Capítulo 2 - Metodologia do Ensino Superior

1. Universidade e Políticas Públicas Educacionais

“Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a (...)”
Atribuída a Albert Einstein

É comum a afirmação de que para se entender certo fenômeno, ato ou fato é preciso compreender todo o contexto social no qual estes estejam inseridos, bem como, conhecer historicamente o que contribuiu para promovê-los.

Quando nos deparamos com as instituições universitárias da atualidade, podemos nos questionar sobre inúmeras características inerentes a elas e, até mesmo, indagar sobre onde e quando surgiram.  A resposta para tal pergunta talvez seja a resposta para outras interpelações, sobre as quais desejamos obter respostas qualificadas para o panorama das instituições universitárias no Brasil e no mundo.  Ademais, conhecer sobre suas origens possibilita contribuir para discussões e reflexões a respeito desses centros de ensino.

1.1 O surgimento das universidades no mundo

Podemos afirmar que a universidade, segundo o modelo que conhecemos hoje, surgiu na Itália, no final do século XI. A origem dessa universidade decorreu da influência exercida por um centro de cultura conhecido como “Escola de Artes Liberais”. Essa escola foi importante para o surgimento de outras escolas (episcopais, monásticas e particulares) nas quais se ensinava Direito.  Foi a partir dessas escolas que surgiu a Universidade de Bolonha, em 1088. 

No século XII, as escolas em Paris alcançaram um desenvolvimento tão extraordinário que as Escolas de Artes Liberais e as de Teologia se agruparam às Escolas de Direito e de Medicina na região da Île de la Cité, nascendo, assim, a Universidade de Paris, na França, em 1150. Todavia, alguns historiadores acreditam que esta não tenha sido a segunda universidade a insurgir, mas a de Oxford na Inglaterra, ainda no século XI, em 1096. 

Subsequentemente, mais universidades foram criadas: Universidade de Módena (1175) na Itália; Universidade de Cambridge (1209), Inglaterra; Universidade de Salamanca (1218), Espanha; Universidade de Montpelier (1220), França; Universidade de Pádua (1222) e Universidade de Nápoles (1224), Itália; Universidade de Toulouse (1229), França; Universidade de Al Mustansiriya (1233), Iraque; Universidade de Siena (1240), Itália; Universidade de Valladoid (1241), Espanha; Universidade de Roma (1244) e Universidade de Piacenza (1247), Itália; Universidade de Sorbonne (1253), Paris, França; Universidade de Murcia (1272), Espanha; Universidade de Coimbra (1290), Lisboa, Portugal; Universidade de Madri (1293), Espanha. Essa expansão das universidades continuou até o século XV.

Em relação à estrutura física, nem todas as universidades tinham prédios próprios e algumas funcionavam em salas de abadias e até mesmo nas ruas. O período letivo era de um ano sem férias, mas havia 79 dias sem aula (datas festivas).  Ao final de um curso o estudante garantia o título de Bacharel e, para ser Licenciado era preciso mais dois anos de estudo específico para a titulação.

Duas formas pedagógicas eram utilizadas como forma de ensino nas universidades: a leitura (lectio) e o questionamento (quaestio).  Livros eram raros e os estudantes dependiam exclusivamente das aulas.

Para saber mais

O surgimento das universidades se deu no período histórico conhecido como Idade Média.  Nesse período, as universidades eram vistas com enorme prestígio e recebiam recursos equivalentes as doações que se faziam às igrejas. Outro aspecto a se considerar é o fato do “saber”, até o século XVIII, ser um monopólio dos clérigos - não no sentido de que fosse proibido aos outros, mas sim no de que eram eles os únicos que se ocupavam disso, pois a maior parte das pessoas era analfabeta. Com o surgimento das universidades, houve uma mudança no sistema medieval de ensino, pois cria-se um local destinado ao saber, cuja preocupação central não era formar o clérigo, mas alguém que pudesse aprender e ensinar.

Apesar de parecer contraditória a insurgência e a valorização dessas instituições de ensino nesse momento histórico, é a simplificação da Idade Média que promove tal pensamento. A péssima imagem construída da Idade Média é uma produção do século XVIII, combatida no século XIX, porque foi interpretada como o momento de nascimento das identidades nacionais.