VOLTAR À COLEÇÃO ISBN: 978-65-86422-78-8
Volume 1

Narrativas de professores para professores:

Produtos educacionais para o ensino na educação básica

Dança Inclusiva e Deficiência Intelectual:
um estudo com educandos da rede municipal de ensino de Aparecida de Goiânia

AUTORES
Gisele Bizerra da Cunha
Newton Freire Murce Filho
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1. Introdução

A motivação e o interesse que levaram à proposta desta pesquisa são resultantes de experiências, desta pesquisadora, com a dança, para pessoas com deficiência intelectual, na Associação Pestalozzi de Goiânia – CAE Peter Pan. Notando a importância da dança na vida dos alunos com deficiência intelectual e como eles demonstram prazer e interesse por essa atividade, percebemos a necessidade de estudar e analisar mais profundamente a dança e como ela pode contribuir para a inclusão desses alunos na escola e na sociedade.

O presente trabalho busca, portanto, um diálogo entre dança e inclusão, apresentando a seguinte questão principal a ser investigada: Como a dança pode contribuir para a inclusão de alunos com deficiência intelectual na educação básica? Tem-se como objetivo principal verificar como a dança possibilita a inclusão dos alunos com deficiência intelectual no contexto da educação básica. A pesquisa é qualitativa e foi proposta para ser desenvolvida a partir de observações de aulas e entrevistas realizadas em duas Escolas Municipais de Ensino Integral do município de Aparecida de Goiânia.

Como referencial teórico destacamos autores que tratam de corpo, dança, educação inclusiva, inteligências múltiplas e dança inclusiva. Sobre a educação inclusiva no Brasil e em Aparecida de Goiânia, estudamos os trabalhos de Monteiro (2001), Sassaki (1998), Santos (2016) e documentos nacionais e municipais que envolvem o estudo. Para o tema deficiência intelectual, embasamo-nos em Almeida (2012), Cintra (2002), Matos (2012). Ao tratar da teoria das inteligências múltiplas, pesquisamos Gardner (1995) e Smole (1999). Para o tema dança, nos fundamentamos em Fahlbusch (1990), Marques (2010), Laban (1990), Scarpato (2001). Sobre dança inclusiva, verificamos Cintra (1992), Figueiredo (1997, 1999), Ramos (2010), Tolocka e Verlengia (2006).

Considerando os dados coletados e analisados nesta pesquisa, concluímos que a prática da dança inclusiva na escola pode proporcionar a alunos com deficiência intelectual contribuições significativas no desenvolvimento afetivo e social, motor e cognitivo, permitindo que alunos com esse tipo de deficiência se sintam mais incluídos no ambiente escolar e na sociedade. Claro (2012), quanto às contribuições da dança para as pessoas com deficiência intelectual, argumenta:

Pode-se concluir melhorias significativas nos seguintes âmbitos: estabilidade emocional, com desenvolvimento da iniciativa, prontidão, confiança, o relaxamento de tensões e redução da agressividade; criatividade, criação de movimentos próprios; desenvolvimento de habilidades motoras básicas, a dança utiliza ações básicas de movimento (marcha, corrida, salto, queda, giro) importantes no desenvolvimento motor da criança, aliadas ao trabalho de ritmo e exploração do espaço;

Constatamos também que um tipo de educação que leva em conta a teoria das inteligências múltiplas pode contribuir para o processo de inclusão escolar. Ainda em relação a uma escola que pretenda trabalhar considerando as inteligências múltiplas, Smole (1999, p. 21) aponta que essa escola busque:

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Desta pesquisa surgiu um produto educacional (ou final), que consiste em uma proposta de ensino (atividade prática com dança inclusiva) no ensino regular de duas escolas municipais de ensino integral, considerando que esse tipo de proposta de dança na escola contribuiria para a inclusão de alunos com deficiência intelectual. Nesse senti-do, o texto completo da dissertação de mestrado da pesquisadora em questão, pode ser considerado como seu produto educacional, uma vez que o trabalho analisa as aulas de dança inclusiva nessas duas escolas, tirando dessas análises consequências, o que se verifica principalmente no capítulo 4 e nas considerações finais. As maiores contribuições do produto educacional consistem, portanto, nos avanços que foi possível verificar, por meio da pesquisa, das contribuições que aulas de dança inclusiva no contexto escolar podem trazer para a inclusão de alunos com deficiência intelectual. Outra contribuição significativa do produto educacional foi a verificação do que consistiria em aulas de dança em uma perspectiva inclusiva, o que é apresentado adiante, ainda neste item.

É importante esclarecer que a proposta de ensino não pôde ter sido desenvolvida pela própria pesquisadora devido aos seguintes fatores: em primeiro lugar, devido ao fato de que alunos com deficiência intelectual necessitam de um tempo maior de adaptação junto a professores que eles ainda desconhecem. Como o tempo para o desenvolvimento desta pesquisa foi curto, não seria possível que esta pesquisadora pudesse ter um tempo mais longo de convivência com esses alunos.

O segundo fator diz respeito ao fato de que os alunos desta pesquisadora na Associação Pestalozzi de Goiânia são todos educandos com deficiência intelectual. Como o interesse da pesquisa é observar a inclusão de alunos com deficiência intelectual em ambiente regular de ensino, ou seja, em convivência com alunos que não possuem deficiência intelectual, não seria possível que a pesquisadora propusesse e desenvolvesse aulas para essa pesquisa em seu próprio ambiente de trabalho. A pesquisadora também não poderia desenvolver a pesquisa em seu outro trabalho, na Escola Municipal Neivio Rocha Barbosa, devido ao fato de haver apenas um aluno com laudo de deficiência intelectual, o que dificultaria observar maiores interações entre alunos com ou sem deficiência.

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O terceiro e último fator refere-se ao fato de que, caso essa pesquisadora propusesse aulas ou oficinas com alunos com deficiência intelectual para os quais ela mesma desenvolvesse as atividades, não seria possível um distanciamento maior para que ela pudesse fazer observações e anotações do que aconteceria nessas aulas. Além disso, esta pesquisadora buscou as Emeis nas quais realizou a pesquisa devido ao conhecimento de que tem do fato de que essas instituições constituem referências importantes no que diz respeito ao processo de ensino e de aprendizagem, inclusive no que concerne à inclusão.

Sendo assim, entendemos que o produto educacional (ou final) dessa pesquisa consiste em uma proposta de ensino (atividade prática com dança inclusiva na escola) com vistas à inclusão de alunos com deficiência intelectual, considerando um conjunto de aulas observadas e analisadas em 2 Emeis da cidade de Aparecida de Goiânia.

Após a realização de todo o processo dessa pesquisa e a aplicação do produto educacional foi possível verificar, como parte constitutiva e inédita desse produto, algumas indicações do que poderia consistir em elementos que identificariam uma proposta de dança inclusiva na escola. Nosso trabalho de observação e de análise do material de pesquisa nos levou a constatar que podem consistir em estratégias metodológicas importantes em direção a uma proposta de dança inclusiva na escola o seguinte:

Foto 1. (Aula de dança (forró) da Emei1 com alunos com deficiência intelectual inseridos na turma pesquisada.)
Foto 2. (Aula de dança (Passinhos) da Emei2 com exposição das atividades propostas pelo professor para toda turma pesquisada.)
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Foto 3. (Aula de dança sobre passinhos da Emei2 com experimentação coletiva de toda turma.
Foto 4. (Aula de dança da Emei1 com experimentação de abraços durante a dança.)
Foto 5. (Aula de dança sobre passinhos na Emei2 com experimentação coletiva de toda turma pesquisada.)
Foto 6. (Aula de dança da Emei1 onde os alunos experimentaram um relaxamento com massagem da professora.)
Foto 7. (Aula de dança da Emei2 com experimentação em duplas dos passinhos.)

Toda a pesquisa realizada, incluindo as observações e análises incluídas no produto educacional estão disponíveis em: https://reposi-torio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/6966.

Foi possível constatar, portanto, após a realização desta pesquisa, que incluiu criteriosa análise e verificação de seu produto educacional (uma proposta de ensino baseada em uma perspectiva inclusiva de dança na escola), que uma proposta de dança inclusiva no ambiente escolar contribui significativamente para a inclusão de alunos com deficiência intelectual.

A experiência de três meses nas Emeis proporcionou momentos de observações relevantes que ajudaram na descoberta do interesse dos alunos com deficiência intelectual pela dança e de como ela pode auxiliar na melhoria motora, afetiva e social desses alunos com deficiência intelectual na educação básica e na sociedade. Para Santos (1997 apud Claro 2012, p.14), a dança contribui para um melhor conhecimento de si e do meio:

Através da dança qualquer indivíduo experimenta um equilíbrio corporal e psíquico. Assim sendo a dança, além de ser uma forma de libertar tensões, energias e emoções, permite ao indivíduo adaptar-se e integrar-se no meio envolvente. Isto acontece, na medida em que através do conhecimento do corpo no espaço e no tempo, a ação dinâmica do corpo, com as suas relações com os outros, levam o homem a desenvolver-se harmoniosamente, ao nível físico, psíquico e social, tornando-se sociável, comunicativo e sensível à realidade, assumindo desta forma a sua própria identidade.

Para que a inclusão de fato aconteça, não basta que ela esteja garantida na legislação, sendo necessário que haja modificações importantes no sistema de ensino. Essas mudanças devem acompanhar a realidade de cada aluno e de cada escola, além de serem planejadas e contínuas para garantir uma educação inclusiva de qualidade.

A dança inclusiva precisa ser mais explorada para que ocupe um lugar de importância no contexto escolar. Então não paramos por aqui, continuaremos a investigar a dança e sua capacidade de incluir pessoas com deficiência intelectual no ambiente escolar.

2. Referências Bibliográficas

CLARO, Catarina Pessoa Lopes. Avaliação de um programa de dança em jovens com necessidades educativas especiais. Dissertação publicada pela Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Motricidade Humana, 2012.

SANTOS, R. C., & Figueiredo, V. M. C. (2006). Dança e Inclusão no contexto escolar, um diálogo possível. Pensar a Prática 6, 107-116.

SMOLE, Kátia Cristina Stocco. Múltiplas Inteligências na Prática Escolar - Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, 1999.

CONTATO
Gisele Bizerra da Cunha
Mestre em Ensino na Educação Básica pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do CEPAE/UFG •
giselebaianinha@hotmail.com
Newton Freire Murce Filho
Pós-Doutor em Educação (UFMG). Docente do PPGEEB/CEPAE/UFG •
murce@ufg.br