O VERDE DE MINHA ROÇA VEM DE MARTE • ISBN: 978-65-86422-43-6
imprimir

No meio do caminho tinha um caminho

p. 98

Para a surpresa dos três, o ronco que ouviram não procedia do motor do caminhão de Onésio, e sim de um ônibus que acabara de chegar. Tratava-se de uma excursão de turismo, organizada por uma empresa de Palmas em cujo roteiro incluía, além de montanhas, dunas e cachoeiras, também a comunidade quilombola do Capim. Do ônibus desceram turistas brasileiros, estrangeiros e um guia da companhia. Após sacarem suas câmeras disparando milhares de clicks para todas as direções, foram conduzidos até um barracão onde são produzidos artesanatos a partir do capim dourado. Devidamente distribuídos dentro do barracão, os turistas escutaram as explanações do guia:

Enquanto o guia preparava o seu discurso, uma das artesãs organizava a exposição das peças, no intuito de vendê-las aos turistas ali presentes.

p. 99

Enquanto o guia preparava o terreno para a venda dos artesanatos, muitas pessoas da comunidade, do lado de fora do barracão, aguardavam, ansiosamente, o momento de os turistas saírem do barracão, para também poderem vender seus artesanatos. Tal situação, no entanto, despertou o interesse de Silvestre que, reconhecendo Sinvaldo que passava ali por perto, perguntou-lhe:

Tá vendo aquele caminhão lá, do Seu Onésio? Então, ele tá esperano o ônibus dos turista ir embora pra levá o pessoal da comunidade pra cidade. Com o dinhêro da venda dos artesanato, o pessoal paga o Seu Onésio pra levá eles pra fazê as compra e trazê de volta. É assim que funciona.

p. 100

Após a partida do ônibus, mesmo sem terem chegado a alguma conclusão sobre o rumo que dariam a suas vidas daí em diante, Bhagat, Mariano e Silvestre optaram pela carona. Onésio pediu aos três que entrassem na boleia, destinando o espaço da carroceria aos quilombolas. Com os olhos fixos no retrovisor, os três assistiam o povoado se afastar na linha do horizonte. Curioso, Onésio foi logo puxando assunto:

Sem saber qual das versões ofereceria a Onésio, Silvestre preferiu consultar os companheiros:

Assim, após Silvestre contar toda a história a Onésio, inclusive os motivos que os levaram a desistir do projeto, Onésio matutou:

Enquanto o velho caminhão sacudia sobre a interminável estrada arenosa, na carroceria, os quilombolas se protegiam como podiam da densa poeira que precipitava das falhas do assoalho.

A viagem já durava cerca de três horas quando, finalmente, avistou-se, incrustado entre uma extensa formação rochosa, o pequenino Vilarejo de Pedrinhas. O caminhão seguiu pela rua principal até chegar a uma pequena praça jardinada contendo alguns bancos de concreto, uma fonte d’água e uma singela igreja pintada de branco, com portas e janelas azuis, ostentando em sua torre uma cruz de madeira revestida de lâmpadas. Freando o caminhão, Onésio projeta sua cabeça para fora da boleia e esgoela um aviso:

p. 101

Os quilombolas desembarcaram apressados se espalhando pelas ruas do Vilarejo. Bhagat, Mariano e Silvestre desceram da boleia permanecendo próximos ao caminhão. Mas logo chega Onésio acompanhado de um sujeito moreno, sorridente, estatura baixa, calçando um par de botas pontiagudas, e na cabeça um chapéu branco de abas largas.

class="dialogo"— Mas quem falô em pagá alguma coisa aqui seu moço? Hoje, ocêis tudo são meus convidado — disse o vereador.

Após se fartarem com o almoço da pensão, o vereador tomou a palavra:

p. 102

Apesar da boa intenção demonstrada, transpareceu que o vereador pretendia tirar proveito daquela circunstância, no sentido de se autopromover. Na tentativa de contornar a situação, Silvestre pediu alguns minutos de licença, a fim de discutir o caso com os outros dois amigos.

Bhagat e Silvestre trocaram um rápido olhar, mas, nenhum dos dois se encorajou em responder as provocações de Mariano. Ficaram literalmente paralisados. Até que uma senhora idosa, moradora do quilombo do Capim, se aproximou de Silvestre, tocou-lhe o ombro e pediu:

Sem titubear, Silvestre aceitou. Bhagat, vendo naquela situação a chance de se esquivar de Mariano, se antecipou:

Ao acomodar o pesado saco de compras daquela idosa, Bhagat percebeu que, dentro dele, os itens mais pesados eram as mandiocas e as abóboras; o restante do peso dividia-se entre dois litros de óleo, algumas latas de massa de tomate, um pacote de arroz, um de feijão, sal, açúcar, café, bolachas, farinha, detergentes e macarrão. Em seguida, Bhagat fez um sinal a Silvestre convocando-o a subir na carroceria, o qual foi atendido prontamente.

p. 103
p. 104 p. 105

Naquele momento, Mariano se aproxima do caminhão todo sorridente:

p. 106

Aquela decisão de Bhagat deixou Mariano confuso:

Mariano parecia não ter mais argumentos, somente olhou nos olhos de Bhagat, lhe desejando sucesso. E antes mesmo de dirigir a palavra a Silvestre, este se adiantou dizendo:

Naquele momento, Onésio se aproxima dos três e pergunta:

p. 107

Ouvindo aquela conversa, a mesma senhora que pedira ajuda com o saco de compras interveio:

Da porta da pensão de D. Fia o vereador gritava acenando com o chapéu:

Em silêncio os três se deram num longo abraço. Em seguida, Mariano atravessou a rua a passos lentos, disfarçando as lágrimas que insistiam brotar de seus olhos. E assim que ganhou a calçada, se virou gritando:

Vendo aquela cena, Onésio se pronunciou:

Decididos, Bhagat e Silvestres voltaram para o quilombo. Só que dessa vez, não mais na boleia, ao lado de Onésio, mas, na carroceria do caminhão junto aos membros da comunidade. Ao chegarem, muitos da comunidade foram recepcionar o caminhão. E assim que puseram os pés no chão, Silvestre e Bhagat viram que Dona Dita se aproximava vagarosamente, sustentando seu frágil corpo com ajuda de sua bengala: