Características e direcionamentos para a atuação do tutor (Parte 1)

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Relações interpessoais

Imagine você em um momento de aula, ou do intervalo entre uma aula e outra, ou na realização de um trabalho em grupo, ou até na hora do almoço no refeitório da universidade. Imaginou? Possivelmente, você se imaginou atento, ouvindo o(a) professor(a), realizando uma pergunta ao colega, combinando como realizarão o trabalho em grupo ou o que farão no final de semana, quais séries irão assistir e quais indicam aos colegas, etc.

Veja só que não apenas aprendemos os conhecimentos científicos na universidade, mas, sobretudo, aprendemos a relacionar esses conhecimentos com a vida em sociedade. Temos a possibilidade de aprender a nos relacionar melhor, compartilhar atividades, resolver conflitos, encontrar novas soluções, enfim, nos desenvolver integralmente como sujeitos. Afinal de contas, são 4, 5 anos ou até mais que estaremos convivendo e aprendendo juntos nesse percurso acadêmico.

Realizada essa reflexão, vamos agora compreender como as relações interpessoais, a empatia, a escuta ativa e a comunicação podem agregar nas suas atividades como tutor(a) da Rede ASA.

As relações interpessoais fazem parte da nossa constituição como sujeito desde os primeiros dias de nossas vidas e nos acompanharão até a nossa morte. Primeiro, no ambiente familiar, estabelecemos importantes relações com os cuidadores, como pai, mãe, avós, tios e irmãos. Conforme vamos ganhando autonomia, descobrimos outros espaços e permitimos nos relacionar com outros sujeitos, como professores, colegas de aula, chefes e colegas de trabalho.

Essas relações adquirem um papel central na constituição do mundo psíquico, da nossa subjetividade, pois a nossa constituição como sujeitos acontece na relação com o outro, em um contexto social, histórico e cultural determinado.

Perceba a importância que as relações interpessoais possuem na constituição de quem somos!

Imagine-se em diferentes grupos, por exemplo: você e sua família, você e seus colegas de aula, você e seus amigos e assim por diante. Você percebe que a sua relação com essas pessoas é diferente? Não apenas porque as pessoas são diferentes, mas, sobretudo, porque a relação entre as pessoas é diferente.

Em psicologia dizemos que o todo é maior que a soma das partes. Imagine a seguinte imagem:

Há oito peças de tabuleiro dispostas em círculo, uma do lado da outra. Há um foco de luz na esquerda do círculo. A sombra formada por esse foco de luz reproduz uma coroa. Deu para imaginar?

A soma dos “elementos” forma uma “figura” diferente, a coroa. Essa metáfora é interessante para se refletir sobre as relações que estabelecemos com as diferentes pessoas do projeto, especialmente a sua relação com o(a) tutorado(a)!

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Mas por que não é tão simples nos relacionarmos?

Um primeiro ponto para essa resposta é porque a interação humana é complexa, envolve muitos fatores, como explica Moscovici (2011, p. 67):

[...] o processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre pessoas, sob forma de comportamentos manifestos e não-manifestos, verbais e não-verbais, pensamentos, sentimentos, reações mentais e/ou físico-corporais.

Além desses fatores, o ambiente favorece o desenvolvimento de relações mais ou menos saudáveis e estimulantes. Ambientes que sejam acolhedores, receptivos e agradáveis tendem a facilitar as relações humanas.

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Observem na imagem os componentes que cada um carrega consigo e que compartilha no grupo:

Figura 01 – Componentes individuais na constituição do grupo

Fonte: Elaborada pelos autores deste módulo

Cada universo individual estará em inter-relação com os demais universos, compondo um grupo com possibilidade de gerar diferentes percepções, sentimentos e opiniões em relação às situações compartilhadas no grupo (MOSCOVICI, 2011).

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E como essas diferenças são tratadas no grupo?

Essa resposta determinará como o grupo encara aquilo que é diferente, o novo, os problemas, enfim, as diversas situações que poderão acontecer.

Pense sobre como você tem enfrentado alguma dificuldade e quando você faz parte de algum grupo que está também enfrentando alguma situação desafiadora. Como você tem resolvido tal situação?

Moscovici (2011) nos alerta sobre a maneira como lidamos com as diferenças individuais no grupo e como essa habilidade terá influência na vida do grupo:

A maneira de lidar com as diferenças individuais cria um certo clima entre as pessoas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, principalmente nos processos de comunicação, no relacionamento interpessoal, no comportamento organizacional e na produtividade. (MOSCOVICI, 2011, p. 35, grifos nosso)

Dito isso, vamos pensar em como podemos desenvolver relações interpessoais mais saudáveis e adequadas às necessidades de cada um e também do grupo.

Quadro 1 – Tipos de habilidades
Habilidade de comunicação interpessoal Essa habilidade está presente no nosso cotidiano, desde a hora que acordamos até a hora que vamos dormir.
No processo de ensino e aprendizagem, ela é primordial para que esse processo ocorra.
Essa habilidade pode ser classificada em verbal e não verbal.
A comunicação verbal depende do domínio da língua e das normas de seu uso. Ela é mais consciente, explícita e racional.
A comunicação não verbal é aquela que ilustra, regula, substitui e, algumas vezes, se opõe à verbal. Observe as posturas, os gestos, as expressões faciais e os movimentos do corpo e como eles adquirem diferentes significados, dependendo do contexto.
Habilidade de fazer perguntas e de respondê-las Observe como você realiza uma pergunta. Questione-se sobre as palavras que utiliza e qual a entonação da voz.
Parece tão simples fazer perguntas e respondê-las, mas você já presenciou alguma situação constrangedora ou até geradora de conflito após alguém realizar uma pergunta? Sim, isso pode acontecer!
Preste atenção aos seguintes aspectos não verbais: entonação, volume da voz, expressão facial e gesticulação.
Observe também qual a função da pergunta ou da resposta que irá realizar. Pode ser um pedido, uma sugestão, ordem ou até mesmo uma intimidação.
Verifique ainda se o seu interlocutor compreendeu a sua pergunta ou resposta. Isso será crucial para o desenvolvimento das atividades na Rede ASA.
Utilize perguntas que sejam encorajadoras para o pensamento crítico. Por exemplo: quando o (a) estudante concluir uma atividade, pergunte se ele(a) concorda com o que respondeu ou quais os caminhos que tomou para chegar até a resposta.
Habilidade de gratificar e de elogiar Você já reparou como é bom receber um elogio? Mais ainda aquele que é sincero, que reconhece seu percurso.
Elogiar e gratificar aquele que participa do processo de tutoria será fundamental para engajá-lo, além de manter uma relação social satisfatória e equilibrada.
É preciso ter coerência sobre o que, quem, como e quando elogiar. E, para isso, é necessário ter uma escuta ativa, atenta ao que o outro comunica.
O elogio não precisa ser superelaborado, a ideia é que seja sincero e atento ao processo de aprendizagem do(a) tutorado(a). Um exemplo simples é: “Que bom que você voltou!”; “Ter evoluído nesse ponto da questão foi realmente importante”.
Uma observação importante é: elogie o processo e não apenas o resultado.
Habilidade de pedir e dar feedback nas relações sociais Primeiro ponto: você sabe o que é feedback? De forma simples, é o retorno que você emite ou recebe sobre uma determinada informação. Vamos explicar melhor.
Veja só como Moscovici (2011) conceitua o feedback: “No processo de desenvolvimento da competência interpessoal, feedback é um processo de ajuda para mudanças de comportamento; é comunicação a uma pessoa, ou grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas. Feedback eficaz ajuda o indivíduo (ou grupo) a melhorar seu desempenho e assim alcançar os objetivos”. (MOSCOVICI, 2011, p. 54)
Mas, como fornecer um feedback adequado? O primeiro ponto é estar atento ao que o outro está comunicando.
Vamos observar alguns modos de realizar um feedback:
a) Dirigido: há a necessidade de falar diretamente à pessoa. Deve-se levar em consideração se o comportamento pode ser modificado, pois, caso seja algo que o receptor não tenha controle, isso poderá aumentar ainda mais a frustração.
b) Oportuno: o ideal é realizar o mais imediatamente possível após o comportamento, porém observe se a pessoa tem condições emocionais para ouvi-lo ou se há apoio de outras pessoas, etc.
c) Descritivo ao invés de avaliativo: descrever o desempenho observado ao invés de avaliá-lo. Quando não há o julgamento, quem recebe tende a usar menos recursos defensivos, por exemplo, negar o conteúdo do feedback.
d) Específico ao invés de geral: o melhor é se referir ao comportamento emitido no momento e não à característica da pessoa. Por exemplo: “hoje, durante nosso trabalho em equipe, quando as pessoas tentavam falar, elas eram interrompidas por você e não conseguiam colocar suas opiniões”. Perceba que o feedback é específico da situação do trabalho em grupo e não direcionado a pessoa como um todo.
e) Solicitado ao invés de imposto: será mais útil quando o receptor tiver formulado perguntas as quais os que o observam possam responder.
f) Esclarecido: solicitar que o receptor diga se compreendeu e como se sentiu a partir disso.
Você já pensou por que é difícil receber um feedback? Quando percebemos que nós estamos colaborando com a manutenção do problema, podemos reagir defensivamente como: não ouvindo, negando a validade do feedback ou agredindo o comunicador, apontando-lhe erros também.
E também por que é difícil dar feedback? Quando não pensamos em como nosso feedback será útil na mudança de comportamento, mas sim em demonstrarmos nossa inteligência e habilidade. Também por temer a reação do outro, como mágoa, agressão.
Na nossa cultura o feedback é ainda percebido como crítica, com implicações emocionais e sociais significativas, porém compreendemos que esse caminho é o mais saudável para a resolução de conflitos ou até mesmo para evitá-los. Dessa forma, temos a oportunidade de aprender e também de favorecer o crescimento do outro.
Habilidade de iniciar, de manter e de encerrar uma conversa Observe a forma como você inicia uma conversa. Pergunta sobre o tempo? Então, vamos refletir sobre outros aspectos.
Para iniciar e manter uma conversa: aproxime-se da pessoa ou grupo no momento mais apropriado; apresente-se, observe, ouça o outro, discrimine seus interesses, faça perguntas abertas e fechadas, demonstre senso de humor, peça e expresse opinião, expresse sentimentos positivos, etc.
Para encerrar uma conversação observe o uso de sinais verbais e não verbais como gestos, mudança de postura, alterações na direção do olhar, redução do contato visual, etc.

Fonte: Adaptado de Del Prette e Del Prette (2014)

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Refletir sobre as relações interpessoais e as principais habilidades sociais facilitará a construção de novos modos de se relacionar. Ter consciência sobre como nos relacionamos e nos comunicamos facilitará o trabalho junto ao(a) tutorado(a).

Além disso, chamamos atenção para a necessidade de estar atento ao que o(a) estudante comunica, de forma verbal e não verbal e, assim, facilitar o acolhimento e o aprendizado. A habilidade de observação, de interpretação e de regulação dos seus próprios sentimentos e comportamentos em situações sociais é chamada de automonitoramento, de acordo Del Prette e Del Prette (2014). Essa habilidade pode ser desenvolvida ao longo da vida, em diferentes contextos, com diversas pessoas e situações.

Veja só: a oportunidade de atuar na Rede ASA é também a oportunidade para que você e as pessoas participantes do projeto desenvolvam ainda mais suas habilidades sociais e de automonitoramento.

Resolução de conflitos

Conflitos parecem inevitáveis quando falamos de relações interpessoais, não é mesmo?

Porém, o conflito não pode ser visto como algo necessariamente ruim. Pelo contrário, ele estimula o crescimento, a criatividade para sua resolução e, ainda, pode provocar mudanças pessoais, grupais e sociais.

Quando estamos diante de um conflito, é interessante manter a “cabeça fria” e observar as seguintes questões:

A resposta a essas perguntas ajudará na construção coletiva para a resolução do conflito. Vejamos alguns modos de resolução de conflitos.

Quadro 2 –Modos de resolução de conflitos
Evasão Harmonização Supressão Acomodação Confrontação
A pessoa geralmente evita o conflito a qualquer custo, assume posição neutra ou de distanciamento. Há uma preferência por evitar discordâncias, desse modo, não se corre o risco de surgirem ressentimentos. Recorre-se à aceitação pessoal, doçura e paz ao invés de se buscar soluções. Controle do conflito pela força. Suprime-se um dos lados do conflito. Uns serão a autoridade e outros obedecerão. Situação polarizada entre quem ganha e quem perde. Conflito superado pela negociação, acomodação dos diferentes interesses. Busca por uma solução intermediária, chegando-se ao melhor acordo que se possa ter. As ideias e os sentimentos são discutidos abertamente.
Trabalhando nas e com as discordâncias para alcançar uma solução válida para ambos.

Fonte: Baseado em Del Prette e Del Prette (2014)

Esses são alguns modos de resolução de conflitos que devem ser adotados individualmente ou em grupos.

Que tal fazer um exercício sobre isso: reflita sobre as situações conflituosas que você já vivenciou, pense sobre como reagiu: fugiu, confrontou, buscou a harmonização?

Não existe uma receita para resolução de um conflito, visto que dependerá de vários fatores como mencionamos, mas, sobretudo, dependerá de quanto as pessoas envolvidas conseguem mobilizar diferentes recursos para a resolução como:

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Estamos avançando na nossa caminhada, não é mesmo? Esperamos que seja prazeroso e produtivo esse aprendizado. Vamos dar mais um passo nesta caminhada?

Aspectos pedagógicos para o desenvolvimento das atividades

Chegamos a um ponto importante da nossa formação. Abordaremos aqui aspectos pedagógicos que envolvem a seleção, a preparação, o desenvolvimento e a avaliação de atividades. Nosso objetivo é abordar pontualmente essas questões, por isso, recomendamos, caso seja do seu interesse, o aprofundamento teórico de tais questões.

De acordo com os ensinamentos de Paulo Freire (1996), lembramos que todo ato de ensinar relaciona-se ao de aprender, ou seja, o ensino e a aprendizagem são instâncias do mesmo processo, portanto, são indissociáveis.

Na concepção do autor, “[...] não há docência sem discência, as duas se implicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro” (FREIRE, 1996, p. 25). Em outras palavras, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende, também, ensina ao aprender.

Guardadas as proporções do trabalho que você realizará com o(a) tutorado(a), lembre-se de que é um processo de mão dupla, você ensinará e também aprenderá com seu colega, que, como já vimos, é seu par.

Para iniciar esse processo, faça um exercício para refletir sobre tais aspectos:

Modelo de elaboração de um planejamento de atividades
Tema do encontro/assunto Aborde qual será o assunto principal da atividade. Por exemplo: aspectos iniciais sobre a metodologia de pesquisa na área das ciências humanas
Objetivos Liste quais são os objetivos com a atividade. Por exemplo: explicar sobre os aspectos iniciais de metodologia da pesquisa; abordar os tipos de pesquisa.
Metodologia Explique detalhadamente como vai ser o desenvolvimento do encontro. Por exemplo: inicialmente será questionado o que os tutorados sabem sobre o tema e quais as expectativas deles em relação ao tema da aula. Posteriormente serão explicados os principais tipos de metodologia de pesquisa aplicada às ciências humanas. Na sequência, serão mostrados exemplos de pesquisas.
Avaliação Explique como planeja realizar a avaliação da aprendizagem. Por exemplo: será solicitado um relato de como o(a) tutorado(a) irá relacionar a metodologia escolhida com o tema de sua pesquisa.
Referências Liste as principais referências que você utilizará para o desenvolvimento das atividades. Exemplos: artigos científicos, livros, sites, etc.
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Lembre-se: todas essas atividades acontecerão com o apoio, a orientação e a supervisão dos supervisores locais, além dos professores vinculados às disciplinas.

Esses aspectos serão importantes para o momento de planejamento das atividades junto ao(a) tutorado(a). Eles serão o caminho que você, o(a) estudante e o professor(a) supervisor(a) irão trilhar. Isso quer dizer que, por vezes, o que planejamos pode não ocorrer exatamente como havíamos idealizado. E esse é o processo mesmo, pois há variáveis que fogem do nosso controle direto.

Essa reflexão sobre os aspectos envolvidos na atividade da tutoria é importante para você reconhecer, atuar e avaliar esse processo, de forma crítica e comprometida com a permanência do(a) estudante.

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Você deve estar se perguntando: por que fui selecionado(a) para ser tutor(a)?

Você foi selecionado para realizar suas atividades de tutoria para um dos seguintes focos de atuação: voltado ao conteúdo, ao acolhimento ou a outras demandas específicas do seu curso. Isso não significa que o(a) tutor(a) que desenvolverá suas atividades ao conteúdo não realize acolhimento, muito pelo contrário, o acolhimento deverá estar presente em todo o contexto da sua atuação.

Vejamos agora aspectos específicos para cada atuação:

Atuação voltada ao conteúdo

Nessa atividade, você terá como foco apoiar o(a) estudante em relação aos conteúdos das disciplinas que você já cursou. Sentirá necessidade de revisar o conteúdo das disciplinas, bem como ir além, buscar novos referenciais, novos exercícios, etc. Aproveite esse momento inicial das suas atividades para realizar essa revisão. Sempre esteja em diálogo com o(a) seu(a) supervisor(a) local e/ou professor da disciplina.

Você poderá receber o conteúdo ou a dúvida do estudante antes de um encontro síncrono. Se você tiver acesso ao conteúdo da dúvida previamente, observe quais são os conteúdos envolvidos, como é possível resolvê-los, quais conteúdos prévios são necessários para a resolução de tal exercício, etc. Feito isso, você poderá contatar novamente o(a) tutorado(a) para perguntar até que ponto o(a) estudante conseguiu realizar a atividade ou se não conseguiu realizar desde o início. Estimule-o a pensar sobre como ele acha que pode ser resolvida tal questão e que ele não precisa se preocupar inicialmente se está errado ou certo.

Caso você observe que o(a) tutorado(a) necessita de um conhecimento prévio do conteúdo, faça um momento de revisão desse conteúdo. Você precisará perguntar a ele se há dúvidas sobre esses conteúdos mais básicos e se a resposta for sim, será necessário realizar o estudo desse conteúdo antes de prosseguir. Além disso, de forma proativa, você poderá organizar dicas e orientações com as dúvidas mais recorrentes.

Como já trabalhamos nesse módulo, solicite ao(a) tutorado(a) feedback sobre seu entendimento dos conteúdos e como ele(a) está se sentindo em relação à tutoria. Estabeleça uma relação de proximidade e de identificação. Isso quer dizer que você mostrará a ele que você também está em processo de formação e que está ali para auxiliá-lo e para apoiá-lo.

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Estabeleça uma relação baseada no acolhimento. Isso significa que, em todos os momentos que você estiver em interação com o(a) tutorado(a), eles serão momentos propícios para realizar o acolhimento. Você já se perguntou por que se sente mais acolhido e confortável com algumas pessoas ou lugares? Pois bem, a resposta envolve vários fatores, como: escuta ativa, não realizar julgamentos, mostrar-se disponível e gerenciar com parcimônia as emoções. Evite utilizar exemplos pessoais a fim de comparar suas vivências com as de outra pessoa. Lembre-se que cada um de nós é um ser complexo, com características únicas. Mostre que você reconhece que essas emoções e vivências são importantes nesse momento.

Acolhimento envolve também atenção. Esteja atento ao que o(a) tutorado(a) comunica a você. Lembre-se que conversamos sobre a comunicação verbal e não verbal. Quando for realizar encontros síncronos, ligue sua câmera e diga que o(a) tutorado(a) pode ficar à vontade para abrir sua câmera também. Quando forem encontros síncronos em grupo, estimule que os diferentes tutorados falem e contribuam com o processo. Valorize e elogie cada contribuição. Quando receber uma dúvida de forma assíncrona, prontamente a responda, agradecendo o contato e dizendo que em breve você retornará em formato de mensagem ou combinando um horário para um atendimento síncrono, além disso, diga que permanece à disposição para novos contatos. Guarde o nome e a história de cada um, quais foram suas dúvidas iniciais e por qual caminho vocês iniciaram. Essa atitude ajudará na personalização do processo de ensino e aprendizagem.

Atuação voltada ao acolhimento

O(a) tutor(a) voltado ao acolhimento, de igual forma, terá um papel fundamental no desenvolvimento do projeto. Assim como para o(a) tutor(a) voltado ao conteúdo, o acolhimento perpassa todas as atividades a serem desenvolvidas. A diferença é que o(a) tutor(a) voltado ao acolhimento desenvolverá ações específicas.

O acolhimento, como já dissemos, poderá estar presente em todos os momentos de comunicação com o(a) tutorado(a). Desde o momento de realizar uma integração no início do semestre, como outros espaços de diálogo que se fizerem necessários. No momento de início de um novo semestre, de um novo percurso acadêmico, será fundamental que os estudantes encontrem pessoas que possam apoiá-los e orientá-los nesse novo caminho, até então desconhecido. Lembre-se do início do seu percurso no Ensino Superior, das pessoas que o apoiaram, como amigos, professores e familiares. Essa rede precisa ser fortalecida, pois entendemos que, dessa forma, o(a) estudante se sentirá amparado(a) e apoiado nesse novo desafio.

Para as ações de acolhimento do início do semestre, o tutor deverá refletir sobre: informações essenciais, recursos e serviços disponíveis para o estudante, temáticas de palestras e pessoas convidadas, duração dos encontros, entre outros. Para a preparação desses momentos de acolhimento no início do semestre, coloque-se no lugar do(a) estudante, de como você gostaria de ser recebido(a) na instituição.

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Para as ações de acolhimento ao longo do semestre: desenvolva uma postura de atenção às demandas que os estudantes estão manifestando. Essas demandas podem ser de diferentes naturezas, por exemplo: relacionadas à conciliação entre as atividades acadêmicas, ao lazer, à família e ao trabalho; relacionadas à compreensão de conteúdos das disciplinas iniciais; referentes ao relacionamento com colegas e professores; entre outras. Para cada situação, você conversará com seu(a) supervisor(a) local e poderá elaborar atividades para minimizar tais dificuldades nesse processo de adaptação. Poderá sugerir atividades como: rodas de conversa para apresentação entre os estudantes; diálogos com egressos do curso, com integrantes das organizações estudantis (Diretórios Acadêmicos, PETs, etc.), conversa com profissionais da área pedagógica e psicológica, etc. Esses encontros precisam realmente integrar e mobilizar os estudantes.

Lembre-se de dar atenção aos estudantes que estão retraídos, tímidos, isolados. Mostre a eles que você está à disposição para conversar e trocar ideias. Caso seja necessário um encaminhamento a um profissional de saúde, converse com seu(a) supervisor(a) local. Mostre que você está presente também para os estudantes que estão faltantes ou que estejam obtendo notas baixas nas primeiras avaliações.

Sobretudo converse com os estudantes, pergunte a eles quais são as dificuldades, como estão vivenciando este momento de adaptação e também converse sobre as perspectivas com o curso, sobre seus sonhos, os motivos pela escolha do curso, etc. Esses momentos de diálogo são de acolhimento e servirão também para a construção de outras atividades. Esteja atento, receptivo e criativo.

Atuação voltada para outras atividades acadêmicas

Em conjunto com o supervisor local, você, tutor(a) avaliará quais são as demandas pedagógicas que carecem de sua atuação. Como cada curso possui uma realidade que lhe é própria, poderá ser necessário administrar diferentes ações. Por exemplo, poderá ser necessário um acompanhamento nas atividades finais do curso, como estágios e elaboração do trabalho de conclusão de curso. Diante dessa realidade, você poderá sugerir encontros sistemáticos com os estudantes em estágio, para ouvi-los e orientá-los sobre encaminhamentos administrativos ou até mesmo para incentivá-los a continuar. Poderá também convidar palestrantes para conversar sobre as demandas apontadas pelos estudantes e também pelo professor supervisor(a) e/ou professores orientadores de estágio e de TCC.

Toda a construção desse trabalho deverá ser realizada de modo colaborativo e integrado, pois não seria possível realizar essas ações de forma isolada. Precisamos uns dos outros para compor essa rede: a Rede ASA. Vamos conversar um pouco mais sobre isso!

Trabalho integrado e colaborativo

No início da formação, você observou que o projeto envolve diferentes sujeitos, atuantes em diferentes frentes de trabalho. Diante dessa realidade, o trabalho precisará acontecer de forma colaborativa e integrada.

O trabalho colaborativo e integrado supõe que há um conjunto de pessoas, que compartilham decisões e tarefas com a finalidade de atingir um objetivo. As decisões são tomadas a partir do ponto de vista de diferentes sujeitos que fazem parte do processo, assim como as atividades que são compartilhadas (DAMIANI, 2008).

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Quando as decisões são compartilhadas, todos os membros possuem responsabilidades para atingir tais objetivos. Neste projeto, o nosso objetivo é favorecer a permanência dos estudantes e, para isso, nos organizamos em diferentes frentes de trabalho. Você, tutor(a), desempenha papel fundamental para atingirmos tal objetivo.

O trabalho colaborativo e integrado será desenvolvido não apenas no desenvolvimento do projeto, mas também no processo de ensino e aprendizagem. Na parte 2 deste módulo você conhecerá um pouco mais sobre o autor Vigotski. Segundo esse autor, nós aprendemos uns com os outros. Aprendemos com a mediação de outro sujeito mais experiente. Além disso, há a oportunidade de aprender com diferentes pessoas envolvidas, como os colegas tutores, os professores, os integrantes da equipe CEIA, etc.

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Para ilustrar a importância da compreensão desse trabalho
vamos fazer um exercício imaginativo?

Imagine que você está segurando a ponta de um fio de linha e que os demais sujeitos participantes do projeto estão em círculo: professores, estudantes, colegas tutores, profissionais da equipe do CEIA, etc.

Você está segurando a ponta do fio e o novelo. Você tem uma tarefa e uma responsabilidade nesse momento, deverá jogar o novelo a outra pessoa do círculo. Esse movimento é como se você completasse uma tarefa e compartilhasse com outro integrante do grupo. Você ainda permanece com a ponta do fio, ou seja, ainda é responsável pelo contínuo desenvolvimento da tarefa.

O outro colega receberá o novelo de linha, ou seja, receberá o resultado do seu trabalho e também fará o mesmo movimento a outro colega do círculo. Esse processo acontecerá até o momento em que a malha de fios pareça uma rede. Perceba que se alguém soltar a ponto do fio, a trama de fio ficará frágil e não poderá servir como sustentação. Cada um tem um papel fundamental nesse trabalho colaborativo para que se atinja o principal objetivo: dar condições (na metáfora da rede, dar sustentação) pedagógicas para que o(a) estudante permaneça e conclua seu curso.

Figura 3 – Os enlaces da rede

Fonte: Elaborada pelas autoras deste módulo

Com esse exercício imaginativo, você consegue perceber a importância do seu trabalho? Esperamos que sim, pois a formação dessa rede será importante não apenas para o estudante, mas também para você, como tutor(a)! Você perceberá que ao final desse trabalho estará mais confiante sobre o seu percurso acadêmico!

Até aqui compreendemos a importância de atentarmos para as relações interpessoais, visto que trabalharemos de forma integrada e colaborativa, com diferentes pessoas. Também estudamos os aspectos essenciais que envolvem as atividades formativas que você, tutor(a), desenvolverá junto ao(a) tutorado(a).

Referências

DAMIANI, M. F. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Educar, Curitiba, n. 31, p. 213-230, 2008.

DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda, A. P. Psicologia das Relações Interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.