1.3
Aspectos Biopsico sóciocultural do Envelhecimento

Nesse momento, iremos apresentar alguns aspectos biopsicosociocultural do envelhecimento. Para atuar com coerência em prol do direito das pessoas com 60 anos ou mais é fundamental que os conselheiros entendam que o envelhecimento é um processo único, complexo, multifatorial, progressivo e irreversível. Primeiro, é importante dizer que o envelhecimento é único, pois, cada pessoa envelhece de uma forma e em um tempo. Podemos explicar esse processo único considerando questões e teorias biológicas e psicossociais. O envelhecimento humano resulta em diversas modificações físicas com declínios somáticos e morfológicos, levando às limitações motoras, juntamente com a desvalorização e preconceito social, podendo resultar em declínio do autoconceito e transtornos mentais e psicológicos. Mas, também, existem muitos idosos que já apresentavam depressão e transtornos mentais e psicológicos antes dessa fase da vida e que continuam dessa forma com o envelhecimento.

O envelhecimento envolve questões biológicas e genéticas, com desgaste das células e declínio da homeostase, ou seja, do equilíbrio de seu funcionamento.
Quando o sistema que mantém a homeostase celular entra em declínio, inicia-se o processo de envelhecimento, ocorrendo envelhecimento da codificação do DNA, deterioração progressiva na síntese de proteínas e também de outras macromoléculas... Os radicais livres atuam no processo de envelhecimento, pois atingem direta e constantemente células e tecidos, que possuem ação acumulativa. Se, no organismo, ocorre um desequilíbrio entre os agentes oxidantes e pró-oxidantes, ocorre um acúmulo de radicais livres, levando a célula à morte (GAVA; ZANONI, 2005, p. 41).
No entanto, o envelhecimento recebe influências da sociedade e, como vimos, as comunidades lidam de forma diferente com o envelhecimento, valorizando ou depreciando. Dissemos também da complexidade do declínio funcional causado pelo envelhecimento em um mundo capitalista. E a complexidade é ainda maior quando pensamos que podemos ter duas pessoas idosas que vivem em uma mesma comunidade, em uma mesma casa com o mesmo tratamento, mas poderão vivenciar o envelhecimento de forma diferente, dependendo da forma com que lidam com suas características, condições e questões psicológicas. E são muitas as questões que podem gerar sofrimento psicológico na pessoa com 60 anos ou mais.

Os problemas ou o temor da solidão e do isolamento, a perda de memória, a dependência do outro, a insegurança financeira, as incertezas frente ao futuro e o medo da morte são discursos frequentes entre esta população. Portanto, a rede de relações sociais e familiares de pessoas acima de 60 anos de idade assume relevância e importância na sociedade contemporânea (AGLIARDI, 2015, p. 89).
TOME NOTA
Por isso, reforçamos que o envelhecimento é um processo único, complexo, multifatorial, progressivo e irreversível.
Para entender um pouco do que acontece com as pessoas idosas, na luta em favor da defesa e garantia dos direitos destas, de forma coerente e consciente, nos Conselhos de Direito das Pessoas Idosas, com atenção íntegra e avaliação multidimensional, apresentaremos neste capítulo algumas modificações e vivências biopsicossociais que envolvem as pessoas com 60 anos ou mais.
Alterações Físicas com o Envelhecimento
Neste tópico, iremos apresentar algumas modificações físicas resultantes do envelhecimento que consideramos importantes para as pessoas que atuam junto com essa parcela da sociedade. O termo envelhecimento é utilizado para referir-se a um conjunto de processos que ocorrem em organismos vivos e que, com o passar do tempo, levam a uma perda de adaptabilidade, deficiência funcional, e, por fim, à morte.
Fisicamente, o idoso passa por um período de perdas inevitáveis e progressivas, que proporcionam uma fragilidade e esta pode levar a patologias. Apesar da ocorrência de patologias ser comum no envelhecimento, é importante não confundir senescência com senilidade.
Senilidade são as alterações produzidas por patologias possíveis de acometer a pessoa idosa e que podem comprometer sua qualidade de vida.

Senescência são as alterações físicas naturais do envelhecimento e que acontecem com todas as pessoas.

Apesar da fragilidade decorrente das alterações com o envelhecimento serem uma porta para a ocorrência de patologias, envelhecer não é o mesmo que adoecer. Este equívoco leva à crença de que a doença é um fato natural na pessoa idosa. No entanto, Spirduso (2005) relata que são poucas as pessoas que morrem em decorrência apenas da idade, geralmente o estresse, as patologias e os acidentes são os fatores que antecipam a morte. O mesmo autor mostra que 86% das mulheres e 78% dos homens, com mais de 70 anos, têm uma ou mais doenças crônicas.

A pessoa idosa vivencia um declínio físico decorrente das alterações nas características e funções físicas. Entre elas, o peso e altura, que são claramente observadas com o envelhecimento, podendo ser um indicador de declínio fisiológico e de patologias. Veja na figura algumas das causas da diminuição da altura corporal com o envelhecimento:
Essa diminuição da altura corporal nos homens inicia-se aproximadamente aos 25 a 29 anos e, nas mulheres, aos 16 a 29 anos, sendo mais cedo nas mulheres pela redução da densidade óssea, que se acelera com a menopausa. Na figura acima, podemos observar que a mudança de postura, aumentando a curva das costas e levando a cabeça para frente (hipercifose), além da diminuição dos espaços das vértebras e com diminuição dos arcos dos pés, colaboram para a redução da altura de 1 centímetro por década, a partir dos 40 anos, tanto nos homens como nas mulheres. As condições de saúde e nutrição são fatores determinantes na altura do indivíduo, assim, políticas e melhores condições de vida, influenciam inclusive na altura do idoso e também no seu peso corporal.

Controlar o peso da pessoa idosa pode ser uma forma simples de detectar algum problema sério de saúde. Estudos mostram que a perda repentina de peso na pessoa idosa pode ser o anúncio de: câncer (16%), depressão (18%), úlceras gastrointestinais (11%), hipertireoidismo (9%), problemas neurológicos (7%), e efeitos de medicamentos ou respostas destes (9%). (SPIRDUSO, 2005).
Os quadros antropométricos no Brasil mostram que os resultados da pesquisa nacional sobre saúde e nutrição indicam que os extremos de magreza e obesidade são mais severos em pessoas com 60 anos ou mais do que os encontrados em adultos.

Como podemos ver na figura anterior, na maior parte das pessoas idosas com excesso de tecido adiposo, este se localiza principalmente na região abdominal, o que pode contribuir para problemas cardíacos. A redistribuição de gordura é diferente entre homens e mulheres. Nos homens, a gordura subcutânea diminui na periferia do corpo, mas o depósito de gordura aumenta tanto na região central ou abdominal (gordura subcutânea do tronco) como internamente (órgãos gordurosos, como, por exemplo, coração rins e fígado), o que colabora para que os homens sejam ainda mais suscetíveis a doenças cardiovasculares.
A redistribuição da gordura corporal começa ao final dos 20 anos e continua até os 60 anos, porém, cerca de 40% do aumento na gordura intra–abdominal ocorre até a quinta década. Nas mulheres, a gordura corporal total aumenta com o envelhecimento, porém, a subcutânea pode permanecer estável após os 45 anos, aproximadamente. Assim, a quantidade crescente de gordura corporal total nas mulheres deve-se, sobretudo, a um aumento na gordura corporal interna (visceral). (DALLA DÉA et al, 2016).
Se a obesidade é um problema para a pessoa obesa a subnutrição também traz vários prejuízos. A magreza frequentemente é encontrada em mulheres nas faixas etárias mais avançadas, de baixa renda, menor escolaridade e piores condições de moradia. Já o sobrepeso foi prevalente em mulheres nos grupos de maior renda, maior escolaridade e melhor qualidade de moradia.
Considerando esses dados é importante que os Conselhos do Direito das Pessoas Idosas busquem políticas públicas que proporcionem melhor qualidade de vida e peso corporal saudável, por meio de políticas de saúde, qualidade de alimentação e programas de atividade física.

A diminuição da qualidade dos ossos, redução da força muscular e lentidão de movimento favorecem a redução da autonomia, podendo levar, inclusive, a quedas da pessoa idosa. Estudos mostram que as quedas podem ser agravantes importantes da redução da qualidade de vida, funcionalidade e autonomia da pessoa com 60 anos ou mais, aumentando significativamente a possibilidade de doenças respiratórias e morte.
Um sistema musculoesquelético saudável é fundamental para a saúde da pessoa idosa e minimiza a probabilidade de outros agravantes, como a queda. A qualidade do sistema ósseo é importante, pois, além de ser um apoio para o corpo, serve também como reservatório de minerais, hormônios reguladores sistêmicos e fatores mediadores por inflamação. A perda óssea se inicia muito cedo, aproximadamente na metade da terceira década, o ritmo de reabsorção óssea é superior ao de formação, ocorrendo uma perda óssea de aproximadamente 1% ao ano nas mulheres e de 0,3% ao ano nos homens (REBELATTO; MORELLI, 2007).
Além dos ossos, outros órgãos se modificam com o envelhecimento, como as articulações que ligam os ossos por meio de ligamentos, tendões, tecido conectivo e, em alguns casos, pelos próprios músculos. Tais mudanças envolvem calcificação do tecido fibroso, desidratação, diminuição de fibras elásticas, aumento do número e espessura das fibras colágenas, entre outras que favorecem o enrijecimento das articulações, tornando o movimento mais difícil e lento, e maior possibilidade de fraturas.
Os músculos também se modificam com o envelhecimento resultando em menor força muscular, coordenação motora e equilíbrio. A diminuição da força muscular é chamada de sarcopenia e ela ocorre por causa da atrofia das fibras musculares e aumento de gordura e tecido conjuntivo dentro e em volta dos músculos, Quanto menos movimento, mais atrofia acontecerá e mais perda da funcionalidade.

Diversos estudos mostram que uma pessoa que se mantém ativa durante o envelhecimento, com exercícios aeróbios, de flexibilidade, equilíbrio e força, consegue melhorar as condições de todos esses sistemas e minimiza a possibilidade de quedas e de algumas patologias.
As doenças cardiovasculares ocupam o primeiro lugar em número de mortes em todo o mundo, considerando todas as doenças crônicas não transmissíveis, com o aumento da idade essas doenças se tornam mais frequentes, e as mais comuns são doença coronariana isquêmica (infarto do miocárdio), acidente vascular cerebral, doença hipertensiva e insuficiência cardíaca congestiva. Os vasos sanguíneos da pessoa idosa têm maior chance de apresentar a doença hipertensiva ou pressão alta que uma pessoa adulta, pois a parede desses vasos perdem flexibilidade. O coração também se modifica com a degeneração e perda de algumas células cardíacas, além de se tornar mais fibroso e rígido.
As doenças respiratórias são uma preocupação da medicina na infância e na pessoa idosa, pois tem grande índice de presença de doenças e causa de morte entre essas populações. Na pessoa idosa isso ocorre por conta da diminuição da força dos músculos respiratórios (a sarcopenia que já apresentamos) e também pelo enrijecimento dos pulmões e parede do tórax. Estudos mostram que para soprar uma vela uma pessoa com 70 anos tem que se esforçar duas vezes mais que uma pessoa de 30 anos.

A demência senil é um problema que atinge um número significativo de pessoas idosas, que pode favorecer a perda da funcionalidade e autonomia, e dificultar os cuidados com essa pessoa. Com o envelhecimento, acontece a diminuição do peso e volume cerebral.
Rebelatto e Morelli (2007) relatam que aos 90 anos o cérebro está 10% menor que aos 30 anos, com atrofia cerebral e aumento do volume dos ventrículos encefálicos.

Na figura anterior podemos ver a diferença de um cérebro jovem e de um cérebro idoso com perda de neurônios, axônios, entre outros elementos importantes para o funcionamento do cérebro. As principais perdas acontecem nas áreas do planejamento, controle motor, memória, audição e em especial nas áreas da memória e aprendizado. No entanto, são inúmeros os estudos que comprovam que quando a pessoa idosa se mantém ativa, realizando atividades que exijam ativação cerebral com novas aprendizagens e estímulos diversos essas alterações são menores e, em alguns casos, pode-se inclusive melhorar a condição cerebral.
A doença neurodegenerativa mais frequente na população idosa é a Doença de Alzheimer, que acarreta na perda da memória progressiva e irreversível, e que reflete em grandes dificuldades para familiares e cuidadores.
SAIBA MAIS
As políticas de aprendizagem e educação para a pessoa idosa, apontadas como direito na Política Nacional do Idoso e no Estatuto do Idoso podem fazer a diferença nesse aspecto cerebral.
A qualidade da visão é importantíssima para qualidade de vida, funcionalidade e autonomia da pessoa idosa. As modificações do sistema visual com o envelhecimento e outros fatores relacionados a características pessoais e ambientais levam a algumas doenças visuais e as mais frequentes são: a catarata, o glaucoma, retinopatia (diabética e hipertensiva) e degeneração macular relacionadas à idade.
A acuidade visual de uma pessoa com 90 anos pode declinar em 80%, dificultando a capacidade de ver detalhes finos e contrastes, podendo aumentar a possibilidade de tropeços e quedas.

Com o envelhecimento, o cristalino, conhecido como a lente dos olhos, perde a transparência e a capacidade de acomodação naturalmente, o que pode ser agravado com a catarata, que intensifica a perda da transparência tornando a visão nublada, com dificuldade para atividades como ler e escrever. Já o glaucoma é caracterizado como aumento da pressão intraocular, é uma doença silenciosa que age lentamente e, como a pessoa vai se acostumando com as mudanças, só descobre quando a doença já está bem avançada. É uma das principais causas de cegueira, principalmente na pessoa idosa.
No sistema auditivo, a modificação natural com o envelhecimento se chama presbiacusia, que tem como característica ser gradual, progressiva e bilateral de tons de alta frequência, tendo como causas alterações no órgão sensorial periférico e nas porções auditivas do córtex cerebral, responsável pela compreensão dos sons. Com o envelhecimento, as glândulas ceruminosas produzem cera mais seca e em maior quantidade, podendo atrapalhar a audição. O sistema auditivo é muito importante para nossa comunicação e para nossa segurança, portanto a saúde auditiva deve ser cuidada.

Como dissemos, as quedas devem ser motivo de preocupação por parte das pessoas que trabalham com a pessoa idosa, já apresentamos fatores musculoesqueléticos que podem piorar essa condição, mas, outro fator que pode favorecer as quedas, é a modificação do sistema vestibular. Para Spirduso (2005), com o envelhecimento, as pessoas com mais de 70 anos têm uma perda aproximada de 40% das células sensoriais do sistema vestibular. Essas alterações causam diminuição no equilíbrio corporal com o envelhecimento.
Todas as modificações físicas relacionadas ao envelhecimento apresentadas aqui, modificam a qualidade de vida, autonomia e aumentam a possibilidade de quedas. Com todas essas modificações físicas no processo de envelhecimento, o acesso aos serviços de saúde de prevenção de agravos, de tecnologias assistivas e de atividade física deve ser defendido e efetivado.
Alterações Psicossociais com Envelhecimento
As alterações físicas juntamente com as vivências sociais negativas que a pessoa experimenta ao longo da vida, contribuem para o surgimento de transtornos emocionais na pessoa idosa. Okuma (1999) descreve os estados psicológicos que acompanham o envelhecimento e relata que são muitos os fatores ambientais que podem causar distúrbios afetivos depressivos. Tais fatores podem ser: doenças, perdas de entes queridos, isolamento, restrição de oportunidades e saída das principais atividades socioeconômicas.
As pessoas não ficam idosas no dia em que fazem 60 anos, as alterações do envelhecimento vão se somando durante toda a vida. Assim também é com os aspectos psicossociais, muitas pessoas já apresentam transtornos psicológicos antes dessa fase e são ainda mais suscetíveis às vivências negativas do envelhecimento. Mas outras pessoas possuem características psicológicas positivas e tendem a levar essas características por toda vida.
A saúde física e mental são fatores decisivos na qualidade de vida das pessoas, e merecem os mesmos cuidados. No entanto, a saúde mental deve receber os mesmos cuidados, pois não é menos importante. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001), saúde mental não é só a ausência de transtornos mentais; abrange o bem estar subjetivo, a autonomia, a competência e autoeficácia percebidos, a autorrealização intelectual e emocional, o funcionamento mental e está intimamente ligada com o funcionamento físico e social.
Com o envelhecimento, vão surgindo desafios ao controle emocional relacionados com a idade. Spirduso (2005) cita:
- a diminuição da força
- a diminuição da resistência
- a diminuição da capacidade física e saúde
- as mortes de cônjuges e amigos
- a aposentadoria e redução dos rendimentos
- os novos papéis sociais,
- a realocação das disposições físicas da sua vida.
O mesmo autor diz que na idade avançada as perdas são inevitáveis e cumulativas. Relata que é difícil para a pessoa idosa enfrentar desafios emocionais, quando suas capacidades físicas estão aquém das exigências das atividades diárias, e, principalmente, quando sua saúde física está comprometida com as patologias comuns ao envelhecimento. Com a frequente morte dos parentes e amigos, a pessoa idosa passa a se ver em luto contínuo e não resolvido, passando a diminuir, com o avançar da idade, suas oportunidades de cuidar e ser cuidado, de expressar sentimentos e suas perspectivas de amar (SPIRDUSO, 2005).
Os conceitos e preconceitos que a sociedade tem sobre o envelhecimento é intergeracional, incorporado pela própria pessoa idosa, influenciando sua qualidade de vida, bem-estar físico e psicológico (BARKER et al., 2007).

A visão da sociedade e da maioria dos autores sobre envelhecimento levam à crença de que este é um período somente de perdas. Marquez Filho (1998) afirma que no envelhecimento também existem ganhos. As pessoas idosas são presenteadas com a desobrigação social e com os prazeres da inatividade remunerada, têm mais tempo para cuidar de si mesmo, têm a chance de trilhar novos caminhos, de reavaliar sua vida, de refletir sobre a condição humana e ampliar a percepção do mundo. As pessoas idosas podem comprometer-se com a realidade que as cercam, como uma oportunidade de ser útil, de servir, dando maior sentido à vida. Krause e Shaw (2000) realizaram uma pesquisa com 511 pessoas idosas, que relataram que o fato de ajudar outras pessoas torna a autoestima mais positiva, principalmente em pessoas idosas com nível superior de estudos.
Todos nós temos fases de nossas vidas que sentimos tristeza, e isso é natural e diferente da depressão. A depressão é uma doença mental, que precisa ser diagnosticada e tratada por especialista e trata-se de um estado de extrema tristeza, que na maioria das vezes é acompanhado por letargia e raciocínio lento. Estima-se que 15% das pessoas idosas sofrem com estados depressivos (BALLONE, 2006) e este número pode chegar a 35% em pessoas idosas com baixo poder aquisitivo.
A depressão é uma síndrome psiquiátrica que tem como principais características o humor deprimido e a perda de prazer em quase todas as atividades, podendo estar acompanhada de sintomas adicionais, como sentimentos de inutilidade, ideias suicidas, fadiga, distúrbios do apetite, insônia, moleza ou agitação, diminuição de concentração ou indecisão. Os fatores de risco da incidência da depressão na pessoa idosa mais citados na literatura são: histórico pessoal ou familiar de depressão, doença crônica, solidão, falta de suporte social e ser do sexo feminino (NERI, 2005).
Alexopoulos (2005) relata que a depressão nas pessoas idosas aumenta a mortalidade, afeta, principalmente, pessoas com doenças crônicas e tem alto fator hereditário. O autor diz que fatores psico-econômicos, como empobrecimento, deficiência, isolamento, luto, falta de cuidados, contribuem para as alterações fisiológicas e torna a pessoa idosa mais suscetível à depressão.
A depressão nas pessoas idosas depende da interação entre fatores ambientais, constitucionais, biológicos e suporte social. Os eventos ambientais são representados por questões vitais negativas como perdas e limitações, podendo funcionar como desencadeadores da depressão. Os elementos constitucionais são as propensões genéticas para o desenvolvimento da depressão, bem como os traços de personalidade de marcante ansiedade. A biologia do envelhecimento contribui para o aparecimento da depressão por meio das doenças físicas e a consequente incapacitação, chamada Depressão Vascular de início tardio, consequência das alterações da circulação cerebral. A ruptura de vínculos sociais, a perda do espaço ocupacional, a diminuição do rendimento econômico e o isolamento são elementos do suporte social que favorecem a depressão (BALLONE, 2006).
Segundo Spirduso (2005), o índice de suicídio de pessoas com mais de 65 anos é duas vezes maior do que em pessoas com menos de 65 anos. A diminuição das capacidades físicas e intelectuais é característica do envelhecimento e esses fatores podem depreciar a concepção que o idoso tem de seu autoconceito.
Minayo e Cavalcante (2010) relatam que as taxas de suicídios na população idosa têm aumentado nos últimos anos no Brasil, e esse fato tem se repetido no mundo fazendo com que a OMS considere esse um dos problemas mais sérios da saúde pública atual. As autoras mostram que o suicídio é um fenomeno completo que sofre influência de problemas físicos, neurobiológicos, psicológicos e sociais e que a depressão pode ser considerada o mais relevante fator associado ao suicídio. Relatam ainda que as mulheres idosas apresentam maior ideação e produzem mais tentativas de suicídio, mas os homens são os que mais chegam a concretizá-las. (MINAYO; CAVALCANTE, 2010, p. 754).

As alterações psíquicas e sociais que acompanham o processo de envelhecimento têm como uma de suas bases as modificações que operam no nível biofísico. Sendo assim, qualquer intervenção que afete a expectativa de vida, como a prática da atividade física, o bem-estar em todos os aspectos e a capacidade funcional, implica em alterações na saúde mental das pessoas (OKUMA, 1999). Compreendendo as modificações com o envelhecimento é possível entender melhor suas necessidades e direitos.
Nesse primeiro módulo discutimos os Marcos Legais, Conceitos de Participação Social e Aspectos Sociodemográficos do Envelhecimento. Para discutir os Marcos Legais trouxemos características e informações sobre a Constituição Federal, Lei Orgânica da Assistência Social, Política Nacional do Idoso e Estatuto do Idoso. Apresentamos a importância da participação social considerando os aspectos sociodemográficos do envelhecimento, mostrando a dimensão gigantesca do envelhecimento populacional. E, para finalizar, considerando a totalidade da pessoa idosa, e a importância das características das mudanças físicas, biomecânicas e neurológicas com o envelhecimento, discutimos alguns aspectos biopsciosócio-cultural do envelhecimento.