Capítulo 3 - Diversidade e Inclusão no Ensino de Biologia

2. Ensino de Biologia: entrelaçamento de saberes e práticas para a promoção da inclusão

Candau (2000), em seus estudos sobre o cotidiano escolar, evidencia que a cultura das nossas escolas se mostra “(...) ‘engessada’, pouco permeável ao contexto em que se insere aos universos culturais das crianças e jovens a que se dirige” (CANDAU, 2000, p.68. Grifos da autora). Isso demonstra a importância de remontar os espaços escolares e também as metodologias de ensino, no anseio de contemplar os interesses e necessidades de todos os alunos.

Quando tratamos de alunos público alvo da Educação Especial, essa reconfiguração do ambiente escolar é colocada de forma incisiva pela legislação (BRASIL, 2001b, 2008a), que define a formação docente como um quesito importante, pois considera o professor protagonista da organização pedagógica que favorecerá a oferta de atendimento a esses educandos. Desse modo, é válido discutir sobre os processos formativos que são oferecidos e implementados aos professores, pois, dentre outros motivos, a falta de conhecimentos necessários à prática faz como que esses profissionais atuem com base em suas experiências pouco fundamentadas teoricamente e que podem ser guiadas por fatores históricos produzidos nas tessituras da Educação Especial. Christofari (2011) suscita que:

(...) historicamente o discurso médico produziu saberes sobre sujeitos diagnosticados com deficiência de maneira que, na escola, o modo de pensar e agir em relação a eles, por anos foi pautado em uma pedagogia que buscava normalizar, “curar”, modificar os modos de ser desses sujeitos (CHRISTOFARI, 2011, p. 3).

Por esse motivo, muitos professores, por falta de outras referências, ainda se utilizam de metodologias que são baseadas apenas em concepções terapêuticas e assistencialistas, que deveriam ser problematizadas e recriadas com base em características metodológicas que prezassem pela questão educacional, uma vez que os serviços de apoio como as SRM, devem ser organizados de forma a prestar um serviço de natureza pedagógica (BRASIL, 2001b, 2001c).

A ação docente deve ser então, movida por esta natureza pedagógica, que nada mais é do que entender a atuação do professor como um processo de trabalho pedagógico daqueles que desenvolvem a prática do magistério, tanto no ato de ensinar, que acontece em sala de aula, como nas diversas atividades de planejamento, desenvolvimento e avaliação, que ocorrem em todo o espaço escolar (DAMIS, 2004), ou seja, na organização de todo trabalho pedagógico em articulação com a produção do conhecimento, com o currículo escolar.

As atividades desenvolvidas pelos professores, dentro ou fora da sala de aula, devem conter sempre esse caráter pedagógico, que considera a produção de conhecimentos, visto que a ação de ensinar precisa estar presente, transformando o cotidiano do aluno em um contínuo de ensino e aprendizagem independente do espaço que o aluno esteja ocupando na escola.

A identidade social do ambiente escolar vai se constituir a partir de uma visão mais ampla da sociedade. Assim, é relevante entender que a escola é influenciada pelos padrões sociais vigentes, o que a torna cada vez mais organizada de acordo com o modo como a sociedade se organiza, de forma mecanicista e acrítica, assim como o são as práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores por meio de metodologias que não associam prática à teoria e que não se preocupam com os pressupostos e, muito menos, com o contexto social em que estão sendo veiculadas (VEIGA, 1996).