VOLTAR À COLEÇÃO ISBN: 978-65-997623-7-6
Volume 3

Experiências Críticas de Ensino na Educação Básica:

Educação Sexual, Questões Étnico-raciais, Inclusivas e Ambientais

Apresentação

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A presente obra é resultado de uma parceria entre dois programas de pós-graduação que, ao se encontrarem por meio das figuras dos docentes, Maria Beatriz Dias da Silva Maia Porto, Maria Cristina Ferreira dos Santos, Evandson Paiva Ferreira e Marcos Antonio Gonçalves Júnior, identificaram-se como programas praticamente irmãos, devido a sua similaridade e coerência de propósitos.

Primeiramente, a similaridade ocorre no próprio nome dos programas: Programa de Pós-Graduação de Ensino em Educação Básica (PPGEB/Uerj) e Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica (PPGEEB/UFG). Entretanto, se as diferenças no uso dos artigos e preposições nesses nomes pode ser algo aleatório, já não podemos afirmar o mesmo em relação ao fato de ambos estarem vinculados a instituições de ensino originadas como Colégios de Aplicação. No âmbito das Universidades a que pertencem, o PPGEB/Uerj está sediado no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, unidade acadêmica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e o PPGEEB/UFG situa-se no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE), unidade acadêmica da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Desse modo, a vinculação e a origem institucional desses dois programas evidenciam a proximidade singular deles com a educação básica. Isto possibilita agregar relevantes histórias para contar sobre as pesquisas que realizam, os produtos educacionais que elaboram e as reflexões que produzem sobre o Ensino; sobretudo, devido à contribuição para a teoria e a prática da educação básica, bem como para a formação de professores que, cotidianamente, seus docentes, discentes e egressos realizam.

Inspirados, então, pela descoberta dessa "irmandade" entre os dois programas, resolvemos abrir uma chamada para publicação com o tema Experiências na Educação Básica: pesquisas, produtos educacionais e ensaios. Tal iniciativa é direcionada, particularmente, à nossa comunidade de egressos, estudantes e docentes, a fim de compor mais um volume para a coleção Educação Básica em Pesquisa, projeto editorial do PPGEEB/UFG nascido em 2019.

Imbuídos dessa proposta, conclamamos nossa comunidade a submeter seus textos a um dos seguintes formatos: relatos de pesquisas finalizadas ou em andamento; relatos do desenvolvimento e aplicação de Produtos Educacionais; ou ensaios teóricos. Qual não foi nossa surpresa quando a resposta nos chegou na forma de 23 capítulos enviados. Um feito louvável, isto é, comprovação da resiliência e da resistência desses dois programas de pós-graduação stricto sensu, na modalidade profissional. Mesmo no decorrer de um período trágico para a população brasileira, tanto do ponto de vista sanitário, quanto político e, particularmente, gravíssimo do ponto educacional, especialmente devido à falta de uma política sólida e humana de enfrentamento a pandemia de COVID-19. Ainda assim, os programas foram capazes de mobilizar a comunidade para um exercício autoral com elevado grau de reflexão crítica, como se verá no decorrer dos volumes 3 e 4 da presente coleção. Sim, esse arroubo autoral, em forma de 23 textos, proporcionou a nós organizadores vislumbrar a elaboração de dois novos volumes da coleção. E assim o fizemos, sendo o volume 3, o presente volume, intitulado: Experiências Críticas de Ensino na Educação Básica: educação sexual, questões étnico-raciais, inclusivas e ambientais e, o volume 4, intitulado Experiências na Educação Básica: práticas de formação e metodologias de ensino.

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A leitura do material textual recebido por nós e apreciado pelo corpo de pareceristas - professores pesquisadores doutores de outras instituições - mostrou que nossos programas não se furtam, absolutamente, a abordar e investigar temas sensíveis, atuais e até polêmicos dentro das escolas de educação básica. A abordagem científica desses temas, pautada em pesquisas levadas a cabo por nossos acadêmicos, mostra que a polêmica e o preconceito florescem justamente onde há falta de informação, onde há falta de embasamento científico, onde há negacionismo, despreparo, onde há falta de professores. Assim, os três primeiros capítulos do presente livro tratam de pesquisas acerca do papel da educação sexual na escola; além de apresentar dados sobre a violência infantil, especialmente nos últimos anos, mostram propostas para a Educação Básica.

Intitulado Orientação Sexual e Abuso Sexual Infantil: escola, família e isolamento social, com autoria de Gabriella de Oliveira Dias, Claudia Jorge de Freitas e Jonê Carla Baião, o capítulo 1 inicia-se pela triste singularidade de casos de crianças que sofreram violência e abuso sexual, nos últimos anos. As autoras constroem uma pesquisa com o intuito de investigar a importância da escola na educação sexual e mostram como se pode trabalhar, dentro da escola, o respeito ao corpo, o conhecimento e o funcionamento dos órgãos reprodutores, a permissão, ou não, do toque, as formas de contracepção existentes tanto para doenças sexualmente transmissíveis, quanto para gravidez indesejada e o respeito às subjetividades incluídas na sexualidade.

O capítulo 2, Reflexões sobre Educação Sexual na Escola: conceitos e abordagens, de autoria de Rone Rosa Martins e Evandson Paiva Ferreira, procura investigar os conceitos de sexo, sexualidade e educação sexual presentes no currículo da educação básica, bem como quais são as abordagens da educação sexual e como se apresentam no ambiente escolar. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com a finalidade de identificar e compreender como dispõem, acerca desse assunto, os documentos oficiais, normativos e de orientação, entre eles os PCN e a BNCC.

Ainda com a mesma temática, no capítulo 3, intitulado Orientações para professores da educação infantil no combate à violência sexual contra crianças: levantamento e análise documental de cadernos pedagógicos, cartilhas e guias formativos, as autoras Kellen Jéssika Stalschu e Anna Maria Dias Vreeswijk apresentam o produto educacional vinculado ao trabalho de dissertação da primeira autora. Trata-se de um guia formativo para professores/as que atuam na educação infantil e lidam com a problemática da violência sexual infantil no âmbito escolar. Destina-se a instruir o professor sobre o modo de abordar o tema da violência sexual na infância; foi elaborado com base nas análises das autoras, referentes ao trabalho de pesquisa em que coletaram e avaliaram diversos materiais desse tipo, como cadernos pedagógicos, guias etc.

Os capítulos de 4 a 7 inauguram outra temática crítica e sensível, alvo de pesquisas em nossos programas, qual seja, o ensino para as relações étnico-raciais e propostas antirracistas.

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Flávia Fernanda Rodrigues Mendonça e Danilo Rabelo denominaram Ensino Para as Relações Étnico-Raciais: uma Proposta Para Uma Educação Antirracista o que veio a ser o capítulo 4 desta obra. Os autores elaboraram uma sequência didática para auxiliar no esclarecimento do conceito de racismo, bem como aprofundar o ensino das relações étnicas e raciais, de acordo com a Lei nº 10.639/03. Buscaram, pois, fortalecer uma educação antirracista e valorizar a cultura e a história negra do país. A sequência foi vivenciada em uma turma de 5o ano do Ensino Fundamental, ambiente no qual se realizou a pesquisa oriunda do trabalho de dissertação da citada autora.

Trajetórias de Vida de Mulheres Negras e suas reverber(ações) na luta antirracista é o título do capítulo 5, de Cláudia Gomes Cruz e Mônica Regina Ferreira Lins. Elas apresentam a pesquisa de mestrado da primeira autora, que leva em consideração "os atravessamentos entre a trajetória de vida da pesquisadora (mulher negra), a trajetória da população negra que, em sua maioria, dadas as interdições históricas não usufrui dos mesmos privilégios da branquitude". No capítulo, apresentam também o Produto Educacional oriundo da pesquisa, um produto audiovisual que dialoga com o disposto na Lei Nº 10.639/03 e Lei Nº 11.645/08, as quais incluem a obrigatoriedade da cultura afro-brasileira e indígena nos currículos escolares.

No capítulo seguinte - As meninas negras e suas vivências nos espaços dos morros e favelas: quem ousa contar essa história? - Mônica Regina Ferreira Lins e Ana Lúcia da Silva Raia "ousam" apresentar a pesquisa de mestrado, a partir de um "relato emocionado" das vivências escolares e da luta delas para acabar com a invisibilidade das “meninas negras", nesse ambiente. Ainda no capítulo 6 da presente obra, as autoras discutem o principal produto educacional vinculado à pesquisa, um livro de Literatura Infantojuvenil “Quem deixou as meninas negras escreverem?". Nessa obra debatem-se temas como racismo, dororidade, amizade, irmandade, resistência e representatividade.

Por fim, finalizando a temática do ensino para as relações étnico-raciais e propostas antirracistas, o capítulo 7, intitulado O que é racismo? Proposta de intervenção didática antirracista para a EJA, escrito por Thâmara Nayara A.P. Borges e Anna Maria Dias Vreeswijk, trata de uma pesquisa empírica realizada em uma escola de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A partir dessa pesquisa, as autoras construíram uma sequência didática voltada para o ensino das relações étnico-raciais, ou seja, o produto educacional vinculado à pesquisa; tal produto foi construído com base nas experiências das autoras como professoras da educação básica, nos seus estudos bibliográficos e nas respostas a questionários aplicados aos alunos participantes na pesquisa.

Os três capítulos seguintes tratam de pesquisas sobre a educação inclusiva, temática também presente nos dois programas de pós-graduação. Apesar de versarem sobre o mesmo tema, as três pesquisas apresentadas a seguir possuem um olhar bastante diverso. Elas abordam a inclusão na educação profissional, o modo como o professor percebe a inclusão na sala de aula e o preparo para lidar com essa temática e com as práticas de leitura inclusiva no ambiente da biblioteca.

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O primeiro capítulo com esse tema, o 8º da presente obra, intitulado Educação Básica, Educação Profissional e Educação Inclusiva: Do Direito à Educação, Trabalho e Cidadania, foi escrito por Fabiana Fernandes Harami, Elisabeth Cristina de Faria e Marcos Antonio Gonçalves Júnior. Trata-se de um ensaio com o intuito de relacionar a educação profissional com a educação inclusiva, no que concerne à formação na educação básica, especificamente, refletindo sobre as questões que "perpassam a formação profissional de pessoas com deficiência". A partir desse objeto original, os autores apresentam aspectos legais sobre a integração das pessoas com deficiência e pensam esses aspectos dentro da educação profissional. Buscam também caracterizar a "sua origem, seu público, finalidade, bem como os desdobramentos para o sistema educacional, destacando os elementos que aproximam a educação profissional da educação inclusiva".

No capítulo 9 - Não Tive Formação para Ensinar Alunos com Deficiência Visual: O Que Fazer? - as autoras Talita Serafim Azevedo, Silvana Matias Freire e Vanessa Helena Santana Dalla Déa procuram analisar "as relações entre professor e aluno com deficiência visual". De forma singular, a primeira autora, professora pesquisadora deficiente visual, discute as reações de docentes quanto à situação dos alunos com essa característica, e sugere o título do capítulo. Abordam também questões de acessibilidade, escassez de materiais, tecnologias e de profissionais preparados para fazer a mediação entre aluno e professor.

De autoria de Lillian Jordânia Batista Franczak, Vanessa Helena Santana Dalla Déa e Cláudia Santos Gonçalves Barreto Bezerra, o capítulo 10, intitulado Vivência Pedagógica e Práticas de Leitura Inclusiva de uma sequência didática a um e-book acessível, parte de uma pesquisa baseada na pergunta a seguir: "Como o Espaço de Leitura Acessível do Núcleo de Educação Básica Inclusiva e Formação em Práticas Docentes do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE/UFG) pode se tornar acessível à comunidade escolar promovendo o incentivo à leitura através de práticas inclusivas?". Ao discutir essa questão, as autoras apresentam também o desenvolvimento de uma sequência didática "pensada e organizada em torno de conteúdos sobre inclusão e acessibilidade".

Consumando, então, a abordagem crítica a temas tão caros e sensíveis dentro da educação básica proposta na presente obra, no capítulo 11, Educação Ambiental Crítica na Escola: Contribuições da Pedagogia Freiriana, escrito por Clayton Tôrres Felizardo e Maria Beatriz Dias da Silva Maia Porto, apresenta-se colaboração reflexiva acerca da Educação Ambiental, em forma de ensaio teórico. No texto procura-se situar o leitor no tempo histórico quanto à Educação Ambiental, cuja dimensão no debate nacional aborda "os terrenos desbravados até agora, os limites e os entraves marcados ao longo de cinco décadas", ancorados em uma abordagem social e política, dialogando com a perspectiva de Paulo Freire.

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Eis, então, os 11 capítulos da presente obra, os quais representam considerável amostra das pesquisas e produtos educacionais desenvolvidos em nossos programas, nos últimos anos. Em sua maioria, os autores são docentes nas redes públicas do Estado de Goiás e do Rio de Janeiro. Eles escreveram em parceria com seus orientadores, como se pode verificar na seção final do livro intitulada "Sobre os autores". Dada a relevância do impacto desses programas na vida profissional dos professores, uma vez que a pós-graduação stricto sensu, na área de Ensino, é também vetor de formação continuada, de desenvolvimento profissional, nada mais sugestivo do que convidar o Prof. Dr. Victor Giraldo (UFRJ), pesquisador e formador, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática e ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ, para prefaciar a presente obra e, por isto, expressamos nosso agradecimento.

Finalizamos convidando o leitor a vivenciar as experiências críticas de ensino na educação básica, aqui narradas; então, a partir delas, conscientizar-se de seu papel como formador, fundamentar suas reflexões e (re)pensar a sua prática docente, baseando-se em conhecimento científico, especialmente em relação à educação sexual, às questões étnico-raciais, inclusivas e ambientais. Outrossim, convidamos o leitor a encarar "a educação como um esforço de libertação do homem e não como mais um instrumento de sua dominação”, como bem nos ensinou Freire (1974, p.122).


Goiânia-GO, Rio de Janeiro-RJ, junho de 2022.



Organizadores
Marcos Antonio Gonçalves Júnior (Marquinhos)
Maria Beatriz Dias da Silva Maia Porto (Bia)

Notas

1. https://publica.ciar.ufg.br/ebooks/educacao-basica-pesquisa/index.html

2. FREIRE, Paulo. La educación como práctica de libertad. 14 ed. XXI Argentina editores: Buenos Aires, 1974. [tradução nossa]