Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania - III Ciclo de Webconferências
PDCC - III Ciclo de Webconferências
 
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Salvaguarda de patrimônio imaterial: olhares e ações integradas

8ª Webconferência – 29/05/2018

Marisa:

Olá pessoal, boa noite, mais uma vez estamos juntos para o terceiro ciclo de webconferências Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania. Esse ciclo é composto por dez webconferências, hoje nós estamos na oitava, cujo tema será “A Salvaguarda de Patrimônio Imaterial: olhares e ações integradas”. Não sei se vocês já estão visualizando o slide, que é exatamente de bonecas Karajá. A discussão de hoje estará voltada para um projeto de registro das bonecas Karajá, do modo de fazer as bonecas Karajá etc., cujas participantes são Rosani Moreira Leitão e Nei Clara de Lima. Não vou me alongar mais, eu gostaria de passar a palavra para Rosani, nossa colega de trabalho já há uns bons anos, atuamos juntas no museu antropológico e agora atuamos no Núcleo de Direitos Humanos.

Rosani:

Olá, boa noite! Hoje, trago para compartilhar com vocês, como a Marisa já disse, os resultados de um projeto cuja versão preliminar já foi discutida aqui nesse espaço, inclusive foi publicado um pequeno texto sobre o mesmo no livro que será sorteado hoje, relativo ao primeiro e segundo ciclos de webconferências.  

O título da conferência de hoje é “A Salvaguarda de Patrimônio Imaterial: olhares e ações integradas”. Ela é produto desse projeto, que é coordenado pela professora Nei Clara de Lima e por mim. Aproveito para justificar a ausência da professora Nei Clara, que infelizmente teve um problema de doença em família e precisou viajar, não podendo estar presente. Mas, vou falar em nosso nome, em nome do nosso projeto, desse trabalho que a gente desenvolve juntas já há bastante tempo.

O objetivo dessa conferência é discutir a noção de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial através dos resultados do projeto acima mencionado, que se intitula “Bonecas Karajá como patrimônio cultural do Brasil: contribuições para a sua salvaguarda”, trazendo esse projeto como um caso exemplar de execução de uma política de salvaguarda, que decorre do registro das bonecas de cerâmica do povo Karajá como patrimônio cultural brasileiro. Todo povo que tem um bem cultural registrado como patrimônio cultural do Brasil conquista o direito de ter apoio público voltado para o fortalecimento desse bem cultural, bem como ao seu patrimônio cultural como um todo, por um período de 10 anos, quando ocorre uma reavaliação e uma continuidade ou não do apoio.

Então, passo a expor os resultados dos primeiros dois anos dessa política de apoio, ou de salvaguarda das bonecas de cerâmica Karajá, após o registro desse bem como patrimônio brasileiro. A gente iniciou esse projeto em 2015, tivemos uma interrupção com a mudança de governo no ano de 2016. O projeto devia ter sido concluído já há alguns meses, mas devido a interrupções no repasse de recurso pelo governo federal implicou em atrasos e contratempos no desenvolvimento das atividades. No momento estamos concluindo o trabalho, em fase de elaboração do relatório final e de finalização dos produtos.  Portanto, são alguns resultados o que vou compartilhar com vocês.

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Bom, só para contextualizar um pouco, a política de salvaguarda de bens culturais imateriais é criada pelo IPHAN, que é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, através do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), criado pelo decreto nº 3551, de 4 de agosto de 2000. A partir de 2001, a gente vai ter então funcionando já o Programa Nacional de Apoio ao Patrimônio Imaterial. E, dentro desse programa, várias ações passam a ser implementadas, por exemplo, apoio do IPHAN aos bens registrados através de editais públicos de financiamento. Esse projeto é decorrente de um desses financiamentos, ou seja, da participação nesses editais, como forma de captar recursos para desenvolver essa ação de salvaguarda.

Os objetivos da política de salvaguarda são, em linhas gerais, conforme o IPHAN, viabilizar processos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do Patrimônio Cultural Brasileiro, bem como o respeito e proteção dos direitos difusos e coletivos referentes a esse patrimônio.  

Como trabalhamos muito com comunidades, a questão dos direitos difusos é muito importante, porque não se trata apenas de direitos individuais, mas também de direitos coletivos.

Um segundo objetivo é oferecer apoio e fomento às comunidades, desenvolvendo através de parcerias com instituições dos governos federal, estadual e municipal, universidades, organizações não governamentais, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura e à pesquisa, ações de fortalecimento e valorização dos bens culturais registrados, não só do bem propriamente dito, mas junto com ele, o patrimônio cultural em geral daquele povo.

Só fazendo um pequeno histórico do projeto, ele é, na verdade, uma decorrência e uma continuidade de um trabalho que o Museu Antropológico desenvolve já há bastante tempo. Decorre de um projeto chamado “Bonecas Karajá: arte, memória e identidade indígena no Araguaia”, desenvolvido por pesquisadores do Museu Antropológico no período de 2009 a 2012, com recursos desse mesmo Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Estamos em um segundo momento agora. Já não se trata de um projeto de pesquisa e sim de uma política pública de salvaguarda. O projeto anterior se dedicou à produção de informações etnográficas detalhadas sobre as bonecas de cerâmica Karajá, com o objetivo de apoiar as comunidades na solicitação do registro das mesmas como patrimônio cultural brasileiro, ou de fundamentar essa solicitação.

Na ocasião, foi realizada uma pesquisa etnográfica com o propósito de apoiar o povo Karajá nesse processo, junto ao IPHAN. Esse foi o nosso primeiro projeto. O registro foi obtido em janeiro de 2012 e, a partir de então, começamos juntamente com os Karajá algumas negociações visando iniciar a política de salvaguarda, participando de um novo edital de financiamento público, do IPHAN, em 2014. Em 2015, tivemos a aprovação do financiamento e começamos o trabalho em 2016.

Bom, essa primeira parte da minha fala teve como objetivo recuperar a trajetória que resultou nas ações de salvaguarda desenvolvidas no contexto do projeto mencionado. Passo, então, a apresentar algumas informações sobre o povo Karajá e suas bonecas cerâmicas para vocês conhecerem um pouco mais da realidade, do contexto no qual vivem os Karajá e, dentro desse quadro compreenderem a importância das bonecas no conjunto dos seus bens culturais materiais. Posteriormente, finalizo com alguns resultados do Projeto de salvaguarda propriamente dito.  

Iniciemos, então, com a localização do território Karajá e suas relações com o rio Araguaia, seguida de algumas informações etnográficas mais específicas sobre as bonecas de cerâmicas.  Na projeção, a gente tem um mapa de localização do território, que vivem em toda a extensão do Rio Araguaia, se concentrando principalmente na Ilha do Bananal. Aí está em destaque a Ilha do Bananal, onde vive a maioria da população Karajá.  Mas eles também vivem às margens direita e esquerda, e ao sul e ao norte, em toda a extensão do rio, abrangendo quatro estados brasileiros: Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará.

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Aí estamos projetando algumas imagens da região, das paisagens do rio Araguaia, em época de cheia, na primeira fotografia.  Na outra a gente tem a vista parcial de uma aldeia em época de ritual, uma cena ritual. Os Karajá formam uma população aproximada de 3 mil pessoas, que vivem nesse território e se distribuem em 23 aldeias de norte a sul do rio Araguaia. A maioria dessas comunidades são ceramistas, produzem cerâmica, mas apenas algumas delas produzem as bonecas que, em língua Karajá, são chamadas de Ritxoko, na fala feminina, e Ritxoo, na fala masculina. Uma das características da língua Karajá é ter duas modalidades de fala, variando conforme o gênero masculino e feminino. No nosso trabalho adotamos a modalidade feminina, por se tratar da confecção da cerâmica, que é um ofício feminino.

Na Sequência, projetamos algumas fotografias que mostram um pouco do histórico das bonecas de cerâmica e do seu processo de confecção, dessa tecnologia de produção das bonecas pelas mulheres Karajá. Como eu disse antes, apenas algumas aldeias produzem as ritxoko, apesar da maioria delas terem mulheres ceramistas, e dominarem a arte da confecção da cerâmica, mas tradicionalmente costumavam fazer no passado e algumas continuam fazendo objetos utilitários, tais como potes, panelas, pratos, bacias, ou objetos rituais, como é caso do que eles chamam de panela de ossos, espécie de urna funerária, que no passado era utilizada nos sepultamentos secundários. Os Karajá, até 1940, praticavam, no processo de sepultamentos, dois ritos funerários em dois momentos distintos, o sepultamento primário e secundário. Primeiro, após a morte da pessoa, o corpo era envolvido em uma esteira e sepultado. No segundo, eles faziam a exumação dos ossos utilizando a cerâmica, para depositá-los, por volta de um ano e meio ou dois anos, após o sepultamento primário, fazendo, então, o sepultamento definitivo.

Na primeira imagem projetada vocês podem ver que ela é de cor negra, é uma bonequinha feita de cera de abelha. Inicialmente, as mães, avós, tias fabricavam a bonequinha de cera de abelha. Independente de dominarem arte da confecção da cerâmica, a boneca como brinquedo era fabricada com cera de abelha. Posteriormente, enquanto as mães trabalhavam na confecção da cerâmica, as crianças costumavam brincar com o restinho da argila fazendo miniaturas, pequenas panelas, pequenos objetos e também figurinha humanas, bonequinhas da argila. Num primeiro momento, ela era submetida à queima, era de argila crua. A gente tem ali projetada uma segunda imagem, de uma bonequinha de barro cru. Mas, na década de 1940, as mulheres passaram a queimar as bonecas, a transformar objetos de barro, de argila em bonecas de cerâmica, por um processo de queima. Apenas a partir de 1940 é que as bonecas passaram a ser queimadas; isso dá uma liberdade plástica para as artistas, para as artesãs karajá no sentido de produzirem objetos mais complexos, com mais detalhes, mais resistentes; isso também coincide com a chegada de um turismo mais intenso na Ilha do Bananal, coincide com os projetos nacionais de desenvolvimento do Brasil central na década de 1940, com a visita de autoridades políticas, como Getúlio Vargas e outros governantes, que visitaram a Ilha, principalmente a aldeia Santa Isabel do Morro, que era considerada um ponto estratégico de desenvolvimento do país, de navegação no Rio Araguaia.

Devido a esses eventos, as ceramistas passam a ter uma demanda maior pelas ritxoko, vindas de instituições e colecionadores, de lojas de artesanatos e de pessoas que buscavam objetos de decoração. Elas aumentaram a produção, e com a queima adquiriram maior liberdade de expressão e criaram novas formas. Deixaram de fazer apenas as figurinhas isoladas, que tinham objetivos lúdicos e educativos,  e passaram a confeccionar muitas outras formas, narrativas e cenas completas. As ritxoko passaram a ser produzidas também como artesanato e como uma importante fonte de renda para as famílias das ceramistas. Esse período marca o surgimento de um novo estilo na produção das ritxoko, que também é mencionado na literatura como fase e que as ceramistas mencionam como boneca antiga e bonecas modernas. 

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Entretanto, para além da técnica do seu processo de confecção, estão múltiplos significados das ritxoko no contexto da produção cultural Karajá. As bonecas de cerâmica, ou as ritxoko (pra vocês irem se familiarizando com a palavra em língua karajá, ou língua Inyribè), têm uma grande importância no contexto das comunidades que as produzem, porque representam todo o universo sociocultural do povo Karajá. É a sociedade Karajá, representada em miniaturas, com suas regras sociais, práticas culturais, narrativas míticas, representações da religiosidade e do sobrenatural etc. Através da modelagem do barro e da confecção das bonecas de cerâmica, as mulheres Karajá podem produzir, reproduzir ou representar qualquer aspecto da sua vida cotidiana, ritual e simbólica. Elas representam o mundo através desses objetos. As ritxoko também tem uma importância muito grande nos processos de socialização das crianças, no fortalecimento da identidade do povo Karajá (que se autodenomina como povo Iny), além da sua dimensão lúdica representada pelo brinquedo.

Voltando às imagens que estão projetadas, vemos quatro imagens. No canto direito inferior, a fotografia de uma ritxoko representando uma cena funerária. Uma mulher chorando sobre um túmulo de um parente falecido. Notem que existe uma diferença entre essa imagem e as anteriores, ela é uma cena completa, uma cena ritual, enquanto as outras são figuras isoladas. As primeiras, as figuras isoladas possuem uma forma humana estilizada, são triangulares com a base mais larga. São formas mais simples, sem detalhes, sem braços e pernas definidas. Os detalhes vão surgir depois no contexto do período histórico mencionado acima e a partir do momento em que as ritxoko passam a ser submetidas à queima.

Bom, a seguir, apresento algumas imagens do processo de produção. Uma ceramista preparando a massa da argila para modelar, as matérias-primas, o barro e a cinza. A cinza é misturada à argila pra facilitar a modelagem, evitar rachaduras, quebras etc. Ainda com relação ao processo de confecção, vemos aí uma ceramista terminando de modelar as suas peças e outras já esperando que as peças sequem ao sol. Depois de secas, para concluir o acabamento da modelagem, elas serão polidas, uma a uma, para que fiquem bem lisinhas, sem arestas. E só depois elas são levadas à queima, que é feita em duas etapas. No nosso trabalho denominamos de primeira e segunda queima, mas que as ceramistas descrevem como esquentar e queimar. Vou mostrar algumas imagens adiante. Aí estão algumas fotos de ambos momentos da queima. A seguir, temas duas fotografias que se referem à pintura ou à decoração das peças. Na primeira, uma mulher esmagando a casca de uma madeira, de uma árvore chamada Ixarurinã, da qual se extrai um sumo que é misturado ao carvão ou fuligem e que vai dar uma fixação ao pigmento preto. Na outra foto tem uma ceramista fazendo a decoração ou a pintura de uma das peças.

Logo abaixo, aparecem duas imagens: uma bonequinha, uma figura masculina de cerâmica que tem o corpo pintado com um grafismo em forma de S, ao lado de um corpo masculino, usando o mesmo grafismo como pintura corporal. O objetivo de colocar essas duas imagens, lado a lado, é ressaltar as possibilidades de representação do universo sociocultural Karajá, através das ritxoko. Temos, então, aí um corpo masculino e uma representação do corpo masculino pela ritxoko, decorados com o mesmo padrão gráfico. Essa figurinha faz parte de um conjunto maior de 8 a 12 peças que representam a família extensa Karajá. Esse conjuntinho de bonecas, normalmente é presenteado, pelas avós e tias mais velhas, às meninas, quando elas tem de 6 e 8 anos de idade. Tem como objetivo ensinar, socializar as crianças, principalmente as mulheres, responsáveis pelo cuidado com a família, no que se refere às regras familiares, que são as principais, e ela vai mostrar todas as fases da vida de uma pessoa Karajá, de parentesco, os ciclos da vida... desde a fase do bebê recém-nascido, o tohokua, em língua Inyribè que é representado pela cor vermelha, pois logo após o nascer, o bebê Karajá recebe um banho de urucum. Outras figurinhas vão representar outras fases da vida, que serão caracterizadas pela forma, pelos gestos, pela pintura corporal. Essa fase representada pelo grafismo em forma de S os Karajá chamam de Bodu, quando o menino já passou pelo ritual de iniciação masculina, mas ainda não é considerado um homem adulto na sua plenitude, o que vai acontecer depois que ele se casar e tiver filhos.

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Aí temos o conjuntinho das bonecas, que normalmente é presenteado dentro de uma cestinha, chamada ueriri, e as meninas brincam com esse conjunto de bonequinhos.  Tem o vermelhinho, que é o recém-nascido; um pretinho que representa o menino na fase de iniciação da vida adulta, indicando que ele passa por um processo de formação intensiva que vai culminar com a cerimônia de iniciação. E tem várias outras figurinhas que representam várias fases da vida e de desenvolvimento da pessoa Iny: o menino pequeno, o menino grande, a menina pequena, a menina grande, até fases mais avançadas da vida, com figurinhas que representam as pessoas na sua velhice, o matukari, o homem velho e a senadu, a mulher velha. Esses últimos são representados pela forma curvada do corpo. São representações do ciclo da vida e das fases de idade. Numa outra foto, projetada abaixo, temos a cena de uma avó dando o banho de urucum em uma criança recém-nascida.

Ainda chamando a atenção para os distintos significados das bonecas de cerâmica Karajá, apresento algumas fotografias. Numa delas aparecem as meninas brincando com as ritxoko na cestinha, a família noutra, uma ceramista mostrando as suas peças que representam cenas cotidianas: o trabalho feminino, o trabalho masculino, cuidados com as crianças etc. Outras duas fotos trazem a representação de narrativas míticas. Uma onça com um bebê humano no colo e uma mulher com um bebê onça. Trata-se de uma história de uma mulher que saiu pra caminhar na mata e viu uma com dificuldade de dar à luz. A mulher auxilia no processo de parto, do qual nascem duas oncinhas. E como agradecimento, a mamãe onça dá um dos bebês para a mulher, que o leva para a aldeia, e o cria como um Iny. Essa narrativa é representada de muitas formas, dependendo da criatividade da ceramista.

Outra narrativa que aparece aí nas fotografias é a história da mulher que namorou com o jacaré. É uma história longa com várias fases e essas fases são representadas de várias formas na cerâmica. A seguir, vemos nas fotos projetadas duas cenas rituais representadas na cerâmica. A primeira fotografia mostra a dança de Aruanã, ou a dança dos ijasó, que é um ritual realizado pelos Karajá várias vezes ao ano, sempre que têm algo a celebrar, em momentos importantes relacionados à vida das pessoas ou aos ciclos da natureza. Seja para agradecer a oferta de peixe pelo Rio Araguaia, a oferta de frutas, a oferta de mel, o momento em que uma menina se torna moça, que o menino que se torna um rapaz... É um ritual muito importante pra eles. A outra foto mostra um dos ritos da festa do Hetohoky, ou festa da casa grande, ritual de iniciação dos meninos. Trata-se de um momento em que todo o povo percorre a aldeia passando em frente à casa do chefe do povo, personagem ritual que na foto está sentado em um banquinho sobre uma esteira. Tanto o banquinho como a esteira são objetos rituais importantes nessa cerimônia.

Nas últimas fotos, temos representações das danças de Aruanã, ou dos Ijasò, que são espíritos caracterizados pelas máscaras rituais. Os espíritos são trazidos pelo pajé, ou hari, em inyribè e podem vir da terra, do céu ou da água, os três níveis que formam a cosmologia Karajá. Nas fotos, estão representações de algumas dessas máscaras rituais através da cerâmica figurativa.

Bom. Passada essa parte de contextualização do projeto e das ritxoko no patrimônio cultural brasileiro, registrado pelo IPHAN, passo a falar nesse segundo momento em que consiste o projeto de salvaguarda. Trata-se de uma política de apoio e fortalecimento desse bem cultural, bom como ao patrimônio cultural do povo Karajá, como um todo.

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Nesta ocasião, eu fiz questão de destacar aspectos da metodologia, dos processos, pois os mesmos são definidos por alguns princípios orientadores da nossa relação com os Karajá. Sei que essa conferência está voltada para agentes culturais, gestores e gestoras públicos/as, que têm como responsabilidade pensar e desenvolver políticas culturais nos seus municípios. Atuamos agora a partir dos princípios da interculturalidade e decolonialidade. Não existe aqui um público-alvo, já que acreditamos que tanto os Karajá como a comunidade acadêmica e pessoas e instituições responsáveis por essa política pública serão beneficiadas pela troca de saberes que a experiência proporciona.  

Assim, para a concepção, elaboração e execução desse projeto, adotamos uma metodologia colaborativa. O que significa isso? Significa que não se trata de um projeto feito pela universidade para o povo Karajá, e sim de um projeto feito com o povo Karajá. Primeiro, porque o povo Karajá é o detentor do bem que foi registrado, as ritxoko; segundo, são os Karajá que pedem o registro de seus bens culturais. O que fizemos foi contribuir sistematizando informações etnográficas sobre esse bem cultural para subsidiar o pedido de registro. Nenhuma política de apoio, de fortalecimento de um bem cultural, é possível se ela for pensada e executada a partir de fora, de uma instituição e por agentes externos. Muito menos partindo de metodologias prontas, como algo que as instituições acadêmicas ou culturais, se auto identificando como as detentoras de um saber pretendem ensinar ou vão fazer para as comunidades. Ao contrário, aqui a metodologia colaborativa pressupõe um trabalho conjunto e um aprendizado mútuo. Ao mesmo tempo em que a Universidade Federal ou a equipe colabora com os Karajá nesse processo, também aprendem com eles, com a mulheres, com seus mestres, com seus especialistas, com suas crianças e jovens. Aprende sobre a sua cultura, sobre a sua filosofia, sobre as formas de ensinar e de aprender e de produzir conhecimento. Trata-se de uma perspectiva de mão dupla. Pressupõe o diálogo, um fazer, construir e aprender junto.

Bom, então, seguindo esse princípio, esse projeto teve início com uma grande reunião e um processo de discussão e definição de metas que orientou a elaboração do projeto, que posteriormente foi submetido ao edital já mencionado para pleitear recursos e realizar as ações. Essa reunião foi realizada em São Félix do Araguaia, em Mato Grosso, em agosto de 2014. São Félix do Araguaia fica próxima às principais aldeias Karajá, as mais populosas e politicamente mais importantes. Trata-se de um local estratégico e de mais fácil acesso aos que vivem em outras partes do território Iny Karajá. Então, nos reunimos todos na cidade de São Félix do Araguaia, a equipe do Museu Antropológico, representantes do IPHAN, do Departamento do Patrimônio Imaterial e Superintendências dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins, e representantes das 23 aldeias Karajá, entre lideranças, professores e ceramistas, que somaram 60 pessoas. Foram dois dias intensivos de trabalho, em que discutimos as possibilidades de ações, as demandas das comunidades e as prioridades apontadas por elas e, juntos, definimos as linhas gerais para a elaboração do projeto e fizemos, então, esse trabalho.

Aí a gente tem algumas imagens dessa primeira reunião, onde várias mulheres ceramistas falam ao microfone. Normalmente, existe um mito de que as mulheres Karajá não gostam de falar, que elas são tímidas. Temos uma tradição de etnografias e pesquisas acadêmicas feitas por homens e quase todas falam das mulheres Karajá como pessoas retraídas, que não gostam de falar nas reuniões públicas, pois não dominam o português e que falam mais a língua materna, sendo os homens os responsáveis pela vida política, pelas decisões e ações públicas. A participação das mulheres Karajá nessa reunião mostrou outro quadro. Tínhamos consciência de que para realizar um diálogo e um trabalho conjunto, era muito importante ouvir e considerar as opiniões das mulheres. Assim, nos dispusemos a dialogar com elas na sua língua materna e recorremos a pessoas que poderiam fazer a tradução dos seus diálogos, já que a grande maioria dos presentes na reunião eram bilíngues em Inyribè e em Português. Assim, elas puderam falar com segurança e falaram muito. Falaram tanto que elas formaram uma fila, pois eram muitas e, às vezes, pediam para falar novamente, pois tinham esquecido de dizer algo que consideravam importante e queriam complementar. Então, que lição que a gente tira disso? Quando temos uma atitude que é favorável ao diálogo, paciência para ouvir, apesar das barreiras linguísticas, o diálogo vai acontecer. Não podemos atribuir aos outros ou às outras uma limitação que também é nossa.

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A seguir, temos projeção de mais algumas imagens da reunião. Lideranças falando, assinando documentos. Esse de camisa amarela é o Raul, cacique da aldeia de Buridina (Aruanã-GO). A partir desses diálogos e consensos, o projeto foi elaborado.

Qual foi a abrangência desse projeto? Já mencionei antes a extensão do território Karajá, que percorre quatro estados brasileiros e abrange 23 aldeias. O projeto contemplou todo o território Karajá, abrangendo 21 das 23 aldeias, sendo que as outras duas não participaram diretamente das atividades devido à distância, à dificuldade de comunicação e de transportes. Para possibilitar o trabalho num território tão vasto, as 23 aldeias foram agrupadas em seis polos, considerando as proximidades geográficas. Polo 1: aqui em Goiás, na cidade de Aruanã, formado pelas aldeias Buridina e Bdè-buré; Polo 2: Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal, a principal produtora da cerâmica figurativa e junto com ela outras cinco aldeias menores; Polo 3: Aldeia Fontoura, que também é uma aldeia grande, juntamente com outras cinco aldeias menores, Pólo 4: Macaúba, que também fica na Ilha do Bananal juntamente com outras duas aldeias menores;  Pólo 5: Itxalá, que fica no município de Santa Teresinha, no Mato Grosso, juntamente com outras duas aldeias e o Polo 6, situado em Santa Maria das Barreiras no Pará, abrangendo as aldeias Maranduba e Santo Antônio. Como vimos, cada um desses polos agrega um conjunto de aldeias, chegando àquele total mencionado de 23 aldeias.

Eu já mencionei antes que esse projeto foi feito juntamente com as comunidades detentoras do bem cultural registrado, as principais interessadas, a partir da metodologia colaborativa. Partido desse princípio, contamos com uma extensa colaboração de pessoas das comunidades Karajá, sendo que o projeto já foi pensado de forma a incluir essas pessoas, estratégicas para o desenvolvimento do trabalho: mestres artesãos, os especialistas, os jovens, as lideranças.

Partindo dos princípios e prioridades definidos na reunião de 2014, estabelecemos quatro metas. Uma dessas metas seria a divulgação da boneca de cerâmica como bem cultural registrado e do projeto de salvaguarda que se iniciava. Reuniões nas aldeias, com as comunidades para falar sobre o projeto e distribuir um material de divulgação que a gente produziu, que vão mostrar adiante. Fizemos também todo um trabalho de divulgação junto às populações regionais das cidades próximas ao território Karajá, locais por onde os Karajá costumam transitar e muitas vezes são discriminados. Por isso, o objetivo de divulgar o patrimônio cultural Karajá e de ressaltar a importância dele, não só para a população indígena mas também para a região e para outros povos que vivem ali.

A segunda meta, conforme as demandas apresentadas, consistiu na formação de jovens através de dois cursos, voltados para a elaboração de projetos culturais e para a produção de documentários etnográficos. A terceira meta teve como objetivo promover o intercâmbio entre as aldeias a partir da circulação dos artesãos e dos seus saberes entre as regiões, para ensinar suas artes, seus ofícios, com o objetivo de fortalecer os conhecimentos tradicionais, promovendo o intercâmbio entre as várias regiões do território. A quarta meta teve como objetivo fortalecer a língua Inyribè, a língua Karajá, através da escrita e da produção de um livro, e incentivar as autorias indígenas, por meio da produção de textos em coautoria com estudantes e professores Karajá.

Volto a falar da atuação dos Karajá. Então, de que forma a população Karajá atuou no projeto. Formamos uma equipe composta por pesquisadores da UFG e de especialistas Karajá, além dos assistentes, que denominamos articuladores, que foram remunerados com bolsas e que tiveram a atribuição de intermediar a comunicação das aldeias com a equipe do Museu e de organizar e dar suporte local às atividades. Além dos bolsistas, outras pessoas colaboraram com o projeto como voluntários.

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Nesse outro slide, temos fotos que registram as atividades de cada meta. A primeira, voltada para a divulgação e valorização da cultura Karajá, através de reuniões, palestras e distribuição do material impresso. Além de público das aldeias, contemplou agentes públicos e instituições públicas das cidades vizinhas (FUNAI, FUNASA, Secretarias de Educação Estadual e Municipal), com reuniões e palestras.

Nos slides projetados, algumas imagens de registro das atividades nos polos. Uma primeira foto  com a equipe trabalhando na produção do folder, material de divulgação que foi distribuído posteriormente. A outra fotografia mostra uma reunião na aldeia Bdè-buré, no município de Aruanã, uma das primeiras reuniões. Ainda nas fotos de registro da meta 1 as crianças, a comunidade, olhando o material, fazendo seus comentários, expressando suas opiniões. Ressalto que todo o material escrito produzido no projeto, exceto o vídeo, é bilíngue, em Inyribè e em português. Então, as crianças podem ler tanto numa língua como na outra, dependendo das suas habilidades de leitura. Seguindo, vemos algumas imagens das atividades da meta 1 ainda em Santa Maria das Barreiras, no Pará e nas cidades de Luciara e Santa Terezinha no Mato Grosso.

A meta 2, que é a capacitação de 25 jovens, 10 em produção de documentários e 15 na elaboração de projetos culturais, dos quais 23 concluíram o curso e foram certificados pela UFG como cursos de extensão. Aí a gente tem algumas imagens das atividades dos cursos, eles foram organizados em etapas. Em duas delas nos reunimos na cidade de São Félix do Araguaia, no centro comunitário que pertenceu à prelazia de São Félix do Araguaia, um espaço de formação e treinamento muito adequado para esse tipo de atividade, porque tem salas de aula, auditório e espaço para atividades em grupo. Na primeira, no curso de gestão de projetos culturais, foram discutidos os conceitos, analisadas e discutidas as políticas de patrimônio, para pensar no patrimônio cultural Karajá. Fizemos um inventário deste patrimônio e a descrição de alguns dos seus bens culturais. Depois, cada um dos alunos escolheu seus temas e voltou para suas aldeias para pesquisarem os assuntos e retornar depois para esse espaço, onde finalizamos o curso com as pesquisas prontas e projetos elaborados. Os alunos do curso de documentário etnográfico também participaram desse mesmo momento de discussão sobre o patrimônio cultural Karajá e tiveram treinamento no uso técnico dos equipamentos, de noções gerais de cinema, de produção audiovisual, retornando também às suas aldeias, com orientação para captar imagens, que resultaram na produção de um pequeno documentário experimental.

Vemos, agora, registros fotográficos das atividades da meta 3, que foram as oficinas de trocas e transmissão de saberes. Realizamos 28 oficinas envolvendo mais de 30 artesãos remunerados ou voluntários. Bom, aí temos imagens de algumas oficinas, a primeira produção e pintura das bonecas de cerâmica. E do outro lado, um senhor, que é especializado em vários tipos de trançados e cestarias, está ensinando a fazer um tipo de cestas, que é de fácil confecção, que normalmente os homens fazem rapidamente no mato, quando precisam carregar alguma coisa pesada pra casa. Temos também algumas fotos de oficinas de confecção do que os Karajá chamam de enfeites originais, são enfeites, adornos ou adereços que se utiliza nos rituais: colares, brincos. São enfeites diferentes daqueles artefatos feitos para a venda, que precisam seguir um padrão. Na outra foto, temos mais uma oficina de “Ritxòkò”, onde uma ceramista super reconhecida, que é a Mahuederu, uma ceramista mestra, muito respeitada, que foi em várias regiões com a gente para oferecer oficinas para as quais foi super esperada e demandada. Suas oficinas atraíram uma grande quantidade de pessoas, principalmente de crianças, que apreciaram modelar as bonequinhas.

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A meta 4, finalmente, já estamos quase concluindo, para não me alongar muito, consistiu no incentivo às autorias indígenas e fortalecimento da língua Inirybè, por meio de uma publicação bilíngue para ser utilizada nas escolas, resultando na produção do livro em português e língua Karajá, que foi confeccionado em parceria com as escolas, com os professores e com os alunos, que mostrarei mais adiante. Um objetivo dessas oficinas era trazer o tema patrimônio cultural para a pauta de discussão das escolas, que as crianças discutissem isso, para que despertassem para o valor do seu patrimônio cultural, que pensassem nele como algo importante, que merece ser valorizado. O outro objetivo era produzir textos e ilustrações de autoria Karajá para o livro. Denominamos essas atividades de oficinas de criação pedagógica e de ilustração. Aí a gente projetadas algumas imagens dessas oficinas de produção das ilustrações. A gente tem ali do lado direito, em algumas das oficinas, a participação da professora Ciça Fittipaldi, uma profissional experiente e talentosa da Faculdade de Artes Visuais, já aposentada. Para melhorar a qualidade das ilustrações feitas com lápis de cor e canetas coloridas, ela ensinou algumas técnicas de pintura com tinta guache e pincel resultando em lindas ilustrações.

Finalmente, vamos apresentar os produtos do projeto. Temos aí o folder, que aberto se torna um cartaz, material elaborado para divulgação na primeira meta. Também produzimos um vídeo, que já foi mencionado e que foi feito com imagens captadas pelos alunos, que foram editadas juntamente com os professores. Inicialmente não estava previsto como produto e tinha como objetivo apenas proporcionar oportunidades de exercícios práticos aos alunos. Mas, resultou em um material experimental, muito interessante, pois é de autoria deles e também, e ao mesmo tempo, é um registro do projeto, das ações da meta 2, do projeto e da participação deles no mesmo. Além do vídeo, os alunos do curso de gestão de projetos culturais conseguiram elaborar 96 projetos culturais, abordando distintos temas escolhidos por eles. Tratam-se de projetos que, apesar de experimentais, ficaram bem completos, inclusive com cronograma de execução, previsão orçamentária etc. Praticamente aptos a concorrer a algum edital de financiamento. Além desses, podemos mencionar outros produtos, como, por exemplo, as 28 oficinas e os artefatos que delas resultaram, bem como o livro bilíngue. O livro eu não vou conseguir mostrar pra vocês, mas tenho uma imagem da capa dele, é só pra gente visualizar minimamente. Vemos aí a projeção da capa no slide. O título é A arte Iny/Karajá: Patrimônio Cultural Brasileiro, está em língua Karajá e em língua portuguesa.  Vocês podem perceber que a escrita em Karajá vem em primeiro lugar, o que é proposital e pretende dar maior visibilidade à língua indígena, rompendo com uma relação colonizadora em que o saber ocidental se impôs sobre os sabres indígenas, se colocando como mais importante, ou mais legítimo e, em função disso, muitas línguas indígenas desapareceram, muitas outras se tornaram vulneráveis. Da mesma forma, muitas práticas culturais deixaram de existir e, com elas, saberes indígenas se perderam, desapareceram ou se invizibilizaram. Então, nessa última meta, que tem como objetivo fortalecer a língua Karajá e que ela conquiste espaço de legitimidade como língua escrita, na escola e em qualquer espaço, a língua inyribé vem antes e com maior destaque do que a tradução em português. O livro de 86 páginas foi organizado em quatro partes, conforme as categorias utilizadas nos Livros dos Saberes do IPHAN. São quatro categorias: saberes e modos de fazer; lugares; celebrações; formas de expressão. Tudo o que foi produzido pelos alunos em termos de desenhos e ilustrações e textos distribuímos nessas quatro categorias. As ilustrações ficaram muito bonitas, o livro também, é uma pena que a gente não vai poder olhar o livro, mas em breve, ele estará disponível.

Bom, então, de modo geral, é isso. Acho que já falei demais, vamos destinar o restante nosso tempo para conversarmos.

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Marisa:

Bem, pessoal, a gente agradece muito à Rosani por explicar um projeto tão grandioso em tão pouco tempo, porque sabemos que não é fácil sintetizar tantas ações, tantas atividades. Nós gostaríamos de abrir um espaço a vocês, caso tenham perguntas, podem digitar e nós vamos respondendo na medida do possível. Eu queria já começar dando um pontapé nessas perguntas, muito mais no sentido de fazer uma observação de quanto o projeto, toda essa articulação, só foi possível porque se observa o respeito ao próprio grupo, a demanda que vem do deles, e aí nesse ponto que eu queria fazer um questionamento. Como surge a relação dessa equipe com os Karajá, como esse processo se dá? Porque sabemos que não é fácil, é um processo de confiança mútua, ninguém, nenhum grupo gostaria que houvesse uma entrada de outras pessoas se isso não fosse uma relação de grande confiança. Então, eu queria que Rosani abordasse esse aspecto pra gente.

Rosani:

Obrigada, Marisa. Bom, eu vou falar tanto do museu como instituição, como da minha experiência como pesquisadora. O Museu Antropológico completa 50 anos no próximo ano. Ele surgiu dentro de uma concepção tradicional de museu, ainda com o principal objetivo de formar coleções, que seriam testemunhos do modo de vida de povos que, se acreditava, iriam desaparecer. As primeiras coleções foram formadas a partir de expedições feitas pelo seu primeiro diretor, que foi Acary de Passos Oliveira, que visitou o Xingu, visitou a Ilha do Bananal, as regiões dos rios Araguaia e Tocantins, no contexto de algumas expedições ligadas a projetos de desenvolvimento do Brasil Central, implementadas pelo governo brasileiro. O objetivo dessas expedições era integrar o Brasil Central, construir linhas telegráficas, construir estradas, instalar estações de rádio, desenvolver essa região, que era considerada isolada, inóspita, não povoada, não desenvolvida. Mas essa região, na verdade, era povoada por dezenas, senão centenas, de povos indígenas que nela viviam e muitos continuam vivendo. Uma das tarefas dessas expedições era criar condições para que esses projetos se instalassem nessas áreas, que na verdade eram territórios indígenas. Tinham assim como atribuição desocupar áreas ocupadas pelos povos indígenas. Em função disso, muitos foram deslocados dos seus territórios, outros tiveram a população drasticamente reduzida devido aos conflitos e a doenças. Nesse contexto, foi criado o Parque Nacional do Xingu.

Como os Irmãos Vilas Boas, Acary de Passos esteve presente em muitas dessas expedições. Mas além disso, ele tinha interesse em conhecer os modos de vida dos povos, e se tornou amigo de representantes deles. Era um colecionador e nessas expedições formou coleções, além de produzir importantes registros etnográficos sobre os mesmos. Por isso, pelo conhecimento da região e de coleções etnográficas, ele se tornou o primeiro diretor do Museu Antropológico. Isso, num momento em que as relações entre povos indígenas, pesquisador e povos pesquisados era unilateral e assimétrica, em que o pesquisador ia às áreas indígenas para coletar objetos, para coletar informações etnográficas, sem necessariamente assumir compromissos com esses povos. Existia uma hierarquia entre instituições e as comunidades visitadas, entre os agentes de governo, pesquisadores e as comunidades. Com o passar do tempo, o Museu Antropológico formou sua própria equipe de pesquisadores e todas as coleções formadas a partir de então vieram de projetos de pesquisa em que os pesquisadores foram até as regiões indígenas para realizar suas pesquisas e não apenas para colecionar objetos. Ainda no contexto de uma relação hierárquica, colonial, pois a instituição acadêmica ainda era vista como detentora dos saber e do considerado conhecimento científico. A instituição autorizada a produzir conhecimento sobre esses povos, a estudá-los e a classificá-los, conforme os critérios do modelo acidental de ciência.  

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Atualmente, pensamos nos povos indígenas como parceiros, como interlocutores, como pessoas capazes de produzir saber, de produzir ciência, de desenvolver projetos. Então, o que nos orienta hoje na nossa relação com eles ou qualquer outro povo, qualquer comunidade com a qual trabalhamos é essa postura de diálogo, de interlocução, de respeito e de aprendizagem mútuos. No meu caso particular com relação aos Karajá, essa relação foi construída ao longo de muito tempo. Eu visitei aldeias Karajá em 1996 pela primeira vez, quando fiz a minha pesquisa de campo para dissertação de mestrado e, desde então, essa interlocução nunca foi interrompida. Claro que ela foi construída com apoio de outros que chegaram ao Museu antes de mim, como foi o caso da Profª. Edna Taveira, uma das minhas primeiras orientadoras, que me possibilitou os primeiros contatos com os Karajá, no Museu e nas aldeias.

Atualmente, a geração de pesquisadores que trabalha no Museu relaciona-se com os Karajá como parceiros e como interlocutores e não mais como informantes. Eles frequentam sempre o Museu e desenvolvemos muitos trabalhos juntos. Existe um fluxo constante daqui pra lá e de lá pra cá. No caso desse projeto, a relação não se sustenta apenas nessa possibilidade de deslocamento deles em direção ao Museu Antropológico e da gente pra lá. Também é orientada pelos princípios da interculturalidade, da decolonialidade e da metodologia colaborativa, o saber ouvir, colocar em cheque a nossa arrogância acadêmica e posição de superioridade científica para aproveitar essas oportunidades de trabalho colaborativo para aprender com eles, com a sua ciência e com os métodos de ensinar e de produzir conhecimentos.

Marisa:

A gente tem aqui a pergunta da Hilda, ela gostaria de ouvir da professora Rosani sobre a metodologia colaborativa e se, na sua opinião, é ético e possível o pesquisador informar aos moradores a existência da política pública do patrimônio, depois complementa, “digo moradores no caso de um possível bairro ser tomado, o lugar ou os saberes”.

Rosani:

Respondendo à Hilda... Dialogar, esclarecer sempre sobre o que pretendemos fazer, negociar e saber fazer junto não só é ético, mas é necessário e até mesmo obrigatório. Nenhuma política pública pode ser implementada sem a autorização, o consentimento e a participação do grupo ou povo que será afetado, seja positivamente, ou negativamente, por ela. Então, o primeiro passo sempre é o diálogo, o esclarecimento mútuo e a formação negociada de consensos, inclusive na fase de elaboração dos projetos. A possibilidade de acertar, ou de errar menos, é maior se todas as decisões forem negociadas com todos os interessados. Ainda que seja um tema considerado complicado, e que se imagine que quem não domina o saber escolar não entenderia, já que as políticas são pensadas a partir de conceitos e princípios às vezes muito abstratos, deve existir um esforço para que essas linguagens sejam compreendidas. Por mais que isso seja complicado, pois muitas vezes as limitações são mais nossas do que dos povos com os quais trabalhamos.

Marisa:

Temos duas questões que eu acho que a resposta vai ser rápida, então, vou fazer as duas. Ana Carolina pergunta se o vídeo realizado pelos alunos está no Youtube, se está disponível, e a Iolene gostaria de saber se este livro que está sendo produzido será divulgado nas escolas da rede básica de ensino.

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Rosani:

O vídeo está na fase final de produção, passando ainda pelas últimas revisões e logo que a gente tiver a versão final, vamos disponibilizar. O principal objetivo desse documentário é que os participantes, os autores e coautores desse vídeo se reconheçam nele e que possam usá-lo pra divulgar e fortalecer o seu patrimônio cultural nas suas regiões, nas aldeias e fora delas. Mas será disponibilizado, sim. Quanto ao livro, infelizmente, não tivemos financiamento para fazer a impressão. Mas pretendemos fazer versões impressas para distribuição nas escolas Karajá e também pretendemos disponibilizar um ebook, posteriormente. Mas, o objetivo principal é que esse material seja utilizado nas escolas, apesar de pretendermos também fazer a distribuição de alguns exemplares para instituições públicas e bibliotecas. O objetivo é divulgar, distribuir, compartilhar. Mas, faltam recursos.

Marisa:

A Celiane disse “eu gostaria de ouvir da professora Rosani sobre a existência de políticas internas do povo Karajá para a preservação e manutenção dos saberes na arte de fazer as bonecas Karajá e qual a percepção da comunidade com relação ao título de patrimônio cultural brasileiro conferido às bonecas”.

Rosani:

Obrigada Celiane. Bom, as comunidades, com raras exceções, não têm ainda uma prática de pensar as políticas de patrimônio da forma como elas são pelas instituições públicas brasileiras. Inclusive, porque ainda não houve um investimento mais sólido na construção desses diálogos.

O que a gente percebe é que, depois, o registro teve um efeito positivo na produção das bonecas de cerâmica e nas comunidades que as produzem. Existe uma consciência de que esse reconhecimento público agregou valor econômico e simbólico a esse bem cultural e aos Karajá como seus detentores. Percebe-se orgulho ao falar do registro e o reconhecimento da identidade do povo Karajá.  Mas as peças também passaram a ser mais valorizadas economicamente pelas ceramistas e pelos compradores. Passaram a ser mais demandadas, estão sendo produzidas em maior quantidade, mulheres jovens estão aprendendo ou pretendendo aprender o oficio de ceramistas, o que contribui para a continuidade das bonecas e dos saberes a elas associados, já que são importantes instrumentos didático-pedagógico para a transmissão dos conhecimentos próprios do universo sociocultural Iny Karajá. Isso ocorre não só porque uma orientação de uma política pública fala que o bem cultural deve ser valorizado, transmitido às novas gerações, ter continuidade. Ocorre também porque eles sentiram isso de uma forma mais forte a partir do reconhecimento público, passando também a valorizar mais esse bem, mais crianças terão vontade de aprender, mais jovens estão envolvidos no processo, devido ao valor simbólico e econômico que foi agregado, pois as ritxoko são também uma fonte de renda muito importante para as famílias das mulheres que as produzem. De um modo geral é isso, pensando nas comunidades como um todo. Mas, nesses anos de experiência de trabalho nesse projeto, não só com as ceramistas, mas também com lideranças, professores, estudantes, jovens que trabalharam nos cursos oferecidos na Meta 2, na elaboração de projetos culturais e do documentário, percebemos algo que consideramos muito importante nesse contexto, que á formação política dessas pessoas, que começam a se revelar como protagonistas do seu patrimônio cultural, aptas a pensar esse patrimônio e a propor projetos e ações voltados para o seu fortalecimento.

Marisa:

Eu vou aproveitar essa fala final da Rosani para dizer da importância da cidadania cultural, que nada mais é que isso, quando as pessoas passam a exercer esse protagonismo, ou a sua cidadania a partir de elementos e processos que são importantes para a sua cultura e para as suas comunidades. Para isso é necessário esse trabalho dialógico, pois de outra forma dificilmente existiria esse processo formativo de ambos os lados. Pessoal, mais alguma questão? Porque a questão que eu queria fazer era basicamente a mesma, até escrevi aqui, como que o registro exerceu influência para esse povo e aí acabou inserida na pergunta da Celiane.

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Eu queria saber se vocês teriam mais alguma questão, se não tiverem poderíamos avançar para um segundo momento aqui, eu já disse a vocês que faríamos um sorteio hoje e a Rosani disse que também vai doar para o sorteio uma boneca Karajá, das mais belas, segundo ela. Então, vamos fazer nosso sorteio de quatro livros do primeiro e segundo ciclos de webconferências já ocorridos, daqui a pouco vou falar pra vocês quais foram os temas contemplados e avisar também que nesse terceiro ciclo a nossa intenção também é publicar esse material. Se tudo der certo, publicaremos esse material no segundo semestre. Junto com o sorteio dos livros faremos o sorteio da boneca Karajá que a Rosani está doando para nós. Mas, primeiro eu queria que a Rosani respondesse à pergunta da Maria Catarina: “quais as dificuldades iniciais para execução desse projeto?” depois da resposta, se não tivermos mais perguntas daí nós faremos o sorteio.

Rosani:

Obrigada Maria Catarina. As dificuldades foram muitas e não só iniciais, mas acompanharam todo o trabalho. A primeira delas é a de trabalhar com um território tão extenso, que percorre quatro estados. Outra é a insuficiência dos recursos para realizar um trabalho que exige muitos deslocamentos e a participação de uma equipe grande. A extensão territorial também é marcada por dificuldades de comunicação e acesso a determinadas áreas. Para irmos daqui de Goiânia, da Universidade Federal de Goiás, até o Pará onde ficam as comunidades Iny Karajá que vivem mais ao norte, a gente gasta três dias de viagem, percorrendo estradas de chão, atravessando rios em balsas, com atoleiros em época de chuva. As condições de permanência nas áreas indígenas também não são confortáveis. Mas, o mais complicado mesmo são a limitações impostas por um sistema público, no qual a gente opera, que não foi feito, não foi adequado e não está apto a trabalhar com essas comunidades.

Por exemplo, uma categoria importante nesse projeto são os mestres artesãos, os mestres da cultura Karajá. Para remunerar o trabalho dos artesãos reconhecendo e valorizando o ofício deles, que, inclusive, necessitam ter a sua própria renda e qualidade devida pra pagar bolsa a esses artesãos, foi muito difícil. E não apenas para os artesãos, mas também para os jovens que participaram do projeto, pois são solicitadas uma série de coisas que os exclui, como a exigência de que tenham contas bancárias funcionando regularmente e documentos que poucos possuem. Enfim, são muitos os critérios e exigências burocráticas, sejam referentes às leis orçamentárias da União sejam por parte do IPHAN, da UFG ou da FUNAPE. Se não forem contornadas, essas limitações podem implicar em um resultado muito aquém do esperado. Pra gente realizar o trabalho sem muitos prejuízos tivemos que ir buscando formas de contornar essas barreiras, principalmente considerando uma equipe que contou com muitos colaboradores distribuídos em uma grande extensão territorial, uma quantidade grande de bolsas a serem pagas e controlar isso foi extremamente difícil. O que percebemos com essa experiência é que temos um sistema que não funciona, ou funciona mal para esse tipo de trabalho e que precisa de reestruturação, de flexibilização, considerando que as comunidades indígenas não se encaixam nos modelos existentes de desenvolvimento de políticas públicas. Estamos vivendo um momento em que o discurso da inclusão está em alta, mas para incluir essas comunidades e valorizar os seus saberes, e executar um projeto como esses, encontramos muitas dificuldades. Às vezes, temos que fazer muitos ajustes, quase tornando a regra em exceção, buscar estratégias alternativas para conseguir trabalhar junto às comunidades, conforme suas condições de vida. Não está certo exigir das comunidades condições que elas não têm, ou que se adequem a padrões preestabelecidos para serem incluídas em uma política pública. Estaremos, assim, perpetuando uma relação impositiva, hierárquica e colonialista com relação a elas. Seria uma inclusão submissa. Além disso, organizar as agendas de trabalho, conforme as atividades previstas em cada Meta, foi tarefa extremamente difícil. E o mais complicado foi quando essas agendas não puderam se realizar conforme o cronograma inicialmente previsto, principalmente devido a suspensões de recursos e crises políticas na esfera federal vivida nos últimos anos. Fazer e refazer agendas e cronogramas foi extremamente desgastante, sobretudo, porque a comunicação não é fácil e suspensão e reorganização dos acordos desgastam muito a confiança já estabelecida com as comunidades. Essas são apenas algumas das dificuldades. Na verdade, esse é um trabalho difícil, mas muito recompensador e que nos ensina muito também.

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Marisa:

A Celiane tem outra pergunta: “Professora Rosani, o plano de ação do IPHAN para a proteção das bonecas já foi concluído? Há previsão de conclusão?”

Rosani:

Obrigada, Celiane. Não existe um plano formalizado de ação, que eu saiba, para além do planejamento das ações que foram realizadas no âmbito desse projeto e que relatei aqui. Se você consultar a página do IPHAN como deveria se organizar a política, lá tem todo um protocolo que na prática nem sempre funciona daquela forma. No caso da salvaguarda das bonecas Karajá, creio que esse projeto é o que existe de ação concreta até agora por parte do IPHAN. Esse foi um primeiro momento da política de salvaguarda, um primeiro passo. Finalizando os projetos, revisão dos produtos, conclusão da versão final do relatório, etc, creio que nos reuniremos com as equipes do IPHAN, da DPI e saberemos, então, o que terão como proposta de continuidade, o que existe de perspectivas futuras, para atender às demandas Karajá que fomos sistematizando no decorrer do trabalho.

Marisa:

Aqui uma pergunta da Solange: “Professora, sou do turismo. Qual o impacto deste segmento no modo de produção e de pensar a criação dessas bonecas?”

Rosani:

A primeira grande modificação na forma de produzir as bonecas, como já mencionei antes, ocorreu na década de 1940. É nesse período que as ceramistas passam a produzir, ao invés de figuras isoladas de forma simples e estilizada, figuras mais complexas. São cenas feitas pelas ceramistas mais experientes, dedicadas ao turismo na Ilha do Bananal, que têm início ou se intensifica com os projetos de desenvolvimento que eu já mencionei. A Ilha do Bananal e a aldeia Santa Isabel do Morro, considerada o principal centro de produção e difusão das bonecas, sempre foi considerada um lugar estratégico, de segurança e desenvolvimento, tanto que ali foi instalada uma base aérea da FAB, que já foi desativada há mais de dez anos. Ali também foi construído um hotel de luxo durante o governo Juscelino Kubitschek, o hotel JK, que recebeu artistas famosos do mundo inteiro, além de autoridades nacionais. Ao lado desse hotel foi construído um prédio chamado Alvoradinha, uma referência ao Palácio da Alvorada em Brasília e que era uma espécie de anexo desse palácio na Ilha do Bananal, lugar em que autoridades nacionais se hospedavam quando visitavam essa região. Aquele era um ponto estratégico de navegação de acesso à Amazônia, nos projetos de integração do Brasil Central, já mencionados. Esse momento foi crucial para uma grande mudança estilística e tecnológica na produção das ritxoko, pois ela também passou a ser submetidas ao processo de queima, o que potencializou a mudança. Castro Farias, um pesquisador do museu nacional, que produziu o primeiro trabalho mais detalhado sobre as ritxoko, diz que houve nesse período uma verdadeira explosão de criatividade, resultando numa maior liberdade plástica e numa variedade de formas antes nunca vistas, o que tem a ver com as demandas de instituições culturais e de turistas pelas bonecas.

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Marisa:

Pessoal, creio que as perguntas foram todas respondidas. Vamos, então, passar para o nosso sorteio, com a boneca Karajá doada por nossa conferencista de hoje. Vamos sortear quatro exemplares do mesmo livro para quatro pessoas, é uma coletânea de todas as nove conferências realizadas no 1º e 2º ciclo de webconferências que ocorreram durante a primeira turma da especialização em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania nos anos de 2014 e 2015. Foram dois ciclos, um no segundo semestre de 2014, o outro no primeiro semestre de 2015, que geraram dez artigos. Eu vou falar para vocês os temas nessa coletânea de artigos: “A dimensão cultural da constituição Brasileira de 1988”; “A memória cultural como um direito público: uso dos meios de comunicação na trajetória institucional do IPHAN”; “Ações afirmativas no paraíso racial: relações étnico raciais e educação no Brasil”; “Análise do sistema público de financiamento à cultura no Estado do Ceará”; “Bonecas Karajá como um patrimônio cultural do Brasil: da pesquisa à salvaguarda”, foi a primeira conferência da Nei e da Rosani aqui para nós; “Ceramistas Karajá e o registro de suas Ritxokò: relatos e experiências de pesquisa”;“A memória e o patrimônio no espaço urbano: Avenida Goiás em Goiânia”; “Direitos culturais como direitos humanos”; “Cidadania patrimonial: algumas reflexões na perspectiva antropológica” e “A relação entre cultura e direito: mitos e fatos”. Essas foram as 10 webconferências ocorridas naquele período e com vários pesquisadores também. Eu acho que é um livro que vale a pena ter, todos nós que estamos aí trabalhando, sendo agentes da cultura em nosso país. ....

Bem, gente, feito o sorteio, eu queria agradecer imensamente à Rosani por ter aceito mais uma vez o convite, eu sei o quanto ela é ocupada com as atividades que desenvolve e a gente sempre fica muito feliz das pessoas escolherem vir, mesmo tendo tantas atividades simultâneas em desenvolvimento. É uma pena a Nei não ter podido estar conosco, mas a Rosani conseguiu nos repassar muitas informações valiosas, sem dúvida. Eu queria aproveitar para convidar vocês para o dia 19 de junho para a fala da professora Maurinha, ou Maurides Batista Macedo, ela vai falar sobre “Movimento Negro no Brasil: história e memória”. A professora Maurinha também é do nosso quadro do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos e têm formação na área da História e também na área do Direito.

O pessoal que participou está elogiando e agradecendo à Rosani, e nós continuamos agradecendo sempre essa possibilidade de troca de conhecimentos. Muito obrigada, uma ótima noite a vocês e que possamos ter um bom descanso.