UNIDADE II - Concepções e práticas pedagógicas

2. Recursos pedagógicos e metodologias

Após a escolha dos conteúdos fundamentais, relevantes e atualizados, de acordo com o que foi acima discutido, a seleção das atividades e experiências que levem à execução dos objetivos propostos devem ser selecionados. Segundo Krasilchik (2008), o próximo passo é a escolha das modalidades didáticas, às quais podem ser agrupadas para:

  • a transmissão de informações e atividades de grandes grupos (sala de aula total) – aula expositiva, demonstrações;
  • a realização de investigações – aulas práticas, projetos;
  • a análise de causas e implicações do desenvolvimento da biologia – simulações, trabalho dirigido;
  • as atividades para pequenos grupos – seminários, trabalhos individuais, projetos.

Ainda de acordo com a mesma autora:

A escolha da modalidade didática, por sua vez, vai depender do conteúdo e dos objetivos selecionados, da classe a que se destina, do tempo e dos recursos disponíveis, assim como dos valores e convicções do professor. Qualquer curso deve incluir uma diversidade de modalidades didáticas, pois cada situação exige uma solução própria; além do que, a variação das atividades pode atrair e interessar os alunos, atendendo às diferenças individuais (KRASILCHIK, 2008, p.77).

A Figura 1 apresenta alguns critérios de escolha da metodologia a ser considerada. Cada atividade tem um potencial pedagógico diferente e limitações específicas, não se podendo oferecer uma receita didática.


Figura 1: Critérios de escolha de atividades didáticas segundo Mello (2007), modificado

O Quadro 1 apresenta, de forma resumida, a caracterização das modalidades didáticas mais frequentemente utilizadas para o ensino de biologia. Outras modalidades, embora menos frequentes, também são  utilizadas, como por exemplo as visitas ao planetário, aos  centros de experimentação, aos museus e a outros espaços educacionais interativos. Apesar de essas atividades serem extremamente produtivas, o deslocamento dos alunos pode tornar-se um empecilho devido ao transporte (disponibilidade de verba e riscos), à autorização dos responsáveis e disponibilidade de calendário.

Quadro 1: Resumo das características de modalidades didáticas, segundo Krasilchik (2008).

Modalidade didática Caracterização

Aulas expositivas

Informar os alunos; permitem ao professor transmitir suas ideias e os aspectos que considera importante; servem para introduzir um assunto novo, sintetizar um tópico ou comunicar experiências pessoais do professor.

Discussões

Mostrar, passo a passo, os diferentes tipos de processos que ocorrem na investigação biológica e fazer com que o estudante participe de descobertas científicas numa atividade que exige imaginação e capacidade de raciocínio.

Demonstrações

Apresentar à classe técnicas, fenômenos, processos etc., em casos em que o professor não dispõe de tempo ou material.

Aulas práticas

Oportunizar que os alunos tenham contato direto com os fenômenos, manipulando os materiais e equipamentos e observando organismos; os alunos podem defrontar com resultados não esperados, cuja interpretação estimula a imaginação e o raciocínio. Não precisa necessariamente de um laboratório para ser realizada, mas orientar para que os alunos sejam capazes de elaborar hipóteses e discutir a respeito de suas concepções.

Excursões

Buscar informações em ambientes naturais, sem a forma artificial dos experimentos de laboratório.

Simulações

Levar os alunos a envolverem-se em situações problemáticas nas quais deverão tomar decisões e prever suas consequências.

Instrução individualizada

Fazer com que o aluno tenha liberdade para seguir seu próprio ritmo de aprendizagem; inclui vários tipos de trabalhos: estudos dirigidos, instrução programada, atividades online e, eventualmente, projetos.

Projetos

Executar atividades, por um aluno ou uma equipe, para resolver um problema em que ocasione um produto final concreto.

Consciente de seu papel como educador na sociedade, o professor de ensino público, e até de ensino privado, muitas vezes não consegue atingir seu objetivo porque enfrenta a precariedade da escola, que pode não oferecer uma variedade em opções e instrumentos para o seu desenvolvimento. O professor sem opções eficientes pode desencadear um comodismo, tanto docente como discente, que acaba tendo um reflexo negativo para o ensino da biologia.

O uso de aula expositiva e as discussões são as modalidades didáticas mais aplicadas, e os recursos didáticos mais utilizados ainda são o quadro de giz e o livro didático. A aula expositiva que, embora apresente algumas desvantagens na formação dos alunos e seja criticada por ser tradicional, pode ser bem proveitosa se for bem empregada no que se refere ao alcance de conteúdo cognitivo (MOREIRA, 2006). Para todas as outras modalidades, obstáculos podem surgir durante a organização, porém, alguns podem ser superados e outros não. Neste sentido, os recursos pedagógicos podem ser potentes aliados na superação desses obstáculos se escolhidos de forma adequada, não sendo o livro didático o único material para auxiliar professor e aluno. Inúmeros são os recursos que podem ser utilizados em qualquer que seja a modalidade didática, que pode ser desde a confecção de um texto de apoio até uma peça de teatro e recursos tecnológicos.

Um dos recursos mais influentes na compreensão de mundo das pessoas são os meios de comunicação de massa. Eles estão disponíveis para todas as preferências individuais: jornais, livros, revistas, estações de rádio, canais de televisão, filmes e toda a mídia digital. Essa comunicação muitas vezes não está disponível no ensino formal e, a partir de uma notícia ou qualquer assunto relacionado à biologia, pode ser feita uma discussão em classe sobre as ideias dos alunos, tornando a aprendizagem mais expressiva.

As oficinas pedagógicas também trazem uma abertura de espaços de aprendizado que buscam o diálogo entre os participantes, onde cada um contribui com sua experiência, sendo o professor o dirigente e, também, o aprendiz. Elas podem estabelecer uma independência das ações educacionais em relação aos modelos que priorizam mais uma área do saber do que outra (MARTINS, FREITAS e FELDKERCHER, 2009).

Em biologia, o estudo de conceitos que envolvem situações que dizem respeito à saúde dos alunos, aos seus hábitos de lazer, às suas experiências de trabalho ou à sua explicação sobre fenômenos da natureza torna-os mais motivados para aprendizagens de caráter científico, ampliando sua visão de mundo e colaborando para a modificação de hábitos capazes de melhorar sua qualidade de vida. (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002). Diante disso, além da exposição oral, esses temas devem contar com situações diversificadas e interessantes, como: atividade extraclasse, atividades práticas, jogos, leitura e escrita, projetos de trabalho, propostas interdisciplinares, confecção de modelos didáticos, teatro, música, entre outras.

Nas exposições orais para o ensino de biologia, é fundamental o uso de imagens, como slides (data show) e filmes (educativo-didático ou não), visto que o aluno pode ter a noção daquilo que não está presente no seu cotidiano. Também os modelos didáticos (células, vírus, DNA, órgãos do corpo humano, impressões de plantas, pegadas etc.), sejam eles industrializados ou fabricados artesanalmente, são materiais que são de extremo auxílio durante as aulas expositivas. Além disso, esses modelos podem ser potentes “instrutores” quando o próprio aluno os confecciona (utilizando biscuit, argila, gesso e outros tipos de materiais), pois exige a caracterização de detalhes que podem passar despercebidos na visualização de imagens ou esquemas.

A presença de atividades envolvendo leitura e escrita (síntese ou resenha de livros,  artigos de jornais e  revistas) contribui para o rompimento do ciclo cópia e memorização, favorecendo a compreensão do objeto de estudo. Essas atividades podem e devem ser planejadas de forma interdisciplinar (aulas de redação, geografia, matemática etc.).