Coworking no segmento de moda: experiência numa região atacadista

Resumo O surgimento de coworkings especializados em moda incentiva um modelo de trabalho que promove o encontro entre profissionais da área favorecendo o compartilhamento de ideias, experiências e habilidades para progredir em sua atuação no mercado. Visando explorar possíveis estratégias para expandir o público de um espaço compartilhado de moda instalado numa região atacadista com circulação média de 600 mil pessoas por mês, este estudo tem como objetivos específicos: expor a visão inicial dos principais envolvidos na concepção do projeto, por meio de informações obtidas em entrevista e depoimento; descrição do cenário atual, analisando o ambiente interno e externo da empresa pelo método SWOT, e, ao final, mostrar intervenções sugeridas para atração de clientes. No resultado desta pesquisa identificaram-se os reais traços do perfil de frequentadores do espaço, que compõem uma nova identidade, distinta das pressupostas no planejamento do negócio.

Palavras-chave coworking, atacadista, moda, compartilhamento.

Autoria

  • Aline Fernandes

    Graduada em Design de Moda pela FAV/UFG (2015) e pós graduada em Processos e Produtos Criativos pela FAV/UFG (2018). Leciona cursos de modelagem e costura. Atuou em pesquisas de inovação para micro e pequenas empresas (Sebrae/Cnpq); desenvolvimento de peças piloto; monitoria e participou de projetos de extensão.

  • Guilherme Rezende

    Graduado em Design de Moda FAV/UFG (2015) e pós graduado em Processos e Produtos Criativos pela FAV/UFG (2018). Atua como auxiliar administrativo no Clube de Costura - Coworking de Moda desde 2017.

  • Paula Garcia

    Graduada em Design de Moda pela FAV/UFG (2015). Pós Graduada no MBA- Gestão em Processos Produtivos do Vestuário, ministrado pelo SENAI|GO (2018) e Processos e Produtos Criativos-UAB ministrado pela FAV/UFG (2018). Desde 2017 trabalha como gestora no Clube de Costura - Coworking de Moda. Atuou em projetos de extensão e desenvolvimento de coleção.

Orientador

  • Ricardo Limongi

    Graduado em Administração pela PUC-GO, Pós Graduado em Gestão Financeira e Controladoria pela FGV-RJ e Gestão Financeira pela PUC-GO, Mestre em Administração pela Unisinos, e Doutor em Administração na linha de Estratégias de Marketing pela EAESP/FGV, com período sanduíche na Cornell University sob supervisão de Vithala Rao. Suas pesquisas já foram indicadas e/ou premiadas pela base de dados internacional Emerald (2015/2017) e em eventos científicos como SEMEAD (2013) e EMA (2014/2018). Teve 2 projetos aprovados em Editais Científicos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) e 1 pelo CNPQ. Atualmente é Editor Associado da Revista Contabilidade, Gestão e Governança (CGG). Pesquisador e Vice-Coordenador do Programa de Pós Graduação em Administração da UFG onde trabalha com temas ligados a Economia Comportamental e Desempenhos Aplicados ao Marketing; Modelagem Econométrica e Experimentos em Marketing. Foi o idealizador em 2012, e atua como coordenador, do ADMKT - Grupo de Pesquisa e Extensão em Marketing e Comportamento do Consumidor (https://www.face.ufg.br/admkt/), certificado pelo CNPq.

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1. Introdução

O coworking, conceito de espaço compartilhado, se difundiu pelo Brasil como uma resposta a alta dos preços das salas comerciais praticados pelo mercado imobiliário (OLIVEIRA, 2015). Oferecendo a estrutura de trabalho - como móveis, internet e telefone - para locação a preços competitivos, não demorou para que o serviço entrasse no radar de profissionais autônomos, pequenos e médios negócios em busca de um local para trabalhar. O crescimento no número de estabelecimentos desse tipo no país foi de 52% entre os anos de 2015 e 2016, e de aproximadamente 114% entre os anos de 2016 e 2017 (Censo Coworking Brasil, 2017). Tendo como objetivo central promover a cultura de colaboração e compartilhamento, os coworkings são organizados para estimular as relações interprofissionais isto é favorecido, por exemplo, pelos ambientes abertos, sem paredes ou obstáculos visuais, ou pela realização de workshops entre os coworkers com a finalidade de apresentarem seus trabalhos, habilidades e ampliarem suas redes de contatos (MEDINA e KRAWULSKI, 2015, p. 186). De fato, o desenvolvimento de networking, o intercâmbio de experiências, e o senso de comunidade, são algumas das principais vantagens apontadas pelos usuários destes espaços, razões que incentivam os home officers a se tornarem também clientes dos coworkings.

Uma das dificuldades observadas a princípio em meio a essa evolução dos espaços compartilhados foi a de reunir em maior quantidade, profissionais de áreas distintas em um mesmo ambiente, uma vez que cada profissão requer comportamentos específicos e um pode impedir que o outro aconteça, como no caso de um profissional precisar trabalhar em silêncio simultaneamente a outro que precisa falar constantemente ao telefone. Como consequência desse desafio, os coworkings especializados começam a se tornar tendência. Jorge Pacheco (2016) observa esse ramo de negócio há seis anos e defende que os espaços colaborativos temáticos se tornam ainda mais fortes pela possibilidade de concentrar pessoas e recursos focados em um mesmo assunto. Os brasileiros então, começaram a seguir o caminho de alguns casos no exterior, como o Fashion&Tech Lab, em Paris, focado em moda e o The Game Nest, de São Francisco, focado em jogos.

Nesse contexto, também com inspiração em coworkings europeus, é inaugurado em 2017, em Goiânia, o Clube de Costura, um espaço colaborativo de moda e vestuário. Sobre esses espaços em Goiás, os dados do Censo Coworking Brasil (2017) mostram que, antes da inauguração do Clube, havia o conhecimento de 15 (quinze) empresas do tipo, localizadas na capital, predominantemente em regiões comerciais ou mistas, sendo 33,33% relacionadas às profissões de áreas criativas e o restante às áreas multidisciplinares. Ainda que os dados indiquem o crescimento exponencial dos espaços de coworkings no país e no mundo, no caso do Clube de Costura, identificou-se, mediante a avaliação de seus resultados, que o espaço não alcançou da maneira esperada alguns perfis de público-alvo, apesar de se situar em um centro comercial atacadista, com circulação mensal média de 600 mil pessoas de todas as regiões do país, segundo dados levantados pela equipe de marketing do local. Sendo assim, o presente estudo foi elaborado a fim de compreender o que pode ser feito para que o Clube de Costura alcance em maior quantidade o público idealizado em sua concepção.

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2. Concepção do Clube de Costura

A ideia de trazer um Fashion Coworking para Goiás surgiu a partir de visitas a negócios de caráter colaborativo na Europa, feitas pelo empresário Carlos Luciano Ribeiro. Em entrevista concedida a Ana Helena (2017), ele reconhece o Estado como um importante produtor e distribuidor de vestuário localizado numa posição geográfica estratégica, no centro do país, e conta que nesse contexto identificou em conjunto com o grupo de empresas do qual faz parte, a oportunidade de criar um empreendimento para atender as demandas do comércio de vestuário no atacado. Assim surgiu o Mega Moda, um complexo constituído por shopping com estacionamento e hotel.

No ano de 2015, quatro anos após a inauguração da primeira fase do Mega Moda, Carlos Luciano foi à Barcelona onde conheceu os coworkings Costuretas Social Clube, o Lantoki e o Rosas - Craft. Nesses espaços eram oferecidos cursos, informação de moda e estrutura para a produção de peças piloto. Teve conhecimento também sobre a existência desse tipo de empreendimento em Londres, Madri, Frankfurt e Montevidéu, mas pouco sabia sobre esse modelo no Brasil. Portanto, avaliou que trazer essa inovação, como um projeto agregado ao Mega Moda, seria uma forma de destacar a cidade e o shopping como referências de moda. Além disso, o Clube do Costura contribuiria como uma ferramenta para fazer com que os mil e trezentos lojistas do Shopping Mega Moda buscassem mais inovação, produzindo menos roupas e mais moda, agregando valor ao produto por meio de informações de qualidade sobre novidades e tendências. Sua visão resume-se no seguinte trecho da entrevista:

Hoje nós temos uma base produtora muito forte, são mais de dez mil confecções em Goiás. Uma vocação para distribuir muito sólida, por estarmos no centro do país. A ideia é interligar os pontos, se todos trabalharmos nessa direção, em pouco tempo Goiás pode ser o estado da moda brasileira, Goiânia pode ser a Capital da Moda. Mega Moda: as linhas de um sonho. (BORGES, 2017, p. 22).

Após a visita, Carlos Luciano esclareceu que o objetivo era atender a três públicos: o primeiro formado por pessoas que quisessem aprender a costurar, do básico até o aperfeiçoamento da técnica; o segundo de estudantes de moda que poderiam desenvolver produtos, praticando conhecimentos adquiridos na faculdade e estariam em um ambiente de possibilidade de surgimento de negócios, se conectando com outros profissionais desse mercado. O terceiro público seriam os lojistas que poderiam lançar coleções, fazer cursos e workshops.

Desde então, com a consultoria especializada em moda do Sebrae - o Mega Moda iniciou pesquisas para se adequar ao mercado goiano. Para se transformar em um negócio viável foi incrementado um projeto incluindo um espaço com um café, sala multiuso e outros apetrechos, mas a inspiração inicial permaneceu. Era esperado que os clientes se tornassem associados ao Clube por meio de planos mensais para a utilização dos espaços, ou optando pela utilização por hora. As ofertas de cursos e oficinas a princípio foram agregadas ao projeto como estratégia para atrair visitantes, potenciais clientes e conquistar associados. Dentre as pesquisas realizadas durante a concepção do Clube de Costura, os profissionais envolvidos fizeram também um plano de marketing. Os dados adicionais obtidos por meio desse arquivo - que faz parte do acervo da empresa - mostram que os idealizadores visualizavam como seus clientes homens e mulheres a partir de 17 anos, residentes em Goiânia. Nesse planejamento foram feitas a projeção de três personas, segundo as transcrições abaixo:

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1ª Persona: Iara tem vinte anos e está no quarto período de Design de Moda. É solteira, classe B e é uma jovem apaixonada por tudo que envolve o universo da moda, desde sua criação até sua distribuição e precificação. Dedica a maior parte do seu tempo estudando em livros na biblioteca da faculdade, buscando referências em blogs e fazendo croquis de suas ideias em casa. Sonha com sua especialização em Milão e com o dia em que seu nome estará assinando grandes coleções internacionais.

2ª Persona: Dona Isaura tem quarenta e dois anos, é casada, tem dois filhos e vive de suas costuras. Fez um curso de corte e costura há anos e depois disso foi aprendendo por si mesma o que não lhe ensinaram. Suas criações e carteira de clientes lhe permitem sobreviver, mas sabe que teria capacidade de ir muito mais longe se tivesse acesso à boa matéria-prima e à oportunidade de fazer novos cursos.

3ª Persona: Mário tem trinta e oito anos, é casado, trabalha com moda atacadista e é lojista do Mega Moda Shopping. Às vezes alguns produtos de sua loja precisam de ajustes, mas ele não tem tempo de voltar até a confecção para fazê-los. Se o shopping oferecesse um espaço onde pudesse resolver estes imprevistos com facilidade, ele teria uma grande economia de tempo e evitaria perder vendas. Plano de Marketing Clube de Costura (TEIXEIRA, 2016).

Em depoimento de Adriane Teixeira, gerente do departamento de marketing do Mega Moda Shopping e uma das responsáveis pela implantação do Clube de Costura, foi destacado as personas idealizadas e a mais colocada como foco do empreendimento é a figura do lojista e confeccionista do Mega Moda Shopping, representado no plano de marketing pela 3ª Persona. Segundo Adriane, a intenção era orientar melhor esses profissionais na criação de moda, visando diminuir a cultura da cópia de roupas de marcas famosas e consolidadas, muito presente na produção local. A ideia é fomentar um trabalho com produtos autorais e mais bem preparados para o mercado, com modelagem adequada aos padrões de medidas estabelecidos para a indústria e não aplicada de forma aleatória, onde um produto marcado como manequim 42 na realidade veste manequim 38. Porém, esse público de lojistas e confeccionistas ainda não consegue entender completamente o conceito do Clube de Costura, pois para a realidade experimentada na região é um projeto muito vanguardista, que vai muito além do cotidiano prático e muitas vezes aprendido de maneira empírica, desprovido de teorias e conhecimento conceitual. A ideia de ter um local inspirado no “chão de fábrica de uma indústria” e ao mesmo tempo local para estabelecer contato e compartilhar conhecimento e experiências com outros profissionais que vivem a mesma realidade.

Quanto a 1ª persona - que representa o público de estudantes que estão em vias de concluir a graduação - para Adriane, atrair esse público para o Clube de Costura e, consequentemente, para a região da 44, favorece o contato dos estudantes de moda com os lojistas/confeccionistas, criando oportunidades de emprego e estágio, onde um possa se beneficiar do conhecimento do outro. O confeccionista que precisa de informações e mão de obra para otimizar sua produção, e em contrapartida os estudantes e designers de moda recém-formados iriam adentrar ao mercado de trabalho e adquirir conhecimento prático. A 2ª persona retratada por costureiras que construíram boa parte de sua experiência de maneira empírica, vivem do seu trabalho e podem adquirir no Clube de Costura conhecimento teórico para melhorar seu desempenho profissional, seria também beneficiada na troca de contatos e experiências com estudantes e lojistas/confeccionistas, ampliando sua possibilidade de atuação profissional.

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No capítulo seguinte será exibido o cenário atual da região, a concretização deste projeto, seu espaço físico e os dados que evidenciam e caracterizam o público que aderiu e consumiu alguns dos serviços disponibilizados pelo Clube de Costura.

3. Cenário Atual

De acordo com dados da Associação Empresarial da Região da 44 (AER44), a região da 44 pode ser considerada como um dos principais polos atacadistas de vestuário do Brasil (GONDIM, 2017). Dados de uma pesquisa realizada pela associação para um fórum de discussão mostram que atualmente existem, em média, 12 mil lojas nesta área que recebem a circulação de aproximadamente 50 mil pessoas a cada final de semana. A movimentação financeira estimada no local é de 570 milhões de reais por mês. Nesta região está o Mega Moda Shopping, que informa em seu site institucional a existência de 1.300 lojas em sua estrutura de 24.000 m², e a circulação média de 600 mil pessoas por mês de todas as regiões do Brasil e até de países vizinhos. Dentro dessa conjuntura expoente está o Clube de Costura, projetado para somar valor ao Mega Moda Shopping e região da 44, no que diz respeito a aquisição e troca de conhecimento e experiência, além da oferta de serviços.

3.1. Estrutura Física e de Trabalho

A estrutura física e composição do Clube de Costura consistem em sala de costura com cinco máquinas de costura industriais retas; uma máquina de costura overlock; uma máquina de costura galoneira; quatro máquinas de costura domésticas; mesa de corte; máquina de corte (bananinha); estação de pesquisa com acesso livre ao portal de pesquisa USE FASHION e biblioteca com 110 títulos de livros e revistas para pesquisa. Além do espaço de costura, o Clube conta com mais dois ambientes, o CLÔ Café Criativo e a sala multiuso, como previa o projeto. O Clô é um espaço com administração independente, onde são servidos cafés diversos e lanches, auxiliando o Clube em reuniões para receber visitantes e clientes. A Sala Multiuso é integrada ao Clô, porém é autônoma, pois conta com uma cortina de vidro e porta para saída independente. Tem capacidade para aproximadamente 35 pessoas e é um espaço dinâmico, contando com estrutura básica que comporta eventos diversos, além de área externa, as cadeiras que fazem parte de seu mobiliário são móveis, possui projetor, notebook, sistema de som integrado e microfones o que tornam esse espaço apropriado para a realização de cursos, palestras, workshops, reuniões, confraternizações, treinamentos e diversos outros eventos que necessitem de espaços dinâmicos para acontecer. As Figuras 1, 2 e 3 destacam a estrutura desse coworking concretizada.

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Figura 1. Imagem Frontal do Clube de Costura. Fonte: Acervo Clube de Costura.
Figura 2. Espaço de Costura. Clube de Costura. Fonte: Acervo Clube de Costura.
Figura 3. Clô Café e Sala Multiuso - Clube de Costura. Fonte: Acervo Clube de Costura.
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O Clube de Costura possui em seu quadro direto de funcionários três profissionais: costureira, gerente e auxiliar geral. Além destes, conta com o apoio dos funcionários que fazem a limpeza e manutenção do shopping para conservação do espaço. Para ofertar os cursos, os instrutores e profissionais capacitados são contratados temporariamente como prestadores de serviço. Dentro do cenário explanado acima são oferecidos os seguintes serviços:

  1. Cursos, oficinas e workshops: Estes serviços representam 60% da renda total arrecadada pelo Clube de Costura e em geral eles acontecem em formato de parceria com pessoas que são prestadores de serviços/parceiros do empreendimento.
  2. Ajustes e pequenos reparos: Esse serviço é o que mais atrai o público que circunda o Clube de Costura, pois as pessoas veem como uma facilidade a possibilidade de comprar as roupas e levar a um lugar próximo para fazer os ajustes necessários, os clientes são direcionados pela divulgação feita no shopping e indicação de lojistas. Todavia, nos meses de novembro, dezembro e janeiro, em consequência das compras que aumentam pelo período de festas, a procura cresceu 20% em um mês, quando comparamos novembro e dezembro de 2017, e mesmo criando estratégias de atendimento, foram dispensados uma média de 10% dos serviços de ajuste, devido à alta demanda, ocasionado pelo período de festas.
  3. Aluguel dos espaços: mesmo representando uma parcela pequena da arrecadação do Clube de Costura, em torno de 10%, esse serviço é utilizado. Em alguns momentos o aluguel das máquinas, e outros o aluguel da sala multiuso.
  4. O Clube oferece planos para pessoas que queiram utilizar o espaço como associados, mas constatou-se que não são atrativos, tendo praticamente nenhuma adesão por parte do público. Estes planos foram desenvolvidos justamente pensando no consumo do Clube de Costura como coworking, algo que não aconteceu exatamente como esperado.

A seguir, estão especificados consecutivamente os principais tipos de ajustes realizados e seus preços, indicados na Figura 4 e os cursos que fizeram parte da agenda de janeiro de 2018, também com seus respectivos valores na Figura 5:

Figura 4. Serviços de ajustes disponibilizados.
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Figura 5. Agenda de cursos Janeiro/2018.

3.2. Caracterização dos Alunos

No decorrer dos cursos e oficinas ofertados pelo Clube foi observado, através de informações levantadas por meio das fichas de inscrição dos participantes, que o perfil geral dos alunos não se encaixou nas descrições do plano inicial. O fato de 64% dos participantes dos cursos ofertados pelo Clube marcarem a opção “outros”, como escolha de ocupação, revela a discordância entre a visão inicial, de que o Clube seria povoado, em sua maioria, por profissionais de moda. A segunda opção mais popular foi “empresário”, com 20%, em seguida “estudante”, 12%, e, por último, “estilista”, com 4%. Um depoimento comum a várias alunas, sem interesse em uma carreira na moda ou no artesanato, é o de que elas sempre tiveram vontade de aprender a costurar por terem herdado uma máquina de costura, ou porque cresceram vendo a mãe ou avó costurando.

As fichas de inscrição também declaram a moradia dos alunos, e que a maioria das pessoas que procura os cursos Clube de Costura reside em bairros nobres de Goiânia. Em primeiro lugar, há um empate entre o setor Bueno e o Jardim Goiás, com 16% cada um. Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, estão o setor Oeste (9%) e os Jardins Paris (5%). Setores também notórios foram o Centro (4%) e Sul e Marista, ambos com 3%. Os outros setores sem expressão numérica somam 33%. Pode-se destacar também que 11% residem em outros municípios e passam a semana em Goiânia para realizar o curso. O que se evidencia é um perfil básico de alunos que são, em sua maioria, mulheres de classe média com idade entre 25 e 70 anos, com curso superior completo, e que não tem uma profissão relacionada à área do vestuário.

3.3. Análise SWOT

Para resumir a avaliação da empresa, refletindo além das observações feitas anteriormente com base nos dados coletados, optou-se pelo método de análise das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, denominado SWOT (dos termos em inglês Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats). Esta escolha se justifica por se tratar de uma ferramenta prática que permite a visualização do cenário atual e de perspectivas para o futuro da organização.

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Kotler e Keller (2006, p. 50) discorrem sobre a importância de monitorar e prever as mudanças no ambiente externo à empresa que podem impactar seu desempenho. Essas mudanças podem ser vantajosas (oportunidades) ou desvantajosas (ameaças). É salientada também a necessidade de avaliar periodicamente as forças e fraquezas em seu ambiente interno, ponderando sobre quais forças precisam ser potencializadas e quais fraquezas precisam ser corrigidas ou minimizadas para que as oportunidades se tornem viáveis. Foi elaborada uma análise SWOT, observando os pontos que podem ser considerados positivos e fortes e as fraquezas encontradas no Clube de Costura. Em meio a essa análise observou-se que pontos que eram considerados vantajosos, representavam apenas características, não necessariamente forças, diante disso temos o seguinte resultado na Tabela 1.

Tabela 1. Matriz SWOT do Clube de Costura.
CLUBE DE COSTURA- FORÇAS
  • Ambiente climatizado, instalações novas e com máquina de última geração;
  • Inovação constante em cursos, oficinas e eventos;
  • Adequação da agenda aos temas das festividades e eventos mensais;
  • Múltiplos canais de atendimento e de realização de inscrições;
  • Os clientes são atraídos pelos cursos de curta duração, sendo esta a programação que tem melhor adesão, oferecendo a possibilidade de aprender o básico em modelagem, corte e costura em quatro dias;
  • Postagens diárias nas redes sociais que resultam em clientes que afirmam ter conhecido a empresa e os cursos a partir desse tipo de divulgação;
  • Os recursos físicos da empresa têm a dinamicidade de atender a diversas atividades, sendo elas educacionais, por meio dos cursos ou da locação do espaço;
  • Criação de cursos para atender ao público infantil;
  • Associação do Clube de Costura ao Shopping Mega Moda e divulgação em locais específicos (elevador, guichê de pagamento do estacionamento, entre os lojistas, etc).
CLUBE DE COSTURA- FRAQUEZAS
  • Baixa retenção de clientes: os dados obtidos nas fichas de inscrição apontam que numa turma de seis alunos, em média, um retorna para realizar outro curso ou oficina;
  • Em dez meses o clube vendeu apenas dois planos para associados;
  • Poucas estratégias específicas para cada segmento de clientes;
  • Praça: não tem acesso direto para a rua, dificultando assim a localização dentro do Shopping;
  • Pouco uso do banco de informações sobre os clientes e da pesquisa de satisfação e sugestões;
CLUBE DE COSTURA - OPORTUNIDADES
  • Possibilidade de novos métodos de parcerias estratégicas, com empresas e instituições a fim de ampliar a utilização do espaço;
  • Coworking como tendência para um novo padrão de trabalho;
  • Comercializar produtos complementares, como tecidos, linhas e aviamentos para que as pessoas que estão utilizando o local tenham o conforto de poderem fazer suas compras de costura onde estão trabalhando;
  • Possibilidade de expandir a oferta de serviços;
  • Aumento do interesse por cursos no período de férias, devido a maior disponibilidade de tempo das pessoas;
  • Visão da moda como um hobbie ou forma de obter renda extra;
  • Possibilidade agregar uma parcela do mercado de 30 milhões de home officers.
CLUBE DE COSTURA - AMEAÇAS
  • Apropriação do mesmo conceito de negócio pela concorrência;
  • Trânsito na região de comércio da 44 é caótico, o que dificulta o acesso em alguns dias da semana, como apontado em vídeo do Portal G1 (2017);
  • Dispersão do público para outra região de comércio atacadista;
  • Aumento da insegurança causada por violência na região.
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4. Proposição de Solução e/ou Tomada de Decisão

Com o amadurecimento da compreensão das necessidades e desejos do público algumas correções nos serviços ofertados já foram feitas, como, por exemplo, houve um aumento na frequência da oferta dos cursos de Modelagem, Corte e Costura, que aconteciam em duas semanas por mês, em média, e atualmente são disponibilizados em três ou quatro semanas do mês, por serem cursos não sazonais, com maior demanda, foram mantidos como prioridade. Além disso, houve adequação dos conteúdos de interesse, criação de uma agenda para planejar e monitorar os serviços de ajustes, entre outros.

Conforme a análise SWOT destaca, a divulgação diária feita por meio das redes sociais é um ponto forte que leva a empresa a ser conhecida por novos clientes. Somando esse fato aos relatos obtidos por funcionários no Clube de Costura, percebe-se que a indicação dos serviços feita por parte dos lojistas do Mega Moda e a indicação feita por ex-frequentadores do espaço colaborativo são também formas responsáveis pela obtenção de novos clientes. Entretanto, o Clube de Costura não possui registro e dados quantitativos precisos sobre a origem de seus clientes. Considerando que para o crescimento do empreendimento e para fornecer melhores serviços é essencial estudar e conhecer cada vez mais seu cliente e propõe-se que seja adicionada à ficha de cadastro a indagação sobre como conheceu o Clube de Costura e também informações adicionais como data de nascimento, que permite identificar a faixa etária, ou criar estratégias promocionais de aniversário.

A análise realizada indica também que a taxa de retenção de clientes é considerada baixa com apenas um retorno a cada seis alunos, isto é, de aproximadamente 16,66%, porém uma meta desejável inicialmente seria dobrar essa taxa obtendo 33,33% de retorno, ou seja, que dois a cada seis alunos retornassem em busca de outro curso/oficina. Nesse caso, uma solução possível seria criar uma estratégia sistemática de comunicação ao final de cada curso, oficina ou eventos de maior porte, convidando as pessoas a retornarem ao espaço, destacando as novidades da agenda, os planos de tarifa flexível, os planos para associados e quando possível oferecendo condições especiais caso retornem.

Outro ponto de melhoria a ser destacado é a falta de adesão do público como um espaço de coworking. Por se tratar de um Clube, a captação de associados é importante, se tratando de uma atividade-chave e melhorar os planos é imprescindível para isso, tornando-os mais excitantes e acessíveis para alcançarmos uma quantidade maior de pessoas. A seguir estão, respectivamente, nas Figuras 6 e 7, o plano vigente e o com alterações propostas pela gestão atual.

Figura 6. Planos para associados oferecidos atualmente.
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Figura 7. Planos para associados proposto pela gestão atual.

Por fim, como estratégia para conhecer melhor o lojista, alvo principal do Shopping Mega Moda, sugere-se que seja feita uma pesquisa associada à divulgação do Clube de Costura especificamente para este público, questionando-o se já conhece o espaço, ressaltando que o mesmo tem a finalidade de atendê-lo, e indagando sobre que tipo de conhecimento de moda ele gostaria de ter mais acesso. Assim, poderia ser criada uma programação-teste que incluísse os assuntos mais pedidos.

5. Considerações Finais

O Clube de Costura, fundado em 2017, é um fashion coworking que foi idealizado pelo empreendedor Carlos Luciano Ribeiro como mais um passo no desenvolvimento de Goiânia como uma potência na distribuição de moda. A proposta inicial do espaço era de atender diversos profissionais de moda e se tornar em um local atraente para o desenvolvimento do trabalho destes.

A designer de moda Diane Von Fustenberg, ao aconselhar jovens criadores, disse que no início de sua carreira ela não tinha ideia de que sua marca registrada seria o vestido envelope. Ela declara que a identidade de uma marca ou negócio nem sempre está definida na sua fundação. O Clube de Costura pode ser um exemplo real para essa fala, já que a identidade do espaço se modificou desde sua fundação. Entre as modificações encontradas, um dos aspectos identificados, através das fichas de inscrição dos cursos ofertados, diz respeito ao surgimento de um novo perfil como público do clube, constituído de mulheres, que residem em bairros afastados da região da 44, que tiveram mãe ou avó costureiras e têm uma relação emocional com a costura. Por algum tempo elas quiseram aprender a costurar e estavam sempre ocupadas, mas encontraram no Clube de Costura a oportunidade de aprender esse hobbie em um curso rápido.

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Byrd (2018) afirma que é preciso entender que quando um cliente obtém um produto ou serviço, ele também adquire satisfação. A autora utiliza a pasta dental como exemplo para explicar que enquanto uns buscam o clareamento dos dentes, outros querem limpeza preventiva e há aqueles que aceitam qualquer produto dependendo do preço baixo. Entender o consumidor significa estar atento ao timing da compra, do que o cliente gosta ou desgosta, ou o que chama sua atenção. Por meio do exemplo utilizado por Byrd (2018) conseguimos visualizar que os serviços oferecidos pelo Clube de Costura ainda estão sendo desenhados. A organização das informações e estudo dos dados permitiu uma ampla compreensão acerca do negócio e de sua situação real. Dentro da trajetória traçada pelo Fashion Coworking, conseguimos identificar que mesmo como uma tendência que já tenha sido aceita e entendida em algumas localidades, é necessária muita pesquisa e planejamento para ser estabelecida em um novo contexto, para que o consumidor se interesse e acolha o que está sendo ofertado.

Referências

BORGES, Ana Helena. Mega Moda: as linhas de um sonho. O Country, Aparecida de Goiânia, n. 138, p. 22-27, jul. 2017.

BYRD, Mary Jane. Small Business Management: an entrepreneur’s guidebook. 8. ed. Nova Iorque: McGraw-Hill Education, 2018.

CENSO COWORKING BRASIL, 2017. 3. ed. Disponível em: https://coworkingbrasil.org/censo/2017/ Acesso em: 05 fev. 2018.

GONDIM, Daniel. Rua 44 quer se tornar o maior polo de moda do país, 2017. Disponível em:http://www.empreenderemgoias.com.br/2017/05/02/rua-44-quer-se-tornar-o-maior-polo-de-moda-do-pais/. Acesso em: 27 jan. 2018.

KOTLER, Philip. KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

MEDINA, Paloma Fraga; KRAWULSKI, Edite. Coworking como modalidade e espaço de trabalho: uma análise bibliométrica. Cad. psicol. soc. trab., São Paulo, v.18, n. 2, p. 181-190, 2015. Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cpst/v18n2/a06v18n2.pdf. Acesso em: 24 jan. 2018.

MEGA MODA. [Site Institucional]. Disponível em: http://www.megamoda.com.br/shopping/. Acesso em: 13 fev. 2018.

Vídeo na região da 44 deixa trânsito caótico em Goiânia, Portal G1 Globo, dez. 2017. 5:23 min. Disponível em: http://g1.globo.com/goias/videos/v/movimento-na-regiao-da-44-deixa-transito-caotico-em-goiania/6346199/. Acesso em: 05 fev. 2018.

OLIVEIRA, Bruno. Descubra quando o coworking pode ser bom para sua empresa, 2015. Disponível em: http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,descubra-quando-o-coworking-pode-ser-bom-para-sua-empresa,1637158. Acesso em: 12 fev. 2018.

PACHECO, Jorge. Cinco tendências para o setor de coworkings, 2016. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/cinco-tendencias-para-o-setor-de-coworkings/. Acesso em: 05 fev. 2018.

TEIXEIRA, Adriane. Plano de Marketing Clube de Costura. Acervo da Empresa, Goiânia, 2016.