O VERDE DE MINHA ROÇA VEM DE MARTE • ISBN: 978-65-86422-43-6
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Sem sequer se despediram

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Bhagat e Silvestre permaneceram por algumas semanas morando em um dos quartos da casa de D. Dita. Depois, com a ajuda de alguns de seus netos e bisnetos, foi construída uma nova casa para eles. Nos dias que se seguiram a construção da casa, os dois passaram a acompanhar a rotina daquele povo. Aprenderam como coletar o capim dourado e a produzir alguns tipos de artesanatos. Com o passar do tempo, Bhagat já arriscava algumas frases em português, e, devido ao seu acentuado sotaque híndi, ouvi-lo falar era sempre uma grande diversão para as crianças. Mesmo participando de todo o processo de produção dos artesanatos, sempre que chegava uma excursão de turistas ao povoado, os dois preferiam não tomar parte das negociações. Contudo, todas às vezes que a comunidade precisava ir à cidade fazer as compras, Osório, o líder da comunidade, ia até a casa de Silvestre e Bhagat, a fim de elaborar uma lista de compras para os dois. Modestos, pediam sempre pouquíssimos itens, somente o necessário a sobrevivência. Mesmo assim, sempre que possível Osório os presenteava com alguns gêneros a mais como roupas e calçados. E quanto mais se afeiçoavam às pessoas daquela comunidade, mais se inteiravam de seus costumes, saberes e dificuldades. A afeição era recíproca, pois, ambos eram sempre convidados a tomarem parte tanto das festividades como das rodas de conversa.

Certo dia, Silvestre e Bhagat decidiram ir a Pedrinhas junto com os outros. A intenção de Silvestre era a de pedir a segunda via de seus documentos. Já Bhagat, queria apenas ajudar algumas pessoas da comunidade durante suas compras. Mas, assim que desceram do caminhão, os dois deram de cara com Zé Reis, o vereador que ajudara Mariano em seu regresso a Bucaramanga:

Bhagat e Silvestre se encheram de pavor temendo se tratar de algum tipo de perseguição. Silvestre, então, se encorajou:

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Mesmo desconfiados, resolveram seguir com o vereador até os Correios. A agência estava aparentemente vazia; apenas um atendente no guichê de correspondências, e no caixa destinado a serviços bancários não havia ninguém. Então, Zé Reis enfiou a cabeça no vão que ficava entre o vidro e o balcão e berrou:

Na mesma hora, uma voz ecoa lá do fundo da agência:

Então, se apresenta um rapaz magro, camisa branca, ostentando um crachá funcional preso à gravata.

Após checar a senha requerida para liberação da arremessa, o bancário entregou uma caneta e uma folha em branco para cada um dos dois:

Para Bhagat e Silvestre não havia mais dúvidas de que se tratava de Mariano. E após o bancário conferir as respostas buscou a arremessa de dinheiro.

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Enquanto Silvestre e Baghat conversavam, Zé Reis, impaciente, procurava gastar o tempo clicando em seu celular. Transcorridos alguns minutos, Silvestre anuncia o veredito:

O senhor deverá nos levar até Palmas e nos acompanhar a todos os lugares onde julgarmos necessário. Somente após encerrarmos todos os nossos compromissos é que o senhor estará livre para voltar. Estamos combinados?

Bhagat depositou todo o dinheiro dentro de um saco de algodão cru que trazia consigo. Depois, seguiram em direção ao caminhão de Onésio onde já se achavam reunidos alguns quilombolas com suas compras. Bhagat aproximou-se de um deles, um rapaz que aparentava ter entre 12 a 14 anos, deu a ele um pouco de dinheiro e cochichou algumas palavras ao pé do ouvido.

Intrigado, Silvestre o interpelou:

Logo perceberam a aproximação de Zé Reis, buzinando seu veículo e acenando com o chapéu:

Assim, partiram rumo a Palmas.

Na comunidade, uma comitiva de quilombolas aguardava ansiosamente a chegada do caminhão de Onésio. E para a surpresa de todos, aqueles dois astronautas, que tanto haviam se afeiçoado àquele cosmo chamado Capim, não desembarcaram do caminhão. Entre os presentes transparecia um misto de pesar e de decepção. D. Dita, após se certificar da ausência dos dois amigos, retornou chorosa para a sua casa, onde foi amparada por um pequenino São Benedito que habitava um cantinho de sua cozinha.

Em Palmas, Silvestre e Bhagat cumpriram uma longa agenda: fizeram compras, requereram novos documentos, trocaram mensagens com a embaixada da Índia e acessaram o endereço eletrônico de Mariano tanto para agradecê-lo como para informá-lo sobre o destino que dariam ao dinheiro. Cumprido a agenda, Zé Reis foi liberado para retornar a Pedrinhas.