Esporte Educacional

Módulo 2

MÓDULO 2

Módulo 2
2.3 Excelência e Qualidade no Esporte Educacional

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Excelência e qualidade são termos muitas vezes relacionados apenas ao alto rendimento, mas devem ser objetivos também no esporte participação e educacional. No Esporte Educacional prefiro discutir qualidade como propriedade, como algo que determina a essência ou a natureza de um ser ou coisa. Quando tratamos de educação, o fator qualitativo deve ser mais considerado do que o fator quantitativo.

Segundo Tani e Manoel (2004, p.121): “um ensino de qualidade poderia aproveitar-se das diversas experiências que as modalidades esportivas propiciam para promover não só o conhecimento e a habilidade da criança e do jovem, mas também trabalhar o seu autoconhecimento e auto-estima”.

Para ampliar a qualidade do projeto/programa é preciso que o professor conheça a realidade e características da comunidade na qual o mesmo está inserido.

2.3.1 Diagnóstico das Necessidades Sociais

Os projetos de Esporte Educacional por sua natureza e objetivos são criados a partir do desejo ou necessidade de modificar uma realidade ou de proporcionar benefícios para uma comunidade. No entanto, para a compreensão verdadeira dessa realidade, ou de quais benefícios essa comunidade necessita, para assim determinar metas e objetivos, faz-se necessário que se realize um diagnóstico que espelhe com a maior clareza possível esses fatores, sem perder de vista o objetivo educacional.

Oliveira et al (2004) indicam duas ações para se realizar o diagnóstico para projeto/programa de Esporte Educacional, um buscando entender a realidade da localidade onde as ações serão realizadas e outro com os diferentes atores da comunidade. As informações sobre a localidade podem ser obtidas em diferentes fontes como levantamentos realizados na localidade pela organização de bairro, prefeitura, órgãos estaduais ou nacionais e pelos líderes da comunidade (político, religioso, educacional etc.).

O segundo passo é a pesquisa que deve ser realizada com os diferentes envolvidos no trabalho como as próprias crianças e adolescentes, e os familiares ou responsáveis. Encontrar a melhor metodologia para realizar esse diagnóstico é fundamental. Uma roda de conversa pode trazer dados mais detalhados e dá abertura para que temas anteriormente não pensados para serem pesquisados surjam com as discussões. Mas algumas pessoas podem ter dificuldade de expor sua realidade. Assim, uma entrevista também pode trazer dados importantes possibilitando conhecer as subjetividades. Mas, algumas vezes, quando os participantes não têm tempo para atender ao pesquisador, um questionário escrito pode ser outro caminho. Realizar a pesquisa em uma pequena amostra, como um teste piloto, pode aumentar a possibilidade de acerto quando a pesquisa diagnóstica for realizada com a totalidade.

Como dissemos, o projeto/programa de Esporte Educacional surge a partir de uma demanda ou desejo, assim, a avaliação da realidade não deve ser utilizada apenas como diagnóstico inicial, e pode ser utilizada como acompanhamento para se verificar se a situação inicial se modifica, estaciona ou regride.

2.3.2 Educação Sistêmica: Pedagogia Sistêmica

“nenhum paradigma ou metodologia é capaz de desvendar todos os mistérios da organização social humana, mas cada um fornece uma contribuição particular” (BETTI, 1991, p.13)

Como já dissemos anteriormente, a Educação Física passou por diversos direcionamentos teóricos e pedagógicos direcionados por momentos históricos. Após um momento de total esportivização, resultante de um regime militar, a Educação Física reage com um movimento crítico que busca a transformação social, a criatividade e a conscientização.

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Assim, na década de 80 surgem várias vertentes críticas na Educação Física, entre elas, a teoria de sistemas (BETTI, 1991), que entende que um conjunto de elementos interage. Essa abordagem discute e entende a Educação Física sobre influência de outros sistemas como o macrossocial, o sistema educacional e o sistema escolar. Discute que o meio social influencia a Educação Física em seus diferentes níveis e a Educação Física também influencia o meio social.


A compreensão sistêmica da prática pedagógica em Educação Física proposta por Betti (1991) a entende como capaz de realizar mudanças na dinâmica social interna, que possibilita colaborar para a formação de um indivíduo cidadão, crítico e consciente. Sobre a visão sistêmica/crítica na Educação Física de Betti:

Logo, é sob esta perspectiva que Betti vislumbra alternativas de alteração na dinâmica social interna da prática pedagógica em EF, capaz de viabilizar a formação de um modelo de cidadão crítico, criativo e consciente. Betti observou que a formalidade dos conteúdos, o ensino por comando, a atividade física identificada com finalidades de trabalho, a rigidez das regras e o controle externo na mediação de conflitos têm prevalecido ao longo da história da EF no país. Assim, para os discursos críticos, uma metodologia do ensino deve pautar-se não apenas no exame destas variáveis, mas também na compreensão sistêmica da prática pedagógica em EF (FERREIRA, 2000).

Na Educação a pedagogia sistêmica é originada pelos estudos de Bert Hellinger, filósofo e professor de procedência alemã (1925-2019), que atuou como psicoterapeuta, descobridor das Constelações Familiares. A teoria sistêmica valoriza a relação entre escola e família na formação do indivíduo, considerando ambas como instituições sociais e educativas e que juntas podem favorecer mais intensamente na formação de indivíduos mais equilibrados, criativos, respeitosos, inclusivos e humanos (FIRACE, 2013).


Na pedagogia sistêmica, o aluno é entendido como um ser atuante no sistema educativo, sistema familiar e sistema social, assim é valorizado e a educação toma um caminho respeitoso, colaborativo, horizontal, social, dialógico e ressonante. No Esporte Educacional, a educação/pedagogia sistêmica torna o processo mais educativo, proporcionando a possibilidade de entender os alunos com suas histórias de vida, ensinamentos anteriores, diversidades de expectativas, limitações, eficiências e possibilidades. É possível ressignificar o papel de educador e de pessoa, dando sentido e valor à atuação, entender a importância de cada indivíduo no mundo e no Esporte Educacional, permitir o crescimento do aluno, ou seja, ajudar e deixar a adultecer (FIRACE, 2013).

Difícil falar de uma pedagogia tão rica e intensa em poucas palavras. São muitas as intervenções que podem ser pensadas dentro dos projetos/programas de Esporte Educacional utilizando-se da pedagogia sistêmica, que tem tudo a ver com a perspectiva da Educação Inclusiva da qual vimos discutindo neste material.

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São momentos importantes de acolhimento, pertencimento e reflexão; valorizar e buscar as eficiências dando voz para os alunos e despertar autonomia, autoconfiança e liderança; conhecer a história dos alunos e permitir que eles conheçam a história dos colegas, incentivando a valorização das histórias; conhecer as famílias dos alunos e construir parceria; estimular o diálogo e respeito entre alunos e famílias; fortalecer laços de carinho, respeito, solidariedade e amizade.

PARA PENSAR

E você já pensou em como pode aplicar essa abordagem no seu contexto de esporte educacional? Que tal pensar nisso a partir de agora?