Folia de Reis Goiana e Mineira na Cidade de Goianésia - GO
Este trabalho é resultado das ações de intervenção do Projeto Folia de Reis Goiana e Mineira na Cidade de Goianésia, o qual objetivou ressaltar a importância em manter a cultura popular Folia de Santos Reis na comunidade local e regiões adjacentes, promovendo ações educativas como: pesquisas bibliográficas, entrevistas, registros iconográficos, oficinas e seminários. Toda sistematização inerente ao desenvolvimento da pesquisa foi retratada a partir do acompanhamento dos grupos de Folia Goiana e Folia Mineira na referida cidade. Em Goiás, esse patrimônio de natureza imaterial possui peculiaridades próprias, regionais, em sua comemoração e é nestas características triviais que o trabalho está embasado. Vale ressaltar como a identidade de um povo se constrói com legados históricos, acompanhado com suas diferenças no individualismo e na coletividade. Ao analisar os encontros dos foliões pode-se observar que o contexto histórico cultural está intimamente ligado à história de seu povo, fazendo assim com que a identidade se caracterize pela prática religiosa a partir das ações praticadas pela fé e atribuídas aos seus santos.
Palavras-chave: Cultura Popular. Folia de Reis. Identidade. Religiosidade. Fé.
Aluno: José da Costa
Polo: Goianésia
Orientadora Acadêmica: Rosemeire Bernardino dos Reis
Coordenadora de orientação: Ivanilda Aparecida Andrade Junqueira
Anexos
1. INTRODUÇÃO
Este relatório acadêmico caracteriza-se, em primeiro plano, por abordar a influência da cultura na formação identitária do ser humano; nesse caso em específico, enquanto folião goianesiense. O tema Folia de Reis Goiana e Mineira na cidade de Goianésia buscou conhecimento e entendimento do processo histórico cultural norteando a construção da identidade, onde os agentes, (foliões) em comum acordo entre entrevistador e entrevistados, consentiram em ser sujeitos diretos no levantamento das entrevistas e nas participações ativas.
Ações educativas foram executadas no sentido de levar a esses atores o incentivo de exercer a prática da cidadania, da preservação e da conservação deste Patrimônio Cultural, o que foi enfatizado no decorrer de todo o trabalho. Para a preservação da cultura popular no município de Goianésia faz-se necessário implantar políticas públicas, para não descaracterizar o que há muito tempo vem acontecendo por vontade daqueles que lutam para não deixar acabar com o legado de um povo. De acordo com o Art. 216 da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988):
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.
2. DESENVOLVIMENTO
A Folia de Reis ou Reisado data-se do Século XIX e tem sua origem em Portugal. Esta cultura popular está relacionada com o Natal. Por isso, é considerada uma festa religiosa dentro do Catolicismo. Sua comemoração começa em 25 de dezembro, data em que se comemora o nascimento de Jesus, e termina no dia 06 de janeiro. Na Itália, França, Portugal, Romênia e Espanha, considerados países de origem latina, especialmente na Península Ibérica, esta data de término da Folia de Reis é feriado nacional e passou a ser, também, uma data comemorativa de grande relevância nestes países mencionados (BORGES, s/d) e (ALVES, 2009).
120Os três Reis Magos do Oriente* (Baltazar, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; e Melquior, rei da Arábia) são personagens bíblicos importantes relacionados ao nascimento do menino Jesus, considerado o Rei dos reis. Segundo a Bíblia, eles se encontraram pelo caminho vindo do seu país de origem quando iam para Jerusalém e foram guiados pela estrela do Oriente, porque ela anunciava que um futuro rei iria nascer para governar o estado de Israel. Eles foram até Herodes, rei da Judeia, saber que rei era este e onde ele ia nascer, porque queriam dar de presente mirra, incenso e ouro, respectivamente, e adorá-lo. Eles questionaram ao rei: “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para adorá-lo.” (Mateus 2.2, p. 5).
Herodes não tinha conhecimento desta profecia. Esta narrativa se encontra no Velho Testamento (Miquéias 5.2, p. 906) “E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” e no Novo Testamento (Mateus 2.6, p. 6) “E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar meu povo, Israel”.
De acordo com as atividades de estudo em campo, dentro dos rituais da Folia de Reis as cantorias geralmente são músicas religiosas relacionadas ao tema em deferência aos três Reis Magos. Há seis vozes, tipo coral, onde os foliões(ãs) cantam frente ao Presépio/Altar em homenagem ao Menino Jesus. A primeira voz puxa a cantoria. A resposta vem dos integrantes instrumentistas com as segunda, terceira, quarta, quinta e sexta vozes, que repetem harmoniosamente um ou mais versos cantados pelo Capitão ou Embaixador.
Os instrumentos para o acompanhamento da cantoria são compostos geralmente por: pandeiros, acordeom ou sanfonas, violões, violas, triângulos, tambores, reco-reco, cavaquinho, caixa, etc. Dentre estes, o caixeiro(a) é considerado o mais importante, porque o(a) folião(ã) anima todo o grupo pelas suas batidas compassadas e bastante fortes. (BORGES, s/d).
Conforme os relatos, a comida oferecida é farta na hora do almoço e no jantar, na entrega da Bandeira de Santos Reis para o pouso. O cardápio segue as tradições, como arroz branco, galinhada, feijão, carnes de bovinos e suínos, frango caipira ao molho, torresmos, leitoa assada, guariroba (outros nomes populares: gueiroba, gueroba, gariroba, gairoba, palmito-amargoso, catolé, coco-babão, pati-amargoso, coco-amargoso, coqueiro-amargoso) e saladas de legumes e verduras variadas, bem picadinhas, e refrigerantes. Os foliões vão cantando em volta da mesa, com a bandeira na frente levada pelos anfitriões/anfitriã. Antes de convidarem o pessoal para almoçar/jantar, eles agradecem a comida farta. É tradição que o grupo que compõe a Folia se sirva primeiro. Algumas casas oferecem sobremesas, como doces de leite, pé de moleque, rapadura, doce de mamão em calda e ralado, arroz doce branco/moreno, doces cristalizados de abóbora, mamão, maracujá, uva, etc.
As bebidas oferecidas são destiladas, principalmente a pinga. Onde se esconde uma garrafa de pinga marca-se “X” para que os palhaços a encontrem, orientados por uma canequinha pendurada no meio do arco principal (externo) de entrada das residências. Este ritual da canequinha tem três significados diferentes que são executados externamente ou internamente, que serve de orientação para os palhaços encontrarem a garrafa de pinga. Se a canequinha estiver para baixo significa que a garrafa de pinga e demais brindes estão n’algum lugar no chão, tanto pode ser nas dependências (jardim) ou fora (calçada, rua). Se para cima ou para os lados, os rituais são os mesmos, ou seja, encontrar a garrafa de pinga e tais brindes/objetos. Após encontrá-los, eles pedem licença ao anfitrião/anfitriã para adentrarem em sua casa. Antes, há no chão/calçada algumas letras escritas com milho ou arroz sem casca, as quais o palhaço vai decifrando poeticamente, como: V – S – R – M – J – M – J – T – C. Os significados são: Viva Santo Reis, Menino Jesus, Maria, José e Toda Companhia. Em outras entradas: V – S – R – M – J – M – J – NSA - T – C. Significados: Viva Santos Reis, Menino Jesus, Maria, José, Nossa Senhora e Toda Companhia. Outras: V – S – R – A – C – B. Significados: Viva Santo Reis, A Caminho de Belém, originalmente escrito na Bandeira de Santos Reis.II
121De acordo com os autores Teixeira & Vianna (2011), que acompanharam uma Folia Mineira, assim como relatam em entrevista os foliões Goianesienses/GOIII, as personagens que compõem a Folia de Reis são:
Bandeira: é o componente mais importante da Folia por se tratar de um item sagrado.
Alferes: Mestre dos foliões. É aquele que é responsável pela Folia e por conduzir a Bandeira
Coordenador: É o braço direito do Alferes podendo até substitui-lo em sua ausência.
Embaixador/Procurador: É o responsável pela arrecadação e guarda das ofertas e por dar as vivas de agradecimento.
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Guia e ajudante de Guia: Responsáveis por tirar os cânticos de chegadas, do altar e presépios.
Contra Guia e ajudante de Contra Guia: São os responsáveis por responder os versos que o Guia tirar. Seja de improviso ou não.
Regente: Como o próprio nome diz, ele rege, chama os foliões, devotos e convidados para todos os eventos (rituais) que ocorrem durante o pouso e ou visitas para o terço, para a janta, para esmola, para beijamento da Bandeira, e para o Catira.
Palhaços: Geralmente dois, são os protetores da Bandeira e de toda a companhia e vão à frente conduzindo a Folia e controlando o trânsito para a passagem do grupo de foliões, de acordo com os giros, de casa em casa, até a casa anfitriã, onde a Bandeira vai pousar. Eles ajudam, também, o Regente a manter todos os membros da Folia reunidos para que não se dispersem.
Rezadores/Rezadeiras: Geralmente eles/elas se reúnem na residência onde se realiza o pouso da Bandeira para a reza do Santo Terço, que pode ser cantado ou não.
Músicos: Os músicos compõem a orquestra, que, por sua vez, tem que ser organizada e cadenciada.
Catireiros: São grupos de pessoas com idades variadas entre crianças, jovens e adultos. Uma dupla canta uma música raiz e o grupo de Catira (homens, mulheres ou mistos) sapateia a Catira coreografada. Este ritual (dança) representa um pagamento da boa hospedagem e o alimento.
No Brasil, a chegada da Folia de Reis se deu na época da colonização. O primeiro estado a comemorar esta tradição foi Sergipe, no período colonial, onde se instalou. Porém, os primeiros dados desta tradição vêm do Estado de São Paulo, a partir de 1953. Outros estados da federação comemoram esta Tradição Folclórica Nacional de Cultura Popular, como São Paulo, Bahia, Paraná, Espírito Santo, Rio de Janeiro, principalmente nas cidades interioranas. (ALVES, 2009).
Em Goiás, este Patrimônio de Natureza Intangível, Folia de Reis “Goiana”, data da década de 60. Ela acontecia na Zona Rural, onde os giros eram feitos a cavalo até a casa do festeiro(a) para o pouso da Bandeira e do grupo de foliões(ãs) nos sítios e fazendas vizinhas.
O meio de comunicação que aproximava o homem do campo com o restante do mundo era o rádio, no qual as datas e os locais eram divulgados. Naquela época havia um hiato entre a zona rural e a zona urbana.
De acordo com Alves (2009), na década de 70 ocorreram várias mudanças no contexto socioeconômico, político e cultural. Houve um grande êxodo rural, melhorias nas estradas e transportes e na comunicação tiveram avanços com a invenção da televisão, que representa um meio de comunicação em massa, estreitando as relações culturais do campo com a cidade.
1222.1 OBJETIVO GERAL
Promover ações que possibilitem a integração e interação da cultura popular nacional de natureza imaterial “Folia de Reis” aos estudantes do ensino médio, na modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Escola Estadual Felipe Camarão “Poty”, em Goianésia-GO, incentivando-os a buscar conhecimento e entendimento do processo histórico cultural. Para tanto, ações educativas foram executadas no sentido de levar a esses atores o incentivo de exercer a prática da cidadania, da preservação e da conservação deste Patrimônio Cultural.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Proporcionar aos estudantes o conhecimento sobre a importância da “Folia de Reis” para a cidade de Goianésia e região.
Divulgar as datas comemorativas e o transcurso dos giros diurnos e noturnos (dia, horário e local) da Folia de Reis dos Grupos Folia Goiana e Folia Mineira na comunidade de Goianésia, por meio da imprensa local e distribuição de panfletos nos bairros.
Promover maior integração entre os dois Grupos: Folia Goiana e Folia Mineira.
Valorizar a identidade dos grupos de Folia Goiana e Mineira em Goianésia.
3. METODOLOGIA
O resultado de um bom trabalho tem como principal característica as ações desenvolvidas no método (caminho) da pesquisa. A Metodologia teve o seu papel relevante neste trabalho e norteou os caminhos que foram seguidos durante a execução da Folia de Reis. A implementação da temática proposta, bem como a execução deste Relatório de Intervenção tiveram como base pesquisas bibliográficas, pesquisas de campo e entrevistas. Neste processo, procurou-se manter a coerência, de forma clara e objetiva, na concretização do trabalho, de acordo com os objetivos geral e específicos.
A pesquisa bibliográfica baseou-se em referências publicadas, como livros, artigos, revistas, textos de apoio e a Internet para a inteiração sobre o tema em estudo. Rampazzo (2005), Severino (2007) e Gil (2008) destacam essa necessidade “a partir de documentos científicos publicados para o levantamento da situação em questão garantindo uma maior fundamentação teórica, decorrentes de pesquisas anteriores registradas”.
A pesquisa de campo foi o norteamento para a observação, acompanhamento e registros iconográficos. “Essa pesquisa exige um contato direto com a população alvo através de entrevistas dirigidas aos sujeitos”. (GIL, 2008).
Foram aplicadas aos entrevistados, por meio de questionamentos, um total de 16 (dezesseis) perguntas, de forma estruturada e conhecidas previamente pelos 10 (dez) foliões convidados, permitindo, assim, a espontaneidade em respondê-las, respeitando a oralidade de cada um deles (ver anexo, p. 14). “A Entrevista é um encontro entre o entrevistado e o entrevistador para obter informações a respeito do tema a ser trabalhado podendo ser de forma estruturada ou não estruturada” (RAMPAZZO, 2005).
4. PROCEDIMENTOS
O primeiro contato sobre o Projeto de Intervenção Folia de Reis Goiana e Mineira na cidade de Goianésia foi feito na Escola Estadual Filipe Camarão “Poty”, por meio de um telefonema com a diretora Maria do Socorro. Com ela foi abordado o assunto sobre o referido projeto e as pretensões de executá-lo juntamente com os alunos do 1º ano, na modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em resposta, a diretora comentou que se sentia honrada pela parceria com o projeto, que trabalha a Cultura Popular. Projeto este que foi executado com o planejamento de ser finalizado no dia 12/06/2015, junto com as festividades da Festa Junina.
123Na sequência, em uma aula, ocorreu a apresentação informal de cada participante/aluno, destacando o perfil profissional: havia pedreiros, empregadas domésticas, do lar, funcionários das empresas de Açúcar e Álcool, Codora e Jales Machado, jovens desempregados, jovens autônomos. No segundo momento, foi apresentada a origem da Folia de Reis no Brasil até Goiás na década de 60, fazendo referências às passagens bíblicas sobre o nascimento do menino Jesus, futuro Rei dos reis do povo de Israel. Mateus, (2.2); Miquéias, (5.2) e Mateus, (2.6). Em outra aula foi realizada uma retrospectiva da estrutura do projeto, finalizando com a percepção da importância de sua execução em qualquer período anual, de forma a não se perder no tempo e no espaço, ou seja, continuamente.
Sendo necessário dar prosseguimento na vivência das Folias Goiana e Mineira, com um paralelismo nas diferenças dos rituais e em suas características, foi preciso a realização de registros fotográficos nesta vivência, entrevistas e um estudo dirigido com questões voltadas ao tema abordado. No decorrer da pesquisa e no desenvolvimento do trabalho ficaram registrados os comentários dos alunos, descrevendo o conhecimento do giro da Folia Goiana e Mineira e do uso da bandeira de Santo Reis (ver anexos, p. 14).
Nessa descrição do evento por parte dos alunos, foi demonstrada a tradição nos almoços, nos jantares das Folias, nos alimentos, como a macarronada e a vaca atolada. Apresentaram também narrativa sobre a garrafa de pinga escondida ao pé de um coqueiro, em que um palhaço teve como objetivo encontrá-la, com a indicação das palavras “tá quente ou tá frio”. A criatividade por parte dos alunos foi demonstrada em vários momentos, principalmente no que se refere ao auxílio no desenvolvimento das atividades e no querer conhecer os fatos ocorridos durante a festança religiosa. O entrosamento deles durante toda a apresentação trouxe a comprovação de que é preciso trabalhar a identidade cultural regional, conforme destaca Alves (2009), em seu artigo Folia de Reis: Tradição e Identidade em Goiás:
“Discute a relação entre local sugerindo que a identidade cultural do sujeito moderno é formada pela cultura local, nacional ou regional e também influenciada por culturas distantes, o que não exclui a sua própria identidade cultural local, porque tais elementos podem ser articulados entre si, em um mesmo sujeito, estando o resultado de tais articulações possibilitando a formação de novas articulações identitárias” (ALVES, 2009, p. 03).
A interação por parte da sociedade educacional foi marcante e ficou registrado que é louvável a ampliação das ações relacionadas à cultura regional de Goianésia, sempre contextualizando o ensino-aprendizado e envolvendo a comunidade e as escolas da região. Nas imagens reproduzidas a partir dos anexos, observa-se registros importantes quanto à preservação desta cultura imaterial que envolve comunidade e escola e que dá referência às origens da Folia de Reis. O encantamento e os olhares brilhantes dos alunos ficaram registrados na aparição do palhacinho, em apresentação cultural que demonstrou e identificou a diferenciação ocorrida nas atividades com o decorrer do tempo, presenciada pelos ouvintes nos dias atuais, entre estes: o giro dos cavalos e o trajeto da festa.
124O início da aula posterior foi marcado pela presença da professora Ireni, titular em Sociologia, que se surpreendeu com a receptividade na sala de aula, bem como com uma linda mesa decorada com três vasilhas em acrílico em forma de flores com folha e nas mesmas cores: amarelas, vermelhas e lilás; além disso, os bombons e paçoquinhas e, sobre a mesa, bainhas de coqueiros pintadas com Spray na cor amarela. Neste momento, foi entregue aos alunos o texto que aborda o tema “Para Analisar e Debater”. Após a leitura, foi realizado um fuxico descontraído, através de um bate-papo com a interação de todos, onde se trabalhou a atividade “pensar – refletir – agir – eis as questões”.
Grafar ou sinalizar o(s) parágrafo(s) descrevendo o porquê da importância do texto sinalizado foi a primeira atividade abordando o que foi lido, reforçando e exemplificando os conceitos sobre Cultura Popular, já remetendo aos questionamentos da segunda questão. As duas primeiras questões foram um levantamento sobre o contexto da Cultura Popular, dando um elo e reforçando os questionamentos dos alunos com relação à terceira questão, que aborda a Folia de Santos Reis como uma Cultura Popular Nacional.
Para a conclusão da atividade de interação foram respondidas as questões que abordam a atividade de grafar e registrar os pontos mais importantes do texto e os conceitos sobre a Cultura Popular, finalizando com a abordagem sobre a Folia de Santos Reis, considerada Cultura Popular Nacional.
A participação nos debates reforçou o conhecimento sobre o tema e o envolvimento por parte dos alunos foi marcante para o momento, o que completou o pensamento reflexivo sobre a cultura. Com relação ao texto “Para Analisar e Debater”, boa parte dos alunos escolheu o mesmo parágrafo, o que é normal neste tipo de atividade, vejamos “(...) Uma árvore só se mantém firme quando suas raízes são fortes saudáveis e profundas o suficiente para aguentar as grandes tempestades. Eu gosto de comparar a cultura popular de um povo com as raízes de uma árvore. Só poderemos ser uma Nação forte quando nossas raízes se tornarem fortes e profundas, ou seja, quando nossa cultura popular for respeitada, amada, valorizada e divulgada.”
A riqueza de detalhes e de palavras utilizadas pelos alunos foi interessante para os ouvintes e educadores. A escolha do parágrafo foi foco de debates, descrevendo sobre a Folia de Santos Reis e comparando-a às árvores, com suas raízes fortes, e a importância de se manter a Cultura Popular. A riqueza demonstrada durante todo o Projeto de Intervenção: Folia de Reis Goiana e Mineira na Cidade de Goianésia foi registrada e observada durante todo o desenvolvimento, com o envolvimento da sociedade, dos educadores, dos convidados e, em especial, dos alunos, nossos idealizadores do futuro. O término de toda a apresentação reforçou o contexto de preservação e conservação da Cultura Popular em Goianésia, município do Estado de Goiás.
Então, ficou registrado nas mentes dos educadores e educandos que a Folia de Reis é uma manifestação cultural que não pode ficar apagada no tempo, sendo de vital relevância sua revalorização enquanto expressão de cultura popular. Ela é parte do ciclo natalino, sendo realizada ao final de cada ano e início do ano seguinte, quando se comemora o nascimento de Cristo, por meio do festejo. Brandão (2009, p. 4) descreve que a tradição da Folia de Reis chegou ao Brasil por intermédio dos portugueses no período Brasil – Colônia, sendo que já era uma manifestação cultural realizada por toda a Península Ibérica, onde era comum a doação e trocas de presentes regadas a cânticos e danças nas residências.
125A preocupação de se manter a cultura popular de Goianésia é muito importante para o contexto social, reforçando a ideia do surgimento da Folia de Reis desde o seu início no Brasil, em meados do século XVI, como instrumento pedagógico. No seio da sociedade é preciso trabalhar a “A Folia de Reis” brasileira, composta pelas manifestações culturais de etnias e povos diferentes, com diversas variações regionais em relação ao estilo, ao ritmo e ao som, contudo, mantendo sempre a crença e devoção ao Menino Jesus, a São José, à Virgem Maria e aos Reis Magos. Tremura (s/d) observa que uma das características da Folia de Reis é justamente essa fortíssima religiosidade que os foliões possuem na relação de fé nos seres divinos.
Atualmente, as apresentações têm ganhado mais cores. Para enfatizá-las, nas atividades foi utilizada a máquina digital para as fotografias, realizada uma dinâmica com o tema “dois corações e dois segredos” (decorado em tecido TNT) e demonstrados dois espelhos referenciando a personalidade de cada pessoa. Com relação aos espelhos, o primeiro tratava do produto que registra a moral da história no texto: “Antes de descobrirem que seus colegas estavam falando de si mesmo: a curiosidade matou o gato”. No segundo espelho, havia um papel laminado da cor prata, no formato de um círculo, com a frase: Você não é igual a ninguém. Ao tocar no papel e/ou movimentar o coração, a imagem da pessoa ficava contorcida, como um espelho mágico, em que a imagem refletia de acordo com os movimentos e/ou o toque com os dedos. O objetivo desta dinâmica, além da interação entre os alunos, era observar a amplitude de conhecimento e “franqueza” de cada aluno em relação a sua pessoa e de que maneira seria a apresentação de si mesmo. Este momento ficou registrado com fotos e foi montado um mural, mencionando as ricas ideias e os relatos dos presentes.
A participação nestes eventos que envolvem o conhecimento sobre a Folia de Reis deixa claro para todos que a participação, seja de maneira direta ou indireta, é de fundamental importância para se preservar e conservar essa cultura. Com isso, nossos jovens, em um futuro distante, estarão fortalecidos no conhecimento e repassarão para outros como eram os modos sociais e culturais dos antepassados, o que contribuirá para a manutenção da memória e fortalecerá os cuidados devidos para com a cultura.
5. RESULTADOS
Quanto aos “Produtos e Resultados Finais”, conclui-se que este projeto alcançou as propostas apresentadas, tanto no objetivo geral quanto nos objetivos específicos. Não só os alunos do 1º ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da Escola Estadual Filipe Camarão “Poty” compreenderam a importância de manter e preservar este Patrimônio Cultural Popular e Nacional de Natureza Imaterial, mas, também, grande parte da comunidade goianesiense. Para tanto, há necessidade de se promover e divulgar as datas comemorativas e o transcurso dos giros diurnos e noturnos (dia, horário e local) dos grupos Folia Goiana e Folia Mineira, valorizando os Foliões(ãs) e os Festeiros(as) publicamente, através da imprensa local, de panfletos distribuídos nos bairros, assim como divulgando os giros da Folia de Reis fora de época (pagamento de promessas).
126Outra meta importante, a ser ainda atingida como “produto final”, é integrar os grupos, envolvendo-os a participarem mutuamente do projeto “Associação Folclórica Folia de Reis” (AFFOLIAR), a ser elaborado e, posteriormente, discutido e apresentado para que se pleiteie torná-lo Lei/Decreto Municipal, tendo como uma das finalidades o apoio do Poder Público e do Conselho Municipal de Políticas Públicas, com aprovação de uma verba determinada para contribuir com as despesas com: uniformes, instrumentos, alimentação, viagens etc. .
Como se trata de um Relatório de Intervenção a ser executado a curto, médio e longo prazo, os ajustes serão feitos de acordo com as necessidades que irão surgindo e apresentadas durante a sua vivência (realização), respeitando as características e os ritos católicos desta Festa Religiosa e Cultural, onde o “Profano e o Sagrado” se misturam.
CONCLUSÃO
Em toda trajetória em busca do conhecimento de uma história, inserindo-se aqui, em específico, a Folia de Reis, descobre-se fontes de sabedorias cheias de riquezas de uma cultura popular que merece profundo respeito. Toda essa manifestação cultural retrata a cultura genuína de um povo com suas riquezas, costumes, hábitos e tradições, no individual ou na coletividade de uma comunidade organizada socioeconômica, política e cultural. A valorização dessa cultura contribui para a não descaracterização dos grupos de foliões, desde suas indumentárias, instrumentos e cantorias, nesse confronto (ou contraponto) e convivência com o progresso desordenado do dia a dia em que vivemos.
Neste relatório foi trabalhado o ritual dos dois grupos: Folia Goiana e Mineira na cidade de Goianésia. Nas observações das festividades, foi percebida a ausência dos tradicionais uniformes (roupas coloridas), que foram substituídos por camisetas com estampas das figuras de Santos Reis com propagandas comerciais, trocando, então, a indumentária tradicional e sua originalidade, assim como as violas, que foram substituídas pelos violões, o que descaracterizou essa identidade cultural de natureza intangível: Folia de Reis. Por outro lado, os lencinhos e os broches (cores e formatos diferentes) foram mantidos, cada cor representando um grupo de foliões.
A comunidade deve refletir e preservar, agir e exercer seu papel fundamental como sujeito direto, para manter o que é de responsabilidade da comunidade, o que lhe é próprio e que lhe atribui valor identitário. As políticas públicas devem criar leis elaboradas, voltadas ao objetivo de manutenção e preservação deste patrimônio cultural de natureza imaterial. Este legado, que passa de geração a geração.
REFERÊNCIAS
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BORGES, Michele. Folia de Reis. InfoEscola Navegando e Aprendendo. Disponível em: <http://www.infoescola.com/datas-comemorativas/folia-de-reis/>. Acesso em: 26 mar. 2015.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Memória do sagrado. Estudos de religião e ritual. Campinas, 21 de março de 1983. In: II SEMINÁRIO DE PESQUISA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA UFG/UCG, Goiânia, set. 2009.
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SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007.
TEIXEIRA, João Gabriel L. C.; VIANNA, Letícia C. As proteções contra o mal na Folia de Reis de Votos dos Magos, de Unaí MG. Unaí, 2011. No prelo.
TREMURA, Welson Alves. A música caipira e o verso sagrado na Folia de Reis. Disponível em: <http://www.hist.puc.cl/historis/iaspmla.html>. Acesso em: 10 mar. 15.