Apresentação do Sistema Integrado de Suporte ao Sucesso Acadêmico

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A evasão estudantil na Educação Superior

Uma das principais finalidades da Educação Superior no Brasil é, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, “[...] formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira” (BRASIL, 1996, art. 43).

Para cumprir tal função, a Educação Superior abrange, entre outros níveis de formação, os cursos de graduação, abertos a candidatos que tenham, no mínimo, concluído o Ensino Médio ou equivalente.

Nessa questão, surge um ponto importante para compreendermos o cenário de atuação da Tutoria da Rede ASA: o perfil dos estudantes que serão tutorados por nós, nesse caso, os estudantes de instituições públicas.

De acordo com a 10ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, elaborado pelo Instituto do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP), no Ensino Superior Público do país, há uma predominância, no total de matrículas, de pessoas do sexo feminino, de cor branca, que possuem entre 19 e 24 anos e que são provenientes do Ensino Médio da rede pública (SEMESP, 2020).

Vale destacar que, para além de conhecer o perfil predominante dos estudantes das IES Públicas, o(a) tutor(a) da Rede ASA precisa ter consciência de que predominância não significa totalidade. Isso quer dizer que, mesmo que haja um perfil predominante, nossa atuação será norteada pelo fato de compreendermos e considerarmos as diferentes realidades dos(as) alunos(as).

E como faremos isso? Na prática, tão logo você saiba qual o grupo de alunos(as) será tutorado por você, é importante que busque conhecer a realidade acadêmica e social dos(as) estudantes para que, assim, você possa se apropriar dessa realidade.

Bem, voltando ao cenário mais amplo do Ensino Superior público no Brasil, a partir do Resumo Técnico do Censo da Educação Superior de 2019, observamos que na última década as Instituições Públicas Federais tiveram, no mínimo, 300 mil novas matrículas a cada ano.

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Considerando que um curso de graduação tem duração média de quatro anos, qual o número de alunos você imagina que deveria ter se formado nas IES Públicas Federais a partir de 2014?

Pois bem, o número de concluintes nessas Instituições alcançou o marco de pouco mais de 128 mil em 2014, cresceu até aproximadamente 157 mil em 2018 e caiu para cerca de 150 mil em 2019. Um resultado consideravelmente abaixo das expectativas quando se considera que os ingressos nos anos anteriores superaram 300 mil novas matrículas em cada ano, concorda?

E é justamente essa reflexão que nos ajuda a pensar a respeito da evasão estudantil no Ensino Superior.

De maneira muito simples, podemos considerar como evasão os casos em que o(a) aluno(a) inicia um curso, mas não o conclui. Entretanto, o fato é que não existe consenso, nem teórico e tampouco prático, de como a evasão estudantil pode ser definida, mas temos a consciência de que somente “combinando” entre nós o que entendemos por evasão é que poderemos trabalhar de maneira efetiva para reduzi-la.

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Dessa forma, na Rede ASA, consideramos que “o aluno evadido é aquele cujo status final de matrícula é qualquer outro que não seja concluinte ou status equivalente”.

Mas, o que será que faz um(a) estudante matriculado no Ensino Superior não chegar à diplomação?

A resposta para essa questão não é única e nem simples. Basta você recordar dos casos de evasão de pessoas conhecidas, um familiar, um amigo ou até um colega de turma. Se pensar em duas situações distintas em que a evasão aconteceu, perceberá que motivações diferentes podem ter levado aqueles estudantes a não chegarem ao fim do processo formativo.

Pesquisas recentes realizadas no contexto de cursos brasileiros de graduação apontam diferentes motivações dos alunos para evadirem de seus cursos em Instituições Públicas, como a dificuldade na relação interpessoal com professores; um curso de dificuldade elevada; a necessidade de conciliar os estudos com o trabalho e a família; o pouco tempo para assimilar os conteúdos das disciplinas; um baixo desempenho acadêmico; a falta de suporte e a demora no esclarecimento de dúvidas; a dificuldade para compreender o material didático; o sentimento de solidão; a falta de perspectiva profissional; as dificuldades financeiras; a saúde mental fragilizada; entre outros motivos.

Observe que a lista de causas da evasão estudantil é extensa, e esse fato pode ser melhor compreendido a partir do legado de Vincent Tinto, um dos precursores em pesquisas sobre o tema.

A partir do Modelo Longitudinal de Evasão desenvolvido por Tinto, podemos compreender que cada aluno(a) que ingressa em um curso de graduação traz consigo uma história escolar, social, econômica e familiar, além de expectativas em relação ao curso, fatores esses que podem influenciar de maneira direta ou indireta na evasão e na permanência. Para o autor, quanto maior a integração desse(a) estudante(a) com a Instituição de Ensino, maiores as possibilidades dele chegar à diplomação.

E é justamente para favorecer essa integração e, consequentemente, a permanência estudantil que nasceu a Plataforma SISSA. Vamos conhecer mais sobre ela no próximo tópico.

Características da Plataforma SISSA

Considerando a problemática da evasão estudantil, o Projeto “P&D: Inteligência Artificial para auxílio de ações que visam à redução da evasão no Ensino Superior” foi criado com o objetivo de pesquisar e de desenvolver em caráter experimental soluções baseadas em Inteligência Artificial para predição da evasão acadêmica e para apoiar intervenções pedagógicas no contexto de seis escolas superiores.

Para atender a esse objetivo, criou-se a Plataforma SISSA, que significa Sistema Integrado de Suporte ao Sucesso Acadêmico. A Plataforma SISSA conta com cinco frentes de atuação:

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E por que um Sistema Integrado?

Porque acreditamos que todas as frentes de atuação são importantes para o alcance do objetivo geral. Uma complementa a outra e, por isso, precisam atuar de maneira integrada e colaborativa, contando com equipes multidisciplinares.

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Para compreender bem o que cada frente de atuação da Plataforma SISSA significa na prática, vamos por partes.

No tópico anterior, vimos como diferentes situações podem levar um(a) aluno(a) a evadir do seu curso de graduação. Considerando tal diagnóstico, pesquisadores do Brasil e do exterior têm buscado formas para reduzir a evasão estudantil, e uma estratégia que tem apresentado grande potencial é o uso de modelos preditivos à evasão.

Os modelos preditivos são fórmulas matemáticas desenvolvidas a partir de dados históricos dos alunos que já passaram pela instituição. A partir da fórmula criada, ou melhor dizendo, do modelo preditivo, é possível conhecer os alunos que estão em curso e possuem maior ou menor probabilidade de evadir.

Como o desenvolvimento dos modelos preditivos precisa de dados históricos, antes de construir tais modelos, é necessário realizar a integração de dados das IES junto ao banco de dados da Plataforma SISSA. Somente assim os modelos preditivos podem ser gerados.

No contexto do Projeto, para além de desenvolver os modelos preditivos, o objetivo a ser alcançado passa pela utilização das predições dos modelos para apoiar as intervenções pedagógicas junto aos alunos, ou seja, as intervenções que faremos a partir da tutoria da Rede ASA.

Somado a isso, a equipe de tutoria da Rede ASA contará com mais um apoio nas intervenções junto aos estudantes: o apoio de um assistente inteligente de comunicação automatizada.

Um assistente inteligente de comunicação automatizada consiste em um sistema que simula um ser humano na conversação com as pessoas (também conhecido como chatbot) e que poderá contar com uma interface de texto, voz e/ou vídeo para comunicação parcialmente automatizada com os estudantes.

Ainda, durante todo o processo será realizada a análise dos dados a partir de relatórios e de dashboards predefinidos pensados para cada perfil.

Diante disso, podemos esquematizar esse Sistema Integrado da Plataforma SISSA da seguinte forma:

Por fim, registramos que tudo isso será realizado em seis Universidades Federais brasileiras. Uma delas é a sua!

A iniciativa é financiada pelo Ministério da Educação (MEC) e coordenada pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Todas as atividades são desenvolvidas no Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) da UFG. Além da UFG, participam do Projeto outras cinco Universidades: Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI); Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA); Universidade Federal do Pará (UFPA); Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); e Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Foram selecionados até três cursos de cada Universidade, os quais puderam eleger até três disciplinas e selecionar até três tutores para participação no projeto, o que resulta em uma equipe de tutoria de até 54 tutores.

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Para melhor explicar, a Rede ASA, essa Rede de Apoio ao Sucesso Acadêmico, é formada pelo MEC, pelos pesquisadores do CEIA que atuam nas distintas frentes de trabalho, pelas Instituições de Ensino Superior que são parte do Projeto, pelos docentes dessas Instituições (no papel de coordenadores de curso, supervisores locais e docentes das disciplinas), pelos tutores e, agora, por você, que iniciou sua jornada de formação para fazer parte desta grande equipe.

Neste módulo foi possível conhecer um pouco mais sobre o contexto da evasão estudantil nas Instituições de Ensino Superior brasileiras e como a Plataforma SISSA está conectada com esse contexto.

Além disso, o estudo deste módulo nos permitiu identificar as características da estrutura do Projeto e conhecer suas partes integrantes.

Agora que temos novas informações a respeito dos assuntos estudados, o que você responderia a respeito das questões que colocamos lá no início do módulo? Por que um(a) tutor(a) da Rede ASA precisa saber de tudo isso? Esse contexto é realmente importante para tudo o que a tutoria vai colocar em prática no dia a dia?

Reflita sobre o assunto para oportunamente dialogarmos sobre isso.

Referências

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei n. 9.394/96. [1996]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 20 abr. 2021.

CASIMIRO, Arilthon Romulo Cavalcante. A evasão universitária na UnB: uma pesquisa nos cursos de Licenciatura em Ciências Naturais diurno e noturno da Faculdade UnB de Planaltina – FUP no período de 2013 a 2017. 2020. 150f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação) – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/38232. Acesso em: 20 abr. 2021.

INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Resumo técnico do Censo da Educação Superior 2019 [recurso eletrônico]. Brasília, DF: INEP, 2021. Disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/resumo_tecnico_censo_da_educacao_superior_2019.pdf. Acesso em: 20 abr. 2021.

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SEMESP – INSTITUTO DO SINDICATO DAS ENTIDADES MANTENEDORAS DE ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DE SÃO PAULO. Mapa do Ensino Superior no Brasil 2020. 10. ed.. [S.l]: SEMESP, 2020. Disponível em: https://www.semesp.org.br/wp-content/uploads/2020/04/MAPA_FINAL_COMPLETO_V2.pdf. Acesso em: 20 abr. 2021.

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TINTO, Vincent. Dropout from Higher Education: A Theoretical Synthesis of Recent Research. Review of Educational Research, [s.l.], v. 45, n. 1, p. 37, 1975.