Unidade VII - Bases genéticas do Cancêr
O câncer é uma doença genética, independentemente de ocorrer de forma esporádica ou hereditária, pois a carcinogênese sempre inicia com danos no DNA. Geralmente, esses danos são potencializados por agentes químicos, físicos ou virais, denominados de carcinógenos. Dentre os exemplos de vírus potencialmente promotores oncogênicos em humanos estão o HBV (hepatite B) e o HPV (papiloma vírus) associados ao carcinoma hepatocelular (tumor de fígado) e ao câncer de cólo do útero em mulheres, respectivamente. Dentre os fatores ambientais estão fumo, bebida, exposição solar, fatores hormonais, dentre outros.
Qualquer célula normal pode ser sítio de origem de um processo neoplásico, mas para que este aconteça é necessário uma série de eventos que vai sendo acumulada com o passar dos anos, por isso, a idade é um dos fatores de risco mais bem estabelecido associado a essa doença. A formação das neoplasias se dá pelo desequilíbrio entre as taxas de proliferação celular e a apoptose resultado de uma morte celular programada. Esses eventos são regulados por uma grande quantidade de genes, que, ao sofrerem mutações, podem ter seus produtos expressos de maneira alterada, iniciando a formação de um tumor. Portanto, o câncer é uma doença de múltiplas etiologias.
Um tumor corresponde a alterações celulares que levam ao aumento no volume celular e tecidual, podendo ser benigno ou maligno. No tumor benigno, as células crescem mais lentamente e são diferenciadas, se assemelhando às do tecido normal. Já no tumor maligno, as células crescem mais rapidamente e são indiferenciadas (menos especializadas), apresentam alterações morfológicas, com menor adesão célula a célula e maior invasividade com potencial metastático. A metástase é um processo pelo qual as células cancerosas invadem e se espalham para outros tecidos do corpo por via linfática ou sanguínea. A origem de um câncer é dita monoclonal, pois a célula alterada escapa ao controle regulatório, formando uma massa de células alteradas.
Os cânceres podem ocorrer em diferentes tecidos do corpo, sendo aqueles que ocorrem em células epiteliais (de revestimento de mucosas das vias aéreas, tubo digestório, glândulas como tireoide, mama e próstata) são denominados carcinomas, que incluem os adenocarcinomas. Entre aqueles que acometem as células de tecidos ósseo, conjuntivo e muscular estão os sarcomas. Para as células hematológicas brancas estão as leucemias, que acometem as células da medula óssea, os linfomas (células hematológicas do sistema linfóide) e os mielomas (raros), que começam nas células do sistema imunológico, cânceres do sistema nervoso central, que começam nos tecidos do cérebro e da medula espinhal, dentre outros tipos. De modo geral, os diferentes tipos de câncer correspondem às diferentes células do corpo. No que se refere à cura dessa patologia destaca-se a importância na realização dos exames periódicos a fim de detectá-lo precocemente, pois muitos cânceres são curáveis, desde que tratados nos estágios iniciais.
No Brasil e EUA, os cânceres mais comuns são o de próstata nos homens, mama nas mulheres e de pulmão em ambos os sexos. A predisposição para desenvolver o câncer pode ser herdada, sendo denominada de câncer familial. Contudo, a maioria dos casos podendo atingir 99% (dependente do tipo de câncer), se deve ao acúmulo de mutações espontâneas nos tecidos somáticos, denominadas de esporádicas.
Para estudos, in vitro, as células tumorais podem ser removidas do tecido tumoral e crescidas em meio contendo nutrientes adequados, às vezes indefinidamente. Como apresentam crescimento desregulado e não responsivos aos sinais químicos que inibem a divisão celular, in vitro, as células cancerosas apresentam perda de inibição por contato em que as células, ao se tocarem, continuam formando camadas com superposição umas às outras se acumulando no meio de cultura, formando massas; ao contrário das células normais que crescem formando monocamadas. Em geral, também apresentam um citoesqueleto desorganizado podendo produzir proteínas incomuns e apresentar anormalidades cromossômicas. Uma vez estando o DNA danificado ou alterado por mutações, há três processos que podem ocorrer na célula para correção do erro: i) o reconhecimento e parada no ciclo celular para reparo do dano; ii) a morte celular pela ativação da apoptose; iii) mais raramente, a transmissão do dano para as células descendentes por falhas nos outros mecanismos, levando ao processo de oncogênese. Existem, basicamente, duas categorias de genes envolvidos nas formações neoplásicas: os oncogenes e os genes supressores de tumor.