Comunicações científicas
28Estudo Cadavérico de Corona Mortis Arterial: Descrição e Correlações Clínicas
Introdução
Corona Mortis é uma variação anatômica que ocorre quando está presente uma anastomose entre os vasos obturatórios e ilíacos inferiores, situada atrás do ramo púbico a uma distância variável da sínfise púbica. O nome Corona mortis ou coroa da morte deve-se ao fato que a ruptura dessa anastomose pode originar hemorragia significativa e de difícil hemostasia, que pode levar a morte. Essa variação tem importância particular em fraturas pélvicas, particularmente sínfise púbica e fraturas do ramo púbico superior, e abordagens cirúrgicas da pelve, acetábulo, cirurgia de hérnia e intervenções endovasculares. O conhecimento dessa variação é extremamente importante para os cirurgiões ortopedistas e cirurgiões gerais, a fim de se evitar complicações durante a abordagem anterior ao acetábulo, ilioinguinal ou intrapelvico (Stoppa modificada). O presente trabalho tem como objetivo verificar e descrever a anastomose arterial do tipo corona mortis e suas relações anatômicas em cadáver humano previamente fixado.
Material e Métodos
Estudo observacional descritivo por meio da dissecção de hemipelve direita de cadáver humano previamente fixado em formol a 10% e conservado em solução glicerinada como parte do acervo do Laboratório de Anatomia Humana Prof. Raul Conde (ICB/UFG). A dissecção por planos foi feita de modo a evidenciar as estruturas neurovasculares e preservar as relações anatômicas entre si. Foi utilizado o software GIMP (GNU Image Manipulation Program), versão 2.8.16, para realçar em vermelho através de computação gráfica a anastomose arterial corona mortis entre as artérias epigástrica inferior e obturatória.
Resultados e Discussão
Na peça anatômica, observa-se a presença de uma artéria obturatória aberrante localizada na face interna do Ramo Superior do Púbis (RSP), classificada como pequena, segundo classificação proposta por M. Ates et al. (diâmetro < 2 mm). Para melhor referencial anatômico, foram evidenciadas outras estruturas adjacentes como o nervo obturatório, a bexiga urinária, o osso sacro, o ramo superior do púbis, a sínfise púbica e a artéria ilíaca comum se bifurcando em artéria ilíaca interna e externa. A artéria encontrada emerge em direção perpendicular e ascendente, em relação ao canal obturatório e atinge a artéria epigástrica inferior na face interna do Triângulo de Hasselbach em região posterior a bainha dos músculos retos do abdômen. Como observado na literatura, o vaso estudado também possui um pequeno ramo que segue medialmente, um dos quais são responsáveis pelo risco cirúrgico aumentado. O ramo medial diverge e pode contornar a face interna do púbis até atingir a sínfise púbica, trajeto este que pode dar origem a um "anel" vascularizado que acompanha o trajeto ósseo por sob os ligamentos. A partir disso, tal variação anatômica pode ser descrita como uma Corona Mortis Arterial. Não foram observadas as estruturas venosas, o que não permite dizer com segurança se nesta peça estava presente uma Corona Mortis Venosa. A CMA está relacionada a complicações em procedimentos de várias especialidades médicas, como herniorrafia e hernioplastia por cirurgiões gerais; ortopedistas atendendo casos de fratura pélvica anterior, como fraturas do ramo púbico; ou ginecologistas e obstetras realizando histerectomia.
99Conclusões:
O conhecimento das variações vasculares intrínsecas à Corona Mortis permite uma maior possibilidade de se evitar erros iatrogênicos e complicações cirúrgicas e pós-cirúrgicas. Por esse motivo, são entidades que merecem atenção e cuidados especiais, sendo condição sine qua non a conscientização dos profissionais médicos e dos acadêmicos de medicina acerca de sua possível existência.
Referências
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