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Mapa Conceitual

Autores
Adriele Viana Resende
Thays Moreira dos Santos
Maria Goretti Queiroz
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Introdução

A maneira mais comum de explicar o domínio de um determinado conteúdo é a sua representação gráfica, que pode ser feita por meio de um Mapa Conceitual, sendo este, uma estratégia de ensino que aproxima conceitos e fatos, que tem demonstrado ser metodologicamente positivo à construção de informações de maneira interdisciplinar e individualizada. Através dessa metodologia, o estudante pode elaborar conceitos e os organizar em forma de estrutura cognitiva, formando assim uma rede hierárquica e linear de pensamentos para cada conhecimento ancorado (FERREIRA; COHRS; DE DOMENICO, 2012).

Este capítulo de revisão foi elaborado para fim avaliativo da disciplina de Metodologias Ativas no Ensino em Saúde, do Programa de Mestrado Profissional em Ensino na Saúde. Como guia, o capítulopossui quatro questões norteadoras, sendo elas: Por que elaborar um mapa conceitual? Como elaborar um mapa conceitual? Como avaliar um mapa conceitual? Como avaliar se o estudante aprendeu o conteúdo utilizando um mapa conceitual?

Por que elaborar um mapa conceitual?

No contexto educativo atual, não se fala mais em estímulo, resposta, reforço positivo, objetivos operacionais e tecnologia educacional, pois estes conceitos fazem parte de uma época na qual a entusiasma comportamentalista na educação era importante e revelavam nas estratégias de ensino e nos materiais. Nesse contexto, o ensino e a aprendizagem eram enfocadas nos termos de estímulos, respostas e reforços, não de significados (MOREIRA, 2011).

As palavras que regem o ensino atualmente são aprendizagem significativa, mudança conceitual, ensino centrado no aluno e construtivismo, sendo assim, um bom ensino deve ser construtivista significativa, estar centrado no estudante, promover mudança conceitual e facilitar a aprendizagem significativa (MOREIRA, 2011).

O processo pelo qual uma nova informação se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva a estrutura cognitiva do estudante é denominada aprendizagem significativa. É nela que a o significado lógico do material de aprendizagem se transforma em significado psicológico para o sujeito (MOREIRA, 2011).

Traduzindo em conceitos, não-arbitrariedade significa que o material potencialmente significativo se relaciona de modo não-arbitrário com o conhecimento já existente na estrutura cognitiva do aprendiz. A base de conhecimentos do aluno serve de matriz ideacional e organizacional para a incorporação, compreensão e fixação de novos conteúdos quando estes se relacionam com conhecimentos especificamente relevantes já existentes na estrutura cognitiva (MOREIRA, 2011).

Moreira, 2011, também define substantividade como o que é incorporado a estrutura cognitiva é a substância do novo conhecimento, não as palavras especificamente usadas para expressá-las. O processo da aprendizagem significativa está no relacionamento não-arbitrário e substantivo, e é desta interação que surge, para o aprendiz, os significados dos materiais potencialmente significativos.

Os Mapas conceituais foram desenvolvidos como instrumento para organizar o conhecimento prévio e representa-lo de uma maneira prática para si mesmo e para outras pessoas (AZEVEDO, 2005).

Mesmo não tendo sido citados na teoria da aprendizagem significativa, os mapas conceituais são uma importante ferramenta no preparo de organizadores. Isso é possível devida a assimilação de novas proposições através de estruturas cognitivas pré-existentes (PUGA LZ; BIANCHINI BL., 2006).

Os mapas conceituais tratam-se de uma ferramenta utilizada para auxiliar estudantes sobre a estrutura de um determinado conhecimento e em todo processo de construção do pensamento, auxilia também professores na busca de ideias centrais que representam um conjunto de significados em uma estrutura na qual se inclui o conceito novo (RIBEIRO et al., 2018).

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Os mapas conceituais podem ser utilizados de variadas formas no processo de ensino e aprendizagem, por exemplo, como instrumento didático, no planejamento curricular, em avaliações, organizando previamente os conteúdos didáticos, como diagnóstico prévio de conhecimento, como resumo e como forma de aprimoramento do pensamento sobre determinado tema (RIBEIRO et al., 2018).

Os mapas conceituais possuem um grande potencial para o aluno, tanto para ajudar a formar novos conceitos, como para avaliar em relação ao aprendizado adquirido (MOREIRA, 1998),

Como elaborar um mapa conceitual

Considera-se um bom mapa, aquele que apresenta uma seleção de conceitos significativos relacionados com o tema principal. Cada conceito pode-se relacionar com os outros conceitos, sendo capaz de realizar um grande número de conexões entre eles, revelando a intimidade do autor com o tema (TAVARES, 2007).

Existem virados modelos de mapas disponíveis para os estudantes, alguns deles são preferidos pela facilidade de elaboração, pelo destaque no produto que descreve ou pela ordem conceitual apresentada (TAVARES, 2007).

Apesar de não possuir regras para a criação de um mapa, geralmente as representações são feitas através de setas, mas diferentemente dos organogramas e diagramas, as setas do mapa conceitual não indicam sequência, temporalidade, direção ou hierarquia. O importante do mapa conceitual é que seja um instrumento de aprendizagem capaz de demonstrar significados atribuídos aos conceitos e as relações entre eles, no contexto de determinado assunto (GOMES, 2011).

Para um estudante construir um Mapa conceitual é importante considerar alguns passos como auxilio: 1) faça uma chuva de ideias/conceitos; 2) organize suas ideias; 3) estabeleça os conceitos; 4) faça relações entre os conceitos; 5) reveja as ideias, os conceitos e a organização, se necessário, faça mudanças (MOREIRA, 1998).

Passo a passo sugerido para a elaboração de um mapa conceitual (MC).
Fonte: (GOMES, 2011)
1 Identifique os conceitos-chave do conteúdo que vai ser trabalhado no MC e liste-os. Limite entre seis e dez o número de conceitos.
2 Ordene os conceitos, colocando o(s) mais geral (is), mais inclusivo(s) no topo do MC, e gradualmente, vá agregando os demais até completar o diagrama, de acordo com o princípio da diferenciação progressiva.
3 Conecte os conceitos com linhas e rotule essas linhas com uma ou mais palavras chave que explicitem a relação entre os conceitos.
Os conceitos e as palavras-chave devem sugerir uma proposição que expresse o significado da relação.
4 Inclua exemplos no MC, opcionalmente, abaixo dos conceitos correspondentes; neste caso, os exemplos ficarão na parte inferior do MC.
5 Revise o MC, pensando outra(s) maneira(s) de organizá-lo — ou seja, outros modos de hierarquizar os conceitos. Lembre-se que não há um único modo de traçar um MC. À medida que muda sua compreensão sobre as relações entre os conceitos, ou à medida de que você aprende, o MC também muda. O MC é um instrumento dinâmico, refletindo a compreensão de quem o faz no momento em que o faz.
6 Compartilhe seu MC com colegas eaproveite para examinar as MC elaborados por eles. Pergunte o que significam as relações, questione a localização de certos conceitos, a inclusão de alguns que não lhe parecem importantes, a omissão de outros que você julga fundamentais. O MC é um bom instrumento para compartilhar e negociar significados.
Figura1: Mapa conceitual que explica mapa conceitual confeccionado em sala por alunos de mestrado
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Como avaliar um mapa conceitual?

Cogo et al. 2009 afirmam que o uso dos mapas conceituais tem se destacado nos últimos anos, principalmente no ensino em saúde com abordagem construtivista. O mesmo estudo aponta ainda que, os estudantes que utilizaram o método durante a graduação ou pós-graduação, foram capazes de agregar conhecimentos essenciais de forma interdisciplinar, significativa e reflexiva. No entanto, para mensurar uma avaliação adequada da construção desses mapas é preciso considerar alguns critérios norteadores.

Alguns estudos direcionam que estes critérios devem ser considerados e registrados durante toda a construção dos mapas conceituais para que sejam importantes para avaliação do conhecimento, que devem ser claros e definidos previamente, podem ter scores para uma melhor avaliação e cabe ao professor a definição do instrumento que será utilizado de acordo com os itens que serão avaliados, sejam eles relacionados a um tema, uma disciplina ou uma unidade de ensino potencialmente significativa (RIBEIRO et al., 2018).

Os mesmos autores concluem que os mapas constituem uma forma útil de avaliação do conhecimento e demonstram sobre o uso de alguns critérios para avaliação de mapas conceituais como: a forma de construção dos mapas, representação adequada dos conceitos, relações conceituais coerentes, distribuição de níveis hierárquicos, criatividade e capacidade cognitiva dos alunos.

Matuella et al. 2016, corroboram com alguns critérios já mencionados, adicionam outros e os relacionam em forma de tabela para uma melhor exemplificação, dividindo-os em 10 categorias distintas como o observado na imagem abaixo.

Fonte:  (MATUELLA et al., 2016)
Categorias Descrição dos critérios
Conceitos O mapa tem pelo menos 50%dos conceitos básicos estudados?
Criatividade e novos conceitos Há criatividade na elaboração do mapa? Há conceito novo relevante para o assuntoem questão?
Ligações entre conceitos Quantas ligações há entre os conceitos?
Palavra de ligação As palavras/frase de ligação fazem sentido lógico com conceitos a qual se ligam?
Exemplos O mapa apresenta exemplos apropriados para o assunto em questão?
Proposições (conceito-palavra de ligação-conceito) 0 mapa tem pelo menos 50% da quantidade de proposições válidas do mapa de referência? As proposições tem significado lógico? As conexões estão de acordo com o que e cientificamente aceito?
Hierarquia Os mapas apresentam ordenação sucessiva dos conceitos?
Diferenciação Progressiva É possível identificar os conceitos mais gerais e os mais específicos?
Reconciliação Integrativa Ha relações cruzadas ou transversals entre conceitos pertencentes a diferentes partes do mapa?
Clareza, estética, sómbolos geométricos (caixas, círculos) O mapa é legível e de fácil leitura? Existe clareza de leitura do mapa para o leitor? O mapa e legível? Todos os conceitos aparecem dentro de caixas?
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Como avaliar se o estudante aprendeu o conteúdo utilizando um mapa conceitual?

Souza, 2006, evidencia que os mapas conceituais favorecem que o professor compreenda a situação de aprendizagem do aluno e promova uma avaliação formativa, à medida que proporciona a identificação e análise de erros, além de favorecer o diagnóstico apurado do desenvolvimento cognitivo dos estudantes.

Souza e Boruchovitch, 2010 apresentam algumas características que devem ser consideradas para que seja avaliada a aprendizagem do aluno por meio da criação do mapa conceitual, são elas: a promoção de feedback frequente e de alta qualidade; possibilidade de alteração da didática; favorecimento à autorregulação, responsabilização e melhores condições de aprendizagem; desmistificar os erros e considera-los como etapas para a construção do conhecimento; estimular o envolvimento do estudante, sua motivação e autoestima; transformar tarefas de avaliação em tarefas de aprendizagem. 

A apresentação oral do mapa conceitual pode compor uma forma relevante para avaliação da aprendizagem do estudante, por constituir um momento em que o educando utiliza a comunicação verbal para expressar a forma como foi organizada a configuração gráfica do mapa, além da utilização das palavras de ligação para contextualização dos conceitos apresentados, o que pode clarificar para o docente a forma como o aluno interpreta, argumenta e compreende o tema abordado. O discente por sua vez, pode expressar com a linguagem e vocabulários escolhidos o seu conhecimento prévio, o que passa a configurar a aprendizagem significativa de forma construtivista.

Lopes, 2007 salienta que o conhecimento do educando não é estático e para que consiga aprender algo novo se faz necessário uma boa base, um bom direcionamento, acompanhado de estímulo adequado. Neste caso, Souza e Boruchovitch, 2010, conclui que o mapa conceitual é bastante produtivo, embora tenha vantagens e desvantagens para o docente, e utilizá-lo não seja tarefa fácil, as oportunidades que eles viabilizam podem ser compensatórias e os resultados no que se refere a avaliação da aprendizagem são significativos.

Referências 

AZEVEDO, A. Nova tecnologia aplicada ao ensino de bioquímica: Construção e Validação de um Software Educacional do Tipo Jogo. p. 291, 2005.

COGO, A. L. P. et al. Evaluation of concept maps developed by nursing students with software support . Texto e Contexto Enfermagem, v. 18, n. 3, p. 482–488, 2009.

FERREIRA, P. B.; COHRS, C. R.; DE DOMENICO, E. B. L. Software CMAP TOOLS® para a construção de mapas conceituais: a avaliação dos estudantes de enfermagem. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 46, n. 4, p. 967–972, 2012.

GOMES, A. P. G. ET AL. O Papel dos Mapas Conceituais na Educação Médica The Role of Concept Maps in the Medical Education. v. 35, n. 2, p. 275–282, 2011.

LOPES, B.J.S, O Mapa COnceitual como ferramenta avaliativa. Londrina PR, Universidade Federal de Londrina, 2007.

MATUELLA, A. et al. Uso de mapa conceitual para aprendizagem de conceitos de química na educação profissional. n. 1995, 2016.

MOREIRA, M. A. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. O Ensino. Revista Galaico Portuguesa de Sócio- -pedagogia e sócio-linguistica, p. 41–54, 1998.

MOREIRA, M. A. APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: UM CONCEITO SUBJACENTE 1 (Meaningful learning: an underlying concept). Aprendizagem Significativa em Revista/Meaningful Learning Review, v. 1, n. 3, p. 25–46, 2011.

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PUGA LZ; BIANCHINI BL. ELABORANDO MAPAS CONCEITUAIS NUM CONTEXTO MATEMÁTICO ATRAVÉS DE UM SOFTWARE. Encontro Gaúcho de Educação Matemática – EGEM, p. 1–4, 2006.

RIBEIRO, T. N. et al. trigonometrical ratios in right triangle ). v. 8, n. 1, p. 21–37, 2018.

SOUZA, N. A. A função pedagógica do erro. III CONGRESSO INTERNACIONAL EM AVALIAÇÃO EDUCACIONAL. Anais... Fortaleza: ABAVE, p. 215246, 2006. CD-ROM

SOUZA, Nadia Aparecida de and BORUCHOVITCH, Evely. Mapas conceituais: estratégia de ensino/aprendizagem e ferramenta avaliativa. 2010, vol.26, n.3, pp.195-217.

TAVARES, R. Construindo mapas conceituais. v. 12, p. 72–85, 2007.