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Oficina de Educação Patrimonial - Território e Lugar: Transformações Históricas no Meio Ambiente na atual cidade de Jussara-Goiás

Este trabalho é resultante de pesquisa bibliográfica e de campo na cidade de Jussara (Estado de Goiás) e posterior intervenção cultural em três instituições escolares, no decorrer dos anos de 2014 e 2015. Foram realizadas duas ações (oficinas) em instituições escolares de ensino fundamental e uma de ensino médio, ocorridas no decorrer do ano de 2014. Assim, este projeto trata sobre a história local e a transposição didática dessa cultura à sala de aula. Com isso, o desafio foi traçar metodologias que proporcionassem aos educandos a interação e identificação de si como sujeitos pertencentes à realidade e como (re)fazedores de cultura.

Palavras-chave: Cidade. História local. Transposição Didática. Interação. Cultura.

Aluna: Hilda Freitas Silva

Polo: Cidade de Goiás

Orientadora Acadêmica: Fátima Regina Almeida de Freitas

Coordenadora de orientação: Vânia Dolores Estevam de Oliveira

Anexos

Imagem 7: Pedra fundamental da Matriz de Jussara-GO. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 8: Avenidas Abertas por Migrantes. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 9: Ônibus que transportava pessoas de Jussara a cidade de Goiás. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 10: Primeira Igreja de Jussara demolida em julho de 1976. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 11: Churrascada. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 12: Crianças da Colônia Agrícola de Água Limpa. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 13: Demolição da Igreja. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 14: Homens da Colônia. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 15: Mulheres e Crianças da Colônia. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 16: Casais da Colônia. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 17: Convivência e Coesão na Colônia. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 18: Cotidiano na Colônia. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 19: Cotidiano na Colônia. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 20: Festividade. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 21: Primeiro Carro em Jussara. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 22: Avenidas e Cotidian. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 23: Casamento e Primeiro Prefeito Eleito como Padrinho. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 24: Instituições – Banco. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 25: Instituições – Escola. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 26: Instituições – Prefeitura/Fórum. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 27: Festividades. Fonte: Acervo particular: - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 28: Agricultura. Fonte: Acervo particular - Luzia José da Silva. Fotógrafo desconhecido
Imagem 29: Famílias na Fé e em Movimento. Fonte: Acervo particular - Hilda Freitas Silva. Fotógrafo desconhecido

1. INTRODUÇÃO

Este relatório técnico-científico é resultante de pesquisa bibliográfica e de campo na cidade de Jussara (Estado de Goiás) e posterior intervenção cultural em três instituições escolares, no decorrer dos anos de 2014 e 2015. As intervenções foram duas ações (oficinas) em instituições escolares de ensino fundamental e uma de ensino médio, ocorridas no decorrer do ano de 2014. O trabalho teve como questões centrais o desenvolvimento de pertencimento patrimonial pelo educando a partir dos seguintes questionamentos: “Como a cidade é vista pelos estudantes?”, “Como os estudantes veem a sua história pessoal à história da cidade?”, “Que percepção têm da cidade?”. Dessa forma, tivemos a intenção de aproximar os estudantes para que eles compreendessem a si como sujeitos históricos e culturais inseridos no contexto local, fortalecendo suas identidades e o pertencimento social.

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Como fundamento teórico, Marcelo Lopes de Souza (2013) diz que “é imperativo reconhecer que o território é o substrato espacial material que lhe serve de suporte e referência” (SOUZA, 2013, p. 97). Assim, vejamos abaixo uma imagem:

Imagem 1: Fotografia da década de 1950. Na imagem está a Avenida Marechal Rondon e parte da Avenida Dalvo Garcia.
Acervo particular: Maria de Lurdes Garcia Rebouças. Fotógrafo desconhecido.

Em análise da imagem, Souza (2013) define que o território em primeiríssimo lugar é o poder, ou, em outras palavras, o que determina o perfil é a dimensão política das relações sociais. Nota-se através das imagens que as relações sociais na Colônia Agrícola do Água Limpa – nome do povoado que originou a cidade de Jussara – se firmaram dentro de uma órbita de movimentos sociais, principalmente nas décadas de 40 a 70, advindos dos estados do nordeste na busca de um lugar propício à plantação e vida farta em alimentos.

Na Colônia Agrícola de Água Limpa, por motivos semelhantes de vinda de variadas famílias, a sociabilidade se firmou e formou-se um território; isto é, baseada em relações sociais, o que Souza (2013) afirmou acima. De tal modo, essa história de migração interna, que foi importante para a formação da cidade de Jussara, foi contada apontando os sujeitos dentro do processo de transformações e (re)construção do espaço.

Dessa forma, este relatório é fruto de pesquisa onde o espaço passou por um processo longo de ocupação, tornando-se território e depois se tornando lugar. Ora, a categoria de análise espaço é aquela que antecede a ocupação e, por isso, neste ínterim, ficamos com ênfase no que nos interessa: as categorias de território e lugar. Nesta concepção, centrados em Souza (2013), entende-se lugar como ambiente rico em concentração simbólica, interação e re-criação histórico cultural; e território como conceito de apropriação, significativo para determinadas pessoas. Nesse sentido, os lugares construídos dos quais os educandos fazem parte tiveram destaque nas oficinas que aqui estamos retratando.

Um dos pontos altos da oficina é a questão dos pioneiros da cidade de Jussara, os quais este projeto teve a intenção de descentralizar e proporcionar a todos como fazer história; considerando memórias cotidianas como instrumento importante de reconhecer/fortalecer identidades. Assim, caminhamos para um projeto que tem bases de história a contrapelo (de Walter Benjamin), ou seja, aquela história que valoriza o comum do cotidiano que, por vezes, fica em situação de subalterno.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA DE JUSSARA – GOIÁS

No ano de 2003, as acadêmicas do Curso de Pós-graduação Lato-Sensu em Formação Socioeconômica do Brasil da Universidade Salgado de Oliveira, Izilene Aparecida Rebouças Farias, Marlene Soares de Araújo e Vicentina das Graças P. Diniz Souza, fizeram o trabalho monográfico intitulado “Uma Viagem No Tempo: De Colônia Água Limpa à Jussara-GO (1940-1959)”.

A monografia fora dividida em: Introdução; Capítulo 01 - Considerações Gerais, subdividido em 1.1 Memória, 1.2 Esse Povo Não Pára, 1.3 O País Descobre o Centro, 1.4 Jussara, Que Lugar é Esse?. Já o capítulo 02 as acadêmicas denominaram como Empurrados Por Um Sonho, subdividido em 2.1 A Decisão; 2.2 A Viagem; 2.3 A Chegada; 2.4 O Cotidiano Na Colônia. O capítulo 03, De Colônia Água Limpa à Jussara, foi subdividido em 3.1 Mudança do Nome; 3.2 Emancipação Política; e, depois, a conclusão.

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É notória a emoção que embala e configura a produção supracitada. Nota-se que as memórias ali transpostas demonstram um recorte peculiar da cidade de Jussara. Algo a se destacar neste trabalho é que não há referência do Bairro Nortista, mas sim o registro cronologicamente linear da memória de determinadas pessoas para a população jussarense. O trabalho das estudantes citadas também fora pautado nos documentos que legitimaram a emancipação da então Colônia de Água Limpa, atualmente Jussara, da Cidade de Goiás. Entretanto, notamos uma lacuna historiográfica que paradoxalmente está visível: não há o (re)conhecimento da participação das pessoas do Rio Grande do Norte na formação e/ou pioneirismo na cidade. Este vácuo se refere ao único bairro de Jussara que faz referência a uma população de determinada origem que, no caso, é denominada “Nortista”, em referência à população vinda do Rio Grande do Norte.

Diante deste contexto, nota-se a necessidade de fazer um novo recorte, dando ênfase a pessoas do Bairro Nortista, pois este fora habitado desde o início de Jussara, na então Colônia de Água Limpa, já na década de 1940.  É importante destacar, através de pesquisas neste bairro, que neste início ele fora denominado por outras pessoas como “Nortista” (o nome correto, segundo o IBGE, é potiguar) e este nome o permeou no decorrer dos anos até se tornar seu nome oficial.

Outro fato interessante (re)conhecido é que nessas décadas que antecederam a emancipação da cidade, o bairro não era bem visto socialmente e seus moradores eram todos pessoas do Rio Grande do Norte. No entanto, essa realidade mudou; atualmente o local ainda concentra a maioria de pessoas vindas daquela região; entretanto, há pessoas de variados estados do Brasil, com maior concentração do nordeste.

Nota-se também, através das pesquisas, que o bairro fez a transição de outsiders para estabelecido. Aquela imagem pejorativa que vigorava nas décadas que antecederam a emancipação se fez ruir e, atualmente, é um lugar que permite reviver histórias e agrega a todos nas suas festividades locais. Esses são apontamentos que merecem destaque e que vão ser aprofundados em outra pesquisa e artigo. Mas, vejo que há a necessidade de aqui demonstrá-los para fundamentar a peculiaridade do bairro de uma forma histórica, cultural e social.

Neste direcionamento, em 2006 realizei a pesquisa para término do curso de Graduação em História, intitulado Frente de Expansão e Frente Pioneira da Colônia Agrícola de Água Limpa 1932 a 1958. Os capítulos abordavam a conceituação de frente de expansão e frente pioneira e destacavam os depoimentos de pioneiros da cidade. Neste trabalho, destaca-se o período de formacão do município e o período antecessor à sua emancipação. Fora notado que a aglomeração que hoje é o bairro nortista já era composta por pessoas do estado já mencionado nas décadas de 1940 e 1950. Em se tratando de revisão historiográfica, a monografia foi realizada também com testemunhos que pouco variaram da monografia de Farias, Araújo e Souza (2003), mas que reafirmaram em um estado in loco que a existência do bairro já era algo germinal.

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O ponto destacável desse trabalho, que data de 2006, foi a compreensão dos conceitos de frente de expansão e frente pioneira, já citados, que acarretaram novas reflexões no transcorrer deste trabalho atual, que percorreu o ano de 2014 e 2015.  Nesses estudos, sobre o cotidiano da então Colônia, depois cidade de Jussara, foi confirmado com testemunhos e em documentos escritos do município as histórias e memórias que se entrelaçam dos estudos anteriores e atuais. Em suma, o espaço onde hoje é Jussara em 1940 fora um lugar onde pessoas se reuniram em prol de uma vida com mais fartura em alimentos e, por uma razão climática – no caso, a seca –, muitos vindos da região nordeste adentraram o país em busca de um local para plantar, colher e viver com sua família. Assim, essas migrações internas chegaram aqui e ao encontrar “água” e muitas “árvores” viram que seria um bom local para se fixarem.

Neste contexto, a história que permeia a cidade é que uma família (ou grupo de determinado estado) foi mais engajada ao repassar que o lugar era “bom de viver” e mais pessoas desse estado se fixaram aqui, mas também há um movimento de outros estados da região nordeste nesse sentido. Dessa forma, percebe-se que nos primeiros bairros da cidade há fortes vínculos familiares e/ou fraternos que caracterizam os bairros pioneiros, quais sejam: o Bairro Nortista, o Bairro Goiás e também a parte do bairro central onde se concentra a Igreja Católica.

Ainda através da revisão historiográfica, no ano de 2014 foi feito outro trabalho monográfico denominado Jussara em imagens: A fotografia Como Fonte Para a História Local (1950-1980), de Aparecida Maria Ferreira Cândido. Este trabalho fora apresentado como conclusão de curso em Licenciatura em História da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Jussara. A acadêmica explorou arduamente o conteúdo/pesquisa que Farias, Araújo e Souza (2003) fizeram e compôs o histórico da fotografia, o recurso da historiografia, demonstrando em inúmeras ilustrações o aspecto “imagem” na (re)construção da história e como novo instrumento após a escola dos Annales.

Nota-se nesses trabalhos a intenção científica do estudo da história local ancorado em depoimentos e fotografias, tendo bases predominantes na tese de pioneirismos de baianos. Essas narrativas são perceptíveis cotidianamente na fala da população como também na oficialidade. A intenção deste trabalho não é retirar ou discutir a posição de pioneiros (esta discussão e sistematização poderá ser feita em outro trabalho, apontando inclusive indígenas no espaço hoje considerado Jussara e, também, trazendo conceitos de “nativos” e “desbravadores” relacionados com estrutura de poder), mas reconhecer que mais pessoas fizeram parte dessa história sendo essencial para compreendemos a pluralidade que existe no contexto humano da cidade.

Nestes direcionamentos, o Bairro Nortista passou por um processo de apagamento em relação ao reconhecimento de sua participação na formação da cidade. Diante da predominância dos baianos, as pessoas do local que são do Rio Grande do Norte ficaram separadas, quase que segregadas, naquele espaço que formou o Bairro. Diante disso, vimos que cabe como conceito para esse artigo a história a contrapelo, de Walter Benjamin (no artigo de Benjamim Julião de Góis Filho), que utilizamos para elucidar caminhos e reconhecer as especificidades de nossa cidade, retratadas neste bairro e também em outros, em especial no Bairro Goiás e na parte em volta da Igreja Católica, no centro da cidade.

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Outro teórico, Jacques Le Goff, no livro História e Memória (1924), atenta para o monumento como vestígio humano vivo de uma memória coletiva, como aquilo que é evocado do passado. Para este autor, a memória coletiva tem seus materiais apresentados sob algumas formas principais: monumentos, herança do passado e os documentos, sendo, pois, uma escolha do historiador. Segundo ele, o monumento tem como características o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntário ou involuntário, das sociedades históricas, e o reenviar a testemunhos, dos quais só uma parcela mínima se constitui de testemunhos escritos. Nestes direcionamentos teóricos, vemos que o monumento é somente para aquele que tem uma estrutura de poder. Assim, o reconhecimento de um grupo específico também retrata este poder estabelecido que é sedimentado na construção de uma história, sendo visível no monumento. Se pensarmos atualmente, o monumento é aquilo que aponta a história da cidade e que, atualmente, está no centro da mesma, à frente da Igreja Católica.

Com isso, utilizamos Michel de Certeau (1995) quando ele demonstra que a história não está ligada ao objeto e que ela não é real, pois está no comum e vai além do que é facilmente visível. Ele destaca que é a produção do discurso sobre o real. Ainda com Certeau (1995), outro ponto interessante é compreender o “lugar de fala” e das instituições em que as pessoas se agregam. Repensar a estrutura de poder, seja institucional ou do próprio indivíduo, é essencial para compreendermos as formas cotidianas de resistência às estruturas de poder estabelecido, como também compreender a vida das pessoas e os seus feitos, para que outras conheçam e valorize o comum, o cotidiano, o próximo, os bairros. Por consequência, poderá reconhecer a pluralidade das histórias brasileiras, que são oriundas de momentos passados, revividos, remontados e reinventados culturalmente com a emoção.

Assim, aqui nos retratamos sobre o Bairro Nortista, mas ele acaba sendo uma representação do outsider e do estabelecido. Portanto, não desejamos colocar este bairro em situação divina ou supervalorizar os feitos desses moradores, mas repensar a dinâmica humana no decorrer do tempo, compreender a importância desses e apontar suas histórias para o gozo de mais reconhecimento. Fazendo isso, compreendemos que estaremos dilatando o olhar para outras realidades e não somente para aquela realidade única.

2.2. DIRECIONANDO-NOS PARA A AÇÃO PEDAGÓGICA

Segundo Figueira (2012), “o processo de ensino e aprendizagem deve, necessariamente, incluir diversas possibilidades pedagógicas que estimulem um olhar mais abrangente sobre a diversidade cultural humana” (p. 7). Nesta perspectiva, compreendemos o trabalho realizado a partir deste projeto de intervenção como um instrumento que contempla a diversidade pedagógica que Figueira (2012) retrata, o que, também, foi possível notar na prática, pois houve a estimulação da diversidade no/do educando e a possibilidade de interação.

Figueira (2012, p. 8) diz “que a educação patrimonial possibilita ao aluno perceber que o patrimônio cultural faz parte de sua própria história”. Portanto, ficou visível que o interesse dos educandos e, em especial, de um deles que participava com maior intensidade das ações propostas nas oficinas, demonstrou a familiaridade com o tema, bem como a importância deste na vida e no (re)conhecimento das particularidades do indivíduo. Ainda fundamentamos em Figueira (2012), ressaltando que:

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Acreditamos ser de fundamental importância que a área de História desenvolva na escola propostas interdisciplinares e ações pedagógicas voltadas para a construção conceitual de patrimônio cultural. O ensino de História deve estimular questionamentos como o que é, como é formado, para que serve e que valor tem o patrimônio cultural. É necessário que, na abordagem escolar, ele seja considerado uma prática social e que, a partir daí, desenvolvem-se atividades que levem os alunos a compreender a importância da sua valorização e preservação (FIGUEIRA, 2012, p. 9).

Figueira (2012) diz que o principal objetivo da educação patrimonial é direcionar/promover nos estudantes um novo olhar sobre o patrimônio cultural local, nacional e global, através do reconhecimento das marcas – seja de eventos naturais, decorrentes de transformações geológicas e geográficas, sejam resultantes da interação da humanidade com o ambiente. O autor também aponta que podemos classificar essas marcas da seguinte maneira:

Neste contexto, o trabalho realizado com os educandos permeou todas essas ramificações, pois trabalhamos questões naturais (o espaço natural que hoje é a cidade de Jussara/GO), as alterações que os humanos fizeram e fazem nesse espaço (destaca-se a dinâmica da interação), também evidenciando os bens culturais na expressão do feito humano. Vejamos a seguir o objetivo geral e suas especificidades:

2.3 OBJETIVO GERAL

2.3.1 Objetivos Específicos

2.4 METODOLOGIA

A cidade de Jussara situa-se em um território onde há marcas rupestres que apontam vida indígena em data anterior à emancipação do município, em 1958. O Professor Mestre, Wilson de Souza Gomes (2015), aponta em seu trabalho que, sendo a região de Jussara lugar de moradia de tribos indígenas, as suas marcas deixadas é a essência desse apontamento. Nesse sentido, em complemento à demonstração de “território e lugar”, foram apresentadas fotografias dessas marcas aos estudantes que participaram das oficinas, como também imagens que demonstram o cotidiano da então Colônia de Água Limpa, a qual se tornou Jussara posteriormente.

A monografia “Uma Viagem No Tempo: Da Colônia Água Limpa a Jussara-GO (1940-1959), acima citado, foi fonte importante para o trabalho desenvolvido, pois aponta um tempo de coesão familiar no território da cidade. Dessa forma, a oficina pautou-se em estudos e pesquisas que transitaram na/da realidade de Jussara/GO com que facilmente os moradores podem interagir, devido à facilidade de percepção e de temas cotidianos, como também nas de releituras de estudos científicos, atualização e aprofundamentos de pesquisas sobre a cidade supracitada.

Destaca-se que as Oficinas de Educação Patrimonial fazem parte de desmembramento do projeto que coordeno – em finalização – “Mais Cultura Nas Escolas”, do Colégio Estadual Jandira Ponciano dos Passos (CEJPP), de Jussara. Portanto, nesta oficina objetivou-se utilizar das pesquisas já feitas, ampliando a aplicação através desse novo estudo (inicialmente era para ser feita apenas no CEJPP) e da transposição didática participativa aos educandos. Trabalhamos bibliograficamente por meio de categorias de análises,com ênfase nas categorias território e lugar.

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A metodologia empregada nas oficinas foi baseada na valorização do lugar e dos cotidianos como meios não formais de aprendizado, ou seja, influenciando o estudante a se olhar e a perceber-se como sujeito também fazedor/ativo de uma história e de uma cultura. Portanto, o direcionamento das considerações finais do trabalho foi perceber as interações humano-sociais e a maneira como isso permeou transformações históricas no município de Jussara/GO.

2.5 PROCEDIMENTOS

Para as atividades, foram utilizadas fotografias que demonstram a história de Jussara, como também imagens que remontam a memória da cidade.

Em relação à ação, é necessário dizer que foi pautada em mostrar imagens dentro de uma linha cronológica à atualidade, apontando curiosidades sobre as mesmas, sobre as pessoas que ali estão e os lugares que foram construídos nos espaços. Com isso, é possível dizer que o patrimônio e o trabalho pedagógico foram pautados no contato com o ontem, através das fotografias existentes/conhecidas. Nessas fotografias eram apontados fatos políticos e cotidianos que alteraram o respectivo espaço que agrega a população, ainda existentes ou já extintos, com base na sua história, suas curiosidades e sua função para as pessoas.

2.6 RESULTADOS

Abaixo, segue o texto escrito pela coordenadora de Carina Leal (Escola Municipal Lourival de Oliveira Lôbo):

A Escola Municipal Lourival de Oliveira Lôbo teve a honra em receber a Professora Hilda Freitas na unidade escolar para ministrar uma palestra sobre a história de Jussara em novembro de 2014 em comemoração ao aniversário da cidade. A Professora ministrou oficinas com os alunos do 2º e 3º ano do Ensino Fundamental I no primeiro momento, e no 4º e 5º ano do Ensino Fundamental I no segundo momento, que ouviram atentamente a história de Jussara. Foi utilizado o datashow para melhor visualizar as fotos da fundação da cidade e todo o processo até os dias de hoje. A professora também dialogou diretamente com os alunos e professores presentes respondendo aos questionamentos de dúvidas após sua explanação da mesma (texto escrito em 31 de agosto 2015).

Imagem 2: Fotografia da Oficina na Escola Municipal Lourival de Oliveira Lôbo. Na imagem estão a Acadêmica Hilda Freitas Silva, as duas professoras e os estudantes. Acervo da Escola.
Foto: Carina Leal.

Tivemos a intenção de dialogar sobre a “história local” dentro de um panorama de interação e de valorização plural. Portanto, tivemos muitos momentos de abertura para questionamentos e comentários. Assim, mesmo que a oficina tenha ocorrido de forma “oral”, a interação, também oral, foi uma constante por parte de educandos e dos profissionais da educação que estavam presentes. Abaixo, segue a fala (transcrita) da coordenadora Michely Horbylon (Escola Municipal Soraya Saiva Vilela):

Ficamos agradecidos (pela oficina), pois necessitamos de conhecer a história da cidade e aqui os alunos puderam entrar em contato com essa história. Os alunos ficaram empolgados com o assunto... participaram muito (Fala transcrita da coordenadora em novembro de 2014).

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A coordenadora Michely percebeu o entusiasmo dos educandos, destacando o quanto eles gostaram do momento de ensino e aprendizagem. Nesta escola, em especial, notamos que a receptividade dos alunos ao tema proporcionou maior entusiasmo. Justifico isso devido a essa instituição disponibilizar o tempo necessário à oficina, ou seja, não houve um tempo limite para trabalharmos a ação.

Nessa instituição em que trabalha a coordenadora Michely, a oficina durou aproximadamente 2 (duas) horas, sendo que na outra instituição municipal foi pedido para ser apenas uma aula (aproximadamente 50 minutos) em cada sala. Dessa forma, nota-se que era necessário um tempo maior e/ou um novo replanejamento para articular a oficina ao tempo menor. Por isso, como é um tema que abrange muitos detalhes, houve dificuldade de colocar em prática uma oficina nesse menor tempo, que possibilitasse o alcance dos objetivos de forma plena.

Vejamos o que a Professora Wilza Maria (Escola Municipal Soraya Saiva Vilela) nos diz deste momento:

Quero agradecer a professora Hilda Freitas por ter aceitado o meu convite para apresentar um trabalho que ela está desenvolvendo sobre o município de Jussara, para os alunos do 5ª ano " A" e "B" da Escola. A apresentação foi ótima, os alunos ficaram impressionados com a história do nosso município.

Imagem 3: Fotografia da Oficina na Escola Municipal Soraya Saiva Vilela. Na imagem estão a Acadêmica Hilda Freitas Silva e os estudantes. Acervo da Escola.
Foto: Michely Horbilon.
Imagem 4: Fotografia da Oficina na Escola Municipal Soraya Saiva Vilela. Na imagem estão os estudantes visualizando fotos de Jussara no início da década de 40. Acervo da Escola.
Foto: Michely Horbilon.

Destacamos que após a oficina na classe da Professora Eliane Alves (que é outra professora da escola), ela avaliou a realização como um “momento importante no processo de ensino e aprendizagem”, destacando que na ocasião em que eu estava apresentando o trabalho, um estudante queria muito falar e acabou interrompendo algumas vezes a minha fala. A professora regente ressaltou que não chamou a atenção do estudante, pois ele geralmente é muito calado, expressa-se pouco cotidianamente e tem dificuldades na aprendizagem; com isso, vendo o interesse do estudante sobre o tema, a professora regente, que também estava em sala, não quis rechaçá-lo.

Foi percebido que pensar o outro dentro deste espaço construído (lugar) despertou nos educandos, de diferentes formas, o sentimento de pertencimento, demonstrado depois nas atividades de pinturas, colagens e histórias, posteriores ao momento das fotografias. Este instante de contar histórias foi resultado do processo de pensar a si mesmo como seu fazedor, dentro de um contexto que fora construído historicamente. Caminhamos, portanto, sobre questões de pertencimento e exercício de cidadania, independente de quem seja e de quem a faça. Assim, somos todos ressignificadores culturais e históricos. Vejamos o que Figueira (2012) nos diz:

Para atingir esse objetivo (diversidade cultural humana), nada melhor que a educação patrimonial, que abre leque de interessantes possibilidades para a construção das identidades e memórias coletivas e de noções que envolvem a cidadania, como os direitos humanos e os valores da alteridade, da ética, da solidariedade. Além disso, a educação patrimonial tem o papel de conscientizar nossos aprendizes da responsabilidade de cada um pelo bem geral, no lugar onde vive e na sociedade como um todo (FIGUEIRA, 2012, p. 7 e 8).

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Com essa citação, vemos que a prática realizada em sala de aula condiz com o que Figueira (2012) nos aponta sobre o ser humano e o lugar onde vive, pois sabemos que tanto as experiências não formais quanto as formais são intensas. Por isso, são ambientes que se constituem em comunidades de aprendizagem e as escolas podem e devem usufruir deste meio prático. Nesse contexto, exploramos imagens históricas - fotografias que demonstraram o território que atualmente é Jussara.

Imagem 5: Fotografia da Oficina no CEJPP. Acervo particular: Hilda Freitas Silva.
Foto: Hilda Freitas Silva.
Imagem 6: Aula (PRÉ-BANCA) no Curso de Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Maio/2015. Acervo: Hilda Freitas Silva.
Foto: Lumma Carvalho.

Dessa forma, este trabalho também possibilitou a reflexão da transposição didática sobre “História e Cultura Local” e seus direcionamentos durante as disciplinas da especialização, como também nas atividades de orientação por parte das professoras do curso no decorrer de sua sistematização. Além disso, me acrescentou no processo pessoal e profissional de compreensão das identidades de populações; termos ditos no plural justamente por compreender que somos pessoas que têm “raízes” diversas e pela própria ressigfinicação da cultura, pois essa diversidade se perpetua em variadas facetas.

Com isso, compreendemos que abordar o tema proposto é tratar sobre os sujeitos e suas especificidades. Sejam elas demonstradas em fotos, em testemunhos vivos ou em dados oficiais. Ao final, encontraremos o sujeito, o indivíduo, o cidadão, que busca de forma consciente ou inconsciente se afirmar identitariamente. Dessa forma, vemos que a visibilização das histórias permeia o processo de empoderamento do sujeito. 

3. CONCLUSÃO

Contemplamos a cultura e a história numa abordagem antropológica e social, compreendendo os desejos e subjetividades dos homens e as suas ações na transformação do espaço. Desse modo, este trabalho possuiu a perspectiva da história dos subalternos e de transformação histórica do espaço que hoje é a cidade de Jussara/Goiás. Nessa perspectiva teórica, utilizamos Roy Wagner (2010, p. 75) dizendo que “se reconhecemos a criatividade do antropólogo na construção de sua compreensão de cultura, certamente não podemos negar a essa cultura e a seus membros o mesmo tipo de criatividade”.

Destarte, o autor demonstra o caráter de invenção e ressignificação de cultura a partir da fala. Neste contexto, Michel de Certeau (1995), em seu livro “Cultura no Plural”, também nos direciona a pensar no ser humano e na sua capacidade de invenções de poderes que permeiam o coletivo. Com isso, caminhamos para uma ciência que tem as especificidades como reconhecimento da alteridade e, com este posicionamento, nos aproximamos da antropologia social.

Em suma, a experiência de intervenção a partir das atividades desenvolvidas no Curso Interdisciplinar em “Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania” foi positiva, com algumas ressalvas em referência à prática das oficinas, pois abriu a oportunidade de conhecermos melhor a questão antropológica do lugar. Na conclusão e reflexão desta ação, compreendo a necessidade de reformulação do projeto para futuras ações. O mais importante, considero, foi inicialmente a inserção pessoal e profissional na “cultura local” e, posteriormente, as condições de examinar o contexto cultural local e transpô-las nas oficinas realizadas, repensando-as para novas ações antropológicas.

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Portanto, caminhamos em busca de melhor identificação da cultura local nos aspectos relacionados ao patrimônio material e imaterial e notamos, na prática, a relevância de compreensão da vida das pessoas e de seus feitos para que mais pessoas conheçam e valorizem o comum, o cotidiano, o próximo. Deste modo, consideramos que o maior resultado que tivemos foi intervir de forma a acrescentar à comunidade um sentimento de pertencimento ao território, direcionando a valorização da cultura plural e local. Tenho também o desejo que este projeto e os demais estudos/pesquisas que estou fazendo, culminem em um ponto de cultura no Bairro Nortista, local onde se aglomeram pessoas com história e cultura peculiares.

REFERÊNCIAS

CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. Campinas: Papirus, 1995.

FARIAS, Izilene Aparecida Rebouças; ARAÚJO, Marlene Soares de.; SOUZA, Vicentina das Graças P. Diniz. Uma viagem no tempo: de colônia Água Limpa à Jussara-GO (1940-1959). 2003. Monografia. Pós-graduação Lato-Sensu em Formação Socioeconômica do Brasil. Universidade Salgado de Oliveira, Goiânia, 2003.

FIGUEIRA, Cristina Aparecida Reis & GIOIA, Lilian de Cássia Miranda de. Educação patrimonial no ensino de história nos anos finais do ensino fundamental: conceitos e práticas. São Paulo: Edições SM, 2012.

FILHO, Benjamim Julião de Góis. Na contra-mão da história:  um olhar das teses sobre o conceito de história de Walter Benjamin. Trilhas Filosóficas, Caicó-RN: UERN, 2009. v. 2, n. 1,

GOMES, Wilson de Sousa. O “banco do diabo” e as formas de representação “do outro”: a cultura em Santa Fé de Goiás – o imaginário sobre o vestígio indígena (1975 a 2005). Goiânia: 2015. [manuscrito]

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