Unidade 2: A crise socioambiental - recursos naturais e conservação da biodiversidade

3. O que temos para conservar?

O princípio básico da Biologia da Conservação é conhecer para conservar. Contudo, saber ao certo quantas espécies existem na Terra não é uma tarefa simples. Atualmente, 1,8 milhões de espécies já foram descritas, entretanto esse número está longe do real, uma vez que prognósticos estimam que a riqueza global de espécies pode oscilar de 3 a 30 milhões (GASTON, 1998). No Brasil, estima-se que possuímos entre 15-20% dessa riqueza (SHEPHERD, 2002). É necessário saber o número total de espécies que existem no mundo e no Brasil para conseguir estimar a influência humana sob a taxa de extinção. Junto com essa informação, é preciso também conhecer a taxa de extinção, na qual elas estão desaparecendo, para assim compará-las com as taxas antes da aparição da espécie humana. A partir desses valores, é possível mensurar o quanto o homem está interferindo, negativamente, na biodiversidade mundial e nacional. É fundamental ter ciência que a perda da biodiversidade, causada pela extinção maciça da flora e fauna, somente agrava os problemas da população humana na Terra.

Um recurso natural de importância máxima para a vida no planeta e que merece muita atenção é a água, porém seu uso não é feito do modo racional. O volume total de água no planeta é calculado em 1,386 milhões de km3, sendo que 35.106 km3 (2,5%) são de água doce, tendo uma distribuição desigual entre as regiões geográficas (REBOUÇAS, 1999; GUANDIQUE & MORAIS, 2012). Estima-se que 20% da população mundial não tem acesso a água potável. A água é um recurso limitado que será tornará cada vez mais cobiçado pelas nações onde ela é escassa, podendo transformar-se em uma fonte de tensão e competição no mundo. O Brasil é considerado o país com a maior fonte de recursos hídricos, pois possui 17% do total disponível na Terra, entretanto sua maior parcela encontra-se na Região Norte do País (local com baixa densidade populacional). Apesar disso, calcula-se que apenas 8% da população urbana e 22% da população rural no Brasil possuem água tratada para o consumo (SUGUIO, 2006).

Nas últimas décadas, como uma forma de tentar preservar áreas relevantes com grande diversidade de espécies e recursos naturais, estudiosos ligados à conservação ambiental criaram critérios para destacar os locais que possuem maior urgência em sua preservação, os denominados “hotspots”. De acordo com esses estudiosos (MITTERMEIER ET AL., 1999), um “hotspots” é aquele local com uma considerável biodiversidade e grande perda de habitat, sendo norteado por duas diretrizes: presença de espécies endêmicas (espécies que são restritas aquele local) e ameaça de perda de habitat. Curiosamente, as plantas são escolhidas como primeiro critério, pois, a partir delas, muitas outras formas de vida são mantidas. Já a perda de habitat se dá pelo grau da ameaça, definida pela perda de pelo menos 70% da cobertura original onde se encontrava as espécies endêmicas. Existem no mundo 34 áreas consideradas como “hotspots” e, infelizmente, o Brasil contribui com duas áreas, sendo, pioneiramente, representado pela Mata Atlântica e, recentemente (2005), pelo Cerrado (PENA, 2015). O Cerrado é considerado o segundo maior bioma do País com mais de 2.000.000 km2 de área original, contudo restaram apenas 20% (356.630 km2) (RIBEIRO & WALTER, 2008; ALHO, 2005). Cerca de 50% das áreas do Cerrado, atualmente, estão ocupadas com atividades ligadas à agropecuária, como criação de gado, pastagens cultivadas, urbanização e culturas anuais e perenes (KLINK & MACHADO, 2005b). Calcula-se que futuramente o uso agrícola ocupará uma área potencial de 89 milhões de hectares, compreendendo 66% de todo o Cerrado (MACEDO, 1995). Estimativas recentes apontam que o bioma deva estar totalmente destruído no ano de 2030, caso as tendências de ocupação atuais sejam mantidas (MACHADO ET AL., 2004).