Licenciatura em Artes visuais Percurso 1
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Metáforas para o Ensino de Artes Visuais na Modalidade EAD

Autora

Drª Leda Maria de Barros Guimarães Possui graduação em Licenciatura Plena Em Educação Artística pela Fundação Armando Álvares Penteado (1985), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Piauí (1995) e doutorado em Artes pela Universidade de São Paulo (2005). Pós Doutorado na Universidade Complutense de Madrid. Atualmente é professora titular da Universidade Federal de Goiás. Criou (2005/2007) e coordenou o curso de Licenciatura em Artes Visuais na modalidade EAD do programa Universidade Aberta do Brasil (2007-2011). Tem pesquisado formação de professores em artes visuais, arte e cultura popular e sobre o ensino de artes visuais por meio das Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs. Foi vice-presidente da Federação de Arte Educadores do Brasil -FAEB vigência 2011/2012. É membro do Conselho Mundial do InSea (International Society for Education through Art) para a América Latina, e membro do Conselheira do CLEA - Consejo Latinoamericano de Educación por el Arte.

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Contextualizando os caminhos

A Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás aceitou o desafio da atual política do governo federal para expansão do ensino superior através das tecnologias de informação e comunicação. Ao formular o projeto inicial para participar do edital do MEC, não se tinha noção do interesse que uma Licenciatura em Artes Visuais iria despertar em cidades de pequeno e médio porte. Surpreendentemente, muitos municípios que concorreram para serem polos da UAB/UFG incluíram o curso de Artes na sua demanda. Outros estranhamentos surgiram ao longo do percurso. Uma das indagações mais frequentes foi como seria possível aprender-se arte(s) a distância, pois a imagem romântica que ainda temos desse processo é aquela do artista e seus discípulos no atelier ou oficina de artes. Assim, esse texto foi elaborado para tentar refletir sobre essa questão e tentar, como já coloquei, mostrar a estreita relação do processo da aprendizagem artística com os “novos” meios de comunicação.

Começo então propondo que pensemos tanto o ensino de arte como a educação a distância como sistemas. Para tecer considerações sobre a noção de sistema, valho-me das ideia das cúpulas ou domos geodésicos estruturas inventadas pelo arquiteto norte-americano Richard Buckminster Füller (1895–1983).

Exemplo de pirâmide com base em tetraedro.
Cúpula ou domo geodésico do Pavilhão norte-mericano da Exposição Mundial de 1967 (em Ile Sainte-Helene, Montreal, Canadá) projetada por R. Buckminster Fuller. Hoje em dia designada de “Biosfera”, é uma aplicação exemplar da estrutura designada por cúpula geodésica, segundo o conceito desenvolvido por Fuller, no âmbito do seu pensamento “sinergético”.
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Essas estruturas baseiam-se no fato de que quando três triângulos se combinam de modo a formar uma pirâmide sendo a própria base dessa pirâmide também um triângulo, forma-se um tetraedro.

Juntando-se vários tetraedros para formar uma esfera e cortando-se a esfera ao meio, o hemisfério assim formado revela-se um domo de extraordinária resistência e de leveza excepcional. O objetivo de Fuller:

...era criar abrigos versáteis, leves e flexíveis: “máquinas de habitar capazes de se modificar consoante as necessidades de quem as habitava”. Para alcançar essa meta, Fuller desenvolveu, como suporte teórico da sua experiência empírica, o que chamou de “geometria energético-sinergética”. Essa base teórica envolve conceitos diversos em que filosofia e geometria se entrelaçam num todo que faz lembrar as próprias malhas das cúpulas que lhe deram fama. O termo “sinergia” é hoje aplicado numa infinidade de situações, querendo significar que o comportamento da totalidade de um sistema não é previsível a partir do comportamento das suas partes consideradas isoladamente. É, pois, uma visão holística, em que o todo é “maior que a soma das suas partes”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Buckminster_Fuller. (grifo nosso)

Não é meu propósito fazer um tratado sobre as geodésicas, apenas tomo de empréstimo algumas de suas características estruturais: resistência, leveza, flexibilidade, capacidade de mudança, adaptação e expansão para vislumbrar esse sistema interativo para a educação das artes numa aprendizagem em rede. Em situações de aprendizagens significativas de artes também ocorrem operações sinergéticas como as usadas por Fuller na construção dos seus domos, que tanto encantam o mundo pela sua eficiência, beleza, plasticidade, possibilidades de aplicação, etc. Reuni num mesmo grupo flexibilidade, capacidade de mudança, adaptação, para depois explorar a capacidade de expansão, de leveza e, finalmente, a capacidade de resistência.

Flexibilidade, capacidade de mudança e adaptação

Na contemporaneidade, a legitimidade do saber não se sustenta mais nos “metadiscursos” das grandes narrativas. A pequena narrativa é vista como a forma por excelência que toma a invenção imaginativa em todos os campos de conhecimento. Da arte à ciência. Assim como outros autores (Canclini, Shustermam), Edgar Morin faz o elogio do pluralismo e da complexidade defendendo a construção de uma reflexão aberta, alheia aos sistemas filosóficos totalizantes. Atento aos acontecimentos culturais que permeiam a malha urbana, investiga desde as manifestações tribais juvenis até os diagnósticos sobre o crescimento da barbárie e o papel da mídia na constituição do imaginário contemporâneo.

Na situação de professores ou alunos de artes, necessitamos exercitar as capacidades de flexibilidade, de adaptação e de mudança, pois, na investigação de processos artísticos, temos um ponto de partida, mas não exatamente um ponto de chegada. Quanto aos conceitos, passamos, na contemporaneidade a entender que são construções temporárias, que não existem grandes verdades a respeito de arte, nem mesmo uma unanimidade do que exatamente venha a ser arte.

Dessa forma, caminhamos para uma concepção de arte mais ampla, que considere o valor estético de diferentes culturas, que reconheça como arte não é só aquilo que está nos museus e nas galerias, que abra espaço para a expressão cultural das minorias e dos diferentes. Uma concepção de arte contextualizada localmente e conectada globalmente. Arte como processo cultural, como linguagem e conhecimento. Tudo isso implica numa concepção multicultural de arte.

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Pensando na questão técnico-operacional, as cúpulas de Fuller podem ser construídas com toda a sorte de materiais, desde o bambu a fibras de aço-carbono. Essa possibilidade aplica-se também ao campo da arte e seu ensino! Aliás, fazer arte não é possível sem a experimentação prática e teórica e a devida contextualização histórica, sócio-cultural, econômica, etc.

Capacidade de mudança e de adaptação são requisitos da aprendizagem em artes, pois a base dessa aprendizagem é a pesquisa e a investigação. As capacidades de flexibilidade, mudança e adaptação são também importantes para reconhecermos a situação cambiante das atuais identidades em situações educacionais ou em contextos pedagógicos. Considero que o fato de reconhecermo-nos, professores e alunos, como seres de identidades em processo, pode ajudar para que não tratemos os conhecimentos (ou saberes) de forma monolítica. As formas de aprender e ensinar/de ensinar a aprender/e de aprender a ensinar também são ressignificadas de acordo com as mudanças pelas quais indivíduos e grupos passam.

Dois pontos geram um terceiro ponto, e cada ponto é cento de uma esfera de conhecimento. O triângulo que se forma é a sítnese de duas ações em intersecção.

Expansão

Como foi colocado acima, a força do domo geodésico vem do encontro de três triângulos que formam um tetraedro formando uma curvatura de “extraordinária resistência e leveza excepcional”. Arriscarei aqui uma analogia da formação do domo com a Abordagem Triangular para o ensino de artes visuais da professora Dra. Ana Mae Barbosa. Colocando de forma resumida, sua proposta é que usemos em concomitância as três instâncias básicas da aprendizagem da arte: fazer/contextualizar/e refletir. Lembremos que a professora Ana Mae ressalta sempre que não existe um vértice que seja o começo ou fim da ação pedagógica ou do processo de aprendizagem. Assim se pensarmos em cada triângulo da proposta da abordagem triangular num movimento contínuo de desdobramento em tetraedros que, expandindo-se vão formar geodésicas, teremos metodologicamente ações pedagógicas reforçadas pela expansão de múltiplas possibilidades do fazer, contextualizar e da reflexão crítica, resultando e favorecendo o fortalecimento do sistema da aprendizagem em rede.

Outro aspecto da expansão em relação ao ensino/aprendizagem de arte através das tecnologias digitais é a passagem da situação de meros usuários ou consumidores de linguagens artísticas para a condição de produtores/atores de suas próprias narrativas. A manipulação de câmeras e filmadoras, a facilidade de fazer o download das imagens no computador, que traz programas de edição digita, permitem a manipulação da narrativa e a multiplicidade de papéis: ator, diretor, editor, por um mesmo indivíduo, reduzindo custos e trazendo o mistério da tecnologia para o cotidiano especialmente dos nossos jovens. Softwares como o programa Flash permitem a criação de animações antes só acessíveis a profissionais da área.

Outro aspecto dessa expansão é a hibridação das formas das linguagens artísticas. As tecnologias de informação e comunicação precedidas pelos mecanismos da indústria cultural promoveram a queda de fronteiras entre “formas puras” de linguagem de arte, gerando no dizer de Canclini (1998), os gêneros impuros. Para o autor, esses gêneros transitam entre o visual e o literário, o culto e popular, aproximam o artesanal da produção industrial e da circulação massiva. Os grafites e os quadrinhos são exemplos de gêneros que nascem em fronteiras culturais e, por isso, são denominados de “impuros”. Tornam-se uma “escritura territorial da cidade” e relativizam a relação de propriedade, desterritorializando e reterritorializando os espaços públicos, muitos deles já degradados. As tensões entre desterritorializar/reterritorializar referem-se à ‘perda natural’ da cultura com os territórios geográficos e sociais e, ao mesmo tempo, certas relocalizações territoriais relativas, parciais, das velhas e novas produções simbólicas (CANCLINI, 1998: 170).

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Sem dúvida, esse repertório de novas linguagens visuais, híbridas e expandidas por natureza já faz parte do repertório do público dos sujeitos aprendizes ou passarão a fazê-lo, pois o ensino que propomos dar-se-á majoritariamente através das tecnologias de comunicação e informação. Quando falamos de ‘implementar” educação on-line, em rede ou a distância, é importante lembrar que não somos nós, professores, os detentores dos saberes operacionais. Milhares de jovens (não exclusivamente) aprendem e ensinam na rede www, num espaço desmaterializado, desterritorializado e re-territorializado em tantas tribos on-line. Basta, por exemplo, dar uma olhada na diversidade de grupos de discussão como por exemplo, a lição de desenho on-line que retirei do site DrawSpace, localizado no endereço: http://www.ovelho.com/modules/news/article.php?storyid=40031.

No site DrawSpace, você tem lições on-line de desenho que podem fazer você virar um verdadeiro artista! Fonte: LifeHacker.

Antes que me acusem de unilateralidade a favor dos saberes já dominados pelos usuários/produtores das tecnologias digitais na contemporaneidade, quero lembrar que todo sistema é feito de trocas, de retroalimentação; assim, de um lado, nós professores precisaremos dialogar tanto com aqueles que já transitam nas redes www como com muitos outros que não têm a menor familiaridade com o computador e muito menos com a internet.

Muitas situações nos desafiam, por exemplo, a facilidade de os jovens pesquisarem tudo na internet, no Google ou em outros sites de busca e fazerem a famosa operação “copiar e colar”, sem colocar referências/autorias. Esses desafios trazem para a nossa agenda pedagógica tanto a questão da discussão sobre ética quanto a riqueza de novas formas de construir conhecimento.

Leveza

Para relacionar a característica de leveza da geodésica como uma operação sinergética do ensino de arte, proponho que reflitamos sobre a maneira como a arte costuma ser vista na escola. Geralmente, a arte é compreendida pela direção, coordenação, professores e alunos, como uma disciplina de passatempo, que não tem nada a contribuir, no caso da classe média, para o vestibular, no caso da classe trabalhadora, para arranjar um emprego. A disciplina não é vista como tendo conteúdos e portanto não é levada “a sério”. Arte é considerada mais “leve”, menos pesada. Existe mesmo o jargão de que uma pessoa que não trabalha muito, ou não pega no pesado, é “um artista”, ou “vive na flauta”.

Trago aqui a contribuição de Michael Parsons (2006), com base em outros autores (Feltovich, Spiro, dentre outros), sobre disciplinas fracamente estruturadas na defesa de que o campo da arte teria essa característica:

O caráter fracamente estruturado da arte é devido ao fato que este é um dos modos básicos que nós temos de formar e comunicar ideias, e a arte pode fazer isso precisamente porque está situada no cruzamento de muitos outros interesses. Não tendo como pensar por si própria, ela procura negociar com qualquer parte da vida, qualquer tipo de problema com qualquer profundidade, nuances, graus de complexidade que o usuário puder lidar. Nesse sentido, arte visual é tanto mutante e universal, como também uma linguagem natural. Tanto na linguagem como na arte, pode-se achar algumas regras e estruturas que servem para alguns exemplos e não servem para outros, e só de forma temporária. Ambas estão em constante movimento, sempre expandindo significados do passado para o futuro, usando quaisquer recursos, sejam eles temporários, alusivos, metafóricos e quaisquer combinações de meios, que possam ser encontrados. (Grifos meus)

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Mais uma vez, façamos a operação de inverter favoravelmente os polos dessa compreensão e tomar leveza como um ponto determinante das nossas operações em arte. Comecemos por enfatizar que a arte na construção do conhecimento rompe com a relação sujeito-objeto do ensino tradicional. Tem-se um ponto de partida e o ponto de chegada será, como já foi colocado, resultante da experimentação. O ensino da arte estará intimamente ligado ao interesse de quem aprende. É por isso que, na escola, aplica-se a ideia de “leveza” para a disciplina Artes, onde supostamente não haveria aprendizagem e, sim, relaxamento, diversão, etc. Nós, arte-educadores, combatemos sempre este equívoco, no entanto, usando o chavão guevariano, “Hay que endurecer-se sin perder la ternura”. Ou melhor, sin perder la leveza, a abertura que caracteriza as nossas operações. A arte trabalha com o pensamento divergente. Trabalha canais de expressão que as outras disciplinas geralmente não trabalham e até mesmo evitam ou repudiam, O senso estético é organizador da vida, no nosso ser e do nosso perceber o mundo. Arte na educação presencial ou virtual pode propiciar a capacidade de colocar em cheque uma visão estabelecida, enunciado fixos; a possibilidade do indivíduo inventar a si mesmo e reinventar o mundo.

Para Ana Mae Barbosa, a arte não tem certo ou errado, o que é muito importante para as crianças, que são rejeitadas na escola por terem dificuldade de aprender ou problemas de comportamento. Na arte, eles podem ousar sem medo, explorar, experimentar e revelar novas capacidades. O tempo da arte é o tempo da pessoa. O tempo no fazer, experienciar arte, não tem uma medição precisa. O ensino de arte não padroniza a aprendizagem, respeita o ritmo de cada pessoa, dando espaço para descobertas.

A arte rompe barreiras de exclusão, visto que a prática educativa está embasada não no talento ou no dom, mas na capacidade de experienciar de cada um. Na construção da autonomia do apre(e)ndente, sem esquecer que essa autonomia depende de uma rede em permanente expansão.

Resistência

A educação formal, historicamente construída, sempre priorizou a linguagem científica e discursiva, em detrimento às atividades artísticas, sensoriais, etc. A educação formal dividiu mente e corpo, razão e emoção, cognição e intuição, ciências e artes, dentre muitos outros pares dicotômicos que podemos citar. O nosso desafio de pensar em sistemas integrados de aprendizagem em rede é que a nossa formação deu-se nessa educação dicotomizada que prioriza a fixação e a compartimentalização de conteúdos, de campos de conhecimento e na definição prévia de formas de ensinar e de aprender.

No entanto, a expansão do acesso à educação, a democratização das possibilidades educacionais, e um amadurecimento da população a respeito de cidadania tornou a tarefa de educar cada vez mais complexa. Pluralidade e multiculturalidade, a noção plural de culturas e grupos culturais, a percepção do “outro”, o diálogo com as diferenças nos leva a entender que complexidade é um conceito a ser explorado de forma positiva, pois opõe-se às certezas estabelecidas. O paradigma científico/racional organizador da sociedade ocidental (e da educação) tem sofrido abalos. Os grupos culturais nas escolas são cada vez mais diferentes, exigindo, para cada caso, atitudes e atenções específicas.

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O que tudo isso tem a ver com os sistemas interativos para a educação das artes “à distância” (em rede)? A questão não é: como a arte pode não só ser ensinada e aprendida na educação não presencial ou à distância, mas, principalmente, como a aprendizagem da arte é parte constitutiva na construção desse sistema, dessa biosfera de aprendizagens em rede.

Como os atuais espaços de educação presencial não dão conta de atender as diferenças e a diversidade, nesse momento, recorre-se tanto a arte quanto a tecnologia, antes considerados uma presença desviante ou exótica no currículo escolar (ainda o são).

Como caráter de resistência, podemos dizer que arte é hoje reivindicada justamente pelas qualidades que, no passado, excluiu-a ou a marginalizou no contexto escolar: pela sua capacidade de desconstrução, de flexibilidade, de lidar com as diferenças. De condição acessória e ornamental, ela passa a ser um novo eixo estruturador de novas formas e concepções de ensino aprendizagem. Não é à toa então que o curso EAD de Licenciatura em Artes Visuais na UFG tenha sido um dos mais requisitados pelos municípios goianos surpreendendo a todos, a mim, inclusive.

Para alimentar as operações sinergéticas e construirmos metaforicamente nossas geodésicas.

Todas essas características intercruzam-se e reforçam-se tal como os triângulos que formam os tetraedros das geodésicas. Esses intercruzamentos propiciam a perda de rígidos limites entre ensino presencial e ensino a distância e o pensar de maneira mais complexa no ensino em rede, pondo em prática nosso discurso sobre interação, autonomia e vários outros aspectos dessa modalidade.Durante algum tempo, o enfrentamento das tecnologias trouxe o medo da massificação e da padronização de maneira unidirecional. A ideia era a de que o mundo estava se tornando uma Aldeia Global (Mc Luhan). Os teóricos poderiam ser divididos entre apocalípticos (tecnologia vem destruindo a verdadeira experiência com a arte) e integrados (adeptos da tecnologia como instrumento de formação e estetização da vida o que, em síntese, dividia aqueles que eram contra a crescente homogeneização cultural através dos meios de comunicação daqueles que eram a favor.

Na atual conjuntural em que vivemos a influência das tecnologias é decisiva na construção de uma cultura visual contemporânea. As técnicas de reprodução cumpriram um papel fundamental na difusão das obras de arte. Nas décadas de 80 e 90, o uso de slides, transparência, ou quem sabe de uma “boa cópia” foi muitas vezes o recurso para os arte-educadores trabalharem com imagens em sua sala de aula. Hoje, essas imagens estão digitalizadas podendo ser acessadas em museus virtuais, sites de buscas, etc.

Acredito que a nossa relação com as técnicas e com as tecnologias, bem como a democratização do consumo e produção desses produtos, leva a uma situação de desfronteirização de signos, provocando o contraponto da homogeneização, ou seja, a diversidade cultural.

A ideia defendida nesse texto foi a de que o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação que oportunizam a “educação em rede” são para o ensino da artes visuais (e de outras linguagens) não apenas ferramentas tecnológicas, mas um corpo constitutivo, pois propiciam operações divergentes, híbridas, inter e transdisciplinares, um campo flexível, aberto, inevitavelmente atravessado por muitos outros, e, permanentemente, em processo de transformação. A geodésica nada mais é do que uma rede em curvatura que se expande através dos pontos de conexão. Esse seria para o ensino de arte um ponto operacional, dentro da noção tanto de sistema quanto de interatividade, do qual somos os principais apreendentes/aprendentes.


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Referências bibliográficas

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