2. Contextualizando a natação e seu ensino

p.7 próxima página

Compreender diferentes formas de como a natação vem sendo conceituada nas literaturas da área é uma forma de entender a ênfase que é dada em seu ensino, e no caso do Guardiões da Água, é analisar a melhor conceituação para a prevenção do afogamento e respeito à água.

Natação pode ser conceituada como desporto estruturado e regulamentado que busca obter registros de tempo cada vez mais inferiores por meio de um treinamento metódico, individualizado e específico, exigindo domínio das técnicas, conhecimento de ritmo e adequada preparação física e motora (Damasceno, 1997). A natação é tratada desta forma na maioria das bibliografias produzidas sobre esta modalidade, como em Consilman (1980), Maglisco (1990) e Colwin (2000), com ênfase no desenvolvimento da técnica dos nados competitivos.

Não somos contrários às técnicas, de forma alguma! As técnicas são fundamentais para melhor e menos cansativo deslocamento no meio líquido. As técnicas dos estilos de natação são aliados na prevenção do afogamento, exceto quando são ensinadas sem o cuidado com a vida das pessoas, isto é, sem considerar a adaptação ao meio líquido, nados utilitários e informações de prevenção do afogamento como conteúdos primordiais junto com tais técnicas.

Para Damasceno (1997), este conceito é reducionista ao tratar as práticas aquáticas com caráter puramente mecanicista. As práticas aquáticas podem proporcionar uma amplitude de experiências motoras, psicológicas, sociais e afetivas se tratada de forma mais ampla, respeitando objetivos e necessidades além da natação competitiva, aceitando as diversas formas de se nadar, recrear e deslocar em meio líquido. Muitas vezes formas que estão muito mais presentes no cotidiano das pessoas do que os quatro estilos da natação.

Ainda, para Damasceno (1997), a natação:

deve proporcionar o inter-relacionamento entre o prazer e a técnica, através de procedimentos pedagógicos criativos, principalmente sob a forma de jogos, que facultem comportamentos inteligentes de interação entre o indivíduo com o meio líquido, visando ao seu desenvolvimento (Damasceno, 1997, p.65 )

Segundo Santana e Dalla Déa (2009), em uma visão mais generalizada, a natação pode ser definida como: a habilidade de autopropulsão e autossustentação em meio líquido. As autoras relatam que, desta forma, a natação se torna uma atividade inclusiva, respeitando as individualidades e diferentes formas de nadar. Dizem ainda que as informações referentes às técnicas dos quatro estilos são importantes para facilitar a movimentação em meio líquido, tornando-se um elemento de motivação para a prática, e não um engessamento para a amplitude de diversidade possível de vivências motoras no meio líquido.

Figura 2 – Bebê nadando
Vanessa Dalla Déa (2004).
página anterior p.8 próxima página

A maneira como o professor conceitua e considera a natação será determinante para o tipo de intervenção que este irá proporcionar para seus alunos. O conceito mais tecnicista leva à proposta didático-pedagógica que visa prioritariamente a melhora da técnica e do tempo, embasada na aprendizagem e aperfeiçoamento dos quatro estilos da natação. Neste tipo de intervenção, a busca pela técnica e menor tempo atropela o respeito pelas características do praticante. Tal procedimento deveria ser utilizado exclusivamente quando se busca a natação competitiva. No entanto, a natação tecnicista e competitiva tem caráter de exclusão, pois são poucas as pessoas que têm como objetivo a competição e que têm condições físicas, sociais e psicológicas de atingir os melhores tempos e a melhor técnica de movimento.

Diga-se de passagem, mais de 80% dos casos de afogamentos ocorrem com pessoas que diziam saber nadar ou no caso fatal, que pessoas que conheciam a vítima relataram que o mesmo sabia nadar. Sendo assim, a técnica pela técnica, o saber nadar para competir, não exime o nadador competitivo de se afogar ou mesmo de não conseguir salvar outra pessoa. São técnicas específicas e como nosso orientador da SOBRASA professor Ralph mesmo diz “Guarda Vidas bom é Guarda Vida seco”, que não precisa arriscar sua vida fazendo o uso apenas da aplicação de técnicas e materiais que darão suporte ao mesmo. Há como prever e antecipar situações de segurança que podem ser utilizadas e serão mais eficientes do que ações heróicas que podem acabar em fatalidade.

No Projeto Guardiões da Água consideramos que a natação deve ser antes de mais nada A FORMA MAIS EFICAZ DE PREVENÇÃO DO AFOGAMENTO, mas para que isso aconteça precisa-se ter uma pedagogia de ensino da natação adequada.

2.1 Alguns aspectos históricos do uso da água para natação e relações com prevenção do afogamento

Muitas vezes o afogamento acontece quando as pessoas buscam espaços recreativos para nadar como forma de lazer, terapêutica ou esportiva.

Desde os primeiros indícios da existência do homem já existem sinais de que este fazia práticas corporais aquáticas. Os primitivos nadavam como forma de sobrevivência: para pescar, fugir de predadores e chegar até locais onde se tinha que atravessar rios ou lagoas.

Tudo indica que as origens da natação se confundem com as origens da Humanidade. Raramente por temeridade, mais frequentemente por necessidade, às vezes, por prazer, o homem entrou em contato com o elemento líquido (Catteau e Garoff, 1990, p. 21).

Se desde as origens do homem pode ser este já se aventurou em meio líquido, podemos dizer que o risco de afogamento também existe desde sua origem!

A mais antiga ilustração (Figura ) atualmente conhecida da arte de nadar os arqueólogos calculam que remonta de 9000 anos antes da nossa era, foi encontrada em uma caverna das grutas do deserto da Líbia (Catteau e Garoff, 1990).

Arte de nadar Catteau e Garoff (1990)
página anterior p.9 próxima página

Três mil anos antes da nossa era, o hieróglifo “nadar” (Figura ) atesta um raro grau de acabamento da técnica com pernas realizando movimentos alternados e braços em circundução como no atual nado crawl (Catteau e Garoff, 1990).

“Arte de Nadar” Catteau e Garoff (1990).

O risco de afogamento foi um fator significativo para o desenvolvimento das técnicas da natação. Os militares atuaram fortemente para o desenvolvimento da natação, pois não existe inimigo maior do que um rio ou lago no meio da guerra para quem não sabe nadar. Assim, o ensino sistemático da natação aos soldados influenciou na pedagogia da natação (Catteau e Garoff, 1990).

Mas o ensino da natação se desenvolveu em diferentes espaços do mundo com objetivos diferentes, mas sempre colaborando com o aprimoramento das técnicas do movimento no meio líquido e da segurança das pessoas.

Os romanos por volta de 300 a.C. já tinham o hábito de nadar em rios e lagos, e foi na Roma que surgiram as primeiras piscinas dentro de termas. Tais termas tinham piscinas de diversas temperaturas com objetivo terapêutico e de lazer. Após os jogos e lutas os homens entravam em piscinas quentes e iam passando para piscinas mais frias progressivamente (Bonachela, 2001).

Se para os primitivos nadar era questão de sobrevivência, para os romanos tinha a conotação de educação. Quando os romanos queriam referir-se a falta de educação e requinte social das pessoas diziam: “é tão ignorante que não sabe nem nadar”. Na Grécia na lei 689 de Platão está prescrito que “todo cidadão educado é aquele que sabe ler e nadar” (Damasceno, 1997).

Nós do Projeto Guardiões da Água concordamos com Platão em uma coisa: aprender a nadar é uma questão educacional fundamental.

Na Idade Média a prática da natação ficou restrita à nobreza. Mas no final deste período, nadar era uma obrigação e quem não soubesse nadar era considerado ignorante. Os professores eram aqueles que apresentavam melhor performance na água. Através da Idade Média a natação se difundiu, mas ainda sem caráter esportivo (Fernandes e Costa, 2006).

Nadar com Segurança definitivamente não é uma habilidade nata do homo sapiens. Segundo Colwin (2000, p. ) “como seres eminentemente terrestres, nossos movimentos de natação iniciais são rústicos, comparativamente ineficazes e longe de ser compatíveis com uma verdadeira eficiência na água”. Assim o homem foi buscando formas de aperfeiçoar seus movimentos no meio líquido.

página anterior p.10 próxima página

O desenvolvimento das formas e técnicas de nadar foi se modificando de acordo com os princípios e realidades encontradas em cada fase da história. O primeiro manual de natação foi publicado por Nicolas Wynmann em 1538 (Costa, 2010). Neste livro o autor descreve o nado peito como a forma de nadar que todos deveriam aprender.

Colwin (2000) relata que foram quatrocentos anos de predominância do nado peito. Inicialmente o nado peito era executado com os pés em flexão plantar, empurrando a água com o dorso do pé. Nos séculos XVI e XVII a cabeça ficava fora da água todo o tempo. No século XVII Thevenot em seu livro recomendava o ensino do movimento dos braços do nado peito em pé (Figura 03) com a água na altura dos quadris, como se pode ver na figura abaixo. Apenas no século XIX começou-se a utilizar a perna do nado peito com os pés em extensão plantar, empurrando a água com a sola dos pés.

Nado peito em pé (Colwin 2000, p. 8).

Em diferentes lugares do mundo, no início do desenvolvimento da pedagogia de ensino da natação, o medo do afogamento e cuidado com a segurança das pessoas direcionou para um ensino no seco, onde os participantes aprendiam todo o movimento natatório fora da água para só depois serem colocados no meio líquido.

A pedagogia do ensino do nado inicialmente era realizada com o treinamento do movimento do nado peito fora da água. Na França o ensino era realizado em bancos ou tamboretes onde o professor auxiliava o movimento manualmente na frente e atrás do nadador (Colwin, 2000). Para facilitar a compreensão do movimento este era dividido em quatro tempos, como se pode ver em Figura 04, retirada de em manual utilizado por professoras primárias na França editado em 1887 (Catteau e Garoff, 1990).

Tamborete utilizado para ensino (Catteau e Garoff 1990, p. 42).

Na mesma época na Alemanha o ensino do movimento era feito pendurando o praticante em barras paralelas com o corpo fixo por correntes que passam no peito e no abdômen do indivíduo, como se pode ver na figura 05. Tais procedimentos de “natação a seco” mostravam-se ineficientes e nada agradáveis segundo Colwin (2000).

Prática de ensino em correntes Fonte: Catteau e Garoff (1990, p. 40).

Em 1922 foi lançado um livro com ilustrações de um aparelho desenvolvido para que até dez praticantes ao mesmo tempo executassem o movimento na água, suspensos e presos por cordas e cinturões. O aluno aprendia a nadar com o auxilio de um cinto de couro que o mantinha em segurança em cima da água, mas que, no entanto dava falsa liberdade e dificultava a movimentação dos nadadores, proporcionando segurança, mas não adaptava os nadadores adequadamente. O nado era inicialmente aprendido fora da água em quatro tempos em pé (Figura 06), depois o nadador era preso no aparelho que não os permitia sair do lugar (Figura 07) (Catteau e Garoff, 1990).

Ensino do nado em pé Fonte: Catteau e Garoff (1990, p. 42).
Aparelho para ensinar a nadar Fonte: Catteau e Garoff (1990, p. 43).
página anterior p.11 próxima página

Em 1852 Chevalier cria um carrossel (figura 08) que permite a execução do nado em movimento, no entanto fora da água, o que segundo Catteau e Garoff (1990) foi uma inegável regressão no plano técnico e pedagógico.

Carrossel de Chavalier Fonte: Catteau e Garoff (1990, p. 43).

Nesta época a influência militarista induzia as pessoas que se propunham a ensinar a natação a criar métodos coletivos, onde um número maior de pessoas aprendesse o movimento ao mesmo tempo (Figura 09). Nesta perspectiva mais um aparelho foi criado, o aparelho Trotzier permitia que mais pessoas participassem ao mesmo tempo do processo de ensino, onde os alunos faziam movimento ao mesmo tempo em sincronia com o comando do professor.

Aparelho de Trotzier Fonte: Catteau e Garoff (1990, p. 44).

Em 1798 surge Guts Muths, alemão, que popularizou o ensino da natação, passando sua pedagogia para muitas pessoas ao mesmo tempo. Ele insiste no método com o uso de artefatos para flutuação. Seu método era dividido em três partes: adaptação do indivíduo na água, exercícios fora da água e exercícios específicos de natação dentro da água (Fernandes e Costa, 2006).

Em 1797 o italiano De Bernardi mudou a visão da pedagogia da natação, voltando seus estudos à flutuação, afirmando que os artefatos utilizados como auxílio na flutuação e no aprendizado dos gestos desestimulavam os aprendizes (Bonacelli; Moreira, 2004).

Os princípios da adaptação ao meio líquido e nados utilitários são mais eficazes que os nados formais da natação para a prevenção do afogamento e a história foi modificando a forma de ensinar a nadar com esse objetivo.

Hermann Ladebeck, em 1914, descreveu uma metodologia para iniciantes com o objetivo de adaptá-los à água, com movimentos de saltos, saídas, movimentos de pernadas em decúbito dorsal, antes da aprendizagem dos estilos de nado. Também sem a utilização de aparelhos sustentadores Kurt Wiessner, em 1925 da Alemanha, pode ser considerado como um dos precursores de uma pedagogia mais moderna, baseada na compreensão da capacidade natural do corpo em se sustentar na água (Fernandes e Costa, 2006).

CATTEAU e GAROFF (1990) desenvolveram um método fortemente influenciado pela psicomotricidade, com claras preocupações utilitárias, onde o ensino da natação é tratado com caráter menos tecnicista.

página anterior p.12 próxima página

Apesar de ainda hoje verificarmos pedagogias de ensino da natação equivocadas que se pautam apenas e exclusivamente no ensino dos quatro estilos formais da natação, novas pedagogias entendem que antes de entrar em qualquer técnica competitiva é fundamental que os participantes tenham total controle corporal no meio líquido. Esse fato amplia a segurança desses na água e também prepara melhor o aluno para aprender com mais facilidade outras técnicas como os nados crawl, costas, peito e borboleta. Esses princípios e conhecimentos que discutimos aqui são a base da discussão do livro “Nadar com Segurança” de Santana, Tavares e Santana (2003).

Acreditamos que os eventos competitivos da natação também colaboram para a redução do afogamento, pois divulgam o esporte e despertam nas famílias e crianças o desejo de realizar sua prática.

Haja vista foram elaborados pelo Comitê Olímpico Internacional em 2008, um documento reconhecendo o salvamento aquático como esporte e sendo realizado a cada 2 anos os jogos mundiais de salvamento aquático. Há registros que o modelo de competição foi utilizado na primeira edição dos jogos Olímpicos em 1900 em caráter demonstrativo, com a participação de homens e mulheres. Do esforço para reduzir o número de afogamentos, surgiu o esporte. Todas as provas tentam trazer para a realidade um resgate, tem uma parte lúdica próximo a algo real ao salvamento. É um esporte que tem muito mais troca e improviso que a natação. Nos Jogos Mundiais Militares são nove estilos de salvamento aquático na piscina:

  • 50 metros manikin carry (transporte de manequim)
  • 100 metros manikin carry (transporte de manequim)
  • 100 metros manekin tow (reboque de boneco)
  • 100 metros rescue medley (resgate em dois estilos)
  • 200 metros Super Lifesaver (super salva-vidas)
  • 200 metros obstacle swim (percurso com obstáculos)
  • 4x25 metros manikin relay (revezamento com manequim)
  • 4x50 metros obstacles relay (revezamento com obstáculos)
  • 4x50 metros medley relay (revezamento quatro estilos).

Vejam também os jogos organizados pela SOBRASA, formadora de Guarda Vidas Certificados e uma das maiores influenciadoras nos protocolos mundiais em salvamento aquático e emergências, no link:

https://sobrasa.org/xxii-sobrasa-rescue-itapema-sc-2023-novembro/
página anterior p.13 próxima página

A primeira competição oficial de natação foi organizada pela Sociedade Britânica de Natação, na Inglaterra, em 1837, na qual o estilo adotado pelos atletas era o nado peito. No Brasil, somente em 1898, após a fundação dos primeiros clubes, foi instituído o primeiro campeonato brasileiro, constituído de uma única prova (1.500 metros), disputada em águas abertas no Rio de Janeiro com regularidade até 1912 (Fernandes e Costa, 2006).

Colwin (2000) relata que a braçada do nado crawl já havia sido utilizada a muito tempo, no entanto durante a Idade Média desapareceu da Europa, por causa da crença de que epidemias poderiam ser disseminadas com os banhos ao ar livre. Assim as pessoas preferiam nadar peito com o rosto fora da água. Existem indícios de que a braçada do nado crawl tenha sido criada por povos oceânicos, onde a maior flutuabilidade proporcionada pela água salgada pode ter facilitado a recuperação aérea do braço.

Em 1870, Arthur Trudgeon, um instrutor inglês de natação viajou para a América Latina e observou o estilo alternado de nadar. E levou para a Inglaterra o nado “trudgeon”, hoje conhecido como nado crawl com perna tesoura. Consistia de movimentos de circundução antero-posterior alternada dos membros superiores (como no nado crawl) e movimento de membros inferiores parecido com o executado no atual nado peito.

Nado Peito

Percebeu-se que a pernada do peito dificultava a execução e a propulsão do nado Trudgeon. Assim após algum tempo na Austrália o nado crawl foi realizado sem movimentos de pernas para só depois iniciar a utilização das pernadas alternadas e contínuas como é o nado crawl hoje (Colwin, 2000).

A natação mostra-se um esporte de grande importância nas sociedades, prova disso é que já estava incluída nas Olimpíadas, desde a primeira disputa em Atenas, 1896, onde disputaram os nados peito (Figura 09) e crawl (Figura 10).

Nado Crawl

O nado costas que até hoje é o único nado oficial realizado em decúbito dorsal (Figura 11) foi incluído nos Jogos Olímpicos de 1904. Inicialmente o nado costas era feito movimentos dos braços simultâneos e pernada do peito. Em 1920 o nado costas imitava o crawl em decúbito dorsal com pernas alternadas, como é até hoje, e braços alternados com fase aérea flexionado e fase aquática estendidos. Em 1930 o nado costas era chamado de “crawl de costas de Kiefer” com braçadas alternadas com recuperação e puxada com braço estendido. Para só depois se transformar no nado costas que conhecemos hoje (Colwin, 2000).

página anterior p.14 próxima página
Nado Costas

E o nado borboleta (Figura 12), surgiu da evolução do nado peito apenas na década de 1940, inicialmente com perna do nado peito, para depois se transformar no nado borboleta moderno (Colwin, 2000).

Nado Borboleta

Os estilos novos e suas alterações surgiam quase sempre por modificações de estilos já existentes, que aconteciam e eram permitidos por brechas nas regras da natação.

As pedagogias para o ensino da natação muitas vezes se confundem com o ensino dos quatro estilos competitivos, isso acontece devido o caráter tecnicista que percorre a história da Educação Física e é presente até hoje.

Catteau e Garoff (1990) classificaram as diferentes correntes pedagógicas surgidas através dos tempos para o ensino da natação em corrente global, corrente analítica e corrente moderna. A mais antiga é a corrente global, nela o aprendizado não é sistematizado, vai ocorrendo na medida que o sujeito se aproxima do meio líquido por meio de um confronto individual com as dificuldades que lhe são impostas no contato com este meio. Na corrente analítica, diferente da global, existe a tentativa de racionalizar a aprendizagem. Nesta, os movimentos são fracionados, os estilos da natação são conduzidos passo a passo pelo professor e predomina a etapa de natação em seco e a utilização dos aparelhos que já foram descritos neste texto. A concepção analítica foi muito aceita nos meios militares e também influenciou fortemente, além do ensino da natação, a Educação Física Escolar no Brasil. Finalmente, com críticas à fragmentação e ao mecanicismo da corrente analítica, surge a corrente moderna. Nesta o aprendizado é feito diretamente na água e adota elementos comuns entre todas as formas de nado como a base do aprendizado: as unidades de equilíbrio, de respiração e de propulsão.

No Brasil começou-se a estabelecer uma visão do ensino da natação em 1978 com a publicação do livro de Machado intitulado “Pedagogia da natação”, com a descrição da etapa de adaptação ao meio líquido até então ignorada. Outra obra que influenciou fortemente a pedagogia de ensino da natação no Brasil foi a obra “A natação: ciência e técnica para a preparação de campeões, de Consilman lançada no país em 1980, que tem sua data original de 1968.

página anterior p.15 próxima página

A literatura disponível hoje no Brasil sobre natação apresenta dois enfoques principais: livros com sequências pedagógicas prontas para serem copiadas ou livros que tratam de treinamento desportivo para a natação competitiva.

Fernandes e Costa (2006) relatam que:

Os maiores desafios enfrentados por cada professor de natação são: superar a noção de que aprender a nadar se resume ao domínio técnico dos quatro estilos; valorizar o aluno como alguém que já traz um saber consigo; considerar o aluno membro ativo no processo de aprendizagem, mudar sua postura diante dos objetivos a serem alcançados (Fernandes e Costa, 2006, p. ).

Hoje a pedagogia da natação ainda enfrenta problema. Não se utiliza mais os artefatos de sustentação, no entanto a fragmentação do movimento e o ensino baseado apenas na técnica do movimento são frequentes. As pedagogias atuais se baseiam quase sempre no ensino dos quatro estilos da natação (Fernandes e Costa, 2006), sem, no entanto, considerar quem é o aprendiz, qual sua idade, suas condições motoras, sociais, políticas, emocionais e suas reais necessidades.

Ainda hoje (em 2024) presenciamos frequentemente ações pedagógicas no ensino da natação que desconsideram a importância da prevenção do afogamento e da adaptação ao meio líquido para o desenvolvimento do participante enquanto pessoa, cidadão e inclusive enquanto atleta. Esse material visa desconstruir essas práticas e assim todas as pessoas juntas atuarem na redução dos alarmantes índices de afogamento no Brasil.

2.2 Princípios básicos da hidrodinâmica: o que muda quando estamos na água

A inabilidade do ser humano no meio líquido que pode levar ao afogamento ocorre porque se movimentar no meio líquido é diferente de se movimentar no nosso habitat natural que é fora do meio aquático. As diferenças do meio aquático para o terrestre ao mesmo tempo que podem levar ao afogamento, podem ser uma riquíssima possibilidade de vivência corporal, elemento de lazer, desenvolvimento das capacidades físicas e ainda uma ampliação de socialização e felicidade. Vamos conhecer essas diferenças:

Superfície da água é instável e não rígida:

Na prática aquática o movimento é realizado sem que haja uma superfície rígida e estável, exigindo assim um controle de corpo diferenciado e uma vivência corporal nova e específica.

Resistência da água maior que a resistência do ar:

A resistência causada pelo meio líquido proporciona uma sobrecarga natural ao movimento que é significativamente maior que se o mesmo movimento fosse executado fora deste. Esta sobrecarga proporciona o implemento de força e equilíbrio diferenciado.

página anterior p.16 próxima página

Redução do peso corporal e impacto nas articulações:

Em uma piscina com profundidade onde a água atinge até o pescoço do indivíduo, a redução corporal é de 90%. Esta redução proporciona maior facilidade ao movimentar-se, com maior mobilidade o praticante pode executar movimentos difíceis ou impossíveis de serem executados fora do meio líquido, ampliando sua vivência corporal. Isso se deve à Flutuação, princípio que é comprovadamente diferente na mulher e no homem devido a constituição física (musculatura, densidade óssea, percentual de gordura, ...) e entendimento da dinâmica corporal ao meio líquido que será muito importante no momento de adaptação ao meio líquido. Palmer (ano) trata especificamente desse conteúdo.

Retorno sanguíneo facilitado e saúde para o corpo:

Quando estamos em pé na piscina a pressão hidrostática proporciona melhor retorno sanguíneo, aumentando a irrigação sanguínea nos órgãos vitais, favorecendo assim seu funcionamento.

A natação é uma atividade que requer adaptação, pois diversas alterações acontecem quando estamos nadando se comparado quando estamos caminhando. Na natação pode-se verificar diferenças de prevalências para o equilíbrio, propulsão e movimentos respiratórios em relação a maioria dos movimentos realizados em solo.

Damasceno (1997) e Santana e Dalla Déa (2009) relatam que para a manutenção do equilíbrio, quando se está caminhando, utiliza-se movimentos dos membros superiores. Na natação, os membros inferiores fazem esta mesma função na maioria dos casos. O movimento das pernas no nado crawl, costas e borboleta ajudam menos na propulsão que os movimentos dos membros superiores. Por esse motivo, a maioria das pessoas sofre tanto ao utilizar as pranchinhas da natação para fazer exercícios de pernas nas aulas de natação. A circundução dos braços nesses estilos é a grande responsável pela propulsão do corpo e assim responsável pela maior parte da velocidade e facilidade do deslocamento. Apenas no nado peito o movimento dos membros inferiores são mais significativos para propulsão que os superiores.

Para propulsão ao caminhar, a maioria dos seres humanos utilizam dos membros inferiores para caminhar, e na natação os membros superiores são os principais propulsores para o deslocamento. Cabe aqui uma observação, não devemos generalizar nenhum movimento humano, pois senão estaríamos desconsiderando e desrespeitando a diversidade humana. Algumas pessoas, por diferentes características, se deslocam em cadeiras de rodas, em skates, com auxílio dos membros superiores, com outros ritmos, intensidades, velocidades ou muitas outras formas. O Projeto Guardiões da Água tem um olhar respeitoso e de admiração pelas pessoas com deficiência e a natação paralímpica, assim como com idosos, gestantes, pessoas com diferentes patologias e outros tantos grupos que se beneficiam, como todos, das práticas aquáticas. Temos outras formas de deslocamento no meio terrestre e no meio líquido, que na maioria das vezes são desconsideradas e desrespeitadas na sociedade, na Educação Física e na natação. Vamos mudar isso?

página anterior p.17 próxima página

A realização dos movimentos respiratórios nos exercícios de solo tem como predominância a respiração nasal, enquanto na natação a respiração é predominantemente bucal, para que se tenha controle deste movimento sem inspirar água.

No exercício de solo, a inspiração é reflexa, ou seja, não é preciso raciocinar para executá-la e a expiração é passiva, bastando o relaxamento dos músculos respiratórios e a pressão da caixa torácica para que o ar seja expelido.

Já na natação a inspiração torna-se automática, isto é, inicialmente é cognitiva, necessitando de aprendizagem e um período de treinamento para se tornar automática. Por essa razão, quando nosso aluno está aprendendo a natação, relata que tem dificuldade de coordenar respirar e fazer outro movimento, mas isso vamos discutir nos aspectos relacionados à aprendizagem motora.

Como já foi dito, a água é muito mais resistente que o ar, sendo assim para executar a expiração submersa em meio líquido, o indivíduo terá que realizar determinada força, como quando enchemos uma bexiga. Assim executa-se uma expiração ativa, o que proporciona o fortalecimento da musculatura respiratória e minimização de problemas como asma e bronquite.

Todas estas modificações estão apresentadas no quadro apresentado por Fernandes e Costa (2006):

TERRA ÁGUA
EQUILÍBRIO Membros superiores Membros inferiores
PROPULSÃO Membros inferiores Membros superiores
RESPIRAÇÃO Nasal Bucal
INSPIRAÇÃO Reflexa Automática
EXPIRAÇÃO Passiva Ativa

Hidrostática:

Hidrostática são forças do meio líquido que agem sobre o corpo com a imersão total ou parcial deste, mesmo que não haja movimento.

Inicialmente alguns conceitos podem auxiliar na compreensão, como a diferença entre massa, peso e densidade corporal. Para Bonachela (2001) massa é a quantidade matéria que uma substância compreende que pode ser mensurada em cm ou metros cúbicos, enquanto peso é esta massa mais a força com a qual esta é atraída no sentido do centro da terra, isto é a massa mais a força da gravidade ou ainda é a quantidade de peso quantificada em uma balança comum.

página anterior p.18 próxima página

Já a densidade tem relação com o tipo de matéria que compreende a massa e é calculado por meio da relação entre massa e volume (D=m/v). A densidade tem relação direta com a flutuação, enquanto peso e massa não. Por exemplo um prego com poucos gramas afunda rapidamente no meio líquido, enquanto toras de madeira de mais de 100 kg flutuam, isto se dá pelo fato de a madeira ser menos densa que o ferro, apesar das toras serem muito mais pesadas que o prego (Bonachela, 2001).

O mesmo acontece com uma pessoa obesa e outra hipertrofiada. Pode ser que estes dois indivíduos tenham exatamente o mesmo peso e a mesma altura, no entanto a pessoa obesa flutuará com mais facilidade que a pessoa com grande quantidade de tecido muscular. Isto acontece porque o tecido adiposo é menos denso que o tecido muscular. Muitas vezes as pessoas com seus preconceitos acreditam que a pessoa mais hipertrofiada tem menos chance de entrar em afogamento do que uma pessoa obesa ou idosa. No entanto, se as duas tiverem a mesma capacidade natatória esse fato não acontece.

A água do mar tem maior densidade (1024 kg/m³) que a água piscina (1000 kg/m³), assim no mar é mais fácil flutuar que na piscina. A densidade do corpo humano é aproximadamente 950 kg/m³ por isso flutua. No entanto esta é uma média, existem pessoas com maior densidade que 950 kg/m³, então afundam mais, e pessoas com menor densidade que flutuam com maior facilidade.

Este fato também facilita a compreensão do por que as mulheres geralmente têm maior flutuabilidade que os homens, a maior concentração de tecido adiposo disposta nos quadris e abdômen facilitam a flutuação (Figura 02).

Centro de gravidade na flutuação Fonte:

Dentre as leis da física no meio líquido mais citadas pelos autores (Bonachela, 2001; Catteau e Garoff, 1990; Palmer, 1990) são o princípio de Arquimedes e a lei de Pascal.

Segundo Palmer (1990) um matemático grego chamado Arquimedes (287-212 a.C.) descobriu os fundamentos da flutuabilidade ao tomar banho em sua banheira notou que quando entrava a água nas laterais aumentavam. Assim o Princípio de Arquimedes diz que:

“Quando um corpo está completo ou parcialmente imerso em um líquido, ele sofre um empuxo para cima, que atua em sentido contrário a força da gravidade, igual ao peso do líquido deslocado”.
Princípio de Arquimedes
página anterior p.19 próxima página

Loss e Castro (2010) o empuxo, ou princípio de Arquimedes, é a principal força estática, e que este acontece por que a água, como qualquer outro fluido, fará pressão sobre um corpo que nela tenha sido imerso, como se tentasse “ocupar o lugar deste corpo”. Esta pressão é maior de baixo para cima, pois existe uma diferença entre a profundidade onde se encontra a parte inferior e a parte superior do corpo, empurrando-o para cima (Figura 14).

O empuxo age como se amarrassem balões de hélio em um corpo fora da água. Os balões puxam o corpo para cima, fazendo uma força contrária ao peso deste corpo, no entanto o peso não diminui. Da mesma forma, o peso de um corpo submerso em meio líquido não diminui, mas o empuxo o empurra para cima. Se o peso for superior ao empuxo este corpo afunda.

Para completar o entendimento das forças estáticas é preciso entender a Lei de Pascal, também conhecida como pressão hidrostática, segundo ela: “A pressão do líquido é exercida igualmente sobre todas as áreas da superfície de um corpo imerso em repouso, a uma determinada profundidade”.

Bonachela (2001) relata que a pressão hidrostática é aumentada de acordo com: a densidade do líquido (salgado), a profundidade da piscina em que o corpo se encontra e a profundidade que a parte do corpo se encontra. Se imerso em líquido com maior densidade, como é o caso da água do mar, o corpo irá sofrer maior pressão hidrostática do que se estivesse em um meio menos denso. Da mesma forma, quando flutuamos em uma piscina de menor profundidade a pressão hidrostática é menor do que o inverso. Assim em piscinas onde permaneço verticalmente com o pé encostado no fundo destas fazendo hidroginástica vivencio menor pressão hidrostática do que quando estou na mesma posição com cinto flutuador fazendo aula de corrida em flutuação em piscinas de grande profundidade. E ainda quanto mais fundo encontra-se uma parte do meu corpo maior será a pressão que este sofrerá. Assim quando estamos na piscina em pé, nossos pés sofrem uma pressão maior em relação aos joelhos, no entanto os joelhos sofrem pressão maior que os quadris, da mesma forma os quadris sofrem maior pressão que o tórax e assim por diante. Esta pressão maior na parte inferior do corpo e menor na parte superior proporciona a melhora do retorno sanguíneo, como se fosse um trabalho de drenagem linfática.

Ao caminhar ou correr no meu líquido, tanto o empuxo quanto a pressão hidrostática proporcionam menor impacto nas articulações do que se estivesse saltando no solo.

página anterior p.20 próxima página

Importante lembrar que a posição mais frequente da pessoa que está passando por um afogamento é elevando os braços para cima, com a intenção de ser visto. Essa posição piora a situação pois o braço fora da água não tem seu peso reduzido como se tivesse na água, levando as vias aéreas a serem submersas e isso só faz com que a vítima entre em afogamento mais rapidamente.

Posição frequente de afogado

O peso hidrostático é o resultado da diferença entre o peso corporal e todas as forças que auxiliam a flutuação. Como vimos, quanto mais imerso um corpo estiver no meio líquido maior serão as forças estáticas que favorecem a flutuação, assim quanto mais funda é a piscina em que o indivíduo está imerso e em pé menor será seu peso hidrostático. A tabela a seguir apresenta os valores de redução do peso corporal quando se está imerso em uma piscina com a profundidade equivalente à parte do corpo.

Altura da água Homem Mulher
Pescoço 90% 92%
Ombros 82% 86%
Xifóide 67% 71%
Umbigo 52% 57%
Joelhos 11% 12%
Tornozelos 2% 2%

Loss e Castro (2010) relatam que outro fator importante, apesar de não ser uma força, para entender a ação do meio líquido sobre o corpo é a chamada tensão superficial. Esta tensão é como uma camada elástica que se forma na superfície da piscina e está relacionada com a diferença de pressão entre os dois lados da interface.

página anterior p.21 próxima página

Quando pulamos de uma ponte no rio, ou em qualquer lugar alto na água, temos que quebrar essa camada para entrar no meio líquido e esse choque do corpo com a água pode causar hematomas ou em alguns casos até traumatismos. Essa é uma informação importante que deve ser utilizada na prevenção de lesões e afogamentos.

As moléculas que ficam na parte interna da piscina interagem com as demais moléculas em todas as direções. As moléculas que se encontram na superfície da piscina só interagem com as que estão do lado de dentro da piscina, sofrendo uma ação de atração para dentro do líquido.

Todas estas pressões fazem com que a resistência oferecida a um corpo em movimento na água seja maior quando se está mais próximo da tensão superficial. Assim um nadador ao se impulsionar na borda sofrerá menos resistência e deslocará com maior velocidade se mantiver o corpo completamente submerso até iniciar os movimentos com membros superiores. Se temos que nadar maiores distâncias para não afogar ou para buscar uma pessoa em afogamento é mais recomendável que essa aproximação seja realizada próximo da superfície da água.

Hidrodinâmica

Segundo Palmer (1990) hidrodinâmica é o estudo dos corpos em movimento na água ou em fluidos em movimento. Na natação a hidrodinâmica oferece conhecimentos para aplicação dos elementos de propulsão e resistência, para análise da mecânica dos nados. Mas podemos usar esses conhecimentos para também entender e aprimorar os nados utilitários e de resgate e salvamento aquático.

A água consiste de moléculas de hidrogênio e oxigênio que tendem a flutuar em correntes regulares e contínuas, que são compactas umas sobre as outras, recebendo o nome de fluxo laminar.

Caso um objeto sólido interrompa o fluxo regular e contínuo da água torna o fluxo turbulento. Quando um corpo interrompe o fluxo tornando-o turbulento, as moléculas da água se separam repicando umas nas outras em direções aleatórias. As moléculas da água em turbulência vão progressivamente invadindo outros fluxos laminares, causando um padrão crescente de turbulência, observável pelas ondas que se propagam, até que este perca a força.

Um corpo parado em meio líquido que inicia um deslocamento, como uma corrida, enfrenta inicialmente uma pressão maior que um corpo que já está se deslocando continuamente. É dessa forma que muitas pessoas se desequilibram no meio líquido e, muitas vezes mesmo dando pé, entram em afogamento.

página anterior p.22 próxima página

Maglisco (1999) relata que a água exerce um efeito retardador muito profundo nos objetos que se deslocam por meio dela, e que esta resistência ao movimento é chamada de arrasto. Quando os nadadores deslocam-se por meio da água, exercem forças contra o arrasto que fazem com que o meio entre em movimento. Algumas destas forças promovem a propulsão do corpo para frente e outras o retém.

Assim a propulsão final será a diferença entre o arrasto resistivo (que a água e seus movimentos oferecem) e as forças propulsivas (executadas pela força do movimento do nadador). Esse fato não acontece apenas nos nados competitivos, mas também com os nados utilitários e com as pessoas que estão em risco de afogamento tentando nadar.

Quanto mais denso for o líquido maior será o arrasto resistivo. No entanto é importante saber que o aumento do arrasto não se dá apenas em função da densidade e do movimento da água, mas principalmente pela forma causada pelo movimento do nadador. Este arrasto é chamado de arrasto de forma.

Maglisco (1999) relata que existem três categorias de arrasto: arrasto de forma, arrasto de onda e arrasto friccional. O arrasto de forma é causado pelo porte e forma do corpo dos nadadores em seu deslocamento propulsivo na água.

Os objetos com menos resistência de forma são objetos com forma afilada pois provocam menor resistência ao se deslocar em meio líquido do que objetos com cantos quadrados, mesmo que estes tenham a mesma área de superfície (Figura 15). A parte afilada permite que a direção das moléculas da água ultrapasse o objeto mudando de direção de forma muito gradual e o final afilado também permite que as moléculas retornem a sua posição inicial sem que haja tanta turbulência. Os peixes possuem forma ideal para se deslocar em meio líquido.

Objeto com menor e maior resistência em meio líquido

Assim, nos nados utilitários temos que pensar em movimentos que minimizem a forma do corpo em relação à água que se está percorrendo. Isto é, quanto mais na horizontal o corpo permanece deslocando menos arrasto ele enfrenta, menos gasto calórico ele tem e consegue nadar mais longe com menos risco de afogamento.

O objeto com cantos quadrados proporciona o aumento do que Consilman (1980) chamou de sucção posterior ou resistência de esteira. Após um corpo ou objeto deslocar-se pelo meio líquido este fará um vazio ou “buraco” que será preenchido novamente após sua passagem. A Sucção posterior é produzida pela água que não é capaz de preencher o vazio que fica por trás das partes pouco aerodinâmicas ou com maior resistência de forma, dificultando a propulsão com o arrasto de um certo número de moléculas (Figura 05).

página anterior p.23 próxima página
Resistência, atrito e sucção produzidas pela propulsão

Se uma pessoa nadar logo atrás da outra pode-se dizer que está sendo arrastada pela da frente (Maglisco, 1999). Isto se dá por que a sucção posterior funciona como uma esteira que puxa o nadador de trás, facilitando seu movimento.

Palmer (1999) relata que os melhores nadadores geralmente possuem ombros largos e tórax profundos que convergem para um quadril estreito e para pernas alongadas, o que caracteriza um corpo com menor resistência de forma.

A forma do corpo do nadador pode ser modificada com sua técnica. Enquanto o indivíduo nada, seu corpo adquire uma forma que pode ser mais ou menos hidrodinâmica. Counsilman (1990) relata que quanto mais horizontal o corpo for mantido no momento da execução do movimento dos nados menor arrasto de forma terá e maior será sua propulsão. A figura a seguir apresenta exemplos de movimentos mais aerodinâmicos.

Posições de maior e menor resistência

Maglisco (1999) lembra que é preciso que os nadadores encontrem um meio termo em manter o corpo em um alinhamento horizontal, com pernadas suficientemente profundas para ter contato adequado com o meio líquido para que estas sejam eficientes, mas não tão profundas a ponto de aumentar desnecessariamente a área ocupada pelo corpo. O mesmo autor relata que o alinhamento lateral também é importante, que movimentos laterais excessivos do corpo também podem aumentar a superfície de contato do corpo na água aumentando assim a arrasto de forma.

Arrasto de forma

Quando um objeto se desloca em meio líquido causa uma turbulência na superfície da água formando o arrasto de onda (Maglisco, 1999). A forma mais comum de arrasto de onda é a onda de proa, a pressão que o corpo do nadador faz contra a água para invadi-la e progredir resulta em uma onda que se forma na frente da cabeça do nadador. Esta onda também pode ser observada em barcos à frente da proa. Quanto maior a velocidade do objeto que desloca na água, maior será a onda de proa. Por esta razão muitas vezes não conseguimos enxergar a boca do nadador do estilo crawl em competições pois este respira no “buraco” formado antes da onda de proa. Este fato pode ser observado na foto do nadador onde parece que a água está invadindo sua boca e ele não está respirando (Figura 07). Mas na verdade existe um espaço entre sua cabeça e a onda de proa que o permite rotacionar menos para respirar. Este fato acaba melhorando a posição horizontal do seu corpo, e um menor arrasto de forma, pois quanto mais se levanta a cabeça para respirar mais as pernas afundam resultando em uma posição mais vertical.

página anterior p.24 próxima página
Respiração lateral

Counsilman (1980) diz que o corpo do praticante de natação faz um atrito de fricção na água. O atrito de pele e/ou maiô e a água causam o arrasto friccional (Maglisco, 1999). Essa fricção pode ser melhorada com algumas vestimentas, mas não é um fato relevante para a prevenção do afogamento.

Todas estas informações não são úteis apenas para o desenvolvimento da técnica dos nados oficiais da natação. O professor de natação que conhece a hidrostática e a hidrodinâmica pode planejar com maior qualidade a adaptação ao meio líquido e favorecer a vivência em meio líquido, minimizando possibilidades de afogamento de seus alunos.

2.3 Técnica dos estilos da natação como facilitador do deslocamento em meio líquido

A técnica dos quatro estilos é um conteúdo importante da natação, pois apresenta formas diferentes de se locomover no meio líquido. Além disso, a técnica dos nados é resultado de muitos estudos e experiências que resultam na forma mais eficiente de se deslocar em meio líquido. No entanto, é sempre importante lembrar que os quatro estilos não devem ser o único conteúdo abordado em um programa de natação. A adaptação ao meio líquido, os nados utilitários, atividades recreativas e jogos aquáticos são algumas das muitas atividades que devem ser desenvolvidas em um programa de práticas corporais aquáticas.

A maioria dos livros sobre natação apresenta os estilos na ordem: crawl, costas, peito e borboleta. No entanto, a ordem da aprendizagem deste deve levar em consideração sempre o aprendiz! Assim, se eu tenho um aluno que tem muita dificuldade em colocar o rosto na água, posso iniciar o processo de aprendizagem pelo nado costas. Se tiver um aluno que é peitista nato, ou seja, que tem muita facilidade em executar o nado peito, devo começar por este estilo. Se não for nenhum destes casos posso iniciar com o nado crawl, pois é a forma mais eficiente de se locomover em meio líquido. Apenas não devo iniciar o processo de aprendizagem dos estilos pelo nado borboleta, pois este apresenta uma exigência física muito grande para um iniciante podendo causar lesões. Assim todo programa de práticas corporais aquáticas deve ter como informação básica sua formulação das características do aluno, considerando suas eficiências e dificuldades, e todas as suas características psicológicas, motoras e sociais.

página anterior p.25 próxima página

Antes da descrição dos estilos informações sobre a predominância de utilização de partes do corpo devem ser conhecidas. Os membros superiores são os principais responsáveis pela propulsão nos nados crawl, costas e borboleta. Apenas movimentando os membros superiores a maioria dos nadadores atinge 90% de sua velocidade máxima. O movimento de membro superior dos quatro estilos é composto por duas fases: aérea e submersa. A fase aérea tem como objetivo a recuperação do posicionamento inicial de forma rápida, utilizando pouco gasto energético, sem aumentar as forças resistivas, com um posicionamento inicial que favorece a busca pelo fluxo laminar. A fase submersa ou aquática é responsável pela propulsão, tem o objetivo de satisfazer os princípios hidrodinâmicos já citados nesta apostila e fornecer vantagem mecânica para ação dos músculos. O papel dos membros superiores e inferiores na propulsão nos estilos da natação variam. No nado crawl, costas e borboleta os membros inferiores são importantes agentes na sustentação adequada do corpo e auxiliam na propulsão. No nado peito os membros inferiores tem principal função de propulsores e auxiliam na sustentação.

A seguir será apresentada a técnica do movimento do nado crawl. Lembramos mais uma vez que a técnica correta deve ser utilizada no sentido de favorecer a propulsão do corpo, sempre respeitando as necessidades e condições individuais. A técnica dos nados não deve ser um engessamento de movimentos como único objetivo da natação, como já foi dito, no entanto o conhecimento destas propicia que o professor, com bom senso, adéqüe o movimento do aluno, facilitando a propulsão e tornando a natação uma prática mais prazerosa e eficiente.

NADO CRAWL

Desenvolvimento técnico do nado Crawl

Posicionamento do corpo:

Em decúbito ventral, o corpo permanece o mais horizontalmente possível, realizando movimentos de rolamentos laterais, em seu eixo longitudinal.

Posicionamento da cabeça:

Na expiração o rosto permanece em contato com a água, mantendo o nível da água na parte superior da testa, direcionando o olhar para a frente e para o fundo da piscina. A expiração é realizada pela boca, nariz ou boca/nariz. A expiração pelo nariz auxilia para que o nadador execute a virada evitando a entrada da água pelo mesmo.

O movimento para a inspiração é através da rotação lateral do tronco e de uma pequena rotação de pescoço. A inspiração deve ser realizada pela boca e na onda de proa, mantendo a boca o mais próximo possível da água, e acontece no momento em que um braço estiver na fase de apoio e o outro na finalização da braçada. A respiração é classificada de acordo com o número de braçadas (2X1, 3X1 ou bilateral, 4X1 ...).

Técnica de Braçada:

O movimento dos braços do crawl consiste em circundução antero-posterior alternada dos mesmos. Para melhor entender o movimento, dividiremos a braçada em: entrada, apoio, tração, finalização e recuperação.

Entrada: Deve ser feita à frente da cabeça, entre a linha central desta e a linha da direção do ombro. O braço deve estar ligeiramente flexionado, com o cotovelo acima da mão, de modo que as pontas dos dedos sejam a primeira parte do braço a entrar na água. Ela deve deslizar para dentro da água, à frente, de lado, com a palma da mão ligeiramente voltada para fora.

Apoio: Consiste em uma puxada para baixo, em direção ao fundo com o braço estendido, não deixando haver uma abertura significativa. Neste momento acontece uma pequena rotação do tronco, posicionando um dos ombros à frente e, assim, colocando o braço em uma posição em que terá maior apoio na água.

Tração: O movimento para a inspiração é através da rotação lateral do tronco e de uma pequena rotação de pescoço. A inspiração deve ser realizada pela boca e na onda de proa, mantendo a boca o mais próximo possível da água, e acontece no momento em que um braço estiver na fase de apoio e o outro na finalização da braçada. A respiração é classificada de acordo com o número de braçadas (2X1, 3X1 ou bilateral, 4X1 ...).

Finalização: Consiste em um empurrão final realizando uma aproximação do braço e cotovelo ao tronco, através de uma quase-extensão do antebraço em relação ao braço, retirando-se a mão da água próxima ao quadril.

Recuperação: Deverá ser feita através da elevação do cotovelo, flexionando o antebraço e projetando a mão à frente. Os braços e mãos deverão estar o mais relaxados possível. O cotovelo estará mais alto que a mão durante todo o percurso e a mão passarápróxima da água.

Direção do movimento: Durante a fase aquática do braço (entrada, apoio, tração, finalização) a mão percorrerá um trajeto chamado de movimento em “S”. Segundo pesquisas na área de hidrodinâmica este é o movimento que proporciona maior apoio do braço, antebraço e mão na água.

Técnica de pernada do nado crawl:

Os movimentos de pernas do nado crawl são realizados alternadamente, com trajetórias descendentes, ascendentes e laterais (de acordo com o rolamento do tronco).

Movimento descendente: A fase descendente é iniciada quando o calcanhar está alinhado com a superfície da água, momento este em que acontecerá uma pequena flexão da articulação coxo-femural e do joelho, fazendo com que haja um pequeno abaixamento do joelho para uma posterior extensão rigorosa da perna. Os pés deverão estar em flexão plantar e em inversão. Este movimento deverá ter uma profundidade de aproximadamente 30 a 35 centímetros abaixo da superfície da água.

Movimento ascendente: O pé estará ainda em flexão plantar, e a perna retornará a posição inicial estendida, porém relaxada.

Coordenação entre braços e pernas:

Existem alguns tipos de classificação, em relação a esta coordenação:

  • Crawl dois tempos: Para cada ciclo de braçada, correspondem a dois movimentos de perna (semelhante ao andar).
  • Crawl quatro tempos.
  • Crawl seis tempos (mais utilizado em provas de fundo).

NADO COSTAS

Desenvolvimento técnico do nado Costas

Posicionamento do corpo:

O corpo permanece o mais horizontalmente possível, em decúbito dorsal, realizando movimentos de rolamentos laterais, em seu eixo longitudinal.

Posicionamento da cabeça:

A cabeça deverá permanecer apoiada na água, com o nível da água passando por sua parte posterior ou mediana das orelhas.

Respiração

A inspiração do nado costas deverá ser feita pela boca, no momento em que um dos braços estiver iniciando a recuperação e o outro, o apoio. A expiração deverá ser feita de preferência pelo nariz, evitando assim o desconforto de possível entrada de água neste. E geralmente a expiração é realizada quando um dos braços estiver na direção do rosto.

Técnica da Braçada:

O movimento dos braços do crawl consiste em circundução póstero-anterior alternada dos mesmos. Da mesma forma como no nado crawl, dividiremos a braçada em: entrada, apoio, tração, finalização e recuperação.

Entrada: Deve ser feita entre a direção da cabeça e o ombro. O braço deve estar estendido, com a palma da mão voltada para fora, de modo que a ponta do dedo mínimo seja a primeira parte a entrar na água.

Apoio: Consiste de uma puxada para baixo e ligeiramente para o lado, em direção ao fundo da piscina, e com o braço estendido.

Tração: É um momento onde começará a existir uma maior eficiência da braçada, em que podemos observar uma flexão do antebraço em relação ao braço (em torno de 90o), fase em que a mão e o cotovelo deverão estar alinhados, com o braço perpendicular ao corpo, e o cotovelo apontando para o fundo da piscina.

Finalização: Da passagem da tração, para o empurrão final, haverá uma aproximação do braço e cotovelo ao tronco, com extensão do antebraço, projetando a mão em direção ao fundo, fazendo com que haja um rolamento do corpo para o lado oposto a esse braço, e uma conseqüente saída do ombro, do mesmo lado.

Recuperação: Deverá ser feita através da retirada do braço estendido da água, sendo que o dedo polegar será o primeiro a deixar a água. Os braços deverão estar estendidos, mas, no entanto relaxados. Aproximadamente acima do rosto realizamos a rotação do braço para que este esteja pronto para iniciar um novo ciclo.

Técnica de pernada

Os movimentos de pernas do nado crawl são realizados alternadamente, com trajetórias descendentes, ascendentes e laterais (de acordo com o rolamento do tronco).

Movimento descendente: A fase descendente é iniciada quando o dorso de um dos pés está alinhado com a superfície da água, com a perna estendida, posição em que permanecerá até o final da fase descendente. Ao final da fase descendente acontecerá uma pequena flexão da articulação coxo-femural e do joelho, fazendo com que haja uma pequena elevação do joelho. Os pés deverão estar em flexão plantar e em inversão.

Movimento ascendente: Na fase ascendente a perna realizará uma extensão rigorosa da perna, os pés deverão estar em flexão dorsal e em inversão, procurando aproveitar bem a pressão realizada pelo dorso de pé e perna.

Coordenação para cada ciclo de braçada (dois braços) são realizados seis movimentos de pernas.

NADO PEITO

Técnica da pernada

Técnica da Braçada:

O movimento dos braços do nado peito são simultâneos e caracteriza-se por haver maior ênfase na lateralidade dos movimentos. Dividiremos o movimento em apoio, tração e recuperação.

Apoio: Partindo com os braços estendidos à frente da cabeça, mãos juntas, o início da braçada é realizado com pressão para os lados e ligeiramente para o fundo, sem grande abertura para que, no momento da tração as mão não ultrapassem a linha dos ombros.

Tração: É a fase em que acontece o movimento de aproximação dos braços ao corpo. Nesta fase o antebraço é o grande responsável pela pressão na água, com abdução dos braços e flexão do antebraço sobre o braço até um ângulo aproximado de 90o, alinhando ombro, cotovelo e mão. Após o braço realizará uma adução unindo mãos e posteriormente cotovelos.

Recuperação: As mãos permanecerão unidas com os cotovelos o mais próximos possível, estendendo os braços para a posição inicial (estendidos a frente da cabeça).

Técnica de pernada

O movimento da perna do nado peito é conhecido como chicotada, devido sua trajetória. É realizado em um movimento em que os pés desenheam como na figura deste box:

  • O início do movimento se dará com as pernas estendidas e com os pés em flexão dorsal e em inversão.
  • A pernada do nado peito requer uma boa flexibilidade tíbio-társica, já que para um bom posicionamento dos pés, no momento da flexão máxima das pernas e no decorres da extensão, é necessário realizar, dorsiflexão com eversão, para que os mesmos realizem um eficiente apoio na água, com as plantas dos pés.
  • A flexão da coxa sobre o tronco deve ser o suficiente para que os pés não saiam da água, já que, se houver um abaixamento grande das mesmas, ocorrerá uma grande resistência frontal ao deslocamento, prejudicando a propulsão.
  • A flexão da perna sobre a coxa deve ser máxima possível, aproximando os pés dos glúteos, obtendo assim uma maior amplitude do movimento.
  • Na flexão máxima das pernas, os joelhos devem se posicionar apontados para o fundo da piscina, e não muito para os lados, ou seja, deve haver uma rotação medial das coxas, para evitar um grande afastamento destes.
  • A trajetória dos pés no movimento de extensão é: A primeira fase da extensão que é a fase de maior apoio, na abdução das pernas, ao mesmo tempo em que os pés se dirigem para o lado, também estarão aprofundando. Na segunda metade da extensão, os pés estarão se dirigindo para dentro e ainda para o fundo (adução das pernas).
  • Na finalização da pernada quando as pernas se estenderem, os pés se unirão, com as plantas uma voltada para a outra, através da flexão plantar e inversão dos pés, pressionando assim a massa de água presente no interior das pernas.
  • O movimento de flexão das pernas (recuperação) deverá ser realizado mais descontraído (com menor gasto calórico), e a extensão, onde se realiza o apoio necessário para o deslocamento, deverá ser executada com vigor, maior potência.

Respiração: Durante ao apoio da braçada, isto é, fase inicial da abdução dos braços, o nadador realizará a elevação frontal da cabeça, até a retirada da boca da água e realizará a inspiração. A expiração será realizada na recuperação dos braços, ou seja, enquanto estes estão se estendendo à frente da cabeça.

Coordenação entre pernas e braços:

A coordenação no nado peito caracteriza-se por movimentos alternados:

  • Apoio da braçada = pernas permanecem estendidas;
  • Tração da braçada = pernas permanecem estendidas;
  • Início da recuperação da braçada – início da ação das pernas;
  • Final da recuperação da braçada = final da ação das pernas (extensão).
página anterior p.26

O nado peito foi o nado que mais evoluiu, proporcionalmente, dentre os 4 nados oficiais de competição. Saiu do nado clássico , mostrado na sequência acima, com recuperação mais baixa (elevação do tronco) para um nado mais agressivo com recuperação mais alta e potente confundindo-se às vezes com um movimento de ondulação (característica do nado borboleta/golfinho), porém esse movimento advém de um apoio maior e uma recuperação mais rápida e explosiva provocando uma grande extensão do tronco e acentuando um mergulho que eleva o quadril caracterizando como “pequenos saltos” na superfície e grande extensão corporal. Esse estilo foi chamado de estilo “europeu”, onde foi iniciado e difundido. Maglischo em: Nadando o mais rápido possível, trata dessa discussão.

(foto) Maglischo, pag 205, Nadando o mais rápido Possível, 2010 - Manole

NADO BORBOLETA

Virada do nado crawl e costas

Posição do corpo

Permanece na horizontal em decúbito ventral, e caracteriza-se por ações simultâneas de braços e pernas.

Posicionamento da cabeça

O rosto fica em contato com a água mantendo o nível da água na parte posterior da cabeça, com uma maior aproximação do queixo no peito do que no nado crawl.

Respiração

Durante o momento em que o rosto permanece na água o nadador executa a expiração através da boca e/ou nariz. A inspiração deve ser feita logo após a expiração, através de uma ligeira elevação frontal da cabeça, mantendo-se o queixo apoiado na água.

A respiração pode ser classificada com o número de braçadas: 1X1, 2X1 ou 3X1.

Técnica da braçada

Os braços realizam uma circundução Antero-posterior simultaneamente.

Entrada: Deve ser feita à frente da cabeça, entre a linha central desta e a linha da direção do ombro. Os braços devem estar ligeiramente flexionados, com rotação medial, com os cotovelos um pouco acima das mãos, de modo que as pontas dos dedos sejam a primeira parte a entrar na água. As mãos devem deslizar para dentro da água, à frente, de lado, com a palma das mãos voltadas para fora.

Apoio: Consiste em uma puxada para o lado, com os braços estendidos, não deixando haver uma abertura exagerada.

Tração: Podemos observar uma flexão dos antebraços em relação aos braços, com uma trajetória das mãos em direção a linha mediana do corpo,e para o fundo.

Empurrão: É o momento em que começará a existir maior eficiência da braçada, quando podemos observar uma flexão do antebraço em relação ao braço, fase em que as mãos, cotovelos e ombros deverão estar alinhados, sob o corpo. A partir daí, haverá uma aproximação do braço e cotovelo ao tronco, passando a existir uma maior pressão de movimento, em relação as fases anteriores.

Finalização No empurrão final haverá uma extensão do antebraço vigorosa, retirando-se, logo a seguir as mãos da água, próximas do quadril.

Recuperação: Deverá ser feita através da elevação dos cotovelos, flexionando os antebraços e projetando as mãos à frente, com os braços passando pela lateral, paralelos à superfície da água. Os braços e mãos deverão estar o mais relaxados possível.

Direção do movimento: Como no nado crawl, durante a fase aquática dos braços (entrada, apoio, tração, finalização) as mãos percorrerão um trajeto chamado de movimento em “S”. Segundo pesquisas na área de hidrodinâmica este é o movimento que proporciona maior apoio do braço, antebraço e mão na água.

Técnica de pernada

Os movimentos de perna são realizados simultaneamente com trajetórias ascendentes e descendentes.

Movimento descendente: A fase descendente é iniciada quando o calcanhar está alinhado com a superfície da água, momento este em que acontecerá uma pequena flexão da articulação coxo-femural e do joelho, fazendo com que haja um pequeno abaixamento do joelho para uma posterior extensão rigorosa da perna. Os pés deverão estar em flexão plantar e em inversão, procurando aproveitar bem a pressão realizada pelo dorso dos pés e pernas na água. Este movimento deverá ter uma profundidade de aproximadamente 40 a 50 centímetros abaixo da superfície da água.

Movimento ascendente: O pé estará ainda em flexão plantar, e a perna retornará a posição inicial estendida, porém relaxada.

Coordenação entre pernas e braços: No nado borboleta a cada ciclo de braçadas realiza-se duas pernadas: uma no início (apoio) da braçada e outra no empurrão final da mesma.

Respiração: Durante ao apoio da braçada, isto é, fase inicial da abdução dos braços, o nadador realizará a elevação frontal da cabeça, até a retirada da boca da água e realizará a inspiração. A expiração será realizada na recuperação dos braços, ou seja, enquanto estes estão se estendendo à frente da cabeça.

Viradas

Cada um dos estilos da natação possui uma virada específica, no entanto o nado crawl e costas apresentam viradas parecidas, assim como o nado peito e borboleta.

A virada dos nados crawl e costas têm como base uma cambalhota realizada próxima da borda seguida por um empurrão executado pelos membros inferiores na borda. No entanto a propulsão após o empurrão no nado crawl acontece em decúbito ventral e no costas em decúbito dorsal.

Na virada do peito e borboleta o movimento básico consiste de encostar as mãos na borda (simultaneamente), depois levar os pés na borda para só então realizar o empurrão.

Após a virada do nado borboleta realiza-se ondulações na fase se maior propulsão e só após inicia-se o movimento dos braços. Já após a virada do peito realiza-se um movimento chamado de Filipina, que consiste de um movimento mais amplo do que o movimento realizado pelos membros superiores no nado peito e após o movimento idêntico ao realizado pelos membros inferiores no nado peito.

Estes movimentos podem ser visualizados na figura ao lado.