FERPA - Feira de Publicações Autônomas: Gestão Cultural, Identidade de Marca e Comunicação para evento de publicações

Resumo Este trabalho teve por objetivo central desenvolver, fundamentando-se em metodologias para organização de eventos, projeto gráfico e construção de marca, um projeto de Gestão Cultural aliado ao design, na forma de um evento periódico voltado para a valorização, comercialização e continuidade de publicações e publicadores independentes, contemplando desde o posicionamento e a identidade de marca até o planejamento da feira e suas ações, comunicação, gestão e implementação, abrindo assim o caminho para ser executado. O resultado final foi um documento extenso, com análises estratégicas de eventos similares, metodologias e execuções, a partir do qual é possível estruturar a feira de publicações autônomas em questão, com identidade de marca sólida e viável, ou ainda basear-se nele como caminho para desenvolver novas propostas.

Palavras-chave Publicações Independentes; Feira de Publicações Autônomas; Gestão Cultural; Economia Criativa; Identidade de Marca.

Autoria

  • Alanna Oliva

    Graduada em Artes Visuais (UFG), Especialista em Arteterapia (UFG), Docência Universitária (Universo), Design Estratégico: Fashion Design (IED) e em Produtos e Processos Criativos (UFG). É professora no curso de Design de Moda na Universidade Salgado de Oliveira, e professora de artes no Centro Livre de Artes, Goiânia.

  • Aldama Rodrigues

    Especialista em Processos e Produtos criativos/UFG.

  • Igor Oliveira Augstroze Aguiar

    Graduado em Design Gráfico pela Universidade Federal de Goiás ? UFG (2014). Pós-graduado em Design Editorial pelo Instituto de Educação Superior de Brasília - IESB (2016), certificado pelo Istituto Europeo di Design - IED. Profissional autônomo desde 2012. Pós-graduando em Processos e Produtos Criativos, também pela UFG. Principais áreas de atuação: Identidade Visual, Design Editorial e desenvolvimento de materiais com foco em Produção Gráfica.

Orientadora

  • Ana Carolina de Santana Custódio

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual (UFG) na linha de Culturas da Imagem e Processos de Mediação. Possui graduação em Design de Moda pela Universidade Federal de Goiás (2010) e mestrado em Arte e Cultura Visual pela Faculdade de Artes Visuais/UFG (2015). Atualmente é professora (graduação- Design de Moda e Design Gráfico) e coordenadora (graduação- Design Gráfico e pós-graduação- Cultura de Moda e Mercado) na Faculdade Estácio de Sá Goiás; professora da Universidade Paulista - Unidade Goiânia (graduação-Design de Moda) e professora na Universidade Estadual de Goiás (graduação-Design de Moda).Tem publicações na área de Design em eventos nacionais e internacionais. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Design, atuando principalmente nos seguintes temas: processos criativos, pesquisa, design e produção.

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1. Introdução

Um início de libertação do vínculo de dependência ao sistema para realização de mudanças significantes envolve a formatação de um universo que promove a união de grupos, o compartilhamento e absorção de conhecimentos, a valorização e o diálogo direto, trazendo poder e autonomia em uma gestão independente - em pontos mais trabalhosa, mas também mais livre e real, autoral, sincera, junto a um sentimento de pertencimento que move melhor para um objetivo em comum.

Parte da própria motivação de se publicar independentemente já abre caminho para a criação de uma rede alternativa e própria de validação, fora dos meios de mídia comuns (ou mesmo dos de recursos), independente como o que se é difundido.

Lupton (2011, p. 11) define que "publicar envolve tanto produzir quanto distribuir um trabalho. Primeiro você tem que apresentar o conteúdo de uma forma física que as pessoas possam entender, e então precisa possibilitar que as pessoas o encontrem". Portanto, a criação de ambientes propícios para a perpetuação dessas ideias (e ideais) é parte importante tanto quanto o próprio desenvolvimento de produtos valiosos a serem postos à mostra: se há escassez de meios por onde possam veicular, a apreciação, o acesso e a valorização do produto-serviço prestado são por muito prejudicadas.

Um dos principais problemas enfrentados por produtores independentes é o escoamento de sua produção e sua sustentabilidade a longo prazo. Esse projeto tenta ser uma resposta a esse problema e se faz necessário para tornar conhecido ao público o trabalho de designers, artistas e autores, em não só uma socialização de produções e conhecimentos, mas, também, uma afirmação da não tão utópica independência, possibilitando-a ainda mais, socializando produções e conhecimentos em afirmação, valorização e circulação da produção independente e das pessoas envolvidas nessa cadeia produtiva, em Goiânia.

Almeja-se o estreitamento das relações entre autores, produtores e público, para fortalecer assim o cenário independente e para aumentar o próprio nível de valorização e percepção das áreas abordadas, alavancando atenção (e vontade de participação) até mesmo de pessoas que não estejam tão imersas no meio.

Destaca-se o recorte geográfico específico para a cidade de produção do trabalho (Goiânia – GO), importante para ter-se como parâmetro a realidade dos eventos acontecidos na cidade e as necessidades a ela aplicadas, sabendo-se que outros recortes geográficos podem exigir outras necessidades e soluções, mas que, mesmo assim, tem-se um panorama de carência ou mesmo possibilidade de grande proveito em relação a esse tipo de evento, seja em qual cidade for. Outro ponto notável é a possibilidade de alcance ao público de Brasília, já que muitos dos eventos e integrantes da cena que lá se consolida têm expandido suas atividades para Goiânia, dada a proximidade, viabilidade e certas afinidades com o que (e com quem) acontece aqui.

Esse intercâmbio cultural faz crescer não somente seus atuantes (profissionais exercendo um ofício e se mantendo com isso, criando redes de contato e otimizando a produção e o alcance), mas, também, a realidade cultural, de lazer e até mesmo o turismo, em como as cidades são percebidas por quem vive nela e por quem pode visitá-la ou frequentá-la, tendo a cultura como eixo central no desenvolvimento de uma sociedade e como impactadora econômica.

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Um projeto de intervenção no setor cultural não pode acontecer ignorando a realidade cultural local e o contexto no qual ela acontece. Por isso, buscando o levantamento de problemas e soluções já existentes para precaver-se de cair em erros já cometidos e para evitar propor um projeto desconexo da realidade sociocultural presente, identificando o que manter e onde agir, foi feita a Matriz de Análise Estratégica (ou análise SWOT) de eventos voltados para a publicação independente relevantes para o recorte de objeto deste projeto.

Os eventos analisados foram: a Dente Feira de Publicações (2ª e 3ª edições, Brasília); a LAGE (1ª e 2ª edições, Goiânia); e a e-cêntrica (feiras mensais e brevemente a versão expandida da feira, Goiânia). Para esse resumo, os pontos relevantes das análises foram incorporados no desdobrar do texto.

Mais do que a falta de eventos desse padrão, são percebidos certos problemas recorrentes que fazem com que esse tipo de acontecimento, a nível local, não consiga atingir algumas expectativas dos participantes, do público ou dos próprios organizadores que, muitas vezes, projetam execuções que se distanciam do viável ou do fundamental, considerando um certo enfoque de público e local, que possibilita que esses eventos aconteçam e re-aconteçam, em um ciclo de participações e de renovação. Essa continuidade, em maior nível, fomenta a circulação econômico-criativa da cidade de uma forma constante: são pensados e produzidos mais conteúdos na forma de publicações independentes, objetivando lançamento ou reimpressão (disponibilização de uma forma geral) nas datas em que acontecem as feiras.

Se esse processo de disponibilização já é um tanto quanto trabalhoso para grandes editoras, que dirá para aqueles que publicam independentemente. Além de todo o trabalho de organização e produção do conteúdo, ilustração, fotografia e composição do projeto gráfico editorial, em grande parte feitos pelo próprio autor, ainda existem etapas de produção (impressão, corte, encadernação, acabamentos especiais), comercialização (empreendedorismo) e distribuição, transporte, disponibilidade, armazenamento (que depende diretamente do escoamento da produção)... vários pontos para preocupar-se que, somados, criam uma constante necessidade de dedicação e um tempo muitas vezes maior do que o possível para dedicação a "projetos pessoais".

A existência de eventos voltados para publicações independentes entra para aliviar e permitir uma mínima viabilidade, sendo realistas e sabendo que a maioria dos publicadores independentes locais não vive estritamente de seus títulos publicados (até porque se manter com esse pouco lucro, quando há, é algo bastante complicado).

O custo é uma das principais implicações e motivos que levam publicações independentes (e quase tudo hoje) à extinção: tem que ser acessível mas também forte o suficiente para encontrar compradores. A todo momento um zine ou uma pequena editora que os produz deixa de publicar um título específico, ou encerram suas atividades por um período porque os editores não tem mais tanto tempo para se dedicarem ao projeto que não traz grande retorno financeiro.

A participação das pessoas como apoiadores em suas diversas formas (nessas plataformas ou como consumidores de bens e serviços) por vezes é escassa e depende diretamente da influência dos gestores. A continuidade de projetos e atividades culturais exige um trabalho intenso e incessante.

É possível, com a arte e a cultura atuando como agentes ao invés de como reflexo da sociedade; e com pessoas capacitadas, dispostas e empoderadas (a exemplo, gestores culturais e outros integrantes da economia criativa), participar desse processo de desconstrução do sistema e de priorização de valores mais dignos que unem-se ao prazer e dão sentido ao fazer.

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2. Desdobramentos

A abordagem de áreas de eventos e gestão cultural a design e identidade de marca cria a necessidade de utilizar-se de várias ferramentas de metodologias distintas, mas principalmente divididas em três vertentes: uma para o evento em si, seu escopo, planos e ações; uma para este Trabalho de Conclusão de Curso como própria abordagem acadêmica; e outra para a projeção da marca, visualidades e definição de aspectos relacionados a comunicação. As metodologias são usadas de forma mais fluida, incorporada, do que propriamente seguindo seus passo à risca. Essa etapa descreve as maiores abordagens metodológicas utilizadas.

A Matriz de Análise Estratégica, Análise SWOT ou Análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) é uma ferramenta da administração para diagnóstico de cenários internos e externos de uma empresa ou organização, pensando no que pode ser mantido, oferecido, resolvido ou evitado (antes de se iniciar o projeto, para estratégias e direções (DIY, 2014, p. 22). Utilizada como um poderoso instrumento de coleta de informações, a análise apresenta detalhes específicos de cada um dos eventos avaliados, fugindo de tópicos comuns, como "networking" ou "visibilidade".

Como em Silva (2016, p. 220-221), usou-se, em um momento Descritivo e em um momento Analítico, da Visão da Realidade para, mais a frente e voltada para a realização de eventos, a ação de prognóstico (Visão de Futuro), como "Proposta de ação e intervenção".

Para a construção do projeto do evento foi usado como base a "Metodologia e Orientação para Intervenção Cultural - Trabalho de Conclusão de Curso - TCC". O conteúdo deste artigo foi criado para servir como um guia para a produção do Trabalho de Conclusão de Curso dos alunos do "Curso de Formação de Gestores Culturais do Centro-Oeste", pela Universidade de Brasília - UnB junto ao Decanato de Extensão - DEX e o Ministério da Cultura - MinC. Abrange, portanto, questões sobre a produção do conhecimento, metodologia e técnicas de pesquisa e de ação e intervenção com intuito de orientar o aluno do curso na elaboração de uma proposta de ação/intervenção calcadas na realidade na qual atua.

O artigo propõe como metodologia principal a pesquisa-ação. Nele, afirma-se que pela complexidade da realidade, ela deve ser interpretada e analisada com a participação das pessoas que estão envolvidas na situação, de modo cooperativo ou participativo, para a resolução de um problema coletivo. Além do objetivo prático, contribui também para aumentar o conhecimento sobre determinado tipo de problemática.

Aqui, a pesquisa-ação foi aplicada participando de eventos de publicações independentes, conversando informalmente com participantes e organizadores e até mesmo colaborando como expositor ou acompanhando um. Realizada a pesquisa-ação, a Análise Estratégica foi utilizada como ferramenta aplicada em cima dos dados coletados.

Não é proposta deste trabalho adentrar em planos financeiros ou custos de produção do evento. Mesmo assim, dentro do possível e cabível neste desenvolvimento, o projeto traz direcionamentos que de certa forma valorizam o acesso e a acessibilidade, prezando pela autossustentação do evento (sem fins lucrativos, sem prejuízos).

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A fase de desenvolvimento foi dividida conforme o sumário, a partir de indicações para construção de marca do Google Primer e de Alina Wheeler na "Parte 2 - Processo" do livro Design de Identidade de Marca (2012), que guia bastante bem em meio a imensidão de tópicos pelos quais deve-se passar durante a construção de um projeto elaborado.

Por cada tópico requerer metodologias específicas de áreas de atuação do design, comunicação e gestão (dentre outras), esse outro andar de metodologias é descrito de modo rápido e simultâneo ao memorial do processo em sua versão expandida, colocando teoria e prática em uma mesma moldura, conforme, pode-se perceber na tabela abaixo

Tabela 1. Escada de perguntas. Fonte: preenchido a partir de tabela em Consejo Nacional de la Cultura y las Artes, 2011, p.27 (tradução nossa).
O quê? Projeto de Gestão Cultural aliado ao design na forma de um evento periódico voltado para a valorização e comercialização e continuidade de publicações independentes, contemplando desde o posicionamento e a identidade de marca até o planejamento da feira, ações, comunicação, gestão e implementação, abrindo caminho para ser executado.
Como? Através de uma feira que reúna mini-editoras e publicadores independentes, aprovados por uma curadoria mínima (trazendo mais qualidade e credibilidade), em evento vivenciado com ânimo, que transmita confiança e dedicação pelo seu posicionamento de tenha a capacidade de durar por algum tempo e agitar a cena de publicações.
Por que? Tornar público e conhecido o trabalho de designers, artistas e autores. Almeja-se maior consolidação de ações do gênero para valorização e circulação da produção independente em Goiânia, sua visibilidade e credibilidade das partes envolvidas nas diversas atuações e relações dessa produção. Existir um espaço que viabilize e promova ativamente a circulação e sustentação de produções, pensado por quem está imerso nelas.
Quais atividades? Atividades que reúnam pessoas em prol da (produção) exposição e comércio de publicações, em um ambiente que facilite a interação e troca de contatos (atividades de integração e espaços de conversa), parcerias e conhecimentos (palestras, mesas redondas, oficinas etc.), sem deixar de lado aspectos musicais, gastronômicos, artísticos, mas mantendo foco no que é realmente proposto.
Onde? Goiânia-GO, em local de fácil acesso (mais centralizado) e que supra necessidades estruturais, de segurança e de acesso/acessibilidade discutidas na etapa de Gestão do evento, com adequações ao lugar. Ponto positivo para lugares que se encaixarem no conceito da marca.
Para quem? Um público qualificado - que produz ou costuma consumir os produtos ou as ideias veiculadas, que já tenham algum interesse ou queiram conhecer mais a fundo o universo das publicações independentes, que atuem em áreas comuns às áreas de criação dessas publicações (outros produtores independentes, literatura, design, arquitetura, artes, letras, música, jornalismo, publicidade, cultura etc.), sem excluir o restante do público interessado. Faixa etária amplificada: 15-29 anos. Foco: 25-29 anos, eixo Goiânia-Brasília. Mídia espontânea: rede de contatos dos Expositores.
Quando? Semestralmente, evitando esquecimento mas permitindo preparação e espera. Em datas que não se choquem com outras atividades que possam competir com esta, mesmo que de outra área, caso relacione-se ao mesmo público. Durante dois dias (além de um dia prévio para montagem e organização do espaço). Preferencialmente sábado e domingo.
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Além destes, não foram incluídos os tópicos "Com quem?" e "Quanto?", já encarados como etapas que estão fora da proposta aqui desenvolvida e que irão variar e farão mais sentido se pensados pela equipe que organizará o evento, em seu momento e contexto. Ressalta-se que o recurso para execução de projetos culturais não precisa vir unicamente da captação de recursos externos, mas pode advir da cobrança de taxa dos expositores (acessível, ou o evento perde o propósito) ou outras formas de monetização do serviço prestado, como aconteceu na LAGE e, mais recente e em maior tamanho, acontecerá esse ano na Feira Plana, uma das principais do país.

A conversão de pessoas que possuem contato com a socialização dos veículos de comunicação (ou a detenção desses veículos/ferramentas) torna-se bastante visada por entender-se que são parte de um público ativo, que carrega consigo mais público e que participa, investe e dá continuidade ao ciclo de ações independentes em prol da valorização do âmbito.

Identidade de Marca do Evento

Foi dada continuidade ao processo em uma primeira fase da pesquisa, por nomes relacionados às publicações independentes. Isso se desdobrou em ideias de identidade de marca para despertar a curiosidade (até por ambiguidade) e de se comportar de forma ativa, que representasse movimentação. Aspectos da regionalidade também foram incorporados.

Em brainstorm, foram escritos cerca de 150 palavras, dentre nomes e direções a seguir, em atividade livre. Desses, 20 passaram para uma próxima triagem, onde foram analisados rápida mas mais contextualizadamente e eleitos por meio da distribuição de 5 votos por cada um dos 3 integrantes (autores) da pesquisa, restando as seis, conforme tabela abaixo:

Tabela 2. Triagem final de nomes.
Encarte Zóio / zói / ôio Ferpa
Lombada Relevo Quá
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Em nova distribuição, agora com cada um dos 3 participantes votando em 2 indicações, percebeu-se a possibilidade da criação de um acrônimo descritor para um dos nomes, contribuindo significativamente para a seleção final: Ferpa: feira de publicações autônomas. A ideia de causar um certo incômodo e invadir limites pessoais sobressai como oportunidade de diferenciação entre similares, desperta certa inquietação, conversa com o público e une duas ordens de nomes: acrônimos e metafóricos, ajudando a construir sua identidade e a identificar a marca.

Ferpa aparece como uma colocação informal, quase que de uso popular e, por uso constante, passa a ser incorporada em dicionários (tornando-se "correta" por uso frequente), da palavra farpa: ponta, pequena lasca de madeira que acidentalmente se introduz na pele, incômodo, "espicação", provocar ou criticar alguém. O nome e o descritor se encaixam: Fer - p - a - Feira de Publicações Autônomas. Autônomo, ainda, diferenciando-se de "independente" (tanto da palavra como dos eventos), coloca simbolicamente os participantes mais constantes e responsáveis por suas posturas, com certa preocupação em não somente fazer pela independência, mas fazer para viabilizar, distribuir e conseguir manter o trabalho chegando ao leitor de forma autônoma (autogerida).

Um novo brainstorm direcionado pelo naming sobre: Feira/Evento, Publicações Independentes e o próprio nome, Ferpa; foram marcadas ou destacadas as que se sobressaíram às demais, contribuindo no direcionamento aos processos seguintes. Após definição dos atributos da marca, partiu-se para emoções, conforme tabela abaixo:

Tabela 3. Listagem resumida das emoções da marca.
Coerência Confiança Expectativa Integração Suor
Comprometimento Desejo Iniciativa Receptividade Vontade

Pensar na Ferpa é pensar em não deixar toda a situação da cena em cima dos zineiros, realizando um evento presente, forte, porque tem que ser assim ou então não vai ser. É necessário que hajam pessoas focadas em partes diferentes do processo de alimentar a cultura para um projeto grande acontecer, pensando-se coletivamente.

É pensar em possibilitar uma continuidade, em talvez acontecer, acontecer de novo e continuar acontecendo, por meio das mesmas ou de outras pessoas. Em tornar o consumo mais acessível e também de viabilizar a produção e incentivá-la para os momentos em que a feira acontece, sendo um espaço, um meio de haver valorização, além de um meio de mensurar e de fazer acontecer.

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Para permitir que os publicadores publiquem por mais tempo, que pessoas e mini-editoras não parem e continuem produzindo, em um alívio / apoio ao custo que é tamanha implicação para a permanência ativa dos zines.

Visão: A Ferpa é uma Feira de Publicações Autônomas que se dedica a agitar com força a cena local para incentivar e impulsionar a produção, comércio e conhecimento dos trabalhos, na forma de um espaço-meio que ajuda a viabilizar a continuidade de publicações e publicadores autônomos.

Missão: A Ferpa foca em estruturar um evento que evidencie zines e mini-editoras a quem já se interessa ou queira se interessar por esse universo. Através de pensamentos de cultura e design, a atenção da feira é distribuída entre publicadores e público, permitindo uma rede de apoio, valor e continuidade das publicações autônomas.

Perfil (Valores): União, confiança, realização e suporte.

Personalidade da Marca: Confiante, coletiva, comprometida, decidida, disposta, ativa e receptiva são as principais características que integram a personalidade da Ferpa. Seguindo Aaker (1997), duas das cinco dimensões da personalidade de marca dividem a construção desta: sincera (pé-no-chão, saudável e alegre) e entusiasmada (ousada, com espírito, imaginativa e atualizada).

Referenciação: Ferpa, Feira Ferpa de Publicações Autônomas, a Ferpa. Substantivo feminino. Indica-se o uso do artigo definido.

Voz: feminina, com força e garra, costuma lutar e agora inspira e fortalece.

Vocabulário: não-pobre, informal apesar de instruída, dizendo o que tem que dizer, didático, mas com expressões do meio para aproximar a comunicação ao público. Claro, exato, sem desvio de informações ou muita enrolação. Consistência é fundamental.

Grafia: Ferpa, com a primeira letra maiúscula e as outras minúsculas. Evitar o uso de maiúsculas desnecessárias em geral na comunicação da marca (fugir do uso de palavras em caixa alta).

Pontuação: O exclamativo e o interrogativo devem ser explorados nas interjeições.

Interjeições: As interjeições são parte importante da identidade projetada e conversam bem tanto com o público quanto com o local. Expressões como: ái!, vixi!, ó!, péra!, eita!, an?, ufa!, psiu, rén!, uai?, nó!, pirei, povoam o modo de falar e ligam o assunto abordado a reações comuns do público, personalizando melhor a identidade.

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A partir do entendimento de posicionamento e de toda a contextualização realizada, chega-se enfim ao que deve ser solucionado como marca e identidade visuais:

  1. Resultar em uma visualidade forte e que traga confiança, sensação de comprometimento e que manifeste um acontecimento positivamente marcante, apesar do incômodo recebido pelo conceito do choque visual.
  2. Pensar, aliado a outras ferramentas de detalhamento de comunicação, em uma estrutura de evento (e sua representação) que permita continuidade, que não caia rapidamente no esquecimento, que perdure engajando pessoas e gerando conteúdos de maneira agradável e não forçada ao público, conquistando-os e mantendo-os conquistados, sem se tornar graficamente cansativo.
  3. Não trazer tanto refinamento (no sentido de polimento, suavidade gráfica), mas comportar-se como presente e inusual, passando claramente a impressão de autonomia e de desvio de padrões corporativos demais, representando e mantendo o conceito de união e o pôr as coisas para acontecer.
  4. Lembrar-se da atuação da marca dentro do contexto de feiras de publicação e de seu público já definido
  5. .

Continuando o processo, foi realizada a pesquisa de referências visuais, organizado um extenso painel semântico, e então analisadas, quase que como uma identificação de tendências, amostras das cores mais presentes na gama de referências selecionadas.

As cores eleitas para a paleta cromática final seguem as matrizes das cores da escala CMYK de impressão, em tons menos vibrantes, mais agradáveis e comedidas. São cores de papéis comuns na produção de zines, quando são utilizadas 2 ou 3 para variações, por exemplo, na capa de publicações, sem inferir altamente no custo (papéis ColorPlus e até mesmo sulfite). O Azul traz confiança, harmonia, permanência; O Amarelo: poder, dinamismo, estimulação, iluminação; e o Rosa: atração, positividade, perfil da marca. Faz-se uso também do preto e branco como cores de destaque junto ao rosa mais forte e o laranja, conforme imagem abaixo:

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Imagem 1. Paleta de cores da Ferpa.
Imagem 2. Tipografias utilizadas na composição da identidade: HvD Rowdy (caixa alta / baixa) e Podkova.

É importante que fontes selecionadas para compor a marca tenham uso livre, gratuito, na intenção de democratizar e tornar mais fácil realizar o evento.

Após testes tipográficos, testes de partido e seleção das fontes, o logotipo Ferpa foi refinado em função de melhor identificação e aplicabilidade, mantendo algumas imperfeições no contorno para conversar com o conceito ativo, disposto e intenso, mas cobrindo-se a textura de imperfeição das áreas centrais da letra e remodelando os contornos para ficarem mais retos e com pontas. A posição das letras também foi realinhada. A distribuição do descritor Feira de Publicações Autônomas representa uma certa rebeldia, percebida pelo tom saturado de uma cor não tão usual para descritores, e seu posicionamento quebrado, de uma forma autêntica sem perder a estrutura da marca. Em outras edições, a cor do descritor pode ser alterada sem alterar a ideia central.

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Imagem 3. Assinatura horizontal da marca.
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Imagem 4. Linguagem gráfica da marca.
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Em uma transição gráfica do real para um mundo relacionado a formas mais chapadas, interagindo com ele, expressando ações e emoções diretas ligadas ao toque e criação. Dinamicidade, muitos elementos gráficos, padronizados e não padronizados, com possibilidade de criar rabiscos mais manuais (em baixa quantidade). Uso de recursos gráficos pontudos. As cores podem ser aplicadas de forma variada no suporte.

Foi feita toda a listagem de pontos de contato nos quais a marca deve atuar, pensando-se na centralização de informações para que sirvam de histórico e história, hashtags como #feiraferpa para facilitar a pesquisa de edições e seu acompanhamento, release de imprensa, pensando-se em Perguntas Frequentes, formulários/pesquisas de feedback, relatórios anuais (mensuração e transparência), comunicação centralizada e alinhada com os expositores e as aplicações impressas ou digitais.

As definições finais de Comunicação, Gestão e Pensamento Estratégico do evento são mais pertinentes se acompanhadas enquanto pensa-se na execução do evento, tanto para decisões de que ações seguir quanto para ajudar na geração de novas ideias. Nesse resumo, é válido informar que esta etapa passa pelos tópicos de:

Percebe-se a manifestação dos eventos em redes autogeridas na seguinte ordem decrescente: 1.Facebook 2.Instagram 3.Site 4.E-mail; sabendo-se que o público mantém mais contato a organização na mesma ordem de canais. Inscrições para oficinas comumente são estabelecidas através de e-mail. Pretende-se manter essa autogestão, cientes dos custos com domínio/hospedagem do site e da necessidade de um investimento mínimo em alguma ferramenta de divulgação (anúncio).

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4. Considerações Finais

Todos esses pontos devem contribuir para o fomento de uma movimentação da cena cultural em que haja um preparo, produção e movimentação de temáticas e publicações relevantes, colocando projetos para andar e alimentando a rede produtiva de áreas particulares, mas, também, de mais gerais (Economia Criativa), relacionando-se com outras propostas culturais em posição de troca, aprendizado, legado e estruturação coletiva, contratando e valorizando a mão de obra adequada, oportunizando a reunião de pessoas da área e a troca de conhecimentos, o giro de capital para lucro ou, melhor, reinvestimento, e, mais importante, a autonomia.

Na Análise Estratégica das três feiras foi essencial contextualizar e mapear os principais pontos desses eventos, a serem aqui replicados ou solucionados. As abordagens metodológicas utilizadas serviram para estruturar o projeto do evento, enquanto o método utilizado para a construção da identidade de marca serviu para a criação de um nome e posicionamento robustos, que trazem solidez e autenticidade ao evento. Essas abordagens permitem que o trabalho seja usado também como um guia para o desenvolvimento de novas propostas e que possua caráter de continuidade.

Unindo práticas de gestão cultural e de design para aprofundamentos em ambas as áreas, deixa-se um caminho aberto como o que pode ser feito a partir da pesquisa-ação-projeto aqui realizado. Como a execução não é parte desta abordagem, abre-se aqui uma oportunidade. Alguém já começou a pensá-la ampla e abertamente. Agora, alguém precisa tomar as próximas decisões de execução.

Para dúvidas, críticas construtivas, elogios, solicitação de arquivos ou qualquer outro interesse: feiraferpa@gmail.com

Referências

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Primer é um aplicativo do Google que tem por objetivo ensinar conceitos iniciais de marketing e negócios através de breves lições interativas, metodologias resumidas e estudos de caso. É gratuito e pode ser baixado nas lojas de aplicativos Android e iOS. Disponível em: https://www.yourprimer.com. Acesso: jan. 2018.

Termo utilizado no marketing para referir-se a realização da ação qual deseja-se que o usuário realize: preencher um formulário, finalizar uma compra, solicitar um orçamento ou assinar uma newsletter.

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