Capítulo 3 - Diversidade e Inclusão no Ensino de Biologia

2. Ensino de Biologia: entrelaçamento de saberes e práticas para a promoção da inclusão

A Educação Básica nos últimos tempos tem tentado atender de uma forma mais ampla as necessidades que são impostas pela sociedade globalizada, que apresentam demandas profissionais, culturais e intelectuais que pressupõem uma formação adequada dos alunos desde o início em seu processo de escolarização.

Com a globalização, houve uma inversão no fluxo do conhecimento, que se antes vinha da escola para a sociedade, agora chega da sociedade para a escola, o que provocou mudanças profundas no cotidiano escolar (CHASSOT, 2003).

Nesse sentido, em 1998, surge os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) na tentativa de auxiliar na transformação dos sistemas educacionais em busca de implementar novos currículos que atendam às exigências impostas pela sociedade.

Desse modo, o Ensino de Biologia que antes acontecia de modo propedêutico e memorístico, nesse panorama, irá mostrar que através da elaboração humana se dá a construção de mundo, incentivando a constituição da autonomia de pensamento e ação. Todavia, para que a aprendizagem dos conhecimentos trabalhados no Ensino de Biologia aconteça é necessário que existam metodologias capazes de atender às características específicas de aprendizagem dos estudantes, bem como estabelecer a conexão entre conteúdos e vivências, valorizando a cultura e proporcionando a interação com fenômenos naturais e tecnológicos presentes no cotidiano dos discentes.

Porém, o que muitas vezes acontece nas aulas de Biologia é a abordagem de conteúdos de forma fragmentada, o que não permite ao estudante relacionar os conhecimentos obtidos. Isso impede que exista uma reflexão ampla sobre as temáticas gerais, como a compreensão sobre o corpo humano e o meio ambiente, além do constante hábito de tratar dos fenômenos da natureza e da tecnologia de forma metódica e única, prezando pela memorização em detrimento da compreensão do conteúdo, o que desfavorece o desenvolvimento da aprendizagem de maneira geral.

Assim, um ensino pautado pela memorização de denominações e conceitos e pela reprodução de regras e processos – como se a natureza e seus fenômenos fossem sempre repetitivos e idênticos – contribui para a descaracterização dessa disciplina enquanto ciência que se preocupa com os diversos aspectos da vida no planeta e com a formação de uma visão do homem sobre si próprio e de seu papel no mundo (BRASIL, 2006b, p. 15).

Essas características contribuem de maneira significativa para o fracasso escolar, principalmente quando tratamos dos alunos que são público alvo da Educação Especial. Afinal, a falta de flexibilidade no processo de ensino em nada favorece a efetiva aprendizagem desse alunado.

Arroyo (2003) revela que a escola é regida por uma cultura escolar que segue a tradição de reprodução em que são transmitidos saberes úteis para a conquista do mercado de trabalho, de concursos e vestibulares. Todavia, ensinar para a diferença requer repensar as atividades e metodologias que estão propostas historicamente na cultura escolar. É necessário dinamismo, flexibilidade, renovação, pois o processo de aprender e ensinar é, por si só, diverso e, quando tratamos de alunos público alvo da Educação Especial, fica ainda mais evidente a necessidade de fuga aos padrões e métodos rígidos que cuidam apenas da transferência de conhecimentos. Prezar pela heterogeneidade ao ensinar significa valorizar a diferença de cada um, tomando-a como referência para entender que cada aluno possui suas formas específicas de expressar o que sabe, de aprimorar e aprender saberes. Enfim, se não há um padrão de aprendizagem, todos são capazes de conseguir aprender algo de alguma forma.