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Poesia de Cecília Meireles e Canções do Grupo Palavra Cantada: Formação do Leitor e Ludismo em Sala de Aula

Léia das Dores Cardoso Ribeiro (PPGEEB/ CEPAE/UFG)
Célia Sebastiana Silva (CEPAE/UFG)

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Introdução

O objetivo desse artigo é discutir como a poesia de Cecília Meireles (2012) e as canções do grupo musical Palavra Cantada (TATIT, 2010) podem ser utilizadas como recursos para auxiliar o professor no processo de formação leitora de crianças na fase final da alfabetização escolar. A leitura como componente de alfabetização costuma ser explorada nas disciplinas de Língua Portuguesa, mas circunda todos os eixos da formação humana, tornando-se imprescindível para a compreensão dos enunciados, das atividades didáticas e também auxiliar na leitura de mundo que as pessoas realizam de suas próprias realidades - uma composição que faz parte da vida das crianças durante toda a sua fase escolar.

Existem diferentes concepções de leitura, mas o foco do estudo aqui proposto é o de explorar a leitura literária como produção de sentido do texto, numa perspectiva bakthiniana de linguagem. Ela funciona, desse modo, como um importante componente para auxiliar na formação do leitor infantil, contribuindo para o seu processo educacional e também para as suas experiências de vida e sua atuação na sociedade e na cultura. A leitura literária pode despertar tanto a criatividade das crianças (mesmo nas muito pequenas) quanto a sua capacidade de interpretação e crítica, podendo ser uma importante aliada no processo de alfabetização escolar. Para além disso, é também um instrumento lúdico da maior importância para a formação humana. Não se desconsidera, no entanto, o fato de, por vezes, ser explorada com teor didatizante, o que atribui um sentido de obrigatoriedade que lhe pode retirar o caráter estético e ético que constitui a sua essência na prática da leitura literária, principalmente no processo de humanização na vida de uma criança. Esse aspecto didatizante, às vezes, por enfadonho que se torna, cria resistência e afasta a criança da fruição provocada pelo texto literário, principalmente daqueles cujo apelo para aspectos lúdicos, como a rima, o trocadilho, a assonância, a aliteração, o ritmo, é mais evidente. Em tempos de atrações tecnológicas, como jogos, vídeos e entretenimentos de diferentes tipos fica fácil o escanteamento do livro literário.

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A leitura literária faz parte do processo de ensino escolar que, geralmente, tem o foco na linguagem, mas explora a capacidade de interpretação e compreensão do texto lido. Como expõe Geraldi (2002), a leitura trata de uma oferta de contrapalavras em que atribuímos sentidos ao que é lido, e esse processo não é diferente na criança, que também é um sujeito que pensa, age e altera a realidade em que vive. Não importa a idade do leitor, este sempre encontra a palavra do outro reproduzindo os seus próprios significados sobre aquilo que leu e compreendeu, o que permite a decifração do novo ou diferente a partir da sua própria interpretação ou de alguém que o estimule.

Para Carvalho (2015), ao ler um livro, deciframos o que é o novo e que não faz parte do nosso cotidiano, e a criança é um ser curioso por natureza, o que facilita sua capacidade de criação e invenção a partir de uma boa obra literária. Ainda de acordo com o autor, a atividade de leitura auxilia o aluno a compreender o seu lugar social no mundo, as vivências, as relações com o outro, os conhecimentos textuais, além dos valores de determinada sociedade e os conhecimentos históricos e culturais de uma época. Quando se discute leitura literária como componente curricular, a poesia costuma ser negligenciada, principalmente em estudos na educação infantil, mas não deveria, já que esse gênero literário contempla o ritmo, a musicalidade, a ludicidade da linguagem, trabalha com trocadilhos, jogos de palavras, refrãos e cifras que atraem a atenção das crianças, o que poderia auxiliar no próprio desenvolvimento da leitura e da escrita.

A pesquisa se apoiou nas poesias do livro Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles (2012), e também nos trabalhos intitulados O livro de brincadeiras musicais da Palavra Cantada (TATIT, 2010), além dos CDs Pé com pé e Canções Curiosas, partindo do pressuposto de que esses poemas e canções proporcionam o desenvolvimento do leitor, sua sensibilidade e também produzem apreciações estéticas, mesmo em crianças pequenas. Além dessas obras que guiaram a nossa pesquisa, também nos apoiamos na obra Homo ludens,de Johan Huizinga (2000, 2018), que destaca como o lúdico colabora para o processo de experimentação de vivências significativas na vida escolar e também na vida prática de um indivíduo, além de ser determinante quando falamos do processo de ensino e aprendizagem que envolve uma criança em fase de alfabetização escolar.

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Nesse sentido, o objetivo geral consistiu em investigar como os poemas de Cecília Meireles e as canções da Palavra Cantada podem contribuir e fomentar o processo de formação do leitor, evidenciando os aspectos lúdicos dessa aprendizagem. Os objetivos específicos procuraram compreender como ocorre essa formação, explorando as obras indicadas, destacando os aspectos lúdicos identificados e o processo de musicalização, além de refletir sobre o papel que esses aspectos ocupam na leitura de poesia e canção no fomento da formação do leitor infantil, com relatos da experiência desenvolvida com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal João Alves de Queiroz, na cidade de Goiânia, em (data).

Lúdico, poesia e canção na formação do leitor em sala de aula

A leitura é uma atividade de extrema importância para o desenvolvimento humano, pois desperta diferentes habilidades e capacidades de interpretação que vão além da sala de aula, se aplicando e facilitando a nossa vida na prática, o que pode ser traduzido na simples interpretação de um panfleto que recebemos na rua como na de um livro que tenha marcado a nossa existência. A leitura, além de nos informar, desperta habilidades e até sentimentos que nos envolvem num processo de aprendizagem mais instigante, divertido e, por vezes, emocionante.

Dessa maneira, a leitura deve ser uma prática constantemente incentivada tanto na escola como na família, mas tem sido deixada de lado cada vez mais, tornando-se uma espécie de atividade educacional que desestimula o aluno a cultivá-la fora das obrigações escolares, prejudicando, inclusive, na formação do leitor em sala de aula. Existem diferentes tipos de leitura e de textos literários, sendo que a poesia é um gênero que se destaca na Educação Básica em suas diferentes etapas, tendo grande potencialidade de uso e descobertas quando utilizada na educação de crianças e no seu processo de alfabetização e letramento, pois consegue envolver o aluno por meio da sua sonoridade, musicalidade, rimas e ritmos, que despertam o sentimento de brincadeira e lazer nas crianças, que aprendem de forma lúdica, já que seus significantes e significados estimulam um jeito sensível, divertido, alegre, tornando-se um ato prazeroso, facilitando os processos de aprendizagem da leitura e a formação do leitor em sala de aula.

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O lúdico na perspectiva de Huizinga (2000, 2018) é um conceito que circundou toda a pesquisa. O autor explora a ideia de que o jogo é uma parte constituinte de todas as atividades humanas, sendo que, por meio dele, ocorre grande parte do desenvolvimento da civilização, estando presente em diferentes épocas da humanidade e das sociedades. Huizinga (2000, p.7) define “o jogo como forma específica de atividade, como forma significante, como função social”, já que se refere a uma prática que envolve imaginação, valor e significados que representam essa imaginação – muitas representações arquetípicas que temos na sociedade derivam dos jogos e de suas especificidades. A metáfora corresponde a um tipo de jogo com as palavras no qual os indivíduos têm a possibilidade de construir novos mundos, mais poéticos e livres, permitindo que o lúdico se expresse na imaginação, na brincadeira, no jogo, na ilusão e na simulação das palavras que, em um texto poético, é mais perceptível.

A dimensão lúdica é de difícil determinação, mas tem sua origem na filosofia antiga, nos mitos gregos, em rituais de povos de diferentes sociedades, nos jogos que podem ser esportivos, linguísticos, poéticos, musicais e outros. O lúdico unido à poesia e à música permite que a criança usufrua da sua imaginação com sensibilidade, simulando ações cotidianas, procurando entender a realidade ou a obra lida, e, porque a poesia e a música não têm relação direta com a utilidade, mas, sim, com aquilo que transcende a lógica ou a necessidade, elas também deixam a vida fluir sem as amarras do visível e tangível, permitindo que as crianças percebam e resolvam problemas e conflitos que fazem parte do seu dia a dia escolar e da vida particular também.

Para Huizinga (2000), o lúdico é inerente à poesia e à canção, pois, em diferentes sociedades e línguas, o jogo representa a manipulação de instrumentos musicais, argumentando que, quando nos referimos à poesia, as palavras atribuem valores e representação a eles ligados. Em um trecho da obra, Huizinga (2000, p. 117) discorre sobre o papel que a música ocupava nas sociedades antigas, já que nossos antepassados “recomendavam a música como paideia, como educação, cultura, como algo que não é necessário nem útil, como ler e escrever, mas serve simplesmente para gastar o tempo livre” (apud RIBEIRO, 2021, p. 22). Nas sociedades atuais, a música continua tendo esse caráter de diversão, ligada aos gostos pessoais de estilo, mas não se concretiza nos sentidos de paideia, pois, em escolas públicas, por exemplo, é muito raro os alunos terem acesso às disciplinas de Música, geralmente englobada muito superficialmente ao estudo da Arte.

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Segundo Leal (2015), a leitura, além da codificação de símbolos, é um instrumento que facilita a interpretação de informações escritas, sendo fundamental para o raciocínio e o desenvolvimento de alunos dos anos iniciais que se encontram em fase de alfabetização escolar, além de despertar o raciocínio, a criticidade e a interação, como orientam os PCNs. Para a pesquisadora, o sujeito que lê torna-se participante ativo na construção da sociedade, dos seus relacionamentos e de si mesmo, o que contribui para o aperfeiçoamento das leituras de mundo, como definiu Paulo Freire, que nos alcança antes da leitura das palavras.

Assim como afirma Leal (2015), também acreditamos que a poesia consegue traduzir emoções até então desconhecidas pelas crianças com os diversos significados contidos nos versos e também por isso serve como um excelente componente para trabalhar a alfabetização e a leitura nos anos iniciais. No entanto, costuma ser deixada de lado pelos educadores pela complexidade do seu conteúdo ou pela falsa percepção de que as crianças não conseguem acompanhar ou compreender um texto de escrita poética. Ninguém nasce gostando de ler; essa é uma habilidade que se adquire por meio do processo educacional, mas pode ser reforçada e cultivada no seio familiar, despertando o prazer e o gosto pela leitura. E isso também se encaixa para as leituras de poesias.

A poesia pode ser altamente didática e envolvente, contribuindo para a formação cultural e leitora da criança, além de refletir em sua vida pessoal, pois é necessário cultivar o hábito da leitura desde cedo, oportunizando despertar possíveis leitores para a vida e, quem sabe, até poetas. Leal (2015) salienta que o ensino de poesia costuma ser vista como perda de tempo, o que cria um tabu nos professores e nos alunos, criando o imaginário de que a poesia é um gênero chato ou difícil de ser explorado em sala de aula como instrumento pedagógico, principalmente com crianças dos anos iniciais.

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Percebemos que a crise da leitura de poesia na escola acontece principalmente porque a maioria dos alunos não gosta de ler poemas, pois não desenvolveram esse hábito, e o educador acaba não conseguindo encontrar meios para motivá-los a ler textos poéticos, por diversos motivos: a começar pelas lacunas encontradas em sua formação, por não serem leitores ativos de poesias, como também pela abordagem empobrecida da poesia nos livros didáticos de Língua Portuguesa. Assim, é importante ter cuidado na escolha do poema a ser tratado e como será abordado (LEAL, 2015, p. 5).

E foi considerando esse tipo de problema que procuramos selecionar uma poeta capaz de envolver a criança, despertando a sua vontade de aprender e participar das atividades, utilizando esse mesmo processo de escolha para as canções selecionadas para a pesquisa. Leal (2015), citando Abramovich (1997), argumenta ainda que caberia ao professor ser o grande incentivador da leitura poética, levando esse convite ao encontro da poesia com seus alunos nas atividades em sala de aula.

Cabe ao professor à responsabilidade de despertar em seus alunos uma atitude positiva em relação à poesia, e como não se pode transmitir o que não sente, o professor também deve transmitir ao aluno seu sentimento verdadeiro pela poesia, sua capacidade de sentir e compreender a intenção da poesia como sentimento verdadeiro (FLECK, 2003, p. 56, apud LEAL, 2015, p. 5).

Assim, optamos por trabalhar com as poesias de Cecília Meireles, pois a poeta explora a musicalidade em sua obra, principalmente em poesias voltadas para o público infantil, além de apresentar elementos linguísticos que facilitam o aprendizado da língua, procurando realizar uma ligação do ser e as coisas, o que permite diferente níveis de leitura, atraindo o público de diferentes idades. Coelho (2000) destaca como a linguagem poética é adequada como instrumento didático, pois auxilia a criança a perceber a realidade que a envolve, os seres e as coisas com que convive, aumentando a consciência de si e dos outros, tanto social como geograficamente, auxiliando no processo de enxergar o mundo além das aparências e a se comunicar com o outro de forma inteligível e significativa.

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Metodologia

A metodologia aplicada ao estudo foi a pesquisa-ação, com uma abordagem qualitativa e empírica. Martins (2004) argumenta que a pesquisa qualitativa privilegia a análise de microprocessos por meio do estudo de ações sociais, individuais ou grupais, realizando uma apuração intensiva dos dados. Já a pesquisa-ação envolve participação, reflexão, necessidade de conhecimento e uma postura ética durante todo o processo, com nuances e diferenças que se adaptam ao contexto em que é aplicada, sendo conhecida também como pesquisa empírica, pesquisa-participante, pesquisa-diagnóstico ou experimental.

De acordo com Tripp (2005, p. 445), a pesquisa-ação na área da educação costuma ser utilizada como “uma estratégia para o desenvolvimento de professores e pesquisadores de modo que eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado seus alunos”, mas com variedades distintas. Esse tipo de pesquisa envolve um processo cíclico, visando a uma melhoria da prática de forma reflexiva e com o rigor que a ciência exige.

Essa metodologia se inicia com a identificação da demanda, segue com o planejamento de uma solução, a sua implementação e, por fim, a avaliação da sua eficácia, já que a ideia desse tipo de pesquisa é intervir na própria realidade e nas práticas de trabalho, procurando melhorar as ações. Não deve focar na prática de alguém, mas no melhoramento de tal prática, que deve ser colaborativa e aplicada por um período contínuo para que seja possível avaliar o processo. É um tipo de pesquisa participativa, reflexiva, dinâmica e interdisciplinar, produzindo saberes colaborativos entre pesquisador e sujeitos participantes, visando a aumentar a qualidade da ação. Toledo et al. (2014) afirmam que o processo se resume em “planejamento-ação-interpretação”, sendo que os níveis de colaboração se alteram na medida em que a pesquisa avança. Abaixo, expomos o ciclo da pesquisa:

Figura 1: Modelo básico da pesquisa-ação
Fonte: (TRIPP, 2005, p. 446).
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A pesquisa-ação pode surtir grandes efeitos se utilizada como mediação pedagógica, mas precisa fazer sentido para as crianças, que aprendem com maior facilidade com aquilo que remete a algum tipo de significado cultural ou social que seja comum à sua realidade. Como todo tipo de método, esse tipo de pesquisa envolve certezas, incertezas, erros e acertos, pois, ao tempo em que se produz a pesquisa, os saberes vão se constituindo, o que irá refletir nas transformações das ações empreendidas pelo pesquisador.

Resultados

Essa pesquisa-ação foi realizada com 24 alunos do 3º ano da turma do Ensino Fundamental dos Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano da Escola Municipal João Alves de Queiroz, situada no Residencial Eli Forte, na cidade de Goiânia, Goiás, entre os dias 13 de maio e 23 de setembro de 2019, com intervenções semanais, procurando compreender como se dá o processo de formação do leitor em sala de aula a partir das poesias de Cecília Meireles e das canções da Palavra Cantada, contemplando os componentes da Língua Portuguesa e da Arte. A faixa etária dos alunos ficou entre 8 e 9 anos e só foram incluídos na pesquisa aqueles estudantes cujos responsáveis emitiram autorização de participação por escrito, já que foi convocada uma reunião para explicar a pesquisa, os objetivos e as formas de exposição e autorização para validar o estudo.

Ao todo foram aplicados 16 planos de ensino, somando 37 aulas de 60 minutos cada, o que totalizou 37 horas de campo em atividade com os alunos durante o período analisado. Para a coleta dos dados foram desenvolvidos planos de ensino, que procuranvam um diálogo compartilhado com os alunos, além da experienciação e da reflexão sobre a leitura de poemas e de canções, com uma observação atenta da pesquisadora a partir das intervenções dos estudantes. Além dos encontros semanais com os alunos e a constante retomada do tema, como proposta final foi realizado o I Sarau de Poesias da escola, previsto para setembro, mas adiado para o mês de dezembro devido à extensa demanda da instituição com aplicação de avaliações e outros eventos. A pesquisa empírica finalizou dia 6 de dezembro de 2019, com a apresentação coletiva e individual dos alunos participantes no Sarau.

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Realizamos um diagnóstico inicial e outro final referente à percepção dos alunos sobre a temática da pesquisa, procurando comparar os avanços do processo. Os alunos levaram o livro Ou isto ou aquilo para casa, no intuito de ter uma aproximação com a obra e a autora. Propusemos leituras selecionadas de poemas em casa a serem posteriormente discutidas em sala de aula. O acervo da escola tinha livros para todos os alunos, mas, em relação aos CDs da coleção da Palavra Cantada, as canções eram lidas em sala de aula, sendo distribuída uma cópia para cada aluno, já que havia poucos livros disponíveis na biblioteca da instituição. Os títulos dos 16 planos de ensino trabalhados com os alunos estão descritos abaixo.

  1. Diagnóstico inicial (Mas você sabe me dizer o que é poesia? E o que é canção?);
  2. Moda da menina trombuda (Poema de Cecília Meireles);
  3. Jogo de bola (Poema de Cecília Meireles);
  4. A bailarina (Poema de Cecília Meireles);
  5. Rio na sombra (Poema de Cecília Meireles);
  6. Ou isto ou aquilo (Poema de Cecília Meireles);
  7. O que é o que é? (Canção Palavra Cantada);
  8. Pé com pé (Canção Palavra Cantada);
  9. Toda criança quer (Canção Palavra Cantada);
  10. Ora bolas (Canção Palavra Cantada);
  11. Piquenique poético (Poema de Cecília Meireles);
  12. O chão e o pão (Poema de Cecília Meireles);
  13. O vestido de Laura (Poema de Cecília Meireles);
  14. Eu (Canção Palavra Cantada);
  15. Diagnóstico Final (Mas você sabe me dizer o que é poesia? E o que é canção?);
  16. SARAU com apresentação do poema cantado: “Ou isto ou aquilo”, de Cecília Meireles no ritmo da canção “Pirulito que bate bate”, além da canção “Toda criança quer” da Palavra Cantada de forma declamada, em um momento que reuniu toda a comunidade escolar.
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Ao comparar os diagnósticos inicial e final, percebemos que os alunos adquiriram maior qualidade argumentativa, se aproximando dos temas trabalhados em sala de aula em relação à poesia e à canção, que passaram a ter mais significado para os alunos, que vivenciaram e experimentaram, na prática, experiências relacionadas com as poesias de Cecília Meireles e com as canções da Palavra Cantada, melhorando a sua leitura e escrita, aumentando a vontade de interagir, participar das aulas e atribuir significados aos poemas lidos e declamados, com debates sobre as nossas relações pessoais e familiares, modos de vida, manias, gostos e desgostos que interferem no nosso dia a dia, aproximando a poesia e a canção da leitura de seu mundo e aprimorando a leitura das palavras. Também foram realizadas algumas atividades artísticas e oficinas em sala de aula, como a construção de uma boneca com materiais recicláveis, oficina de tampinhola, criação de poemas e pinturas.

Figura 2: Produção dos alunos participantes da pesquisa.
Fonte: Dados da pesquisa.

O Sarau representou um momento cultural muito envolvente na instituição, quando os alunos puderam se expressar artisticamente. Todas as turmas do vespertino participaram da atividade, embora apenas os alunos das turmas C1 e C2 apresentassem trabalhos, vez que eram os sujeitos participantes da pesquisa. Foi apresentado o poema “Ou isto ou aquilo”, de Cecília Meireles, no ritmo da cantiga “Pirulito que bate bate”, além de declamarem a canção “Toda criança quer”, da Palavra Cantada. Apesar do ensaio e da diversão durante as aulas, no dia do evento as crianças demonstraram certa timidez, já que a comunidade escolar estava presente com familiares, colegas e professores de outras turmas. Essa atividade de encerramento durou 120 minutos, sendo um momento muito envolvente e alegre. Era para ter havido a segunda edição do Sarau no ano de 2020, mas, devido à pandemia, o projeto teve que ser adiado, assim como a própria defesa da dissertação.

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Considerações finais

A pesquisa foi concluída com êxito, apesar de alguns percalços pelo caminho, sendo adotadas diferentes estratégias, umas mais adequadas, outras menos, o que evidenciou o desafio de realizar uma pesquisa-ação que há de interferir na nossa prática enquanto pedagogos. Realizamos um movimento contínuo de ação, reflexão, diálogo, leitura teórica e literária que nos auxiliou a compreender melhor o tema e a própria prática profissional ao longo do processo de pesquisa. Cada leitor interpreta a poesia e as canções de uma maneira, o que enriquece o debate e nos faz perceber que não existe rigidez quando se trata desse gênero literário, devido à sua própria característica polissêmica.

Não era nossa intenção, mas acabamos reproduzindo modos tradicionais de lecionar aulas, o que só foi sendo percebido na análise e tratamento dos dados, mas que nos serviu na avaliação do processo, visualizando em que sentido a prática pode ser melhorada, pois atividades mecanizadas dificultam a reflexão e a crítica do aluno. Outra dificuldade identificada foi a falta de material suficiente para todos os estudantes, já que, para formar o leitor literário, é interessante que este tenha contato com o livro e não apenas com uma fotocópia, perdendo um pouco da riqueza de aproximar o aluno da obra estudada.

No decorrer do processo, os alunos foram adquirindo maior autonomia e qualidade na leitura e na escrita, criando rimas, jogos de palavras e metáforas que nos ajudaram a colocar em prática o processo lúdico de todo o processo de ensino e aprendizagem. Os poemas do livro Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, trouxeram temas do mundo infantil e contribuíram para despertar nos estudantes o gosto pela leitura literária. A leitura da canção de O livro de brincadeiras musicais da Palavra Cantada colaborou para que os alunos percebessem a semelhança entre esses dois gêneros e que a canção também possui poesia, dado que nos remete ao ritmo, às rimas, à sonoridade, à melodia da fala entoada, aos sentimentos e às emoções, aguçando a sensibilidade do leitor.

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Seguimos o ciclo básico da investigação-ação proposto por Tripp (2005), composto pelo planejar, em que procuramos elaborar atividades orais e lúdicas; pelo agir, em que indicamos leituras de poemas para casa e debate sobre o apreendido, fazendo relação com as suas experiências de vida, além de estimular a escuta dos colegas, a reflexão e o compartilhamento de ideias e sentimentos sobre o que a poesia e a canção despertaram nos alunos; pelo descrever, em que nos deparamos com as certezas e incertezas, erros e acertos, o que nos levou à constante reflexão da prática. Ao avaliar as ações, percebemos como a pesquisa foi lúdica e prazerosa – mesmo com sinais de tradicionalismo, a poesia e a canção tiraram os alunos da disciplina da sala de aula, libertando-os a serem mais criativos, reflexivos e críticos, ampliaram o olhar e o repertório sobre a temática estudada, contribuindo sobremaneira para o aperfeiçoamento tanto da pesquisadora/professora como dos alunos, desvendando um mundo de possibilidades por meio da leitura literária com foco nas poesias de Cecília Meireles e nas canções da Palavra Cantada.

Referências

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GERALDI, João Wanderley. Leitura: uma oferta de contrapalavras. Educar, Curitiba, n. 20, p. 77-85, 2002. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/educar/article/view/2099. Acesso em: 05 de out. 2021.

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MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. São Paulo: Global, 2012.

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