Parte II - Unidade II: Helmintos
Unidade II: Helmintos
2. Ascaris lumbricoides
Helminto nematoide da família Ascarididae, Ascaris lumbricoides são conhecidos popularmente como lombrigas ou bichas. Localizam-se de preferência no duodeno e no jejuno, onde produzem um quadro clínico variado denominado ascaríase. São vermes longos, cilíndricos e com extremos afilados, sobretudo anteriormente. Na maioria das infecções são encontrados em torno de seis vermes por paciente, mas esse número pode elevar-se a 500 ou 700 em alguns casos (REY, 2003).
O agravamento mais comum ocorre na infecção em crianças onde pode ocorrer a obstrução intestinal por um bolo de áscaris, determinando o quadro de abdome agudo (ANDRADE et al., 2015). Os vermes localizam-se, em geral, nas alças jejunais e íleo. Raramente migram para o duodeno, estômago ou outros lugares. Mas, crianças muito parasitadas podem eliminar alguns pela boca ou pelas narinas.
Ascaris lumbricoides mantêm-se em atividade constante, movendo-se quase sempre contra a corrente peristáltica, nutrindo-se de materiais digeridos ou outros, dispondo para isso de todas as enzimas necessárias (REY, 2003).
Os ovos férteis são ovais ou quase esféricos e medem em torno de 60 x 45 µm. Possuem uma delgada casca interna, uma camada média quitinosa e uma camada externa espessa com rugosidades grosseiras. Tornam-se embrionados no solo em duas semanas e tornam- se infectantes após uma semana permanecendo nesta condição por um ou mais anos. Os ovos de áscaris são abundantes no chão do peridomicílio contaminados com fezes humanas, e podem ser suspensos no ar, com a poeira, pela ação dos ventos. Tais ovos podem ser ingeridos com os alimentos ou a partir das mãos sujas. Mas, também, serem aspirados e depois deglutidos com o muco das vias aéreas (NEVES, 2005).
No ceco do hospedeiro, os ovos embrionados eclodem liberando uma larva de 2º estádio (L2). Esta larva aeróbia invade a mucosa intestinal e vai pela circulação até o pulmão, onde chega em 4 ou 5 dias iniciando o ciclo de Loss, comum a outros parasitos como Ancilostomídeos e Strongyloides stercoralis. No pulmão, a larva L2 sofre muda, passando à larva de 3º estádio (L3) após 8 ou 9 dias. As larvas de 3º estádio penetram nos alvéolos, onde ocorre nova muda. As larvas migram para os bronquíolos e brônquios onde sofrem nova muda, sobem pela traqueia e laringe sendo deglutidas com as secreções brônquicas. Ao chegarem ao intestino, dá-se a última muda que as transforma em adultos jovens crescendo até a maturidade em dois meses. O helminto pode permanecer no intestino sem molestar o paciente por anos, sendo descobertos, ocasionalmente, quando um deles for expulso com as fezes ou pelo encontro de ovos durante um exame parasitológico de fezes (NEVES, 2005).
2.1 Patogenia da infecção por Ascaris lumbricoides
Nos casos sintomáticos, as manifestações mais frequentes são: desconforto abdominal, dor epigástrica, cólicas intermitentes e má digestão; assim como náuseas, anorexia e emagrecimento. Também costuma haver irritabilidade, sono intranquilo, ranger de dentes à noite e coceira no nariz. Pessoas hipersensíveis podem apresentar quadros alérgicos, como urticária, edemas e crises de asma que se curam com anti-helmínticos (NEVES, 2005).
Figura 6a: Ciclo Biológico de Ascaris lumbricoides; b: Loss)
Figura 6b: Ciclo Biológico de Loss
Em populações de baixa renda e crianças desnutridas, os parasitos agravam o mau estado nutricional. Não é rara a eliminação de um áscaris pela boca ou pelo nariz, quando o parasitismo é intenso ou quando os vermes são irritados por certos alimentos, drogas ou mesmo anti-helmínticos. A capacidade migratória dos áscaris leva-os, por vezes, a penetrar no apêndice, vias biliares, simulando os quadros de colecistite, de colelitíase ou de angiocolite e nas vias pancreáticas, produzindo pancreatite aguda, sempre fatal. Outros quadros obstrutivos graves ocorrem quando, subindo pelo esôfago, os vermes penetram na laringe ou nos brônquios (NEVES, 2009).