas de atuação, abrangendo as principais especialidades (desde design de produto, gráfico, interiores, moda, web, interface e todas as demais possibilidades). O intuito é que, através de eventos como conferências, oficinas e exposições, tenha-se maior disseminação dos trabalhos orientados para o design na região de Uberlândia, interior de Minas Gerais. Além disso, a iniciativa busca funcionar como uma espécie de curadoria de projetos assinados por profissionais e empresas atuantes neste segmento, fortalecendo localmente uma possível gestão da cultura do design, bem como outras implicações em seu consumo no mercado atual.

Palavras-chave Modelos de Aprendizagem, Design, Processos Criativos, Cultura Visual, Uberlândia.

Autoria

  • Aline Soares Melo

    Designer, especialista em Processos e Produtos Criativos. Experiência em projetos e processos criativos em design de produtos e interiores, gestão de negócios e mídias sociais.

  • Renan Barbosa Castro

    Relações Públicas, especialista em comunicação mercadológica e comportamento de consumo. Experiência em projetos multidisciplinares desde marketing estratégico, gestão de marcas e design gráfico. Pesquisador de tendências, observa e relata os padrões de mentalidade da sociedade.

  • Talita Fernandes Nunes Silva

    Graduada em Design de Interiores pela UFU, Especialista em Processos e Produtos Criativos pela UFG. Atua no mercado como designer desde 2011. Experiência como projetista e domínio em softwares de maquetes eletrônicas.

  • Tayana Borges Silva

    Designer e especialista em processos e produtos criativos pela UFG. Atualmente atua na área de interiores na nada igual design onde aplica a multidisciplinaridade do design. fundadora do movimento ideario um selo de curadoria e viabilização de ideias criativas regionais e entusiasta de design e novas formas de consumo.

Orientadora

  • Dorivalda Santos Medeiros Neira

    Possui graduação em Engenharia Têxtil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2003), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2005) na área de Ciências Térmicas e doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2011) na área de Tecnologia de Materiais. Foi professora adjunto I da Universidade Federal de Pernambuco e atualmente é professora da Universidade Federal de Goiás. Tem experiência na área de Tecnologia dos Materiais, Tecnologia Têxtil e Tecnologia do Vestuário, atuando principalmente nos seguintes temas: Fibras naturais, design, moda e sustentabilidade.

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1. Introdução

O nascimento deste projeto surge do anseio de tornar o fomento de design em algo mais tangível em nossa região, sobretudo na cidade de Uberlândia (MG), que é o local onde nascemos, crescemos ou residimos atualmente. Em um primeiro momento, nós, enquanto autores deste artigo, possuímos formações distintas, porém, com um ponto em comum, além da atual cidade: a área criativa com foco em design.

Com isto em mente e após o ingresso no mercado de trabalho, verificamos que somos acometidos pela ausência de grupos de estudos que incluíssem o design como referencial teórico, para análise do problema e de todo o processo envolvido. Assim, partindo dessa primeira inquietação, nos deparamos com a seguinte questão: como podemos disseminar essa cultura do design para além do meio em que vivemos e trabalhamos atualmente?

Parece óbvio ainda hoje falarmos sobre o que se trata e consiste o design, mas a verdade é que, desde o surgimento do termo, sua prática na era pós-moderna e sua mais recente adoção em diferentes campos do conhecimento, torna-se complexo encontrar uma definição exata sobre o que de fato é. Diferente de como o conhecemos hoje, as técnicas em design de criação e estética surgiram em determinado contexto, mas veio sofrendo mutações ao longo do tempo, tendo influenciado a arte, a arquitetura e até mesmo a nossa história.

Contudo, em qualquer busca rápida que façamos sobre seu significado, existe uma infinidade de autores e cada um deles define design conforme a sua própria norma, não havendo uma verdade absoluta ou um consenso geral. E para cada abordagem mais extensa ou complexa (oriunda do meio acadêmico), também existe uma citação simples e direta (convencionada pela lógica de mercado).

2. Entendendo o Contexto: Precisamos Falar sobre Design

Para este estudo vigente, levaremos em consideração uma perspectiva intermediária sobre o tema, que inclua a visão de autores da área do design e os respectivos fundamentos de tal disciplina, bem como a adoção contemporânea dos profissionais atuantes em cada uma de suas relações comerciais (envolvendo a oferta de produtos, serviços e demais experiências de consumo).

Neste sentido, nos deparamos com a reincidência de certos conceitos que podem ser sintetizados na definição de Alexandre Wollner (um dos pioneiros do design moderno no Brasil), que acredita que design é ter um plano para realização de determinada tarefa. Porém, tal afirmação não esclarece qual a profundidade necessária para que esse projeto seja considerado design. Mas vale a premissa "design é projeto" e, sem a existência do mesmo, não poderíamos considerá-lo como tal.

Em outras publicações do gênero, identificamos que design significa:

Planejar, escolher, ou seja, receber e processar estímulos, selecionar modelos de pensamento e sistemas de valores, sendo, no que tange à sua dimensão cultural, “responsável pela criação da relação entre sujeito e matéria” (MANZINI, 1993, p. 51).

Partindo desse pressuposto, podemos considerar que o design exerce influência direta na construção de valores, em suas práticas e nos demais hábitos das pessoas. Por meio dos produtos que temos diante de nossas mãos, o designer acaba tornando-se responsável pela qualidade e volume de objetos que são criados e passam a fazer parte da sociedade.

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Dessa forma, enfrentamos um desafio eminente: como perceber as diferentes realidades e necessidades dos indivíduos e dos grupos sociais para assim buscar soluções menos egoístas e mais adequadas para o desenvolvimento da sociedade como um todo? Para não cairmos em uma visão reducionista, tomemos a diversidade cultural como uma oportunidade para este presente projeto, e não como mero obstáculo intransponível.

3. Definição do Problema: Por Quê o Design não é Compreendido na Sociedade Emergente?

Se tomarmos como base a nossa prática de trabalho atual enquanto designers, consideramos que a maioria dos projetos são provenientes de uma necessidade do cliente. Ou seja, são comercialmente encomendados para resolver determinado problema, sejam eles de caráter institucional, informativo, ambiental ou simplesmente para concepção de um novo produto. Contudo, é importante ressaltar que, para cada solução apresentada, podemos de alguma forma imprimir uma característica autoral ou subjetiva em cada projeto atendido.

Em países como o Brasil, que historicamente não realizaram o consumo de massa ou a exportação industrial expressiva, é possível afirmar que não chegamos a formar uma identidade de design. A título de exemplo, podemos citar o caso do design gráfico, que não foi incorporado nem como manifestação cultural nem como instrumento de planejamento e projeto, a margem para o exercício de soluções experimentais costuma ser muito estreita à diferença do que ocorre nos países do centro capitalista onde a atividade já se plasmou ao cotidiano (ESCOREL, 2000, p. 18).

De acordo com o historiador Nelson Werneck Sodré, considera-se que a história do design no Brasil passou a existir somente a partir de 1963, com a criação da Escola Superior de Desenho Industrial, fundada no Rio de Janeiro. Poucos anos antes, vale ressaltar que nosso país foi um dos últimos países do mundo a entrar em contato com a tipografia, pois Portugal só trouxe recursos necessários a partir da chegada da família real em 1808. Segundo o autor, existe a hipótese de que as metrópoles europeias visavam manter o baixo nível cultural das colônias, como estratégia para fortalecer o poder central. Sendo assim, o próprio atraso da introdução à tipografia em nosso país nos traz reflexões sobre as possíveis causas da falta de uma cultura desenvolvida no âmbito do design. Do mesmo modo, por mais de décadas passadas, ainda hoje desconhecemos uma discussão crítica ou fundamentada no universo do design, para além daquele vivenciado dentro das universidades, ou mais recentemente, em cursos especializados da área. E esta falta de cultura orientada para o design como um todo se reflete nas próprias formas de consumo em geral, que se dão baseadas em outros critérios de escolha. No decorrer do nosso trabalho diário, enquanto profissionais no mercado de design, percebemos que é necessário uma maior disseminação da disciplina dentro ou fora da área (estimulando uma dinâmica multidisciplinar), voltada não só para profissionais de design, mas também para os não designers.

A formação de uma identidade faz-se essencial para a familiaridade das pessoas com o consumo de produtos e serviços que contemplem a abordagem de alguma das especialidades do design. Assim, acreditamos que este artigo desponta como uma contribuição significativa para nossa formação, envolvendo atividades diversas e itinerantes para o mercado e ainda reduzindo a distância existente entre criadores e consumidores, ao mesmo tempo que também se torna uma alternativa ao ensino obtido dentro das universidades, ou seja, dos espaços formais de educação.

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Com base nisso, coletamos dados sobre a formação de design e a observação de estudos de casos para termos como referência um modelo de negócios que propicie a valorização da área, enquanto uma nova forma de linguagem (assim como a mais recente necessidade dos indivíduos por entenderem a linguagem de programação). Ou seja, o intuito com este estudo é contribuir para um cenário futuro no qual o pensamento do designer seja também difundido entre profissionais diversos, da mesma forma que a filosofia acaba influenciando em algum nível outras áreas de conhecimento.

4. Ensino de Design na Atualidade: um Breve Panorama

Além de dar foco a um tema ainda pouco difundido para além do ambiente acadêmico, nossa proposta com este artigo é poder abrir novos caminhos que permeiam a preocupação entre a percepção das pessoas com o design em suas vidas. Pois partindo deste ponto, é perceptível que mais do que uma lacuna existente entre o design vivenciado na universidade e aquele praticado no mercado, existe um baixo nível de conhecimento do público consumidor que ainda se encontra em um estágio de baixa familiarização com projetos deste tipo (orientados pelo design). Ou, muita das vezes, possuindo uma percepção distorcida sobre o potencial e aplicabilidade do design enquanto serviço. Tal manifestação pode ser comprovada em alguns depoimentos, inclusive de ícones da área da inovação, como no caso do norte americano Tim Brown, com o relato a seguir:

“Quando deixei o mundo protegido da faculdade de design – onde todo mundo parecia igual, agia da mesma forma e falava a mesma língua – e entrei no mundo dos negócios, precisei passar muito mais tempo tentando explicar a meus clientes o que era design do que de fato trabalhando em projetos sobre isso. Percebi que eu estava abordando o mundo a partir de um conjunto de princípios operacionais que era diferente dos deles. A confusão resultante estava prejudicando minha criatividade e produtividade.” (BROWN, 2010, p. 5)

Portanto, espera-se que cada vez mais o ensino do design seja disseminado não só com a adoção de um cargo em um departamento e de modo especializado. Mas sim, se tornando uma área do conhecimento amplamente difundida através de uma linguagem fundamental, na qual todas as organizações passarão a ter algum nível de contato.

E foi a partir deste argumento que levantamos as principais instituições de ensino na cidade de Uberlândia que possuem o design em sua grade curricular, bem como eventos e iniciativas relacionadas ao tema. O intuito é que através do entendimento da formação acadêmica de design possamos traçar um panorama de como os estudantes e interessados da nova economia criativa podem se integrar a uma aprendizagem com os profissionais já atuantes em nossa área de atuação local.

4.1. Instituições de Ensino de Design (na Região de Uberlândia)

Atualmente, na cidade de Uberlândia, temos uma gama de oferta de curso em design. Ao todo, são quatro faculdades (públicas e privadas) que oferecem a graduação com aulas presenciais e tendo a duração de 3 a 4 anos de formação.

Além da Universidade Federal de Uberlândia, há também os cursos de design (cada qual com sua especialidade) oferecidos pelas instituições privadas, como no caso da Esamc Uberlândia, Faculdade Uniessa, Unitri e Una Centro Universitário.

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O design ainda é tratado como curso tecnólogo na escola People, onde há disponibilidade de cursos de design gráfico e web design. Já no Senac, encontramos cursos de capacitação profissionalizante, porém, somente no segmento de moda.

4.2. Iniciativas Independentes & Eventos Locais

Além da formação curricular em design, verificamos algumas iniciativas que promovem atividades extracurriculares como forma de complementar a formação. Há iniciativas que partem das próprias universidades, como palestras e mesas redondas e algumas idealizadas pelos próprios alunos como: Semana DESARQ (organizado por estudantes da Universidade Federal de Uberlândia), o Designear (por alunos de design da Esamc) e o R.Design (Encontro Regional de Design feito de estudantes para estudantes). Existem ainda empresas privadas e instituições públicas que oferecem esporadicamente eventos e/ou mostras na área do design e criatividade, como: Nosso Trampo (espaço colaborativo que oferece oficinas e eventos relacionados à criatividade), Muda Coworking (empresa que promove encontros relacionados a empreendedorismo em geral) e o Espaço Cultural e Oficina Cultural (instituição pública financiada pela prefeitura de Uberlândia que recebe exposições e mostras de temas relacionados à arte).

5. Análise Setorial: Sobre o Mercado De Trabalho e a Formação dos Designers no Brasil

Uma vez inserido no mercado de trabalho de design, temos em mente que o mesmo consiste em uma área cheia de possibilidades. Contudo, conforme apontado no livro "Uma Introdução à História do Design" (CARDOSO, 2008), percebemos que se trata de um mercado flexível e fragmentado, mas que se apresenta ao profissional iniciante uma realidade de instabilidade, dificuldades e praticamente sem nenhuma garantia, mesmo para os mais talentosos. Situação também contrastante ao que era vigente há mais de trinta anos atrás, no qual os únicos clientes em potencial para o designer eram empresas estatais ou multinacionais. Atualmente existe uma vasta gama de pequenas e microempresas, organizações não governamentais, fundações e outras entidades que nunca estiveram tão ativas no cenário econômico nacional e que agora, de alguma forma, podem se caracterizar como clientes potenciais de serviços de design em geral.

Logo, torna-se imprescindível entender, sobre a ótica dos designers brasileiros, como eles pensam sua própria atividade. E é com base nisso que fizemos o uso do resultado de uma pesquisa, que, apesar de a priori ter se considerado simples ou despretensiosa, conseguiu obter um resultado interessante na tentativa de enfrentar a escassez de iniciativas não acadêmicas que promovam um diálogo e um pensamento crítico sobre o design.

A enquete foi divulgada em abril de 2017, totalizando o número de 148 designers respondendo a um questionário on-line que abordava sobre o propósito do design, os obstáculos da atividade e quais as principais referências da área para cada um dos participantes. De acordo com os organizadores da pesquisa, apesar das respostas apresentadas serem insuficientes para uma análise mais aprofundada, o resultado obtido confirma algumas suspeitas sobre tendências sociais, econômicas e até políticas que influenciam a maneira como o design é entendido e praticado atualmente. Além de exercer influência sobre a subjetividade do designer, o objetivo do estudo era justamente propor uma reflexão e sugerir perspectivas de análise ainda pouco exploradas para o enriquecimento do debate sobre assunto.

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Algumas considerações podem ser destacadas aqui, como no caso da resposta mais recorrente como o propósito principal para o designer ser a "resolução de problemas". Ou seja, não importa qual a natureza do projeto ou a área de atuação do cliente, cerca de 61% dos profissionais acreditam no design como resolução de problemas envolvendo forma e função. Em segundo plano, com menor reincidência, tivemos o propósito estético como uma motivação comum entre os profissionais. Segundo a conclusão dos próprios organizadores, essa resposta também seria um reflexo do estado limitado da crítica de design feita nos últimos anos: cada vez mais restrita a uma análise rasa do resultado estético, ignorando outros aspectos cruciais como processo e contexto histórico, mercadológico, político e social. Conectar marcas e pessoas, "design estratégico para ajudar os negócios" ou "clientes não valorizam o design” também foram respostas populares e que provocam a reflexão diante desse estudo. De acordo com os autores, é compreensível que o design siga a dinâmica econômica de seu setor e se concentre no meio corporativo, internalizando feições comerciais. Da mesma forma, afirma que:

É natural que o design comercial acabe se tornando a forma mais comum de atuação no design e ganhe nova importância com as mudanças tecnológicas, como o digital e as start-ups. Tem sido comum ouvir que "o designer precisa entender de negócios" – gerando expressões como design estratégico e o controverso design thinking. Mas é interessante notar o fenômeno de invisibilização — e até inviabilização — de outras práticas do design enquanto atividade. Há alguns anos o consenso era de que o designer precisaria entender sobre tudo relacionado ao problema que deveria resolver, seja esse um problema de negócios, educação, comunicação, cultura, política, etc (BESSA, 2017).

Feito isso, os idealizadores da pesquisa concluem que a redução do design à uma ferramenta de marketing e negócios é, portanto, sintomática da influência do poder econômico na reconfiguração e ressignificação de como se dá o trabalho de cada profissional. Dentre outras considerações feitas sobre as respostas obtidas na enquete, acredita-se que isto altera inclusive a forma de atuação dos designers, criando fenômenos ideológicos como a associação entre design, o empreendedorismo individual e a flexibilização trabalhista sob uma aparência de autonomia. Contudo, conforme já observado:

(...) a lição que se depreende das trajetórias dos designers brasileiros que mais destacaram nos últimos anos é que não existe uma única fórmula para todos: todo designer tem que encontrar o seu caminho e construir a sua própria identidade profissional." (CARDOSO, 2008, p. 252).

Ao que tudo indica, oportunidade se cria e campo é o que não falta. E se existe um país que necessita de sistemas de organização coletiva, clareza na difusão de informações, planejamento estratégico da produção e soluções criativas para problemas aparentemente insuperáveis - enfim, de projeto - esse país é o Brasil. Segundo Cardoso (2008), o design tem tudo para realizar uma contribuição importante para a construção de um país e mundo melhores.

6. Análise de Congêneres

Com o intuito de entender algumas propostas similares ao vigente projeto, para além dos métodos tradicionais de ensino, pesquisamos algumas organizações e empresas que não se enquadram na oferta de graduação e nem cursos profissionalizantes, porém, estão utilizando abordagens alternativas de aprendizagem. Outras iniciativas mais recentes também foram levadas em conta, como negócios, feiras e outros eventos relacionadas a temática de valorização do design e sua respectiva disseminação para públicos diversos, conforme descrito a seguir.

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A) Perestroika

Perestroika é uma escola alternativa com mais de 10 anos de atividade que não é certificada por órgãos reguladores, motivo de orgulho para os fundadores, pois assim são livres para fazer experimentos e também terem um olhar diferente para temas mais comuns. Em busca sempre da criatividade, seus cursos abordam os mais diferentes temas, sendo variados como: Empreendedorismo, Moda, Arquitetura, Teoria Feminista, dentre outros. E com uma metodologia própria criada pela escola Experience Learning, que, como o nome sugere, é totalmente baseada na experiência e está disponível em modelo fonte aberta, também conhecido como Open Source.

Figura 1. Página inicial da Perestroika. www.perestroika.com.br

A Perestroika é uma escola livre contendo atividades criativas com sede em cinco capitais brasileiras, além de cursos on-line acessíveis para qualquer pessoa, residente em qualquer país. Além das sedes fixas, a Perestroika também possui outros braços, áreas de atuação envolvendo desde projetos com metodologias experimentais e até mesmo iniciativas voltadas à educação.

B) What Design Can Do

Já somando três edições no Brasil, o WDCD (What Design Can Do) consiste em um evento dedicado a debater o poder transformador do design, a partir da aplicação em vários âmbitos da sociedade e a cada ano trazendo um tema em especial. Desde mudanças climáticas e a violência contra a mulher, são cerca de trinta profissionais convidados para abordar assuntos relacionados ao conceito expandido de design.

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Figura 2. Site do evento What Desing Can Do. www.whatdesigncando.com/brazil-2017

Conforme a sócia da iniciativa no Brasil, Bebel Abreu, a ideia de trazer o evento para o país (que vem ocorrendo em Amsterdam desde 2011) é mudar o conceito que temos por aqui, de que design é apenas algo sofisticado e ligado à estética. De acordo com a organizadora, o intuito é mostrar que o design é, na verdade, uma ferramenta para a solução de problemas de diversas áreas.

C) Bonde

O Bonde foi o primeiro evento dedicado ao design brasileiro que ocorreu em Nova Iorque, em 22 de julho de 2017. O projeto foi constituído de palestras, instalações de arte e lojas (pop-up stores), no qual reuniu-se um grupo diversificado de criativos brasileiros para celebrar o design, abordar os novos desafios, oportunidades e ainda compartilhar histórias sobre uma série de propostas inovadoras.

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Figura 3. Website da conferência Bonde. www.bonde.nyc

De acordo com um dos organizadores da conferência, tudo começou com o desejo de conectar brasileiros da indústria criativa que estivessem vivendo em Nova Iorque. Inicialmente com um pequeno grupo de profissionais da área, a iniciativa logo recebeu vários outros interessados, fazendo com que o evento se tornasse uma plataforma mais ampla – no qual mais do que reunir os brasileiros entre si, acabou suportando os designers para atenção do mundo como um todo.

Ainda segunda a organização e palestrantes convidados, um dos principais objetivos com o Bonde é incrementar a consciência das várias contribuições ao design oriundas do Brasil, enquanto apresenta uma perspectiva mais completa do que o design brasileiro também pode representar nesse sentido.

7. Concepção do Modelo de Negócio

É comum que o circuito de apresentações, eventos e novas organizações não incluam diretamente cidades do interior. O eixo Rio-São Paulo hoje abriga os principais acontecimentos em design, se estendendo eventualmente à outras capitais, como Belo Horizonte, Curitiba e Goiânia. Em termos de acesso geográfico, os destinos mais próximos à cidade de Uberlândia, quando se quer encontrar algum curso, especialização e/ou similares, é a cidade de São Paulo e Belo Horizonte. Como consequência, verificamos que não existe diretamente o incentivo ou mesmo o costume de investir-se em projetos de design na cidade, frente ao crescimento de pequenos nichos da área, gerando conteúdo independente onde o acesso é restrito e destoa do que ocorre no cenário nacional de design.

Sendo assim, o projeto do Movimento Ideário parte da inquietude em fomentar o design na cidade de Uberlândia, já que se trata de um centro de profissionais da área que se formam todos os anos nas universidades supracitadas neste artigo.

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7.1. Sobre o Ideário: um Processo de Aprendizagem Alternativo

O Ideário surge como uma proposta de negócio que funciona a partir da curadoria de eventos como conferências, oficinas e exposições, voltadas para o mercado de design e áreas afins. De modo a ampliar o conhecimento dos profissionais da região, este movimento possui o propósito, em primeiro momento, de suprir a carência de cursos e atividades relacionadas à complementação do ensino acadêmico na área criativa em nossa região de atuação. O intuito é buscar, através da análise das necessidades latentes no mercado, explorar quais assuntos geram mais interesse e identificação junto ao público consumidor, unindo estudantes, profissionais e especialistas. E assim, a partir das temáticas selecionadas, compartilhar o saber para o mercado, de maneira a enriquecer não somente os designers em geral, mas toda a cadeia produtiva do setor, oferecendo para a cidade serviços mais qualificados e disseminando a cultura do design a nível regional.

Figura 4. Logotipo criado para o projeto.

O modelo de negócio nesse aspecto funciona como uma rede educacional (que não tem sede física), mas com potencial de operar inicialmente por meio das mídias sociais e plataformas digitais, estabelecendo um vínculo direto com seu público interessado. O objetivo é que, por meio do ambiente virtual, possa-se criar um relacionamento mais próximo entre clientes da indústria criativa e outros facilitadores (sejam eles professores acadêmicos, profissionais reconhecidos no mercado ou pessoas experientes em alguma especialidade). Além do planejamento, organização e execução de cada novo evento realizado, cabe ao Ideário cumprir também o papel de intermediador entre os parceiros, bem como a divulgação de conteúdos pertinentes a conscientização da importância dos serviços de design.

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Figura 5. Fotos do Workshop de Caligrafia em Brushpen.

Sobre a programação promovida pelo Ideário, as atividades podem ser efetivadas em locais diversos da cidade de Uberlândia, cabendo perfeitamente em espaços colaborativos, empresas de coworking, casas de eventos e em locais cedidos pelos próprios parceiros envolvidos.

No ano de 2017, tivemos a oportunidade de colocar em prática um primeiro encontro experimental para este Movimento Ideário, trazendo um profissional da cidade de Belo Horizonte. O plano é que sejam realizados eventos periodicamente (porém, sem uma frequência predeterminada), com profissionais da cidade e de outros lugares do país, focando cada ação em suprir as necessidades levantadas a partir dos encontros e assim poder articular outras novidades para o mercado local. Além da viabilização deste processo de aprendizagem, visamos, com este movimento, a construção de uma rede de contatos, possibilitando que profissionais de áreas afins ou com os mesmos anseios possam se conhecer, compartilhar experiências, gerar parcerias de negócio e novos projetos.

Esperamos que através desta iniciativa possamos suprir a carência de conhecimento no mercado criativo da região, bem como minimizar os obstáculos encontrados na realidade local, que enfrenta desde falhas nos processos organizacionais das empresas e clientes até o baixo investimento na cultura visual para desenvolvimento de projetos, produtos e serviços orientados para o design.

Com base nisto, concluímos esta investigação sobre conhecimentos em torno do campo do design com um manifesto que culmina no ponto de partida para este modelo proposto.

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7.2. O Manifesto: sobre o Design e seu Ponto Crítico

Começar algo novo é sempre uma incerteza. Entre o dar certo ou errado, há várias possibilidades estatisticamente não calculadas que quase nos paralisam de cara. E que se não insistido um pouquinho mais, nos impedem de continuar seguindo e indo parar naquele destino já conhecido: uma ideia que vai para o fundo da gaveta por tempo indeterminado. Porém, o fato de termos em nossas mãos algo que justamente facilite que mais ideias sejam colocadas em prática, já é um ótimo sinal para tal projeto existir por si só. De um modo não muito simples, permitir que mais iniciativas surjam com propósito por aí. Quem sabe fazer o uso de cada conhecimento disponível, que uma vez compartilhado, trabalha-se para a disseminação de experiências adquiridas, do acesso aos saberes e das teorias que fogem das fontes tradicionais de informação.

Em um mundo hiperconectado que já ultrapassa todos os limites da globalização, seria injusto que a cultura se restrinja ainda na mão de poucos, como se fosse uma moeda de troca. Ou como se fosse puro privilégio de um grupo de dominação.

E é assim que surge nosso mais recente manifesto. Não por um mundo ideal em resolver todas as causas ou problemas sociais, mas por tornar possível aquilo que também está ao nosso redor, com micro alcance para ações que podem funcionar em nível macroambiental. E claro, a partir da abordagem do design e tudo que engloba o seu universo, propiciar oportunidades de aprendizado e cultura de como o design vem sendo aplicado em todo o mundo, porém, devidamente interpretado para a realidade local. De modo que, assim como um novo idioma ou uma linguagem de programação, também possa ser algo popularizado, mais falado e entendido por todos em tal região. Seja para trazer o contato mais próximo de tudo que ocorre nos grandes centros, ou simplesmente para traduzir o que seria a vivência de um cidadão global.

Sem dúvida, acreditamos que este é um movimento que não tem volta. Portanto, queremos contribuir para que cada potencial indivíduo - entusiasta ou interessado - tenha acesso a produções diversas no campo do design e suas multidisciplinaridades, sem precisar programar uma longa viagem e demandando rios de dinheiro ou recursos cada vez mais finitos.

Pelo contrário, em vez disso, que possamos ser a rede colaborativa que funciona como uma verdadeira imersão em eventos, exposições, feiras e oficinas sobre assuntos que permeiam o espírito do tempo atual. E só assim, gerando uma mudança de mentalidade, comportamento e de consumo de design, a partir de encontros abertos, inclusivos e circulares.

Assim nasce o Movimento Ideário. Que tal?

Referência

ONO, Maristela Misuko. Design, cultura e identidade, no contexto da globalização. Revista Design em Foco, Porto Alegre. I, n. 1, p. 53-66, jul-dez, 2004.

Livros, e material não publicados

BROWN, Tim. Design thinking: uma metodologia poderosa para detectar o fim das velhas ideias. Tradução Cristina Yamagami. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2008.

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ESCOREL, Ana Luisa. O efeito multidisciplinar do design. São Paulo: Senac, 2000.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad,1999.

WOLLNER A. Alexandre Wollner: e a formação do design moderno no Brasil. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2005.

Textos publicados na internet

BESSA, Rafael. Pesquisa “148 designers respondem”. Disponível em: https://readymag.com/designcritico/148designers/. Acesso em: 12 fev. 2018.

http://www.bonde.nyc/. Acesso em: 19 jan. 2018.

http://www.esamcuberlandia.com.br/. Acesso em: 15 jan. 2018.

https://www.perestroika.com.br/. Acesso em: 19 jan. 2018.

http://vestibular.una.br/. Acesso em: 15 jan. 2018.

https://descola.org/. Acesso em: 19 jan. 2018.

https://uniessa.com.br/. Acesso em: 15 jan. 2018.

www.ufu.br. Acesso em: 15 jan. 2018.

WOLLNER A. Alexandre Wollner: e a formação do design moderno no Brasil. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2005.

História da Imprensa no Brasil (1999).

Em nossa profissão enquanto designer, muitas vezes é comum presenciarmos demandas que cumprem apenas necessidades básicas de consumo, sem nenhuma relação da pessoa com o objeto pela sua estética ou funcionalidade.

Contribuindo para envolver cada vez mais pessoas ao longo do processo de desenvolvimento de produtos, processos e serviços. E não tratando o público como coadjuvante ou com a finalidade meramente comercial.

Para o autor Tim Brown (diretor executivo da IDEO) é nítido que a evolução de fazer e pensar design, reflete o crescente reconhecimento por parte dos líderes de negócios de que o design se tornou importante demais para ser deixado exclusivamente aos designers.

Os resultados são originados da pesquisa "148 designers respondem", realizada e organizada pelo designer Rafael Bessa, sobre como os designers brasileiros pensam sua própria atividade.

A última edição realizada em São Paulo trouxe como tema as mudanças climáticas e contou com palestrantes de vários cantos do mundo.

Situada no interior do Estado de Minas Gerais (na região do Triângulo Mineiro), a cidade é conhecida como capital da logística. Com uma economia que gira em torno do setor de serviços e distribuição, Uberlândia é reconhecida pela alta atratividade de negócios, dado a localização geográfica fora do eixo que lhe permite interligar os grandes centros e capitais ao seu entorno.

Em suma, o termo "ideário" significa uma reunião dos desejos e aspirações mais importantes que compõem o pensamento político, social ou filosófico de uma organização.

O designer e ilustrador Felipe Ambrósio ministrou um workshop de Caligrafia Brushpen em junho de 2017. A atividade teve dois dias de duração e contou com a participação de 25 inscritos, preenchendo o número total de vagas oferecidas.