Parte II - Unidade II: Helmintos

Unidade II: Helmintos

3. Ancilostomídeos

Os Ancilostomídeos são helmintos da família Ancylostomatidaee, parasitos obrigatórios de mamíferos. Duas espécies parasitam frequentemente o homem e são responsáveis pela ancilostomíase ou ancilostomose: Ancylostoma duodenale e Necator americanus, produzindo quadro clínico semelhante (THOMPSON, 2015).

Os vermes adultos vivem na luz do intestino delgado fixados à mucosa, se alimentando de sangue. Os ovos tornam-se embrionados no solo, onde as larvas eclodem e vivem durante alguns dias, nutrindo-se de matéria orgânica. Depois de 2 mudas, passam a ser larvas de 3º estádio infectantes (L3). As larvas L3 penetram na pele das pessoas que andam descalças por terrenos contaminados com fezes humanas. As espécies que parasitam cães e gatos (A. braziliensis e A. caninum), que não conseguem completar sua evolução na espécie humana, podem invadir a pele e nela permanecerem algum tempo abrindo túneis na epiderme e produzindo uma dermatite conhecida como larva migrans cutânea ou “bicho geográfico” (NEVES, 2005).

Os ancilostomídeos que parasitam o homem, habitual ou ocasionalmente, podem ser distinguidos pela morfologia da cápsula bucal. Ancylostoma duodenal possui dois pares de dentes na cápsula bucal; Necator americanos possui lâminas cortantes; A. braziliensis possui um par de dentes grandes e um pequeno; A. caninum possui três pares de dentes. A fêmea de Necator americanos põe 6 a 11 mil ovos por dia, medindo entre 64 e 76 µm, ao passo que a fêmea de Ancylostoma duodenal põe 20 a 30 mil com dimensões entre 56 e 60 µm (REY, 2003).

O embrionamento larvário completa-se no meio exterior em cerca de 18 horas e a eclosão dá-se em um ou dois dias, saindo uma larva de 1º estádio (L1). A larva L1 se alimenta de bactérias e matéria orgânica do solo, cresce e sofre a primeira muda, tornando-se larva de 2º estádio (L2). Ocorre mais uma muda dando origem à larva de 3º estádio (L3). As larva infectantes L3 penetram na pele do homem, vão pela circulação venosa ou linfática ao coração e aos pulmões sofrendo nova muda (ciclo de Loss). As L4 penetram nos alvéolos e bronquíolos, sendo arrastadas pela corrente de muco da árvore respiratória até a faringe, sendo deglutidas. No intestino sofrem a última muda tornando-se verme adulto, localizando-se preferencialmente no duodeno e no jejuno, fixando-se à mucosa com sua cápsula bucal (REY, 2003).

O ciclo completo normal de A. duodenale dura 4 a 5 semanas, aparecendo os ovos nas fezes na 5ª ou 6ª semanas depois da infecção. Os ovos de Necator americanus só aparecem depois de 7 a 8 semanas (REY, 2003).

3.1 Ação Patogênica da infecção por Ancilostomídeos

No período de invasão cutânea, as lesões são mínimas, exceto em casos raros de ataque maciço por milhares de larvas, assim como nos casos de hipersensibilidade, que ocorre em alguns indivíduos por ocasião das reinfecções. Nos casos de hiperinfecção, durante o ciclo pulmonar pode ocorrer uma pneumonia disseminada, que constitui a síndrome de Loeffler (como se observa também na estrongiloidíase e na acaríase) (NEVES, 2005).

As lesões que os helmintos produzem na parede intestinal resultam da aplicação de sua cápsula bucal contra a mucosa, dilaceração e sucção do sangue e do tecido lisado, que lhes servem de alimento. Para isso utilizam seus dentes ou placas cortantes, as lancetas e a secreção de suas glândulas cefálicas. O organismo perde sangue na medida em que os vermes sugam a mucosa e pelas pequenas hemorragias residuais que ficam quando os parasitos mudam seu ponto de fixação. A presença de anticoagulantes nas secreções orais dos parasitos tende a facilitar a perda de sangue. Essas perdas variam com a espécie presente, sendo o volume médio perdido para cada Necator da ordem de 0,03 a 0,06 ml/dia. Com A. duodenale a perda é de 0,15 a 0,30 ml/dia (NEVES, 2005).