Capítulo 3 - Diversidade e Inclusão no Ensino de Biologia

2. Ensino de Biologia: entrelaçamento de saberes e práticas para a promoção da inclusão

Esses fatores distanciam a escola do seu objetivo de democratização do direito à educação e ao conhecimento, o que reflete na composição de uma cultura escolar “(...) padronizada, ritualística, formal, pouco dinâmica, que enfatiza processos de mera transferência de conhecimentos, quando esta de fato acontece” (CANDAU, 2000, p. 68). Essa padronização presente nas salas de aula comum pode também ser encontrada na SRM, tornando o AEE um espaço de atividades mecânicas e uniformes, o que desfavorece a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação e o atendimento das necessidades educacionais.

A escola inclusiva foi pensada em uma escola comum que possuísse uma pedagogia de caráter flexível, colaboradora e contextualizada, haja vista que os padrões rígidos de transmissão e avaliação não sustentam o processo educativo que a inclusão escolar almeja. Dessa maneira, ações alternativas nas práticas pedagógicas são essenciais para a promoção do ensino de Biologia para todos os estudantes, independente de suas necessidades educativas.

A educação científica é hoje uma alternativa eficaz no ensino de Biologia em busca da conquista de autonomia intelectual, por meio de uma melhor compreensão da ciência e tecnologia e, por isso, tem sido temática de pesquisa, além de citada em documentos educacionais oficiais. Podemos concordar que os objetivos de um ensino de Biologia com vistas à educação científica acabam por corroborar com as intencionalidades de inclusão social e de uma educação que possibilite a emancipação e autonomia de todos os indivíduos. Um trabalho que deve priorizar para que as áreas de conhecimento assim como as experiências por elas compartilhadas sejam integradas, trabalhadas de maneira interdisciplinar. Além disso, incentivar o aluno a solucionar problemas que estejam contextualizados com sua realidade através de alternativas encontradas nas mais diversas áreas do conhecimento, propicia uma aprendizagem significativa e global.

Santos e Manga (2009), com base na análise dos trabalhos desenvolvidos no Ensino Médio, em Biologia, realizaram um estudo visando promover novas abordagens para a melhoria do processo inclusivo no âmbito educacional no que tange a disciplina de Biologia. Para isso, elaboraram modelos biológicos que contemplavam a Biologia Celular por meio de estruturas tridimensionais ou em alto relevo e também coloridas para que estas pudessem facilitar na aprendizagem do conteúdo através da manipulação, utilização do tato para alunos cegos e da visualização das cores fortes e contrastantes utilizadas para estudantes com baixa visão. Essa iniciativa rendeu excelentes resultados para a aprendizagem em Biologia Celular, uma vez que boa parte das informações sobre essa temática são trabalhadas de maneira escrita, o que dificulta para os alunos que possuem alguma deficiência visual, além do que, os demais alunos videntes também podem utilizar desse material didático.

Diferentes alternativas podem ser pensadas, elaboradas e efetivadas para ensinar Biologia, prezando pela diversidade do alunado e, assim, priorizando o direito à aprendizagem de temáticas tão importantes ao desenvolvimento do sujeito. Vale ressaltar que, a adaptação do conteúdo por meio de recursos e materiais pedagógicos é tarefa de grande responsabilidade para o professor, pois essas adequações devem valorizar as potencialidades dos alunos público alvo da Educação Especial, a fim de estimular sua aprendizagem em Biologia.

Nas discussões de Barreto e Goulart (2008), são evidenciadas formas negativas de concepção de deficiência, em que as ações de naturalizar e homogeneizar fazem com que instituições e profissionais organizem suas práticas, voltadas sempre para a maneira de caracterizar pela baixa expectativa em relação aos alunos, como natural. Isso acarreta situações que desvalorizam o processo de escolarização dos alunos público alvo da Educação Especial, fato esse contextualizado nos estudos de Tartuci et. al (2012), pois demonstram que os professores de SRM apontam que o trabalho desenvolvido no AEE e o de sala comum possuem distinções, assumindo, assim, uma suposta ideia de que neste último espaço, há ausência de conteúdos nas suas ações pedagógicas. Ou seja, a escolarização desses alunos não tem contemplado o conteúdo de Biologia de maneira efetiva, pois a literatura revela que as atividades de ensino, o trabalho pedagógico desenvolvido com eles é pautado em um currículo reducionista (CARDOSO, 2013).