Esporte Educacional

Módulo 4

MÓDULO 4

Módulo 4
4.1 Participação Eficiente e Criativa do Público no Contexto Social

p.49 próxima página

Discutimos que só conseguimos um Projeto/Programa de Esporte Educacional, que atenda com maior eficiência as demandas e necessidades da comunidade onde é proposto, se o tornarmos democrático e participativo.

4.1.1 Planejamento Participativo

Quando a população participa dos processos de decisão, de planejamento, forma-se uma massa crítica a respeito dos temas, acumulam-se conhecimento e reflexão que geram interesse. E, se a participação é efetiva e não apenas encenação, os movimentos populares se reconhecem nas medidas tomadas e colaboram para seu sucesso. É nesse sentido que a participação pode significar ganhos de eficiência, além da ampliação da Democracia (SALLES, 2012, p.79)

LEMBRANDO

Gostaríamos nesse momento próximo de finalizar nosso material de lembrar alguns dos muitos princípios que valorizam a participação da comunidade para o sucesso dos Projetos/Programas de Esporte Educacional que levam a um planejamento democrático e inclusivo. Vimos que a gestão participativa atende os princípios do Esporte Educacional e inclusivo, proporcionando o envolvimento da comunidade, aproximando os objetivos do projeto às necessidades locais e engajando a comunidade envolvida.

Discutimos que a participação efetiva da comunidade nos projetos pode ser mais trabalhosa, mas potencializa o alcance dos projetos, o uso adequado dos espaços de esporte e lazer, diminuindo a possibilidade de erro, retrabalho e desperdício de gasto de tempo e recursos, envolvendo nas discussões e planejamentos as crianças e adolescentes participantes, suas famílias, os líderes da comunidade e os conselhos e organizações locais.

Anversa et al (2017) relatam que para o planejamento participativo do projeto de Esporte Educacional algumas fases devem ser consideradas, sendo elas o diagnóstico, objetivos e seleção dos conteúdos.

Já discutimos nesse material a importância do diagnóstico das necessidades sociais para atender os objetivos do Esporte Educacional de buscar a transformação social por meio da modificação da realidade da comunidade. Como conhecer a realidade da comunidade e suas necessidades de transformação sem se aproximar desta? Seria incoerente.

TOME NOTA

Assim discutimos que Oliveira et al (2004) indicam duas ações diagnósticas envolvendo a comunidade, inicialmente conhecendo a realidade da localidade por meio de organizações locais, índices e observação, depois conhecendo e envolvendo os diferentes atores da comunidade envolvidos no projeto com entrevistas, questionários e rodas de conversas.

Após o diagnóstico da realidade da comunidade e dos participantes do Projeto/Programa Educacional é fundamental que o professor reflita sobre como e o que pode ser valorizado nas atividades, e o como e o que pode ser modificado através dos exercícios educacionais que as atividades podem envolver. Buscando a transformação social que o Esporte Educacional pode causar, espera-se do educador uma dedicação com olhar amplo sobre a necessidade destas crianças, jovens e adolescentes que se encontram em vulnerabilidade social. O olhar deve partir da escuta sensível que já abordamos e assim diferentes realidades podem ser detectadas com maior necessidade de autocuidado, de autoestima, de socialização, de luta por políticas públicas, entre outras. O esporte educacional pode atuar em questões mais simples como autocuidado, por meio de informações sobre hábitos de higiene e saúde, até questões mais complexas como violência entre grupos da comunidade, por meio de discussões sobre direitos e deveres em uma sociedade.

página anterior p.50 próxima página

Também já apresentamos por meio de diversos autores e legislações os princípios e objetivos dos Esportes Educacionais, elementos presentes na Lei Federal n. 9.615 (BRASIL, 1998), que diz que a prática do esporte educacional será desenvolvida no ambiente escolar ou em instituições educacionais assistemáticas, que deve ter como objetivos práticas não seletivas e hipercompetitivas, buscando proporcionar a formação integral, o exercício da cidadania e a prática do lazer e do esporte de crianças e adolescentes.

Enfim, para pensarmos na seleção de conteúdo, somaremos às discussões já realizadas, a apresentação de valores do esporte olímpico, paralímpico, de inclusão e o valor educacional das diferentes possíveis práticas corporais do Esporte Educacional.

4.1.2 Valores Olímpicos e Paralímpicos

Por se tratar de um fenômeno de repercussão mundial, os Jogos Olímpicos, em particular a espetacularização do esporte de rendimento, influencia de maneira significativa o imaginário social em torno do esporte, sendo uma referência para outras possibilidades da expressão do esporte. É nessa transposição que se faz necessário refletir sobre este modelo olímpico nas atividades esportivas como prática educativa (MELO, SOUZA, DIAS, 2009).

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que estavam programados para 2020 foram adiados em razão da pandemia da Covid 19 e foram realizados em agosto de 2021. Trata-se de um evento de grande divulgação e valorização na sociedade contemporânea, com um alto rigor seletivo, que exige treinamentos intensos, alto rendimento e performance, com grande competitividade, investimento, onde poucos serão os e as “superatletas” que ganharão uma medalha olímpica e serão considerados heróis de seus países. Tudo isso invade o imaginário das crianças e adolescentes.

Tubino (2010, p. 89) relata que a Educação Olímpica influencia o esporte educacional que é caracterizada pelo “meio de educação esportiva que tem o propósito de formar jovens dentro dos propósitos humanistas, expressos em categorias, do Olimpismo”.

Segundo o Comitê Olímpico Brasileiro os jogos da Grécia Antiga deixaram como herança a filosofia olímpica de vida, ou Olimpismo, que tem como objetivo em sua filosofia passar por meio do esporte a mensagem de promotor da paz, união, respeito por regras e adversários, tendo como princípios: amizade, compreensão mútua, igualdade, solidariedade e “jogo limpo”. “O objetivo é contribuir na construção de um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, e assegurar a prática esportiva como um direito de todos” .

Oliveira e Pimentel (2010, p.11) relatam que o Movimento Olímpico contemporâneo foi criado no final do século XIX por Coubertin, que “acreditava que o esporte era uma importante forma de educação para a juventude e sua preocupação era valorizar a competição leal e sadia, a saúde e a atividade física. Portanto, para ele, mais importante que a vitória nas competições era a participação na disputa”. Os autores destacam que os Valores Olímpicos são: desenvolvimento humano, excelência, fairplay, multiculturalismo, respeito à diferença e paz. Dizem ainda:

“os valores olímpicos não podem ser vistos como um conjunto de abstrações criadas pela aristocracia europeia, e que não possuem conexões com a realidade de hoje. Afinal, como falar de valor olímpico enquanto há tanta desigualdade, discriminação, guerra e fome no mundo, sendo o esporte muitas vezes utilizado por incautos governantes como ferramenta com o propósito de mascarar realidades sociais injustas?” (OLIVEIRA E PIMENTEL, 2010, p.11).
página anterior p.51 próxima página

Cidade (2010) relata que os valores olímpicos também podem ser para as pessoas com deficiência, no entanto o movimento paralímpico traz mais quatro valores. Relata que “o Movimento Paraolímpico hoje está alicerçado em relações de aceitação, respeito e valorização das diferenças e da diversidade”. Apresenta ainda que o espírito humano é enaltecido pelos Valores Paralímpicos que são:

  • determinação - para superar obstáculos e vencer a adversidade;
  • coragem - para realizar o inesperado, para além das expectativas;
  • inspiração – entusiasmar, proporcionar intensa afeição pessoal;
  • igualdade – o esporte paraolímpico pode atuar como um agente de mudança atitudinal para combater a discriminação em relação às pessoas com deficiência” - (p.61).

Não temos dúvida que o esporte de alto rendimento é para poucos e que nem sempre ter ótimo desempenho no esporte é suficiente para chegar à uma Olimpíada ou Paralimpíada. Precisa-se de oportunidade, financiamento, tecnologia, equipe especializada e tantas outras condições que estão distantes da maioria das pessoas.

IMPORTANTE

Mas também não temos dúvida do encanto e influência que esses megaeventos geram nas crianças e adolescentes. Assim, apesar de no Esporte Educacional não buscarmos o alto rendimento para os jovens e sim o verdadeiro valor das práticas esportivas, cabe a este utilizar-se dos princípios formadores dos valores olímpicos e paralímpicos, sem, no entanto, deixar de incentivar a reflexão e a crítica aos efeitos negativos dos megaeventos.

Convidamos vocês para conhecerem a pesquisa que fizemos com atletas paralímpicos de diferentes níveis, atletas campeões em Paralimpíadas e iniciantes, em Dalla Déa et al (2020), onde podem assistir aos vídeos de atletas de todos os esportes que estiveram nos Jogos Paralímpicos de Tokio 2020. Nos depoimentos podemos ver como o esporte paralímpico modifica a vida dessas pessoas, muitos relatam como a sociedade muda a visão que possuem deles com o esporte e o quanto se sentem mais fortes e preparados para viver com mais autonomia, autoconfiança e autoestima.
Acessar pesquisa.

4.1.3 Valores do Esporte Inclusão.

A inclusão é um direito previsto na Constituição Brasileira e em diversas diretrizes, leis e políticas no Brasil e no mundo. É também valor e objetivo principal do Esporte Educacional como já dissemos nesse material em diversos momentos.

Poderíamos aqui trazer diversas pesquisas e vivências que mostram os inúmeros valores do esporte inclusão. Mas, certamente, nunca conseguiríamos descrever todas as variáveis de valores que os diferentes projetos com seus direcionamentos e com as possibilidades das diferentes modalidades do Esporte Educacional. Assim, optamos em discutir uma modalidade que apesar de muito utilizada ainda é pouco discutida nos projetos de esporte educacional, que é a dança.

TOME NOTA

A dança é uma rica possibilidade para o Esporte Educacional discutida por Kiouranis (2017, p. 111), a qual “é capaz de comunicar e de transmitir valores e sensações estéticas; cada vez que se dança se envolvem sujeitos, contextos sociais, emoções, percepções e ideias diferentes. Por isso, em cada momento se produz uma obra singular, que não se repete”.

página anterior p.52

Como neste capítulo estamos discutindo Propostas Inovadoras de Atuação Inclusiva as possibilidades são inumeráveis, mas gostaríamos de apresentar uma proposta realizada por Lima, Oliveira e Dalla Déa (2018). Trata-se de um projeto inclusivo de dança que tem participantes com diferentes características como: bailarinos experientes, pessoas que nunca tinham dançado, pessoas sem e com deficiência visual, sensorial, física e intelectual, pessoas de diferentes idades (desde bebês até idosos), com diferentes gêneros, cores, formas, entre outras. O processo de criação, apresentado em Lima, Oliveira e Dalla Déa (2018), desenvolveu ações formativas, educacionais e artísticas que culminaram na apresentação pública com mais de 90 pessoas no palco. Para essa apresentação abordamos o tema do holocausto, e para isso, tivemos ações formativas em que discutimos o preconceito, nazismo e diferença por meio de um processo criativo coletivo e poético. Os relatos dos participantes durante e após o processo, e também do público que assistiu à apresentação, mostram o quanto esse trabalho no projeto foi formativo e impactante. A dança permite abraçar as expressões e emoções, discutir e se movimentar por meio de temas muito complexos como esse. Mas, certamente, todas as práticas corporais, possíveis no Esporte Educacional, também permitem a formação e a discussão de temas presentes no cotidiano das pessoas que podem colaborar para pessoas mais sensíveis, humanas e cidadãs.

Outras muitas experiências são apresentadas nas pesquisas. Por exemplo, Ferreira (2014) apresenta o atletismo em um programa de Esporte Educacional para crianças de 8 a 11 anos e comprova seus benefícios para os aspectos motores, mas também para as habilidades sociais como empatia e afetividade. Mota (2017) estudou um projeto de esporte educacional que se utiliza do futebol como possibilidade de transformação social, o autor relata que:

o projeto tem o impacto positivo na vida dos participantes, seja no aspecto técnico e físico, na melhora do comportamento, sendo também utilizado como lazer ou passatempo, fazendo com que os participantes se distanciem da criminalidade e formando, consequentemente, cidadãos que contribuem com o desenvolvimento da sociedade economicamente e socialmente (p.42).

TOME NOTA

No Esporte Educacional a vivência em diferentes modalidades pode ampliar a cultura corporal, a experiencia e os benefícios para as crianças e adolescentes. No entanto, não temos dúvida que independente da modalidade escolhida, na maioria das vezes, o que faz a diferença é a atuação diferenciada do professor.